No meio da Guerra escrita por Camyarsie


Capítulo 2
Confusão de família


Notas iniciais do capítulo

"Minha cabeça deu uma reviravolta. Será que, naquele momento, teria as respostas que me perguntava há anos? Seria possível que eles vivessem no mesmo mundo que eu vivia?"



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ALEX

Ainda um pouco atordoada com a intensa dor na perna, não entendi muito bem o porquê estar com uma ponta de espada na minha garganta.

– Desculpe?

O jovem me olhou como se eu fosse uma idiota.

– Você é grega ou romana? – quando ele viu que não respondi, ele apertou um pouco mais a ponta afiada. – Responda!

– Sou americana. – respondi rebeldemente, porém sincera.

– Nem venha se fingir que é uma mortal, nós sabemos que você viu realmente aquilo!

– Claro que vi! Não sou cega, como deve pensar. E cara, eu sou uma americana mesmo, e daí? Se eu ser uma americana é crime nos Estados Unidos...

O garoto de arco e flecha saiu de trás de seu amigo e tomou a dianteira. Ainda vestia a sua armadura completa, porém agora eu conseguia ver algumas mechas louras e olhos cinza.

– Obviamente estamos falando do seu lado divino. – falou secamente.

Estreitei os olhos. Tudo bem... Sabia que eu não era exatamente normal. Até onde suspeitava ninguém que conhecia tinha os mesmos problemas que eu. Ninguém tinha que enfrentar monstros todos os dias... A não ser aqueles dois.

Minha cabeça deu uma reviravolta. Será que, naquele momento, teria as respostas que me perguntava há anos? Seria possível que eles vivessem no mesmo mundo que eu vivia?

– Lado divino? Não sei do que estão falando. Mas gostaria de saber.

Agora foi a vez dos garotos estreitarem os olhos.

– Não sabe suas origens? – o de olhos cinza perguntou um pouco mais hesitante.

– Se falam do porque de eu ter que enfrentar monstros todos os dias e quase morrer em cada batalha, é, não sei minhas origens.

Os dois se entreolharam, sem tanta frieza no olhar.

– Como vamos saber se não é uma espiã de um dos acampamentos?

Lancei um olhar de sério mesmo que vocês perguntaram isso?

– Se eu fosse realmente uma espiã de algum dos acampamentos que vocês estão falando, acham mesmo que – por estar em treinamento, obviamente, já que provavelmente é o que fazem – eu iria morrer pra um simples monstro?

– Uma hidra não é facilmente vencida menina – falou o grandão.

– Não é o que demonstraram há poucos minutos. Agiram como se já estivessem acostumados a essa rotina de aniquilar monstros.

Ainda com a ponta da espada na minha garganta, os garotos se afastaram um pouquinho e discutiram aos cochichos. Depois de uns trinta segundos, se viraram para mim novamente.

– Muito bem, podemos te dar uma chance. – falou o louro.

– Chance do quê?

– De se juntar a nós, ao nosso acampamento. Ter a chance de descobrir se você é uma grega ou romana.

– Parece uma boa ideia. – respondi simplesmente.

­– Contudo, se tentar alguma gracinha enquanto estivermos juntos – o de olhos castanhos rosnou, apertando mais ainda a ponta da lâmina, fazendo o local sangrar um pouco – pode considerar-se morta. Entendeu?

Confirmei com um aceno de cabeça. Finalmente, ele retirou a arma de mim.

* * *

ALAN

Não sabia o que pensar da novata. Na verdade mesmo, fomos meio obrigados à aceita-la, já que precisávamos de mais guerreiros para a guerra. Quanto mais soldados, melhor.

Enquanto a ajudávamos a nos acompanhar para algum lugar mais seguro, olhei pelo canto do olho mais atentamente para a americana. Possuía longos cabelos ruivos, olhos verdes e era um pouco pálida. Parecia cansada, e aparentava dor, provavelmente por causa da perna. Não emitiu nenhum protesto, mas percebi que o seu maxilar estava cerrado.

– Vamos parar ali. – eu disse aos dois, apontando para uma árvore maior que as outras – Acho que já está seguro.

Quando chegamos, a nossa nova parceira ficou extremamente tensa, encostada na árvore.

– Está tudo bem? – questionei.

– Tudo... Só um pouco de... Dor na perna. – parecia arfante – Afinal... Como se chamam? – continuou.

– Eu sou o Alan. E ele é o David. – respondi, e quando falei o nome do meu meio-colega-obrigado-de-batalha, ele acenou a cabeça na direção dela, ainda focado no fogo que tentava fazer. – E o seu?

– Sou a Alex. Prazer. – ela falou, estendendo a mão para cumprimentar, que aceitei. Vi que estava trêmula.

– Está doendo muito? O que aconteceu aí? – perguntei.

Alex olhou para a perna, mas o machucado estava camuflado pela calça jeans que usava. – A hidra acertou um golpe.

– Foi um corte profundo? – David perguntou um pouco atrás, momentaneamente interessado.

– Na verdade... – ela suspirou fundo antes de completar a frase – foi o ácido.

– Meus deuses... David, pega um pouco de néctar.

– Néctar? – Alex perguntou, com a mão se preparando para levantar a calça, tremendo mais do que antes.

– Tipo um remédio – David respondeu enquanto pegava o cantil – Usando moderadamente, cura quase qualquer ferimento com o tempo...

Ele foi interrompido por um gemido forte. Alex tentara mover a calça pra fora do caminho.

– Deixa que eu faço. David, a segura ali um pouco. Isso provavelmente vai doer.

Enquanto eu levantava a calça, Alex quase gritava, e eu via o tamanho do estrago. Quando terminei de erguer, prendi a respiração, até fiquei impressionado por ela praticamente não mostrar nem metade da dor que deveria estar sentindo.

Da parte um pouco acima do joelho até a canela, a pele que antes havia, tinha formado bolhas brilhantes e ainda fumegantes. O local estava praticamente em carne viva, com algumas pequenas partes de sua calça grudadas no local.

– Está muito ruim? – ela sussurrou. David se aproximou mais para ver também, e até ele ficou chocado. – É... Melhor... Você não ver isso agora. – ele respondeu.

Ignorando ao seu comentário, Alex desencostou a cabeça do tronco da árvore e viu o ferimento. Seu rosto empalideceu.

Peguei o cantil e coloquei um pouco de néctar. Assim que terminei o serviço, vi que ela estava mais relaxada. Enquanto enrolava algumas ataduras na queimadura, vi que a Alex ficou bem melhor.

– Isso alivia mesmo. – falou, suspirando aliviada. – Mas agora... Uma pergunta séria. Que história de eu ser grega ou romana foi aquela?

Olhei para o David, sem saber o que responder. Puxa... Explicar o nosso mundo não seria fácil.

Estava prestes a começar a falar novamente, mas antes ouvi um galho se quebrando a distância. Nem tive tempo de ver o que era aquilo, quando uma flecha acertou o meu ombro esquerdo, logo depois outro acertou o tronco atrás de mim. David já corria com a espada pro local aonde vieram as flechas e só aí percebi a gravidade do problema que tínhamos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!!



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