Kyodai - The Awakening Of Chaos (Interativa) escrita por Wondernautas


Capítulo 47
Capítulo 41 - Periphrasis


Notas iniciais do capítulo

Aqui está a tão esperada verdadeira história de Sugaku Megumi, a personagem preferida de todos nós, não é? (SQÑ... ). Bem, mesmo isso sendo mentira, quem sabe a situação mude de agora em diante? XD
Feliz ano novo pessoal... E boa leitura!



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Daniel Strauss, Sherry Fontaine, Akemi Pégasus, Jayden Valentine, Yuki Arima, Yuko Kurama, Eric White, Luka Trancy Gold, Daisuke Saruma, Saori Tohara e Sayuri Kishimoto. A última em questão, no momento, toca uma admirável melodia com a sua flauta chamada “Lira”. Na biblioteca de Kyodai, todos permanecem em roda, enquanto várias imagens do passado vão invadindo suas mentes... A habilidosa flautista, como uma sereia mortal, comprova os seus encantos através das manifestações do que há de mais oculto no passado...

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21 anos atrás, região central da cidade de Konton...

O local é uma grande casa. Apesar da sua dona ser, tecnicamente, da classe média, ela não economizara nem um tostão para ter o lar que sempre sonhou ter. No momento, estão presentes na sala de estar duas belas mulheres em torno de uma pequena mesa redonda de vidro, uma de frente para outra: Saisey Swords e Alice Valentine.

– Esta casa é mesmo um luxo! – exclama Alice, empolgada, olhando para todos os cantos do local.

– Não seja tão frívola, Alice. – pede Saisey, mais séria. – Alguém como você sonha, simplesmente, com a possibilidade de ter quatro ou cinco destas sem se preocupar com as finanças “negativas” no fim do mês.

– Credo! – reclama, guiando sua atenção para a amiga, fazendo bico. – Do jeito que fala, até parece que sou uma perua que só pensa em dinheiro.

– Ultimamente, é isso mesmo o que você está parecendo. – revela a loira, ao cruzar seus braços e suas pernas.

O motivo das duas estarem aqui é bem simples: a dona da casa, que a comprara há dois dias, convidara suas duas melhores amigas para o chá da tarde. As três, há poucos meses, se formaram no Ensino Médio. Agora, aproveitam suas férias de janeiro com toda a felicidade que alguém pode ter direito.

– Hum! – resmunga Alice, virando seu rosto para a direita, emburrada. – Você está me ofendendo!

– Eu deveria é te estapear pra ver se vira gente!

– Não, não precisa disso, tá? – pede, aflita, abanando suas palmas e olhando-a com uma expressão temorosa. – Eu não estou a fim de morrer, ainda mais nas férias!

– Meninas, vocês estão brigando logo hoje? – indaga uma doce voz, vindo da cozinha.

Tanto Alice quanto Saisey se calam. Guiam seus olhares para a passagem que liga a sala de estar à cozinha, aguardando a mulher que falara há pouco.

– Poderiam deixar as discussões lá fora, não? – sugere Sugaku Megumi, ao surgir com uma bandeja de bolachas e xícaras de chá em mãos. – Seria tão bom se pudéssemos aproveitar nossa tarde em paz...

Segurando a bandeja, a proprietária da residência se aproxima com calma. Assim como cada uma das suas amigas se encontra assentada em uma poltrona, ela chega perto o suficiente da única vaga e nela se acomoda. Com um suspiro, coloca a bandeja sobre a mesa e, sorrindo, diz:

– Perderam a vontade de falar?

– Estou preocupada com você, Sugaku. – afirma Saisey, ainda séria.

A futura professora de Kyodai cruza suas pernas. Utilizando sua mão direita, a mais velha das três toma para si a sua xícara de chá. Degustando da mesma um gole, suspira e se manifesta:

– Por quê?

– Está gastando demais e começando a me deixar realmente preocupada. – define a loira. – Depois que se casou com Sting, você mudou.

– Devo concordar com ela, desta vez. – agora é Alice quem comenta, observando a expressão de Sugaku se tornar mais e mais séria. – Não te reconheço mais, amiga...

Sting é o esposo da telepata. Casaram-se há seis meses, pouco antes do término do Ensino Médio de ambos. Começaram a namorar bem antes disso e pode-se dizer que a consumação da união levou tempo demais. Entretanto, a relação que antes era tão inspiradora e exemplar, depois do casório, se tornara destrutiva. Isso no ponto de vista das duas amigas mais próximas da dona deste lar.

– Não gosto quando falam assim. Sabem muito bem que nos amamos.

– Pode até ser, Sugaku, mas é fato que você mudou muito depois do casamento. – afirma Saisey. – Passara a se encontrar menos conosco, não sai mais por preferir cuidar do seu marido e ainda vêm gastando o que tem e o que não tem para atender aos caprichos infantis dele.

– Estão exagerando. – alega, ficando aflita com a pressão em si imposta.

– Infelizmente não estamos, apesar de que, no fundo, eu queria mesmo estar apenas exagerando. – a futura mãe de Nagashi Swords argumenta, sendo concisa.

Contrariando a situação, Sugaku permite que sua face seja dominada por um sorriso. Mantendo a xícara de chá em sua mão, – e bem próxima dos seus lábios – toma mais um gole e depois o repousa sobre a pequena mesa perante sua presença. É quando ela articula:

– Estou feliz. É o que importa.

O silêncio impera por alguns momentos. Ninguém fala nada, apenas trocam sérios olhares. Cansada disso, Saisey declama, fitando o seu alvo atentamente:

– A vaga na turma de Ciências Sociais está lhe esperando na universidade.

O sorrir de Sugaku desmorona. O seu rosto, atordoado, revela o que é possível encontrar no mais profundo da sua alma: dor. Mesmo assim, ela se recusa a encarar a realidade: seu casamento com Sting está mesmo destruindo-a, anulando-a. É como se tivesse abrido mão de sua existência para elevar a de seu marido. E, anos antes, não era esse o sonho que almejava concretizar...

– Uma mulher não tem que idolatrar o homem como um deus, amando-o ou não. – afirma a mais brava das três. – Nós temos os mesmos direitos que eles e podemos ser felizes assim como eles.

– Com certeza! – exclama Alice. – Nós mulheres precisamos trilhar nossos próprios caminhos sem ter de depender de homem nenhum.

– Eu estou com Sting porque quero. E ponto final. – define a ouvinte das duas. – Além disso, o curso de Ciências Sociais não é para mim. Aliás, nenhum curso superior é para mim.

– Esse tipo de coisa apenas comprova o quanto estamos certas. – a integrante da família Swords insiste.

– Como é? – a proprietária da casa, ao arquear a sobrancelha esquerda sem entender o que escutara.

– Nunca conheci ninguém que se preocupasse mais com os outros do que você, Sugaku. – a humana avançada com o dom da superforça estipula. – Desde que te conheci, sempre foi e agiu quase que como um anjo na Terra, de tão preocupada e dedicada aos outros. Nunca deixou de acreditar no amor e na felicidade e a descoberta dos seus poderes apenas reforçou seus ideais.

– Se me lembro bem, foi isso o que te inspirou a se tornar uma assistente social, para que pudesse tornar tudo o que sonhava em realidade. – a outra convidada, por sua vez.

A esposa de Sting tem até a intenção de confrontar os dizeres delas. Porém, não tem nenhum argumento para isso. Tudo o que faz é abaixar a cabeça e se calar.

– Acabe de vez com essa vida de mentiras. – recomenda Saisey. – Você tem o direito de realizar os seus sonhos!

– Calem-se, vadias! – grita.

É o “homem da casa”. Acabara de chegar, sem nenhuma das três perceber. Posicionando-se perante a porta de entrada da casa, a mesma da sala de estar, o sujeito de cabelos negros e curtos e de pele parda encara as mulheres seriamente.

– Como assim “vadias”? – Saisey se revolta, de fato bem irritada, levantando-se de uma só vez.

– Duas fuxiqueiras que passam o tempo vago enchendo a cabeça da minha esposa com minhocas não passam de vadias. – afirma ele, sem temor nenhum de enfrentá-la cara a cara.

– Por favor, acalmem-se. – pede Sugaku, que também se levanta da sua respectiva poltrona. – Não é preciso discussão alguma.

– Manda essas duas embora. – exige o recém-chegado, voltando seu olhar para sua esposa.

Sugaku o ama, e com todas as suas forças. Sting é um humano comum sem nenhum dom especial. Mesmo assim, ela nunca teve a capacidade de lhe ameaçar ou lhe fazer mal. Nem ao menos se impôs, algum dia, com seus dons. Pelo contrário, desde que se casaram, aceitara sem questionamentos a postura de mulher subordinada ao marido. Até mesmo em momentos assim, ela não muda. Afinal, até aqui, Sugaku fora uma pessoa gentil e bondosa que somente usara suas capacidades para o bem. Entretanto, o que não sabia era que algo em seu destino a esperava para fazer tudo o que julgava como realidade mudar de modo drástico e irreversível...

– Sting... Elas são...

– Cala a boca! – grita ele, fazendo-a fechar a “matraca” e engolir seco.

– Pare imediatamente de tratá-la assim! – exclama Saisey, se colocando a frente de sua amiga, cerrando seu punho direito, doida para acertá-lo nele.

– Ponha-se no seu lugar, vadiazinha. – ordena, sarcástico.

O desejo da loira é de saltar para cima dele para lhe presentear com uma boa surra. Contudo, por sua amiga, ela se segura. Por ela e apenas por ela... Ainda assim, sabe que não suportará isso por muito mais...

– Sting, podemos conversar em particular ali na cozinha? – indaga a esposa, calma, colocando seus braços a frente do corpo.

Os demais presentes, sem terem esperado um pedido desses, olham para ela. E, após um suspiro, ele responde, mais controlado:

– Sim... Vamos.

Diante disso, Saisey fecha suas pálpebras e se assenta de novo. Com sua mão esquerda, recolhe a xícara de chá que foi trazida para si há pouco e toma um gole. Enquanto Sugaku e Sting se dirigem para a cozinha da casa, Alice apenas observa tudo, sem saber o que fazer.

– O clima melhorou, pelo menos... – pensa ela.

Chegando no local determinado pela dona da casa, marido e mulher se posicionam: um perante o outro. Sérios, se observam por alguns instantes. No fundo, Sugaku se sente incomodada com tudo o que ele vem fazendo. Não entende como aquele namorado apaixonado e carinhoso se transformou em um esposo autoritário e insensível.

– O que tem de importante para me dizer? – indaga o maior.

– Por que está agindo assim? – pergunta ela, quando finalmente toma coragem para enfrentá-lo.

– Anh?

A mulher abaixa seu rosto. Escuta, da sala, a conversa animada de suas amigas. Pelo que dá para perceber, falam dos sonhos que têm para o futuro. Enquanto Alice diz que pretende ser uma estilista famosa, Saisey fala que almeja construir uma verdadeira família. Porém, é mais do que óbvio que o diálogo das duas é apenas uma maneira de encorajar Sugaku a lançar para fora tudo o que se encontra preso na sua garganta. Ciente disso, levanta sua face novamente. Navegando nos oceanos oculares do seu amado, declara:

– Não me ama mais?

– Claro que a amo.

– Então por que está sendo tão rude comigo e com as pessoas que se importam com minha felicidade?

Sting cruza os braços e fecha seus olhos. Em seguida, sorri. Sem entender, Sugaku aguarda a próxima ação dele e, sem conseguir evitar, acaba lendo seu pensamento. E, por isso, fica espantada: o que encontra na mente do próprio marido é o puro ódio.

– A resposta é simples, mulher tola. – inicia o homem, falando de modo bem diferente de antes. – Eu não sou mais aquele que você conheceu um dia.

Uma bofetada com a palma esquerda – e bem forte – acerta o rosto dela, jogando-a para o chão. O estalo ecoa tão alto que as vozes na sala de estar se calam e suas donas se apressam para vir ver o que ocorreu. E se enfurecem ao chegarem, segundos depois, na cozinha e se depararem com tal cena.

– O que fez a ela? – questiona Saisey, furiosíssima.

– N-não foi nada. – diz Sugaku, se levantando do chão.

– Como assim não foi nada? Ele te bateu! – grita Alice.

– Está tudo bem, Alice. – alega ela, sorrindo. – Eu o provoquei. Tive o que mereci.

Com agilidade, a representante da família Swords se aproxima o suficiente do agressivo marido de sua grande amiga. Com sua mão direita, o ergue do chão pela gola da camisa. E o encara, com uma expressão irada e impiedosa.

– Vai se arrepender do que fez! – exclama ela.

– Saisey, por favor, não faça isso! – implora Sugaku. – Deixe-o em paz.

– Não entendo como pode ser assim. – admite a loira, voltando seu olhar para a esposa de Sting, enquanto o mantem suspenso no ar. – Este homem não te merece.

Repentinamente, risadas ecoam pelo grande cômodo. É Sting quem ri, como se estivesse diante de um estonteante espetáculo. As mulheres apenas se mantêm em silêncio, analisando-o. E, em sequência, o sujeito articula as seguintes palavras:

– O Dia das Trevas chegará...

Os olhos de Sugaku se expandem. Ela está completamente perplexa. Olhando para todo lado, percebe que não está mais em sua casa. Pelo contrário, está em um mundo de puras sombras. E apenas uma pessoa lhe faz companhia aqui: Sting, que se posiciona perante ela, distante por meros três metros.

– Tola. – diz o homem, com um estranho timbre de voz.

– O que houve? Onde estão minhas amigas? – indaga ela, sem entender o que está acontecendo, focando sua visão no sujeito.

– Elas e seu esposo ficarão bem, desde que me obedeça.

– Então eu estava certa. – pensa Sugaku, engolindo seco. – Ele não é o Sting, pelo menos não o que eu conheci e por quem me apaixonei... Mas então quem é?

Não é de hoje que ela notara algo de diferente em seu amado. Não somente o comportamento, como a aura dele, de alguma forma, mudou. Desde então, não conseguira mais ler seus pensamentos como antes e sempre tinha a impressão de que Sting percebia quando invadia a mente do mesmo. No início, tentou convencer a si mesma de que não passava de uma impressão boba. Contudo, Sugaku agora compreende que a sua negligência para com sua capacidade de percepção sairá cara demais...

– O Dia das Trevas... – repete ela. – O que é isso? E o que quer de mim?

– Como já deve ter percebido, não sou apenas o homem que você conheceu. Na verdade, ele já está morto.

– Morto? – a futura professora, completamente atordoada.

– Sim. Sting morreu no dia do casamento, antes de chegar à igreja. Sofreu um grave acidente no trânsito. Porem, a vontade de viver dele era tão forte que as trevas lhe concederam uma nova oportunidade de vida. Mas é claro: isso teve o seu preço...

A mulher, com os pensamentos conturbados, nada diz. Apesar disso, o sujeito continua falando:

– A escuridão tomou posse do coração deste homem. – afirma, colando a palma direita sobre o peito esquerdo. – Com isso, ele se tornou um servo das sombras.

– Não entendo. Do que está falando? – procura saber, hesitando em acreditar na morte do seu marido. – Se você não é o meu Sting, então quem...

Um sorriso diabólico mata os dizeres da jovem. Por mais que tenha o desejo de continuar falando, Sugaku não tem coragem de liberar nenhuma palavra sequer. Como poderia, diante de uma presença tão tenebrosa?

– No futuro, muitos se levantarão e ameaçarão a humanidade e a paz na Terra. Não somente os servos das sombras, como também outras entidades ainda ocultas. É possível que alguém, entre tantos, consiga realizar seu objetivo: algo que poderá atrapalhar os planos de quem sirvo.

– Seria isso uma espécie de guerra pelo mundo?

– Digamos que sim. E é claro que quem sirvo pretende ganhar essa guerra. – alega o sujeito, sendo de fato, “mais” do que o homem chamado Sting. – E por isso invadi sua mente através da umbracinese . Minha missão é passar o recado da escuridão.

– Qual recado seria esse? – pergunta, um pouco temorosa pela resposta.

Repentinamente, Saisey e Alice surgem, à direita e à esquerda dele, respectivamente. Porém, desacordadas, elas caem de bruços ao chão. Preocupada, a amiga das duas tenta se aproximar, mas o grito do sujeito a interrompe:

– Pare aí mesmo!

Temendo o que ele possa vir a fazer com ambas, ela para. E volta a encará-lo, ainda aflita. Por sequência, questiona:

– Diga: o que quer de mim?

– A sua obediência.

– Como é?

– Isso mesmo que ouviu, Sugaku Megumi. Você possui apenas duas escolhas: destruir todos os empecilhos que se colocarem perante quem sirvo ou ser engolida pelas sombras. – explica. – Qual sua escolha?

Sem hesitar desta vez, ela seleciona:

– A segunda alternativa.

Os olhos do homem se arregalam. E ele fala:

– Verdade? Não se importa com a sua vida?

– Se para viver, terei de espalhar o sofrimento e a dor, prefiro a morte. – afirma, com uma segurança admirável em seu tom de voz.

– Bem... Talvez não tenha entendido o que quis dizer... – e, com o indicador direito, aponta para Saisey e depois para Alice. – Então refaço a pergunta: destruir todos os empecilhos que se colocarem perante quem sirvo ou permitir que todas as pessoas valiosas para você sejam engolidas pelas sombras. Qual sua escolha?

Ela permanece longos instantes sem responder. Impaciente, o sujeito acrescenta:

– Você tem a chance de guardar para si todo o sofrimento que será causado pela escuridão nas gerações futuras. Afinal, sua missão será ajudar na conclusão do Dia das Trevas: o dia em que o legítimo mal renascerá. Em outras palavras, você é a encarregada de disseminar a promessa das sombras, Sugaku.

Sting ergue seu braço esquerdo e direciona sua palma para a testa da mulher. É quando, com uma espécie de rajada negra, atinge seu alvo. Por consequência, centenas de imagens embaralhadas invadem a mente dela de uma só vez. São revelações sobre os responsáveis pelo planejamento do Dia das Trevas, quem é o verdadeiro inimigo da humanidade e quanto sofrimento as pessoas terão de viver até tal momento. Desesperada, Sugaku sente o profundo desejo de chorar. Mas contrariando-o, ajoelha-se e se curva perante o sujeito, dizendo:

– A partir de hoje, eu serei a representante da escuridão na Terra.

– É assim que se fala... – diz ele.

Com o rosto baixo, em reverência ao homem dominado pelo mal, a futura professora deixa uma solitária lágrima cair do seu olho direito. Para si mesma, promete que abandonará tudo o que foi bom em sua vida em prol da sua missão. É então que, surpresa, percebe que as trevas do local estão se dissipando. Com pouco tempo, ela retorna para a comum cozinha de sua casa. A mulher se levanta e, nas mesmas posições, – antes da manifestação das trevas – estão Alice e Saisey. Já Sting, por outro lado, jaz de costas no chão.

– O que houve? – pergunta Alice, olhando em direção à humana avançada da superforça. – Por um momento, ele estava sendo ameaçado por você, Saisey. E no outro, está caído no chão?

– Eu também não entendi. – afirma a interrogada.

– Eu o matei. – alega Sugaku, já de pé, decidida a esconder a verdadeira razão da morte de seu marido.

As outras duas olham para ela. Percebem o sorriso maquiavélico brotando na face da morena. E, perplexas, não conseguem aceitar a afirmação dela. Como alguém como Sugaku poderia matar uma pessoa? Como poderia, ainda pior, matar o homem que sempre amou?

– Ele estava me importunando. Me cansei. – completa, dando as costas para as duas.

A dupla ouvinte não consegue proferir nenhuma palavra sequer. Mesmo assim, se aproximando da pia do local, a dona da residência se posiciona perante a mesma. Com a mão direita, recolhe sobre ela seus óculos e os leva para seus olhos. Então vira-se outra vez e articula:

– A velha Sugaku acaba de morrer e uma novinha em folha a substituiu. E vamos admitir... – com uma pausa, acerta seus óculos com o indicador esquerdo. – Esse meu novo eu é bem melhor...

/--/--/

Fim da sinfonia de Sayuri Kishimoto, fim da visão do passado. Ainda na biblioteca, todos os presentes nesta roda se mostram perplexos: desde os que conhecem relativamente bem a professora até os que pouco sabem sobre ela. Ninguém aqui esperaria que um ser humano teria de passar por tanta coisa sozinho.

– Essa é a sua verdadeira mãe, Jayden. – afirma Sayuri, retirando sua flauta de perto dos seus lábios, colocando-a sobre seu colo e passando a fitar o amigo, com calma. – Ela, de longe, é um monstro.

– Ela foi possuída pelas sombras? – ele tenta entender, supondo que a atitude final de Sugaku comprova sua hipótese. – É isso?

– Não. – responde. – Essa é a máscara de cristal de Sugaku Megumi. Foi o que ela fez para proteger nosso futuro, o futuro da humanidade.

De repente, a artista se levanta. Alternando seu olhar entre vários dos presentes, começa a dizer para todos:

– Mesmo Fênix ou os Soldados da Gênese... Nenhum deles é o nosso verdadeiro inimigo. Quem realmente representa a verdadeira destruição ainda está oculto na escuridão. E, pelo bem da humanidade e de tudo que acreditou um dia, Sugaku fingiu aceitar a missão de espalhar o mal quando na verdade pretende selá-lo.

– Selar o mal? – Akemi, por sua vez.

– Sim. Desde o início, ela estava decidida a morrer por esse ideal. – sem conseguir se segurar mais, Sayuri deixa suas lágrimas caírem dos seus olhos e umedecerem a sua pele. – Sugaku selará a escuridão com a própria vida e deixará para nós tudo o que ela acredita.

Sem palavras. Todos estão sem palavras. E, nesse contexto, uma mulher observa de longe toda a situação. Com seus óculos, a integrante da Carmesim se vira e volta a caminhar lentamente, para se afastar dali sem levantar suspeitas da sua presença. É Sugaku Megumi.

– Quando o dia chegar, não hesitarei. – pensa a telepata, com sua palma direita sobre seu seio esquerdo. – Porém...

Ao ultrapassar a porta do local, a professora sente suas pernas fraquejaram. Apoiando seu ombro esquerdo na parede, acaba chorando, falando para si mesma:

– Seria tudo tão mais fácil se eu pudesse apagar minhas próprias memórias... – e ela se abraça, abaixando seu rosto. – Mas nem mesmo eu posso me desfazer do que vive em meu coração.


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