Kyodai - The Awakening Of Chaos (Interativa) escrita por Wondernautas


Capítulo 18
Capítulo 17 - Queen of flowers and the maiden cats


Notas iniciais do capítulo

Yo!!! Torcendo para que gostem^^



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Certos dias se passaram desde que Lucy Rouvier contou tudo o que achou necessário revelar para Senshi Yujo e todos os demais. A semana das primeiras provas chegou. Hoje, quarta-feira, durante o horário letivo, foram aplicadas as provas de Física, Química e de Biologia. Supõe ela ter ido bem em ambas. Porém, apesar de sua dedicação aos estudos, a adolescente, por muitos definida como superdotada, tem no momento outras preocupações.

– Rouvieeeeeeeeer-saaaaaaaaaan... – uma voz familiar lhe chama.

A garota, que andava por seu corredor, cessa seus passos e olha para trás. Seu par de olhos encontra Tsubaki, se aproximando com certa agilidade.

– Como foram suas provas hoje, Rouvier-san? – pergunta Tsubaki, sorridente, ao se colocar centímetros diante da outra.

– Fui bem em ambas. Por quê?

– Por nada, apenas curiosidade. Poderia falar com a Cianno-kun para me encontrar no jardim do colégio? É que o Yujo-kun, a Seiya-kun e eu vamos nos reunir lá... Assuntos sobre nosso clube de gatos...

– Sim, posso dar o aviso sim. Mais alguma coisa?

– Não, apenas isso mesmo. Obrigada. – agradece, com seu costumeiro tom adocicado.

– Olá garotas. – Saito Urushihara as cumprimenta, ao surgir da mesma direção por qual Tsubaki veio, se colocando ao lado direito da mesma.

– Olá Urushihara-kun.

– Olá garoto tarado. – Lucy, com os olhos entrefechados.

– Garoto tarado? Eu?

– Sabe muito bem que sim, tarado, você. – insiste ela, cruzando os braços, apesar de sua calma normalmente constante.

– Nunca fiz nada que lhe desse razões pra me chamar assim... – reclama, colocando as mãos sobre sua cintura.

– Bem... – reinicia ela, olhando para cima e colocando o indicador direito sobre os lábios, pensativa –  Andou me vigiando, invadiu o meu quarto, bisbilhotou as minhas coisas, comentou com o Kaoru e o Gingamaru sobre os 98 centímetros dos seios da Nagashi, sugeriu a eles que “investigassem” ela... – cita “investigassem” com tremenda ênfase.

– Opa, opa, opa... – interrompe ele, com o rosto corado, antes que Lucy fale algo mais – Está exagerando!

– Diga isso para a vassoura. – rebate, voltando a fitá-lo – Ela está lá no meu quarto, para prevenir qualquer intrusão indesejada.

Tsubaki observa o diálogo dos dois, sem se manifestar em nenhum instante. Apesar do clima de rivalidade, ela se diverte com a dupla. Chega a se lembrar de que Samasha havia feito certos comentários sobre Saito e, como não é tão boba e inocente quanto parece ser, a melhor amiga de Daisuke logo entendeu que a dona de Blue está apaixonada.

– Você é irritante, sabia? E demais! – exclama o garoto, exaltado.

– Posso dizer o mesmo de você, primeiranista de capacidade intelectual deficiente à mercê das circunstâncias de um advérbio. – repudia, abanando sua mão esquerda com desdém.

– Como é que é? – indaga o mais novo dos três, sem entender o comentário da “amiga da vassoura”.

Tsubaki continua a ouvi-los e faz de tudo para segurar seus risos. A discussão persiste até que o choro de alguém chama a atenção dos três. Por consequência, Saito e Lucy dão uma trégua.

– Quem está chorando? – indaga ele, sem conseguir identificar a dona da voz.

– É a Sophia. – declara ela – Chora sempre por coisas tão banais, não consigo entender essas pessoas tão emotivas e sentimentalistas...

– Pensei que você entendesse tudo, garota das histórias malucas de pessoas com superpoderes... – debocha aquele que tanto chamou a atenção de Samasha.

Tsubaki não escuta mais nenhuma outra palavra, de nenhum dos dois. Assim que percebe que o choro é mesmo de sua querida amiga, ela corre em disparada, rumo ao local de origem dos lamentos: o quarto dividido por Sophia, Sayuri e Lucy.

– Cianno-kun, o que ouve? – pergunta ela, preocupada, ao abrir a porta com pressa e entrar no local sem esperar nada mais.

Sophia, com o rosto úmido, chora como uma criança ao perder seu doce preferido, assentada em sua cama. Sua amiga, se importando com ela, se aproxima e se assenta ao seu lado esquerdo.

– O que aconteceu?

Ela, olhando brevemente para a recém-chegada, abaixa o rosto, continuando a chorar. Demonstra ter o desejo de falar algo, mas tem dificuldade para fazê-lo. Compreendendo tal fato, Tsubaki recosta sua palma direita sobre o ombro esquerdo da chorosa.

– Me diz, eu quero te ajudar, Cianno-kun...

Sophia tenta segurar seu choro. Entre alguns soluços, ela respira fundo e articula:

– Minha mãe tem uma saúde muito frágil e está internada, como quase sempre. Ela nunca deixou de gostar de rosas brancas e dizia que onde eu encontrasse uma, eu estaria encontrando ela própria.

A adolescente pausa, recuperando seu fôlego. Seus soluços chegam ao fim e, segundos depois, decide continuar, notando que a companheira não lhe pressiona em momento algum:

– Quando eu cheguei aqui, me senti muito solitária e um pouco triste. Ainda não estava preparada para me afastar dela. Foi quando, ao conhecer a Samasha-chan, você e depois o Senshi-kun, descobri que eu poderia ter bons amigos aqui. Até a Blue-chan conta! – exclama, esboçando um leve sorriso.

– Own... Blue-chan é mesmo uma graça... – opina, empolgada, arrancando alguns moderados risos da parceira do clube de gatos.

– Depois disso, eu achei um canteiro de rosas brancas, muito lindo mesmo, lá no jardim. Foi como ter encontrado um pedaço da minha mãe, já que ela sempre me dizia que essas flores são como ela: belas, por quais as pessoas se afeiçoam facilmente, mas ainda assim frágeis.

A filha de Isis Cianno abaixa sua face, desviando-a para outra direção que não seja a que tenha que manter conexão olho no olho com Tsubaki. Apesar dela ser uma amiga, Sophia se sentiria um tanto quanto incomodada se continuasse a falar sem assim fazer.

– Eu passei a cuidar do canteiro, mas hoje, quando eu fui vê-las, haviam morrido. Estão todas secas e murchas. Isso me doeu tanto, não só pelo fato das rosas em si, mas também pelo fato de ligar elas diretamente à minha mãe. Foi como descobrir, da pior maneira, que eu posso perdê-la a qualquer instante... – esclarece, assim que suas lágrimas renascem, ainda mais abundantes do que antes. – Você acha que eu sou muito boba? – pergunta, voltando a fitá-la com atenção.

– Claro que não. Você apenas atribui as flores a alguém que gosta muito. Perder as rosas foi como perder o pedaço de sua mãe... – diz, com um ligeiro e doce sorrir – Mas vou te contar um segredo: eu também adoro flores...

Sophia se sente alegre, apesar do que acontecera. O fato de perceber que alguém entende com perfeição os seus sentimentos substitui a relevância de qualquer símbolo, mesmo sendo esse um símbolo de alguém tão valioso. Afinal de contas, as pessoas em si são bem mais importantes do que aquilo que pode representa-las. Para ela, todo ente que preza é insubstituível e indispensável.

– Além disso, as rosas brancas não representam apenas beleza e fragilidade. – acrescenta, erguendo o dedo indicador esquerdo, como se oferecesse a outra uma valiosa lição – Elas possuem um significado muito mais profundo.

– Qual? – pergunta, curiosa, quando suas lágrimas secam definitivamente.

Tsubaki fecha seus olhos e eleva seu sorriso ainda mais. Sem o objetivo de assassinar sua amiga de ansiedade crônica e letal, ela finaliza:

– Sentimentos puros e sinceros.

– Sophia-kun, Tsubaki-kun, vocês estão bem? – pergunta Jayden, ao aparecer diante da porta do quarto, que permanecera aberta desde a entrada da “amante das flores”. – O Saito me falou que...

As duas amigas, lado a lado na cama da mais jovem, voltam seus rostos e olhares para o terceiranista. Bem mais alegre do que antes, Sophia seca o restante de suas lágrimas com a mão direita e, então, responde:

– Não se preocupe, estou bem agora. Obrigada por se interessar...

O mais velho, parado no vão da porta, sorri, desmanchando sua expressão de preocupação. Aliviado, comenta:

– Ainda bem. Posso ajudar em alguma coisa?

– Na verdade, pode sim. – Tsubaki se manifesta, levantando-se – Poderia vir com a gente para o jardim?

Desde as revelações de Lucy, Tsubaki, Sophia, Jayden, Senshi, Samasha, Saito, Gingamaru, Sayuri, Daisuke e Jimmy se aproximaram bastante. Talvez os dizeres dela serviram para consolidar as relações do grupo. Yuong, Kaoru e Nagashi foram os que menos se envolveram com o restante e a “cientista maluca”, essa não criou nenhuma relação de amizade. Pelo menos, a primeiro olhar.

– Vamos lá para a reunião do clube? – a dona da cama, ainda acomodada sobre ela.

– A reunião pode esperar um pouquinho, não acha? Até porque, se a Seiya-kun ficar brava, é só levarmos umas flores para ela que ficará mansinha como a Blue-chan... E o Yujo-kun... Bem, duvido que ele fique bravo com a gente por qualquer motivo que for...

– É verdade... – confirma Sophia, rindo.

– Ele é bem legal, né? – indaga Jayden, curioso, alternando seu olhar entre as duas.

– Quem, o Yujo-kun? Sim, ele é bem legal e muito divertido.

– Por que, Enzy-chan? – a que permanece assentada tenta saber, com um timbre sugestivo – Tá interessado, é?

– Não, não, que isso... – desconversa ele, um pouco corado.

– Ah, admite, não tem problema nenhum. – brinca ela – Quem no colégio que não reparou nele?

– Eu ainda acho o Yuong-kun mais bonito... – opina Tsubaki, com o rosto cabisbaixo e quase tão vermelho quanto um tomate, e dos mais maduros.

– Os dois empatam... – Sophia, visivelmente recuperada do seu momento de tristeza, observando a expressão evasiva da amiga.

– Sabe quem eu acho o mais lindo e irresistível? Eu mesmo! – exclama Jayden, “acelerando o processo” – Agora vamos logo, né Tsubaki-chan?

– É... Sim... – reage, reerguendo sua face e encarando-o, sem deixar sua amabilidade de lado.

Juntos, os três saem do quarto. Sophia fecha a porta e, com seus dois amigos, segue o corredor.

– Você é uma chata, Lucy! – exclama Saito.

– Afe, não tem mais nada de criativo para falar não? – pergunta ela, com um sutil deboche.

Desde o início da “briga”, minutos atrás, a dupla não saiu do lugar. Os dois permaneceram discutindo e, agora, Kaoru é o espectador da cena, com o olhar entediado, após várias tentativas falhas de pará-los.

– Eles não vão parar nunca, Kaoru-kun. Desista. – fala Jayden, entre as outras duas garotas, caminhando em direção ao trio parado no meio do corredor.

– Com toda a certeza. Eu já desisti faz tempo... – revela o inseparável amigo de Saito, observando o aproximar de Tsubaki, Sophia e Jayden.

– Não sejam tão rígidos. Ele só está tentando ser amigo dela, mas acaba agindo diferente com a Lucy-san. É uma espécie de química reversa, entendem?

– Pelo menos eu não, Sophia. – admite o grande amigo de Yuong, sendo sincero.

Decidindo acompanha-los, Kaoru coloca suas mãos nos bolsos de sua calça e segue seu rumo, deixando Lucy e Saito sozinhos, enquanto esses dois não param com o bate-boca um segundo sequer. Entretanto, uma agressiva voz ecoa por toda a extensão do corredor, paralisando todos:

– Saito, Lucy, é melhor fecharem suas matracas nervosas agora ou eu farei isso por vocês!

Ao cessarem seus passos, Tsubaki, Sophia, Jayden e Kaoru olham para trás. Encontram Nagashi, caminhando da outra ponta, em direção aos outros dois.

– Não aguento mais esse blá blá blá... – reclama a loira, se colocando centímetros diante do “tarado e da cientista”. – Estou tentando estudar para as provas de amanhã, mas quem consegue com essa palhaçada?

– Desculpa, Nagashi-san, não foi nossa intenção atrapalhar você.

– Nagashi-san, parabéns pelos 98 centímetros, eu não devo ter nem metade! – exclama Tsubaki, na maior inocência, acenando com sua palma esquerda ao alto.

A loira arregala os olhos ao olhar para ela, assim como Lucy e Saito. Contudo, a neta da falecida Madallena Swords fica pálida de fúria e a dupla, de temor. Afinal de contas, é nítido que a estudante do segundo ano ligou os pontos e entendeu a situação sobre os “98 centímetros”. Como da última vez em que alguém, no caso Juli, tocou no assunto “seios”, o resultado não foi dos melhores, subentende-se que o de agora pode ser ainda pior...

– Foi você que fez esse comentário com ela, Saito? – questiona a enfurecida, frisando seus olhos com ardor.

– Na verdade... – ele, calmo, tenta explicar, mas o repentino puxão de Lucy o intercepta.

– Fica quieto! Se preza a saúde do seu corpo, é melhor não querer vê-la irritada! – declara a garota, usando sua mão direita para puxá-lo pelo respectivo braço e quase que arrastá-lo pelo corredor.

Nagashi apenas permanece no mesmo ponto, enquanto a dupla se distancia. Ainda nervosa, ela fecha os olhos e respira profundamente, antes que perca a cabeça, como de costume.

– Ainda quebro uma vassoura na cabeça desse garoto... – e se vira para o outro lado do corredor, andando para tal direção.

Lucy, por sua vez, passa com pressa por Jayden, Tsubaki, Kaoru e Sophia, levando Saito à força, sem sequer trocar olhares com eles. Para o quarteto, tudo o que resta é rir...

/--/--/

– Promete?

– Prometo.

– Promete mesmo?

– Sim, prometo.

– E vai cumprir o que está prometendo?

– Sim, cumprirei o que estou prometendo.

Daisuke Saruma e Yuong Tsukyomi. Cada um assentado em sua própria cama, observando o outro, com poucos metros de distância. Demorou, e como demorou, mas a inevitável conversa tinha de acontecer.

– Vai mesmo cumprir? – insiste Daisuke.

– Eu já falei quantas vezes, hein? Não consegue confiar em mim? – indaga, com a sobrancelha esquerda erguida.

– Você, de vez em quando, sofre alguns ataques, o que pode vir a comprometer a sua palavra.

– Chama-se tesão. – define o maior.

– Chama-se cara-de-pau. – corrige, sério.

– Poxa, não entendo o porquê de se preocupar taaaaaaaaaanto com a Tsubaki. Até parece que ela é feita de porcelana e que vai quebrar a qualquer descuido. Ou que ela vive em um mundo florido no qual o jardim dela está em risco de extinção.

– Às vezes, você consegue ser bem cruel. – declama, fazendo bico.

– Só quando eu quero... – define, com um sorriso de lado.

– Ainda acho que o melhor seria esquecer você e seguir em frente. – afirma Daisuke, no fundo destruído, apenas ao pensar nessa possibilidade.

– Sacrificando a felicidade de nós dois por algo que sequer tem sentido? De que adianta eu me manter longe de você e você de mim, se o que sentimos nunca vai mudar e jamais darei uma chance para ela?

– Só não quero que ela sofra... Tsubaki-chan não merece sofrer mais...

– Para alguém que tira sempre 10 em todas as provas, você está se saindo um tanto quanto... Imaturo. – declara, certo de si – Ninguém pode deixar de viver a própria vida com medo de afetar as das outras pessoas. Você não está fazendo mal a ela, apenas está tentando ser feliz, assim como eu.

– Mas para isso eu preciso machuca-la?

– Não seja bobo! Eu não estou prometendo que não vou ficar te agarrando por qualquer lugar do colégio? Além disso, é melhor que oficializemos isso do que ela descobrir que estamos juntos escondidos. – argumenta, sério – Ela pode ser meio boba, mas burra não é, certo?

– Não, ela não é burra. E também não é boba. ­– o repreende, severo.

– Do que adianta para as flores terem beleza e graça se não conseguirem sobreviver sozinhas? – questiona, ignorando a indignação do companheiro de quarto – Do que adiante a Tsubaki ser um amor de pessoa com todos se ela não for capaz de superar nenhum obstáculo da vida por si só?

Daisuke não responde, apenas reflete sobre as palavras de Yuong. São coerentes, no fim das contas. Talvez ele tenha, no fundo, razão?

Levantando-se de sua cama, andando em direção ao menor e se assentando ao seu lado esquerdo, o terceiranista prossegue:

– Eu já passei por muita coisa na vida. E quase nunca tinha alguém para me apoiar. Querendo você ou não, ela tem que passar por experiências assim, por que o mundo lá fora não é um mar de rosas. Pelo contrário, pode ser até bem cruel. Bem mais do que você diz que sou. – alega, cara a cara e olho no olho, apenas alguns centímetros distante dele – Vai por mim, a Tsubaki precisa aprender a utilizar suas próprias armas.

O mais novo sorri, fitando-o. Por consequência, Yuong também sorri.

– Se você não existisse, pediria a Lucy-san pra te inventar.

– Como se alguém no mundo tivesse a capacidade de criar algo que se compare a mim... – replica, brincando.

Eles se entregam aos risos, cada um da sua própria maneira. Porém, eles não duram muito tempo, sendo silenciados por um apaixonado beijo. Tal silêncio do momento contrasta, com perfeição, com a leal espectadora que a tudo observa.

“Veja com seus próprios olhos, no quarto daqueles dois que tanto preza, que o seu melhor amigo não é tão ‘amigo’ quanto você pensa...” São as palavras escritas em uma folha de papel, fixa na mão direita de uma outra estudante de Kyodai, que observa a cena pela pequena abertura da porta.

Tsubaki, há pouco, estava com Jayden, Kaoru e Sophia, os três juntos pelas dependências da escola. O primeiro foi para o refeitório fazer um lanche. O segundo foi para seu quarto. A terceira foi para o jardim do internato, a pedido da própria Tsubaki. Isso pela razão de, no trajeto que trilhara com ela, a amiga de Daisuke encontrou uma folha de papel, na qual a primeira frase a se ler é: “Para a tola enganada: Tsubaki Seijitsu”. Com certa facilidade, entendeu do que se tratava o assunto e foi, pessoalmente, conferir. O que seus olhos encontram, em tal instante, é o que lhe faz ter a sensação de ser atravessada por impiedosos espinhos, da cabeça aos pés.

Os olhos se umedecem e as lágrimas, como se possuíssem vida própria, caem deles e lavam o seu rosto, purificando-o. Incapaz de suportar mais um segundo sequer do que vê, ela se afasta, tão silenciada como quando chegou. Seus passos, mas necessários do que nunca, são como martelos que atacam os espinhos, aprofundando-o sem seu corpo. Tapando a boca com a outra mão, a garota faz de tudo para que seu pranto permaneça oculto, até se afastar o suficiente. Às escondidas, é dessa forma que seu sofrimento sempre esteve. Tem a concepção de que nada mudou e que, talvez, seja dessa forma que deva continuar...

/--/--/

Um jardim vívido e belo. Apenas um canteiro de rosas, que um dia foram brancas, mancha a beleza do local com a expressão da morte. Assentada sobre a grama, Sophia Cianno observa as flores que cuidara com tanto carinho, mas que de uma hora para a outra, murcharam e tornaram-se secas.

– Ela está demorando... – sussurra, desviando o olhar para o céu.

– Já cheguei, Cianno-kun. – declama a voz de Tsubaki, que se aproxima do lado esquerdo da primeiranista.

– Eu estava começando a achar que tinha me mandado para cá para se livrar de mim. – brinca, ao direcionar seus olhos para a amiga.

– Nunca! – renega, demonstrando um sorriso amoroso, mas forçado, ao se assentar ao lado dela.

– Ainda bem... Essas são as rosas de que falei, ou pelo menos eram... – diz, tristonha, indicando as flores murchas com seu braço direito.

Tsubaki passa a olhar para as rosas mortas. Faz um esforço colossal para não deixar que sua tristeza se torne transparente. Sempre foi perita nisso, escondendo seu sofrimento atrás da sua gentileza e bondade. Entretanto, mesmo para alguém já tão experiente no assunto, a tarefa agora parece ser mais complicada do que nunca.

– Só não entendo a razão de me pedir para vir aqui... – admite Sophia, notando o olhar perdido dela sobre o canteiro seco.

De repente, Tsubaki se levanta da grama e se aproxima das roseiras envelhecidas, reduzindo a distância entre elas e si a quase zero. Sua amiga apenas observa atenta quando, quase deixando passar despercebido, nota que há lágrimas brotando dos olhos dela, e estas, caindo sobre as plantas ressecadas e sem nenhum pingo de vida.

– Sabe qual o meu maior sonho, Cianno-kun? – pergunta a “flor lover”, sem cessar sua observação sobre o canteiro.

– Que as flores tenham vida eterna? – supõe, já ciente da paixão dela por flores, algo que supera até mesmo o amor por gatos.

– Muitas pessoas acham que eu sou fraca, que preciso de proteção a todo o momento ou que não sou capaz de vencer por mim mesma. É algo tão doloroso quando isso é evidenciado bem diante dos meus olhos...

As lágrimas de Tsubaki continuam a rolar e cair sobre os vegetais. É quando um surpreendente fenômeno acontece: as pétalas, os caules, as folhas e até mesmo os espinhos recuperam o seu verde, recuperam a vida que haviam perdido. As rosas renascem.

– Tudo o que eu mais desejo é ser útil... – revela ela, enquanto mais e mais flores surgem, não só no canteiro, como em outros pontos do jardim, próximos a Tsubaki.

Sophia observa todo o fenômeno sem acreditar no que vê. É como se as lágrimas de sua amiga inspirassem a vida que nem mesmo a própria natureza é capaz de oferecer.

– Pelas pessoas que amo e por aquilo em que acredito, eu preciso ser útil. – completa, virando-se para a primeiranista, mais uma vez.

A menor, que permanece assentada sobre a grama, já não consegue mais reter sua emoção. É impossível não sentir a vida que transpira de Tsubaki. Impossível negar a força e pureza de seus sentimentos.

– Sabe... – inicia Sophia – Ouvindo e vendo tudo isso...

Três pequenas sombras surgem em meio às flores do jardim, na forma de um trio de adoráveis mamíferos. A certa distância da dupla, os gatos se aproximam com serenidade. Um branco, um de pelagem alaranjada e o outro, preto. As duas garotas os percebem, mas nem mesmo isso os inibe. Como se a conhecessem há muito tempo, eles chegam perto o suficiente e se acomodam no colo de Sophia. Alegre, ela conclui:

– Creio eu que temos muito em comum...


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Notas finais do capítulo

Abraços!



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