Depois da Escuridão escrita por Lucas Alves Serjento


Capítulo 19
Capítulo 19 - Luz e Escuridão




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N/A: Estou repostando a história para corrigir a gramática e fazer leves alterações para tornar a história mais agradável de ler. Espero que gostem.

 

Capítulo 19 – Luz e Escuridão.

 

Uzumaki Naruto

Eu olhava a Kyuubi. Sentia o nervosismo fazer cócegas em meu cérebro, que funcionava mais intensa e rapidamente. Infelizmente, isso me fazia ficar mais alheio ao ambiente ao meu redor.

O silêncio reinava absoluto e a chuva desaparecera por completo, substituída por um assovio fino e silencioso de um vento gelado que batia contra o meu peito. À minha frente, o frio arrepiara os pelos da raposa.

Olho no olho. Eu, seguido pelo demônio, que atrás de mim fazia uma espécie de sombra grotesca, encarava-a de frente. Igual para igual. O silêncio era nosso rei. As sombras no chão eram os nobres e os últimos raios de sol compunham a plebe.

A plateia estava pronta. E, quando a raposa avançou, foi dado início ao espetáculo.

 

Hatake Kakashi

Outro chute no peito. Tentei lembrar o número de vezes que esse golpe tinha sido dado em mim e percebi que já perdera a conta.

Os golpes, sozinhos, seriam suficientes para causar dor, mas o frio que arrepiava a espinha e espalhava pro meu corpo fazia com que o sofrimento piorasse.

Eu sentia ódio. Percebia meus sentidos enfraquecerem. Sentia dor. Sentia a inferioridade da minha posição.

Mas também sentia que podia suportar. Tinha que suportar. Devia isso a Naruto. Ele precisava disso.

Depois de golpear, o Uchiha se afastou. Cuspi sangue pela quinta vez, sobre o chão da sala escura e suja, onde estávamos apenas eu, ele e Ino. Ele se agachou, próximo de mim e olhou fundo em meu olho. Eu me esforçava para deixar aberto apenas o olho do sharingan e lastimava a falta de minha bandana, arrancada no primeiro golpe.

—Hatake Kakashi. – Era a terceira vez que ele repetia meu nome. – Quer me dizer qual o segredo que seus cérebros insistem em proteger?

Eu me mantive calado. Ele se virou e pegou uma kunai, cuidadosamente posta fora do meu alcance. Seu rosto, mesmo agora, não tinha nenhuma expressão. Prazer, ódio, malícia, nada. Apenas desejo de uma resposta.

—Não vai dizer?

—Quer mesmo saber a resposta? – Tentei soar confiante. – Continue esperando.

Ele ficou parado, olhando para mim como se aguardasse alguma mudança súbita de pensamento. Passados alguns segundos, ele fez a única coisa que eu não queria que fizesse. Ele se virou para sua esquerda e caminhou na direção de Ino. Sua intenção era clara. Olhei para o rosto dela. Sua expressão era paralisada e ficou evidente o esforço em não demonstrar medo.

—Ela não sabe nada. – Falei, sentindo meu tom fraquejar. Eu não queria que ele fizesse algo a ela. Ino passara a valer como uma espécie de…. Sobrinha para mim. Vê-la sofrer estava fora de cogitação.

—Ah, é? – Ele falou, com seu rosto coberto pelas sombras. – E o que você sabe?

A kunai estava em suas mãos. Ele estalou os dedos e abriu a sua palma livre. Uma pequena chama surgiu ali. Sem poder reagir, eu vi quando ele esquentou a ponta da arma. Com o metal fervente, ele o aproximou do rosto dela. A simples aproximação fez com que ela começasse a suar.

Meu olhar era de medo. Eu não sabia o que fazer. Tínhamos apagado a lembrança. Não era uma questão de não querer, mas sim de não ter o que contar.

—Nós não podemos contar o que é essa lembrança. – Ela reagiu antes de mim. Parecia ter pensado em algo. De onde estava, pude sentir um fundo de tremor em sua voz. – Não conseguiremos falar agora.

—E por que não?

Tentei me soltar, mas a corda sugava o meu chackra ainda mais rápido que antes.

—Porque precisamos da permissão de Naruto para conseguir lembrar.

 

Haruno Sakura

Eu continuava presa no corpo. Num corpo. Aquele corpo que já não podia ser considerado meu. Apesar de ter conseguido novamente o controle do braço, o Bijuu aplicou um tranquilizante no membro, inutilizando-me. Fiz força para tentar movê-lo, mas continuou inerte.

—Calma. – O Bijuu abriu a boca, dirigindo-se a mim. – Em breve você poderá matar a saudade do controle sobre seu corpo.

Tentei responder, mas não consegui. Realmente, aquele já não era mais meu corpo. Ninguém que me importava sabia, mas essa era a realidade. Uma realidade que, a cada dia, mais se assemelhava a um pesadelo.

Lentamente nós nos aproximávamos da fronteira de Konoha. Agora, já podia enxergá-la ao longe. Senti como se a proximidade fizesse meu corpo piorar. Se tornar uma espécie de tortura.

Eu não queria voltar. Não assim.

Voltar agora seria terrível. Significava mais sofrimento.

Eu me sentia como uma boneca usada em brincadeira de meninas.

Meninas más.

Que usavam a boneca para machucar a todos.

Sem se importar se a boneca fosse quebrada na confusão.

 

Uzumaki Naruto

Senti que o golpe da Kyuubi viria antes mesmo dela iniciar o movimento. O importante agora não era apenas golpear, mas sentir a importância de cada movimento. Sentir o poder posto sobre meus ombros.

Por isso não me preocupei com o golpe. A patada de cima para baixo foi parada pela mão do demônio. Ela usou a outra pata e o demônio novamente parou o golpe.

Senti os pelos em minha nuca se arrepiar. Tive tempo de olhar para cima e ver que ela abriu sua boca. No segundo seguinte um grito saltou de sua garganta, condensado com chackra. A rajada atingiu o demônio com a guarda baixa e ele foi empurrado para trás contras as árvores. Ele reagiu rápido o bastante e atravessou-as como se não fosse mais um ser material. Como um fantasma.

Vi que a Kyuubi se distraiu como movimento e percebi que era o momento de atacar. Um formigamento interior me assegurou que havia algo a fazer. Olhei para cima e entendi.

O pescoço dela estava desprotegido. Dobrei meus joelhos e me joguei para cima com o máximo da minha velocidade.

Entretanto, se tudo saísse conforme a minha expectativa, minha vida seria fácil demais. E a minha vida nunca foi fácil. Por isso, ela antecipou meu movimento e quando estava ao seu alcance, ela lançou sua pata na minha direção. Ainda no ar, desviei do golpe e procurei algo para me segurar. Juntei algum chackra na palma da mão esquerda. Usei essa mesma mão para segurar nos pelos próximos do peito da raposa.

Nos minutos seguintes, tudo aconteceu ainda mais rápido do que seria esperado. Foi quase como se tudo tivesse sido ensaiado para sair daquela maneira.

Corri peito acima pelo corpo da Kyuubi, usando chackra em meus pés e subindo até suas costas. Desviei de outra patada no meio do caminho. Senti-me como uma mosca que incomoda um ser humano. Reuni em minha mão todo o chackra que consegui e joguei parte da energia restante nos meus pés. Em um instante eu estava na nuca dela. Olhei para frente. Por cima da Kyuubi pude ver que o demônio vinha novamente em nossa direção. Senti que a situação era a melhor possível para agir e aproveitei o chackra em minha mão para formar um Rasenshuriken. Ele ficou pronto em um instante. Joguei então minha mão contra o corpo da raposa.

No instante seguinte, meu jutsu explodiu. Parte do corpo cedeu ao impacto, surgindo um buraco em suas costas. A explosão foi grande o bastante para lançar cada um de nós para uma direção diferente.

Enquanto caía, fiz com que uma corrente de vento amenizasse minha queda. Era um truque bastante útil para salvar de alguns curativos, mas não impedia uma dor horrível em meus membros. Além disso, tive que usar muita concentração para me proteger da explosão do meu próprio jutsu e não percebi a descarga de chackra que a própria Kyuubi lançou em redor do próprio corpo antes de receber meu golpe. Tinha sido forte o bastante para bagunçar todos os meus sentidos.

Levantei cambaleante, tentando recobrar minha postura. Então eu senti. Novamente, aquela sensação de que uma massa de poder era formada. Os pelos em minha nuca arrepiaram. Voltei-me para o local onde a raposa caíra. Ela estava em pé, com um manto de chackra cobrindo seu corpo. E pela primeira vez na minha vida eu senti aquilo. O medo que tantos antes de mim sentiram e que fora a principal causa da minha rejeição pela vila. O medo de estar na mira daquele monstro. De se ver incapaz diante da imensa massa de poder.

Ela abriu novamente sua boca.

Eu precisava suportar. Olhei para alguns metros à minha esquerda. O casaco estava jogado por ali. Ao lembrar que não estava mais o usando, tive de volta todo o poder do qual o casaco me privara por tanto tempo.

Só então notei o que Kakashi realmente pretendia quando me fez treinar com aquilo.

Aquele poder tinha sido dado a mim por Sasuke. Ou seja: O poder que não era meu estava quase selado. Até aquele momento.

Por isso, quando aquilo me foi dado novamente, tive de firmar meu corpo. Esperei sentir algo mais, mas não senti nada. Apenas uma calma anormal, que me deixou em paz. Os meus problemas não eram comigo mesmo. E isso não me fazia sentir nada.

Apenas uma paz esquisita. Absoluta.

 

Yamanaka Ino

—O selo em nossas memórias foi elaborado durante o treinamento de Naruto. – Com todas as forças do meu corpo eu calculava cada movimento. Eu não podia fraquejar, mesmo com aqueles olhos me encarando.

Por sorte, Naruto escolhera talvez as duas únicas pessoas na vila que seriam capazes de guardar esse segredo. Outra pessoa não seria capaz de desviar do sharingan. Eu e Kakashi conseguíamos.

—E como uma autorização de Naruto poderia quebrar esse jutsu?

Eu odiava aquele homem. Odiava como ele me encarava, procurando um vacilo no meu controle de chackra para me fazer dizer tudo o que ele queria saber. Odiava seu rosto e sua voz. Odiava seu poder.

Lembrava-me de Naruto dizer o nome dele enquanto estivemos reunidos, antes de conversar com Tsunade.

—Tenzo. Eu já falei. Esse é um selo especial. A combinação do chackra dele com uma frase completa um ritual que desfaz o selo que aprisiona as lembranças.

Ele pensou por alguns instantes. Recuou pela primeira vez desde o início do interrogatório. Não consegui compreender se ele realmente estava considerando a minha mentira como uma alternativa. Olhei para Kakashi, imaginando se ele sabia o que eu queria fazer. Concluí, por sua expressão, que ainda estava tentando adivinhar.

Mal sabia ele que, se eu conseguisse o que queria, estaria livre em breve.

—E qual é a frase?

—Nós não sabemos. – Respondi. – Por segurança, Naruto não nos contou.

Ele olhou para Kakashi. Imaginei se duvidava de mim. Se eu estava correta, ele formularia um plano para se precaver.

—Então está bem. – Ele falou, olhando para Kakashi. Este pareceu entender o que aconteceria a seguir. – Parece que eu e Kakashi conversaremos com Naruto. Isto é, se ele ainda estiver vivo.

Era o que eu precisava. Sabia que Tenzo entendera que eu era um refém melhor para extorquir Naruto do que Kakashi. Assim, Kakashi estaria fora dali. Naruto poderia ser avisado. Se colocar a salvo.

Assim, todos estariam salvos. Ao menos por algum tempo. Era o melhor que eu poderia oferecer.

Tenzo foi até onde Kakashi estava amarrado e tocou a cadeira sobre a qual ele estava sentado. Olhou para mim.

—Até mais, Ino. Daqui a pouco estaremos de volta.

Kakashi ainda encontrou tempo para dizer.

—Ino, não!

Então eles desapareceram. E, pela primeira vez desde que me unira a Naruto, eu me senti sozinha.

 

Uzumaki Naruto

Não foi muito difícil conseguir fazer as coisas depois de sentir que tinha novamente o poder. Não necessariamente por conta do aumento em meu poder. A Kyuubi, inclusive, pareceu entender o que eu senti. Afinal, suas palavras expressavam exatamente o que eu sentia.

—O…. Sharingan. Como é possível?

Eu não precisava fazer jutsus como antes. Apenas pensava no que fazer e o sharingan fazia o restante. No momento seguinte a raposa estava paralisada na mesma posição de antes. Eu ainda não entendia direito o que estava fazendo. Mas sabia que não estava fazendo algo errado.

Eu não fazia ideia de como ativara o sharingan. Somente sentira aquela paz interior e o sentimento incrível de plenitude.

Era estranho, mas, ao mesmo tempo, familiar. Tornava compreensível entender o motivo da expressão de Itachi ter sempre a mesma expressão serena. Era impossível não ser assim com aquela sensação na pele. Sasuke não era assim por que…. Acho que era por causa da importância de sua vingança sobre todas as coisas. O que não se aplicava a mim.

Eu caminhei até a raposa, que permaneceu paralisada onde estava. Percebi o demônio observando, mas ele não fez nada enquanto eu me colocava ao lado dela.

—Eu venci. – Falei. Não consegui usar o meu tom habitual. Minha voz soou mais tranquila. Voltei meu rosto para o demônio. – Pode pegar seu prêmio.

O demônio se aproximou, olhando para mim.

—Meu prêmio não é apenas ela. Você também. Os dois.

—Você não vai me levar. – Meu tom não se alterou nem um pouco com a ameaça. – Se tentar me levar, eu selo nós dois e a alma do Bijuu permanece intacta desse lado.

—Isso não é uma negociação.

—Eu acabei de tornar uma negociação. – Eu sabia que era a minha única chance de continuar. Comecei a andar para fora da clareira. Ele não me deteve.

—Está bem. Só não conte mais comigo para te ajudar. – Ele percebeu que eu caminhara para pegar o pergaminho de sua invocação.

—A não ser que eu tenha outra alma tão boa ou melhor que a dela para oferecer. – Recolhi o pergaminho do chão.

Surpreendi-me um pouco com a falta de recusa da parte dele. Ficou claro para mim que ele tinha esperança de obter outro grande sacrifício se não me rejeitasse como “aliado”.

Eu saí então da clareira e cancelei o sharingan. A Kyuubi já estava submetida ao controle do demônio. Esperei um pouco, aguardando algum sinal de que ele conseguira prosseguir.

Silêncio.

Silêncio.

Folhas e vento.

Silêncio.

Um rugido que corta tudo. Que supera todos os sons. Um som de medo e desespero. Um berro de uma alma que sabe que só verá sofrimento e dor. Que pede piedade.

Tarde demais para a raposa.

Silêncio.

Folhas e vento.

Fim do Capítulo 19

*


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