Reinventada escrita por Chloe Stangerson


Capítulo 9
Surpresa


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal. Estou aqui com mais um capítulo e como prometi que iria recompensar aquele capítulo minúsculo, estou aqui com esse e com muito orgulho de mim – não. Na verdade, eu prometi para mim mesma que só leria as reviews do capítulo passado quando terminasse esse capítulo – e isso funcionou! Eu curiosa fiquei me remoendo para ver as reviews, então aqui está o capítulo.
Ah e muuuuito Obrigada pela recomendação L Anon, eu ainda pulo de felicidade quando vejo ela



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A fila se desfaz, e todos começam a seguir o homem que se encarregou dos nascidos na Abnegação. Estes, por sua vez, já estão conosco, conversando com alguns transferidos, conversas breves. Faço um coque rápido e acompanho Faith, que anda um pouco a minha frente. Ela olha para trás, e para um pouco para eu acompanhá-la.

O Sol não está incômodo, como aquele ao meio-dia. O vento fresco ajuda a amenizar o calor a essa hora, que não deve passar das 8 da manhã. Caminhamos lentamente pela rua de terra, todos em silêncio. É típico da Abnegação se manter calado, mas com tantos transferidos não achei que eles seriam assim logo no primeiro dia.

Depois de uma longa caminhada, finalmente chegamos a área mais afastada da civilização, onde moram os sem-facções. A situação é realmente deplorável, com prédios abandonados, janelas quebradas, e um silêncio terrível. Como eles vivem aqui? Eu realmente não sei.

O Homem, que se apresentou como Jared, nos dividiu em 4 grupos, mas como éramos 14, dois grupos ficaram com um a mais. Meu grupo ficou com 4: Aaron, um garoto de olhos castanhos e cabelos ruivos nascido na Abnegação, uma garota de cabelos escuros e olhos de um verde-oliva nascida na Abnegação, e eu.

Faith ficara no outro grupo com quatro pessoas, e logo se enturmou com os nascidos na Abnegação. Provavelmente era mas fácil para ela, já que veio da Amizade e cresceu assim, sempre sendo alegre, divertida. Ela mostra que é uma pessoa boa, e quer o bem pra todos. Certamente por isso ela veio pra Abnegação.

Logo depois de todos estarem separados, Jared nos mandou para alguns dos prédios abandonados, apontando para alguns que nós tínhamos que ir. Eu, particularmente, estava morrendo de medo. Lugares silenciosos demais me deixam incomodada. E aquele cenário decadente não ajudava muito.

Fomos para um prédio a nossa esquerda. Eu ficava olhando em volta toda hora, me certificando que eu estava segura. O garoto nascido na Abnegação abriu a porta que antes era de vidro – e que agora não passa de uma armação de metal – e parou ao lado para nós passarmos. Entramos e ficamos um pouco tensos com o silêncio lá dentro.

– Eu já vi minha mãe fazer isso antes, acho que temos de procurar eles e ser gentis, pois alguns podem ser um pouco... agressivos. – A garota nascida na Abnegação nos diz. Bom, é bem provável que isso seja verdade, os sem-facções não são vistos tão bem pelas outras facções. Acho que a rejeição e o instinto para sobreviver os deixam assim.

– Só eu estou sentindo cheiro de fumaça? – digo, um pouco incomodada com o cheiro.

– Eu também estou, parece que vem de lá atrás – Aaron diz, e se encaminha para lá. Nós, sem sabermos o que fazer, o seguimos.

O cômodo era pequeno, e parecia estar abandonado a séculos. Um pequeno corredor tinha algumas portas, e na extremidade, se abre para um sala grande, mas igualmente imunda. O cheiro vinha dali, e no meio do cômodo, se encontrava uma fogueira recém apagada.

– Será que eles foram lá para cima? – o garoto nascido na Abnegação diz. Eles não teriam tempo de fugir, e mesmo que tivessem, porque fugiriam das pessoas da Abnegação? Nós subimos as escadas em silêncio.

Quando chegamos, eu quase dei um grito assustada. Era uma grande sala, e lá se encontrava vários sem-facções, alguns comendo e outros conversando livremente, mas silenciosos o suficiente para não ouvir nada nos outros andares. Aaron também pareceu assustado, mas logo depois voltou para seu semblante indiferente.

Todos os sem-facções olharam, com rostos duros e surpresos por verem nós. A garota nascida na Abnegação dá um passo a frente, um pouco receosa.

– Olá, estamos na iniciação da Abnegação, e viemos aqui para trazer algumas coisas para vocês... – ela diz e tira a mochila das costas. Alguns sem-facções nem ligam muito e volta a fazer o que faziam antes, mas outros se aproximam dela, um pouco receosos. Ela dá um sorriso para encorajá-los e eles se aproximam.

– Do que você precisa? Ah sim, comida? Sim tenho um pouco aqui para você e você – ela dá um sorriso maior e dá um pote de comida para dois deles. – Vejo que precisa de roupas, tenho aqui um par... achei, um pouco grande, mas deve ser o suficiente... – ela continuou dando para os que se aproximavam. Eles a olhavam com tanta gratidão, e murmuravam “obrigado” sempre que podiam. Isso era tão lindo.

O garoto nascido na Abnegação também começou a distribuir as coisas, falando gentilmente e sorrindo. Eu não sabia como começar. Aaron também se mexeu e foi sem jeito dando as coisas, sorrindo muito pouco, mas falando o mais gentilmente que conseguia.

Uma senhora, um pouco menor que eu se aproximou de mim devagar.

– Você tem alguma coisa para mim comer? – ela diz, falando baixo e andando lentamente.

Eu fico meio sem jeito mas tiro a mochila das costas e procuro por algo. Encontro um pote de comida pequeno.

– Tenho sim, é um pouco pequeno... mas acho que serve. – eu digo dando para ela a comida. Suas roupas estavam desbotadas e rasgadas em alguns lugares, e vejo entre sua pele enrugada do pescoço uma tatuagem. Não consigo decifrar, mas percebo que ela era da Audácia.

– Obrigada, criança – ela diz sorrindo, e eu sorrio também. Não para ser gentil, mas por causa da onda de felicidade que passa por mim ao ver que ajudei uma pessoa, e que finalmente, poderei fazer isso sem me envergonhar, nem hesitar.

Outros sem-facções começaram a se aproximar de mim, e dei o que a maioria parecia precisar. A maioria sorria para mim e me agradecia, mas também tinha aqueles que simplesmente pegavam da minha mão e iam embora. Eu não me importava, eles precisavam e alguns dos mais novos eram os mais orgulhosos.

Eu não conseguia parar de sorrir. Não como se eu fosse obrigada para parecer gentil, eu estava mesmo feliz. Como eu tinha sonhado. Os olhos brilhando dessas pessoas, os obrigados acalorados, como se eles esperassem por aquilo a muito tempo, os sorrisos, mesmo que rápidos. Eles realmente precisavam daquilo, e eu estava tão feliz em ajudá-los. Era tão bom esquecer da minha antiga facção por um tempo, e finalmente sorrir sem motivo nenhum. Parece que o peso e a culpa iam embora, pelo menos naquele momento.

Me aproximei da garota nascida na Abnegação, que estava dando pequenos pacotes de frutas secas para alguns deles.

– Todos eles só estão nesse andar? – eu pergunto para ela, esperando encontrar respostas.

– Eu perguntei para um senhor e ele disse que sim, todos desse prédio estão nesse andar agora – ela me diz enquanto dá uma muda de roupa para uma sem-facção, que parece orgulhosa e confiante demais para estar ali.

– Eu acho que vou passar por lá para ver se tem alguém mais. – digo e sorrio para os sem-facções que passam por ali.

– Quer que eu vá junto? Pode ser que precise de mim – ela diz, e se vira pra mim.

– Não, não, eu vou sozinha, eles precisam mais de você. – eu digo e me encaminho para as escadas.

Fecho a mochila e a coloco nas costas, subindo silenciosamente dois grandes lances de escada. O aposento está silencioso, e eu passo pelo corredor para o outro lado. Todos os andares parecem ter o mesmo padrão, e enquanto passo pelo corredor, bato nas portas e espero um segundo antes de abrir. Mas não tem ninguém naqueles aposentos e vou para o outro cômodo que é no final do corredor. Ele está com um silencio assustador. Ando até uma das várias janelas quebradas e olho para fora. O prédio a frente também tem muitas janelas, e quase todas quebradas. Vejo na sala uma fogueira também apagada, mas ainda saindo fumaça. Os cômodos estão escuros pois não tem energia e o Sol não está batendo lá ainda. Vejo um movimento no segundo andar e fico olhando fixamente para lá, sem saber o que vou ver. Um homem aparece correndo até a janela e eu pulo pra trás com o susto. Enquanto vou pra trás completamente assustada, tropeço em algo e quase caio no chão, se não fosse por alguém que me segurou.

Me recomponho rapidamente e me viro para ver quem foi que praticamente me salvou de um tombo um tanto idiota, e dou de cara com Aaron.

– Você está bem? Eu vi você subindo e achei que não devia andar por aí sozinha, principalmente no primeiro dia. Os sem-facções podem não te reconhecer e acabar achando que você é alguma ameaça, mesmo que você esteja na Abnegação agora. Como eu não queria te incomodar fiquei atrás de você, e graças que eu estava, porque o tombo que você ia levar ia ser feio, teria que levar alguns pontos e com essas coisas espalhadas no chão... – ele dizia sem parar e eu estava perplexa sem conseguir abrir a boca para falar algo. Ele percebeu e ficou um pouco vermelho – eu estou falando muito não é? Me desculpe, tenho que parar de falar como um erudito.

Eu ainda estava um pouco em choque com o tanto de coisas que ele falou.

– Não, tudo bem, ainda estamos nos acostumando com a Abnegação. Mas obrigada, sabe, por me “salvar” de outro machucado. Isso quase sempre acontece. – eu digo, abaixando a cabeça um pouco constrangida por ter ficado parada o olhando por alguns segundos.

– Procure prestar mais atenção para o chão, então – ele diz em um tom reprovador, mas quando o olho, ele está sorrindo.

Passam alguns segundos constrangedores mais uma vez, ambos em silêncio. Eu pigarreio.

– Então, vamos ver nos outros andares se tem mais outros deles – eu digo, para quebrar o gelo e me encaminho para as escadas.

Nós subimos mais dois lances de escadas e olhamos em todos os aposentos do quarto andar. Nada. Fomos para o quinto e também nenhum sinal de vida. No sexto não tinha ninguém, mas me surpreendi com velhas roupas em farrapos preto e branco, que significavam que alguém fora da Franqueza. Aquilo me atingiu como sempre me atinge quando lembro de minha família. Meus olhos começam a arder. Não, não, não, não, não agora. Eu digo para mim mesma.

– Está tudo bem? – Aaron me pergunta, colocando sua mão em meu ombro.

Balanço a cabeça para as lágrimas irem embora, e respiro fundo.

– Está sim, só foi uma tontura. – eu digo, sem poder admitir que eu estava prestes a chorar. – vamos para o próximo andar.

– Tudo bem. – ele diz e vai na frente. Ele deve ter acreditado. Bom, pelo menos eu aprendi a ler linguagem corporal na Franqueza, sei o que as pessoas fazem quando mentem. É o que eu não faço, minto naturalmente. Meu pai me repreenderia na hora se soubesse o que eu estou pensando. Para. Pensar nele não. Pensar neles não. Balanço a cabeça novamente numa tentativa de tirar esse pensamento.

Fomos ao sétimo, e por incrível que pareça, tinha uma mulher lá. Ela parecia bem desnutrida, e suas roupas estavam caindo aos pedaços e ela estava encolhida no canto da sala. Aaron foi lentamente até ela.

– A senhora está bem? – ele pergunta pra ela, e ela o olha, com os olhos levemente vermelhos.

Me aproximo também e tiro a mochila das costas. Procuro um pote de comida e acho. Entrego para a sem-facção, e ela pega com as mãos trêmulas. Também lhe dou uma muda de roupa, que ela pega um pouco receosa, como a maioria dos sem-facções.

– Obrigada – ela diz abrindo o pote de comida. Enquanto come, lágrimas caem dos seus olhos. Eu fiquei assustada.

– O que aconteceu? Por que está assim? – pergunto, sem querer. Eu preciso tirar os hábitos da Franqueza de mim. Na Abnegação não perguntamos tanto, não somos tão curiosos. Me repreendo silenciosamente. Ela levanta o rosto sujo com uma trilha de pequenas lágrimas e hesita.

– Eu quebrei a perna depois de pular do trem na Audácia. Foi só um passo em falso, e... eu vi tudo ficar preto. Acabei machucando meu outro pé também. Eles me convidaram a sair, mas eu poderia continuar, sim, eu conseguiria pular dos trens, lutar, eu conseguiria sim... – ela volta a soluçar. Ela sabe que aquilo não era verdade, a maioria que não consegue voltar a andar, mesmo depois de vários medicamentos da Erudição, não são muito mais úteis na Audácia. Como eu sabia disso? Bom, eu simplesmente perguntava. Na Franqueza ninguém mente, então é só perguntar para a pessoa certa... Droga. Esqueça eles. Volto a prestar atenção para a mulher.

– Tudo bem, aqui eles cuidarão de você. Nós cuidaremos de vocês. – Aaron diz, sorrindo para ela. – Agora nós precisamos ir, você ficará bem aqui? Vá para lá, junto com outros, vai ser melhor.

Ele diz isso com tanta convicção que quase acredito nele. Quase. Os sem-facções nunca viverão melhor. E ele também vacilou no final, o que denuncia a sua mentira.

– Não, eu prefiro ficar aqui. Mas obrigada, muito obrigada mesmo. – ela diz olhando para nós com seus pequenos olhos verdes. Sorrio para ela e coloco a mão em seu ombro. Depois Aaron e eu vamos para o ultimo andar, só por ir, pois era o terraço.

A vista não era tão bonita de um lado. Vários prédios abandonados, janelas quebradas, as escuras ruas lá embaixo, e o silêncio. Era bastante solitário. E não era justo os sem-facções morarem ali, simplesmente não fazia sentido. Eles eram humanos, assim como todos. Deveriam ter moradia, comida, como todo mundo.

O outro lado me parece mais reconfortante. Depois de várias ruas de terras, se encontra a Abnegação. Cinza, e idênticas umas as outras. As ruas são de terras também, e ninguém parecia se importar. Mais para o centro, se encontra a Franqueza, com casas de diferentes tamanhos, e tudo preto e branco. Aonde estariam meus pais? Dayna se encontrava na iniciação da Franqueza. E acho que minha mãe estaria trabalhando, assim como meu pai. Passo em diante antes que meus olhos voltem a arder.

Os arranha-céus da Erudição se encontram ali, bem no centro, e com bastantes janelas. A Erudição não é um lugar agradável para mim, enfiar a cara nos livros nunca me foi convidativa. E mais para o oposto, eu via o trem da Audácia, correndo tão rápido que nem meus olhos poderiam acompanhar. Lá não se vê muita coisa, as pessoas da facção ficam mais no subterrâneo, outra coisa que não me parece tão boa.

Não vejo muita coisa através dos grandes portões, que levam a Amizade. Lá nunca me pareceu uma escolha, tenho uma pequena aversão a Amizade desde que eu nasci, já que a Franqueza e a Amizade não se dão muito bem. Dayna dizia que para ser gentil e amigável, tínhamos que mentir. Meus pais também concordavam com isso. Katina deve ter sofrido bastante ao escolher a Amizade, eu espero que ela esteja bem lá. Pelo menos consigo imaginá-la, com seus sorrisos espontâneos e suas risadas leves. Sorrio um pouco.

Olho para Aaron e ele está um pouco melancólico, olhando a sede da Erudição.

– Está tudo bem? – eu pergunto para ele.

– Sim, sim, está tudo bem. – ele diz me olhando rapidamente e depois voltando a olhar para lá.

– Isso é mentira.

– Hã? – ele me olha um pouco confuso.

– Você vacilou no final da resposta, e seu braço ficou levemente rígido. Você está mentindo. – eu digo, mas me arrependo logo depois. Estúpidos hábitos da Franqueza.

– Ah, esqueço que você veio da Franqueza. – ele diz voltando a olhar para mim. – Só estou com saudades. De lá.

– Então por que saiu de lá? – eu pergunto quase sem perceber. Ele fica tenso.

– Isso não importa. Vamos, eles já devem ter terminado por hoje. – Aaron diz se encaminhando para a escada. Ele sabe que se mentisse eu saberia, e fugiu do assunto. È tão estranho. Passei minha vida toda ouvindo as verdades quando perguntava, e é tão frustrante quando você não tem a resposta. Respiro fundo e o sigo em silêncio.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Passei a noite inteira escrevendo ele. Se tiver algum erro de gramática passou sem eu perceber ok?
Reviews, >preciso< da opinião de vocês. Leitores fantasmas, eu sei que vocês estão ai, apareçam jhsadjksadhsdh