Jogos Vorazes - 71º Edição escrita por GS Mange


Capítulo 3
O 7º Distrito: Meu lugar é aqui!


Notas iniciais do capítulo

Do Tratado da Traição:
Como punição pela Rebelião, cada um dos 12 Distritos devem providenciar uma garota e um garoto com idade entre 12 e 18 anos para a Colheita. Esses Tributos ficarão sob custódia da Capital e serão transferidos para a Arena, onde lutarão até a morte, até que reste somente um vitorioso. De agora em diante, e para sempre, esta festividade será conhecida como: Jogos Vorazes.



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Setenta e um anos depois...

– como todos vocês já sabem – diz a professora Pansy – nosso distrito é o mais setentrional de toda a Panem.

– quem liga pra isso – penso – Nunca iremos sair deste lugar mesmo.

– geograficamente falando – Violet se pronuncia – somos o quarto maior distrito – ela aponta para um quadro com o mapa de Panem. – perdemos apenas para o D11, o D9 e o D10, respectivamente.

– muito bem senhorita Stem – agradece Pansy.

As janelas tremem, visto que está ventando do lado de fora. Observo de uma grande janela uma das muitas madeireiras do distrito. Homens com macacões, botas, luvas, proteções. Tratores e caminhões passando de um lado para o outro. Barulho de motosserras cortando toras e mais toras de madeira.

Alguém poderia me dizer alguns animais que constituem a fauna do nosso Distrito? – pergunta novamente a professora Pansy.

A fauna típica da nossa região – responde Violet – é formada por alces, veados, renas, urso, lobos, guaxinins, focas, raposas...

Rum rum – Roger interrompe.

Como eu ia dizendo – Violet olha para ele desdenhando-o – linces, furões, arminhos, martas, esquilos, morcegos, coelhos, lembres, castores e - continua – diversas aves como falcões e pica-paus é claro. Não poderia esquecer-me dos pica-paus. – lança um sorriso de vitória, com a cabeça erguida olhando para frente.

– muito bem – Violet, disse a professora Pansy, com um ar de cansada.

De repente, sou trazido de volta, porque um papel amassado é jogado em minha mesa. Quando o abro, vejo que é um desenho de Violet, sendo chamada por uma mulher da Capital, para ser o tributo feminino da colheita deste ano. Rio dos borrões que provavelmente foram feitos por Roger e não do que o desenho significa em si. Rio, mas me sinto estranho. Mais uma colheita. É a minha quarta. Sinto um frio na barriga. Olho rindo para Roger, que está a duas cadeiras atrás de mim na fileira do meu lado esquerdo, e guardo o papel no bolso.

Violet Stem é de longe a aluna mais inteligente da sala. Talvez até da escola. Ele é pálida, tão pálida que parece estar doente. Seus cabelos são negros como a noite, lisos, partidos ao meio e jogados para frente. Seus olhos são tão escuros que até desconfio que tenha pupilas. Não é feia, mas pra mim também não é bonita. Nunca reparei muito nela. Nem sequer falei com ela sobre qualquer coisa. Seu pai trabalha na madeireira e sua mãe... bem, não faço a mínima ideia. Ela é sebosa. Deve ser por isso que não gosto dela. Sempre querendo aparecer, respondendo todas as perguntas, desde as tolas até as complicadas. Parece um daqueles robôs da Capital.

Acho que Roger quis dizer que não seria tão ruim se ela fosse escolhida para ser tributo esse ano. Por mim, tanto faz. Nem fede, nem cheira. Eu gosto mesmo é de Lavender. Estamos juntos faz um tempo. Ela é a garota mais maravilhosa que já vi na vida. Ela me lembra minha mãe, Talia, que morreu há alguns anos vitimada por uma doença.

Lavender é linda. Inteligente. Engraçada. Pele alva. Lábios carnudos. Olhos azuis turmalina. Cabelos loiros alaranjados com madeixas onduladas e vivas batendo em suas costas. Ela é filha dos boticários da ala leste da cidade. Moramos perto, mas não tanto. Sua mãe era amiga da minha, eu acho.

Quando somos liberados, ficamos um pouco juntos, Lavender e eu, esperando a pequena Lilly chegar. Quando ela chega, nos beijamos e nos despedimos. Vamos direto para a oficina de nosso pai que fica perto da praça principal.

– sabe que amanhã não tem aula né – diz lilly, cantarolando no meio da rua.

– bom né – balanço a cabeça confirmando - nada de acordar cedo.

Seguimos andando até chegar à oficina. Papai está lá desde cedo. As condições de vida aqui são razoáveis, se você quiser uma vida estável, tem de trabalhar bastante. Todos nós temos metas a cumprir, seja na escola, nas madeireiras, nos outros estabelecimentos. Enfim, todos nós temos de prestar contas.

Rapidamente ponho um avental grosso, luvas de couro e óculos de proteção. Meu pai é bastante ágil com a madeira. A carpintaria está no seu sangue. Sabe fazer praticamente qualquer coisa com madeira. Trabalho lá todas as tardes ajudando-o, nos pedidos, encomendas, entregas e até nos produtos. Já estivemos melhor. Quando mamãe era viva, com seu salário de professora, conseguíamos complementar nossa renda muito bem, mas não nos queixamos disso. A vida é feita e oportunidades e, se você não vê uma agora, significa que ela ainda está por vir.

Por volta das cinco horas da tarde fechamos a oficina e voltamos para casa. É uma caminhada de mais ou menos uns quarenta minutos até a vila na ala leste, que é a mais alta, mas vamos de vagar, conversando, nos distraindo. No caminho Lilly e eu pegamos algumas frutas vermelhas, porque ela quer que façamos uma torta com elas. Não nego, pois não é sempre que podemos atender aos seus caprichos. Tão pequena e inocente.

Quando entramos na Campina da Lavandisca, lugar onde moramos, podem-se ver centenas de casas velhas de madeira, enfileiradas e iguais. Logo atrás há um vale cortado por um lago enorme, mas ninguém tem permissão para entrar nele. Andamos mais um pouco até chegar a nossa velha casa. Um alpendre e uma pequena varanda. Uma pequena porta de madeira velha e uma janela grande. Todas as casas são contornadas por alguns arbustos e flores. Tudo muito simples, nada de extraordinário. Quando entramos em casa, papai desaba na poltrona. Lilly tira suas botas e meias e pula noutra poltrona.

Uns pacificadores batem na porta – programação obrigatória da Capital. – todas as noites antes da colheita e em algumas outras ocasiões somos todos abrigados a assistir uma programação da Capital. Lembram-nos de como os traímos, de quanto os devemos. De quanto são bons conosco. Olho ao redor. Não vejo nada de bom no distrito 7. Em lugar nenhum. Todos os dias, levamos as mesmas vidas vãs e repetitivas em benefício da capital.

– isso é besteira – digo irritado, subindo as escadas que dão nos dois quartos. Deito na cama e começo a pensar no dia. No quanto tudo isso aqui é revoltante. Depois de um tempo acabo caindo no sono.


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