Eu nunca, nem mesmo nas minhas vindas à Capital, havia entrado em um lugar tão... luxuoso. Havia objetos com pedras preciosas, e veludo. Muito veludo por toda a parte. Era um quarto gigante. Tinha um banheiro quase idêntico ao do centro de treinamento. Um sofá violeta de veludo, e uma cama com dossel branco ao meio. Um papel de parede creme com botões de rosa percorriam todo o cômodo, e novamente o cheiro da rosa branca.

Decidi tomar um banho. Acho que meu corpo não via água desde que saí da arena. Não foi uma boa ideia para minha mente. Aquele banho me lembrou dos meus tempos antes de entrar na arena. Tudo que me faz lembrar que estou na Capital não me faz bem. Odeio este lugar. Odeio tudo isto. Odeio o presidente Snow. Odeio este povo da Capital, egoístas, sujos, e mesquinhos. Odeio os Jogos Vorazes. Odeio os Idealizadores dos Jogos. Odeio os pacificadores. Odeio tudo neste lugar.

Quando saio do banho, encontro uma Avox em meu quarto. Ela é ruiva. É a Avox do trem. Talvez seja apenas alguma coincidência, ou a Capital sabia. Prefiro acreditar em coincidência.

Quando me viu, correu e me abraçou. Fiquei totalmente sem reação.  Não recebo um abraço há muito tempo... Logo retribui o abraço, e ficamos abraçadas por um tempo, até que ela tira algo do bolso. No começo, não entendi muito bem, mas depois tudo ficou mais nítido. Era um tordo. O símbolo dos rebeldes. Ela estava com os rebeldes. É claro, alguém que tenha tido a língua mutilada pela Capital por tentar uma vida melhor,de qualquer forma ficaria contra eles.

-Quantos dias se passaram desde que me tiraram daquela arena?

Ela fez um gesto com a mão indicando quatro. Quatro dias se passaram desde que vi Peeta pela última vez. Eu queria poder vê-lo  agora, neste momento. Não importava se eu estivesse bem. Peeta também teria que estar. Estávamos juntos nessa, mas para isso teríamos que estar juntos fisicamente.

Não percebi, mas estava chorando. A Avox veio até mim e secou minhas lágrimas com o dedo. Eu queria que ela pudesse falar. Precisava falar com alguém em que eu confie. Eu não sei nem o nome desta garota na minha frente, mas sei que nos próximos dias eu só poderei contar com ela.

Ela não poderia ficar para sempre comigo, obviamente. Logo foi embora, me deixando sozinha naquele cômodo. Era muito grande para só uma pessoa. No meu Distrito, nem o prefeito tinha um quarto assim deste tamanho, mas Snow é o presidente. Havia uma grande diferença entre os cargos.

Distrito 12, meu lar. Ou ‘’ex-lar’’... Já que a Capital acabou com ele e tudo o que estava nele. Menos um grupo de refugiados que eu ainda tenho esperança que contenha Gale, sua família, minha mãe, Prim, e Peeta. Espero que Madge e sua família também estejam bem, seu pai é o prefeito, deve estar em algum lugar seguro, pela sua importância. Embora não tenha fé nisso, mas, quem sabe?

Agora eu tenho que pensar com todas as minhas forças em como fazer Panem parar. Eu não sei se irei conseguir que 12 Distritos mudem seus pensamentos. Não é uma coisa fácil de se fazer. Mas... hoje não. Eu estou fraca, doente e mal. Descobri que não quebrei a perna, estava apenas fraquejando.

Resolvi ir dormir, e quando acordei, um médico da Capital estava disponível para mim. Ele me injetou soro, e me deu alguns remédios. Desconfio que algum deles servia para me fazer dormir, porque quase instantaneamente adormeci.

Quando acordei, resolvi que era hora de pensar no que falaria diante das câmeras. Eu tinha que abrir o jogo. Não poderia simplesmente dizer: “Parem.’’ E acabou. Eles mereciam um motivo. Mereciam uma justificativa. Eu estava tirando deles o direito de lutarem. Estava tirando o direito de uma vida melhor. Eu tinha que encontrar uma forma mascarada em códigos de dizer que eles tinham que parar, pelo menos por enquanto. Eu tinha que sair daquele lugar. Eu poderia dar um jeito de ir embora naquele instante, mas não conseguiria deixar Johanna, Annie e a psicopata da Enobaria abandonadas como lixos. Johanna me odiava, mas ela também era um símbolo de revolução. Annie não merecia estar aqui, ela não teve nenhuma parte no plano de Haymitch. Só estava aqui para afetar Finnick. Quanto a Enobaria, era do Distrito 2. Pelo que sei e deduzo, o 2 não iria se rebelar tão cedo contra a Capital. Eles se amavam. Veneravam a Capital com todas as forças. Enobaria só está aqui pois restou na arena conosco.

Eu sabia que teria que dar um jeito, mas eu tinha algo em minha mente que eu poderia arriscar, ainda não havia descartado totalmente a opção. E se forças vierem nos buscar? E se o Distrito 13 realmente existir vida, como as garotas na floresta do Distrito 12 haviam dito? E se Haymitch tiver levado as pessoas para lá? Estariam salvos. E poderiam nos resgatar. Não tenho certeza de que isto irá acontecer, mas é uma ideia a que eu posso pensar. Em primeiro plano, colocarei dar um jeito de sair dali com as outras prisioneiras, já que é um pensamento concreto, e que posso fazer virar realidade. Caso falharmos, e ainda estivermos vivas depois disso, posso dar um jeito de conseguir um aviso para nos salvarmos.

Provavelmente irei morrer antes mas tenho que tentar. Pelo meu Distrito, por Panem. Por todos aqueles que morreram nas mãos da Capital. Por todos os vitoriosos que tiveram suas vidas modificadas bruscamente. Por todos aqueles que morreram nas arenas de todas as edições dos Jogos Vorazes.

Eu não posso convocar um cessar fogo. Se isso acontecer, prevejo que a próxima edição dos Jogos será... memorável. Se continuarem com os levantes, podemos ganhar e nunca mais existirá Jogos Vorazes. Temos que lutar, com isso teremos uma chance. Eu tenho que dar um jeito. Eu vou pensar em um aviso para os rebeldes. Eles não podem parar. Eles tem que lutar até o fim contra Snow.

O problema agora nisso tudo, é como irei fazer isso. Como convencer Snow de que estou convocando um cessar fogo, mas avisar a Panem que eles tem que continuar? Como fazer as pessoas que amo sobreviverem mesmo eu estando longe? Ainda estou lutando por suas vidas.

Lutar por eles. Isso Snow não poderá tirar de mim.