Há pessoas que nascem sem sorte na vida e há aquelas que simplesmente esbanjam-na.

Eu sempre tive tudo... Na realidade quase tudo. O que mais deveria ser meu foi tomado antes que eu percebesse, na verdade me pergunto o que não foi.

“Nasci em uma bela família, com boas condições de vida e como sempre fui filho único, todos os olhares eram voltados para mim. Eram. Até um saco de lixo ser deixado na porta dos meus pais.

Aquela coisa havia chegado em uma simples cesta de palha, porém um saco de lixo se encaixava melhor na minha visão, pois era exatamente onde eu queria que ela estivesse. Sim, ela! A criança fora chamada de Lucy, ideia de minha mãe, mesmo com a variedade de nomes que eu havia oferecido, como: Rato, Cobra, Verme... Qualquer ser vivo que morto fosse parar em uma lixeira.

Com o passar do tempo a criatura crescia cada vez mais e a cada momento roubava tudo que um dia era apenas meu. Como o vil parasita que era, os primeiros a serem tomados foram meus pais, depois meus brinquedos, nos anos seguintes minha paciência e até hoje rouba minha atenção. Mas o que, na minha opinião, era importante ainda me pertencia.

Três anos entre nós faziam muita diferença, principalmente quando um adolescente leva sua primeira namorada para casa.

Lisanna era uma bela jovem de curtos cabelos prateados e olhos azuis, sua delicadeza era algo realmente encantador. Não é preciso falar que meus pais a adoraram, no entanto, a fedelha infernizou a garota até o fim do namoro. Mais uma vez algo que julgava ser meu me foi tirado, o único consolo que me servia era saber que ainda restava algo apenas meu. Pelo menos eu achava que sim.

Um dia me perguntaram o porquê de não chamá-la de “irmã”... Como eu poderia chamar um ser tão inconveniente de irmã? Se ela merecesse este título com certeza o teria.

Quando a pirralha finalmente arrumou o seu primeiro namorado, mais uma vez me vi sendo roubado. Gray era meu companheiro de sala e meu melhor amigo, me senti extremamente solitário, ela estava fechando o cerco a minha volta.

O que eu poderia ter que não pudesse ser tirado?

A resposta foi clara ao ser acordado no meio da noite por Lucy, que estava aos prantos, por algum motivo que nunca fui capaz de saber. Pela primeira vez permiti que meu coração egoísta partilhasse algo por aquele ser de olhos tão tristes. Foi a primeira vez que dividi algo meu com ela: Minha cama.

Logo não pude chamar aquele quarto de meu e sim de nosso.

O tempo foi se passando e o que eu pensava ser importante... Já não era meu.

Na verdade, descobri que a coisa que eu achava ser mais importante nunca havia me pertencido, pois aquela sorridente garota de cabelos dourados o havia roubado no momento que foi achada naquela porta.

Confesso que foi algo bastante egoísta de minha parte, me senti acuado e indefeso. Entretanto, hoje oficialmente te entrego, Lucy Dragneel, o que sempre achei ser meu, mas na verdade sempre pertenceu a você: Meu coração.”

Naquele momento pôde ver os grandes olhos castanhos faiscarem com a mais bela chama, com certeza, ela era a coisa mais bela que já havia visto em toda vida! Seus olhos em nenhum momento haviam se desviados da pequena garota de cabelos loiros que ouvia cada palavra com um sorriso bobo em sua serena face, banhada por teimosas lágrimas. Finalmente, para o mais puro prazer de ambos, as palavras tão esperadas foram ditas:

— Já pode beijar a noiva.