Seasons escrita por Evye


Capítulo 8
Inicio do Fim


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Ah, quanto ao título, não, não estamos chegando ao fim da fic, mas ao fim do inverno (ufa?! Eu acho... kkkkk)! Como sempre, demorei horrores para postar um misero capitulo! Mas compensei no tamanho (até demais né?! ç.ç, desculpe pessoinhas!!!). Enfim, não esta corrigida pq eu não me perdoaria se nao postasse antes da segunda, então, sao exatamente 23h14 e eu estou aqui *-*! (Sim,a manha acordo as 4h, sou idiota...). Bem, espero que gostem! Logo os erros serão arrumados (prometo!). Boa leituraaa!!!



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O natal aproximava-se e a correria na cidade era perceptível até mesmo nas áreas mais afastadas, os jovens passavam animados com a chegada das ferias de invernos, os pais corriam preocupados com preços e a terrível falta de tempo que se abate sobre todos os moradores do mundo moderno, mas apesar de tudo, a correria que se fazia no santuário era um tanto diferenciada... Por não comemorarem o feriado (afinal, veneravam deuses "pagãos"), a maioria simplesmente ignorava a data que chegava enquanto outros, fiéis a antiga religião preparavam-se para jantares e trocas de presentes.


Em um dos últimos templos havia em tenra discussão sobre a comemoração ou não da data; Afrodite revirou os olhos, havia horas que estava sentado naquele banco de mármore na sala do Grande Mestre ouvindo a briga entre os cavaleiros sobre um jantar patrocinado pela empresa que Saori dirigia a todos os cavaleiros, ou se simplesmente deixariam a data passar em branco... Bom, não se importava muito com a ideia de participar da comemoração, sinceramente o incomodava um pouco comemorar o Natal... "É uma data tão pura, não serve para delinquentes como eu..."


–Hei, Afrodite, onde vai?

–Para casa.

–Mas ainda não decidimos nada...

–Ah, sinto muito Aldebaran, mas é perda de tempo para mim, em todo caso eu não iriar participar.

–Ora, está ai uma notícia agradável....- Milo sorriu maldosamente, colocando uma das mãos na cintura enquanto apoiava o braço oposto no ombro do cavaleiro de Aquário. -Creio que até posso ceder minhas convicções frente uma declaração tãão agradável...


O pisciano olhou com desdém para o moreno que sussurrava alguma coisa para o homem em que se apoiava, a expressão de Camus era um misto de desgosto e desagrado, não sabia bem o que estava sendo dito, mas pouco se importava, passou os olhos pelo salão suspirando profundamente; "Máscara da Morte e o Shaka não se deram ao trabalho de vir... O que eu estava pensando?"


Aldebaran o observava com olhos brilhantes na esperança de ouvir dize-lo que ficaria para a reunião, mas iria decepcionar o mais novo amigo, o taurino era um dos que mais insistia para que fizessem uma grande festa com direito a baile, jantar, trocas de presente e, é claro, a velha tradição do amigo secreto.


–Sinto muito grandão, mas eu não iria participar de qualquer modo então, realmente não me impor-...

–Opa, mas que bela reunião!!


Os olhos voltaram-se para a porta, alguns arregalam-se outros demonstraram o espanto que se esperava da situação. A porta do salão encontrava-se ninguém mais do que Shion e Dohko.


–Shion! Dohko! Vocês voltaram!

–Olá a todos.... Atena.


Reverenciaram a deusa respeitosamente, baixando a cabeça e levantando logo em seguida, os olhares eram firmes e continham uma seriedade não existente até segundo atrás. Ambos apreciam realmente preocupados com alguns, um momento de tensão instalou-se e ninguém atreveu-se a abrir a boca, o real motivo de estarem ali de repente havia sido esquecido e cada membro daquele salão parecia aguardar alguma coisa. Afrodite mantinha a expressão tensa, apesar de não saber bem por que, observou os colegas de batalha ao redor, sabia que eles tinham conhecimento sobre algo que não fora informado.


–Então...?


A garota perguntou tentando disfarçar o nervosismo na voz tremula.


–Ele está voltando.


Dohko tinha a voz levemente rouca e mais grossa que o normal, o corpo do jovem de 18 anos de repente parecera transformar-se em sua idade real, o ar da sala pareceu desaparecer temporariamente e todos os presentes baixaram o olhar como se aquelas palavras fossem mais do que pudessem sustentar.


"O-o que está acontecendo...?"


O loiro estava visivelmente confuso, tudo bem, perdera muitas reuniões, tinha noção de que suspeitavam da volta de Hades, mas não poderia ser isso, certo?! Errado.


Shion suspirou longamente tomando a dianteira da situação, o corpo revestido em uma túnica simples (afinal, deixara o cargo de guardião da primeira casa há muito tempo para Mu), os cabelos esverdeados soltos sobre os ombros esvoaçando suavemente com a brisa extremamente fira que adentrava as frestas do templo.


–Minha deusa, nós tivemos a oportunidade de nos "encontrarmos" com um espectro o qual confirmou amigavelmente nossas suspeitas. Hades está retornando.

–O que?! Como isso é possível?


A voz do protetor da décima segunda casa elevou-se em um tom que sequer achava que possuía, os lábios tremiam sutilmente e suas unhas cravavam-se na palma das mãos reabrindo feridas antigas. Todos os olhares voltaram-se ao pisciano, enrubesceu com o olhar de reprovação que lhe era lançado pelo ex cavaleiro de Aries.


–Entendo que isso pode ser chocante, mas todos já tínhamos ciência dessa possibilidade... -Os olhos esverdeados se dirigiram aos azuis piscinas como se pedisse confirmação de suas palavras, Afrodite vacilou com o olhar, bem... Ele não poderia dizer que estava totalmente ignorante àquilo, mas... Não tinha todas as informações. -Creio que devemos nos preparar para um nova guerra...

–Mas, o maior problema não é este.

–E poderia haver um problema maior do que a volta de Hades, Dohko?


Havia um certo tom de desafio e deboche na voz de Aiolia, o libriano o observou com certo desconforto, reprovando a atitude infantil e egoísta do outro.


–Sim, meu caro, há.

–E o que poderia ser?

–Hades não pretende reencarnar no corpo de ninguém...


Atenas soltou uma exclamação de pavor, alguns cavaleiros gemeram contraindo o próprio corpo como se pudessem se proteger do que viria a seguir. A garota passou a mão na nuca criando coragem para formular a frase que diria, era visível o temor presente no local, todos estavam tensos e extremamente desconfortáveis, para não dizer, assustados.


–Dohko, você quer dizer...?

–Sim, Atena, ele pretende retornar no próprio corpo.

–Mas como isso é possível?!


O grito veio de escorpião, todos olharam rapidamente para o cavaleiro e tinha a mandíbula travada e os pulso perigosamente fechados ao lado do corpo.


–O corpo daquele maldito não deveria estar aprisionado no Elísios ou algo assim?!

–Sim, mas parece que,de algum modo, ele conseguiu recuperá-lo.


Saori baixou os olhos tomada por um grande aperto no peito, temia aquelas palavras, imaginar que uma nova guerra se iniciaria... Duas no mesmo século.... "Deuses.... Como isso foi possível?! Como pudemos baixar nossa guarda assim?". O silêncio era terrível e todos esperavam as ordens que viriam da divindade; Afrodite sentiu como se pudesse desmanchar-se em lágrimas ali mesmo (como havia acontecendo a tempo), desejou desesperadamente algum tipo de amparo, queria poder correr até o templo de Câncer e avisar ao velho amigo que corriam perigo e que deveriam trair a deusa pela terceira vez e fugir o quanto antes, mas, seu coração resolveu ignorar a quarta casa e subir alguns degraus até a sexta, seus pensamentos esqueceram-se de Angelo para serem direcionados totalmente ao protetor de Virgem. "O que Shaka dirá?".


–Eu...- Atena vacilou, engoliu em seco tentando recuperar-se do choque, ainda tentava assimilar a ideia e acreditar no que ouvira, claro que teve suas suspeitas, mas tinha fé de que era apenas um temor tolo e infundado... -Temos que nos preparar... Shion, creio que o cargo de Grande Mestre lhe será devolvido.

–Se é do seu desejo, Atena...

–Dohko, peço encarecidamente que permaneça no santuário, como pode perceber estamos em uma situação de extrema emergência e necessidade, peço também que contate os cavaleiros de prata e bronze e os coloque a par da situação.

–Sim, senhora.

–Os demais... Bem, já os havia instruído. Precisam começar o treinamento para os novos cavaleiros de ouro, sei que devem pensar que estamos entrando em uma missão suicida e para isso devem ter seus "substitutos". -Os olhos violetas se voltaram rapidamente ao pisciano para logo em seguida abranger todo o salão. -Mas, a situação não é essa, apenas devemos nos precaver, entendam, Hades com seu corpo original virá muito mais poderoso, não podemos nos dar o ao luxo de perdemos ninguém!


A elite dourada trocava olhares nervosos entre si, estavam todos sutilmente irritados e sem saber o que fazer, temiam a volta de Hades, temiam a ideia de preparem os próximos cavaleiros, mas, principalmente, temiam a morte. Aldebaran sorriu, tentando em vão animar o ambiente.


–Bem, creio que tenho em mente alguns aprendizes que me agradam muito! Tenho certeza que eles ficaram animados, certo?! E vocês, tem alguém em mente?


O brasileiro procurou Afrodite com o olhar, o encontrou parado próximo a saída observando atentamente a Dohko e Shion, porém seus olhos não tinham foco, estavam opacos e pareciam fitar algo ao longe, talvez, em outra dimensão.... Novamente o taurino sentiu-se uma formiguinha perto do colega, apreciou por alguns momentos a divagação do outro até notar que o libriano também observava o guardião de Peixes, talvez tão encantado quanto ele mesmo ou quanto Máscara da Morte ficava ao simplesmente ouvir a menção do nome do outro.


–Afrodite? Ooi?

–Ahn?


O loiro despertou de seu transe rapidamente, transpirava de nervosismos, suas pernas tremiam e seu mundo parecia que ruiria a qualquer segundo, desculpou-se com Aldebaran virando-se e retornando a sua casa sem sequer olhar para trás, Dohko permanecia com a expressão intrigada em relação ao garoto das rosas, até que uma amarga lembrança retornou a sua mente fazendo-o contrair os lábios e encarar Shion como se procurasse auxilio em seus olhos.


A noite foi caindo, ninguém mais tinha pique para discutir algo tão fútil como comemorar ou não o Natal e aos poucos todos os dourados foram deixando a sala e até a deusa retirou-se desejando um desanimado e cansado "Boa noite".


–Então, como se sente?! Grande Mestre de novo, heim!

–Não fale nesse tom de voz estúpido, eu nunca pedi pelo cargo.

–Bom, ela não poderia simplesmente oferecer ao Saga - Dohko riu, tentando animar o velho amigo, mas o olhar de reprovação o calou rapidamente. -Ora, vamos lá Shion, de que adianta ficarmos todos sério e estressados?!

–Não estou estressado.

–Não...

–Estou pensando Dohko, algo que você não faz com frequência.

–Obrigado pela parte que me toca, grande amigo você, não?!

–Tsc...

–Hei, Shion.

–Hum?

–Você reparou que faltava alguns cavaleiros?

–Como...?

–Aquele pirado de Câncer que tem a personalidade reencarnada do Manigold e o gêmeo do Asmita.

–Pelos deuses Shion! Eles têm nome, não seja tão insensível.

–Ora, faz anos desde a última vez que os vi! Acho que... Hum.... O que, talvez, quando os vi pela última vez foi quando chegaram?

–Realmente....É estranho vê-los depois de tanto tempo, e... Vivos.

–Sim... Eu me lembro até hoje, a chegada de todos em uma semana... -Um sorriso nostálgico pintou nos lábios do chinês, um olhar sonhador mirando o teto do templo como se assistisse a cena de anos atrás, Shion o olhava com curiosidade,s abia que algo incomodava o moreno e que todo aquele assunto era apenas um rodeio até chegar no principal. -Lembra-se? Os gêmeos espevitados, o garoto que andava de bermuda em pleno inverno... Era Camus certo?! O atual de Aquário né?! É eu me recordo das características mais marcantes...

–Sim, eu também me lembro de muitas coisas.


Uma brisa fresca mas aconchegante adentrou os aposentos, o silêncio antecedendo um assunto delicado, Shion poderia imaginar o que se passava na cabeça do cavaleiro, reparara no mesmo observando o guardião da décima segunda casa e se a conversa estava tomando o rumo da "nostalgia do passado" já imaginava onde terminariam.


–Não quero falar sobre isso Dohko.

–E por que não?! Tenho certeza que você bem se lembra do dia que ele chegou.

–Sim, e não quero falar sobre isso, ele não era uma criança normal.

–Tem razão, porque ele chegou aqui como um adulto mais experiente do que nós!

–Sim, e é por isso que prefiro não ficar revirando essas lembranças, aquela frase foi perturbadora.

–E vamos fugir para sempre?! Afrodite cresceu, temos que encarar, não adianta dizer que esquecemos a chegada dele aqui sendo que foi a mais traumatizante que tivemos.... Por assim dizer.


Shion revirou os olhos, era desconfortável conversar sobre aquilo, se recordava-se da chegada de Afrodite?! Oh sim, e com muito desgosto admitia tal fato! "Ele tinha apenas treze anos, pelos deuses!"


–Eu não gosto de me lembrar daquelas palavras Shion, mas as vezes quando passo pelos subúrbios e periferias elas martelam na minha mente como se fossem abrir um buraco!

–Sim, o que ele viveu não é certo, apesar de todos terem sido órfãos e vivido de modo complicado, ter de se rebaixar a isso...

– Lembra-se?! Parvo o trouxe até nós, oh, deuses... Eu me lembro dos olhos dele Shion, dos olhos! Eram tão opacos e sem vida que por um momento achei que aquele estúpido estava carregando um boneco!

–Dohko, por gentileza, pare.

–Só percebi que era uma criança quando ele levantou a cabeça...


" -Vejam Mestre Shion e Mestre Dohko! Achei o garoto perfeito para aprendiz de cavaleiro de Peixes! Vamos meninos, os comprimente! Seja educado, vamos!"


–Parvo era o idiota mais astuto que já conheci em toda minha vida...

–Pelos deuses Dohko, cale-se, eu prefiro não revirar o baú da vida de Afrodite.

–Ele era tão magro e pequeno, mas já era lindo, como é possível?! Não importa o quanto está ferido e degradado, ele nunca perde a beleza!


"-São eles, Mestre Parvo?

–Sim... São eles Afrodite...

–Entendo, então... São vocês que devo entreter esta noite?"


–"São vocês que devo entreter esta noite?"... Isso ainda me causa calafrios Shion, o tom de voz, eu ouço como se tivesse sido há cinco minutos!

–Parvo era estúpido.

–Mas, não podemos negar, salvamos o garoto de uma vida horrível.

–Salvamos?! Ora Dohko, para quem queria revirar memórias você esqueceu parte delas, não?! Ele nunca ficava no santuário! O tiramos dos prostíbulos mas ele sempre voltava para lá!

–E você o odeia por isso Shion? Veja, o garoto foi abandonado a porta de um bordel provavelmente filho de alguma puta desgraçada que teve caso com algum magnata covarde!

–Sim, mas aqui... Ele não precisava fugir para os prostíbulos da vila toda noite, precisava?!


Um suspiro longo foi solto por parte do moreno.


–Eu não o odeio Dohko, mas nunca entendi o por que daquelas fugas...

–Eu acho que compreendo o que se passava na cabeça dele...

–E o que acha que era?

–Imagine Shion, você nasceu, cresceu e viveu em um lugar onde as pessoas se vendem, a noite são deles e o dia é o refugio, um local onde você deve confiar apenas em si mesmo... E de repente, um insano pedófilo como o Parvo aparece e te traz para um lugar totalmente desconhecido, Afrodite era uma criança, uma criança maliciosa e criada na luxuria, mas ainda sim uma criança. Quando viu todos aqueles homens e mulheres adultos do santuário, imagino que sentiu-se ameaçado e, bem... Fugia para o lugar que lhe era familiar, os prostíbulos.

–Faz sentido, apesar de tudo...

–Além disso... Era parte do treinamento dele, não?!


Shion arregalou os olhos encarando diretamente o colega que recuara alguns passos, a face de Dohko estava vermelha, não sabia se por raiva ou vergonha em dizer algo como aquilo, encarava o lado de fora do templo tetando evitar ao máximo o olhar inquisidor que lhe era direcionado.


–O que quer dizer?! -Havia uma certa fúria no tom de voz, o ariano sentia seu coração pular batida frenéticas como se tivesse corrido uma maratona, a raiva subindo-lhe as orelhas deixando-as levemente vermelhas. -Dohko, me responda!

–Eu disse, Parvo era astuto, o julgamos errado ao imaginar que era um idiota! Ele insistia dizendo que o treino de Afrodite ia além do físico e mental, mas tinha um treino sexual também. Sempre achei que você soubesse, mas, não é algo muito confortável de se comentar, por isso eu... Eu nunca conversei, já era ruim o suficiente quando tínhamos que passar pela casa de Peixes e o encontrávamos sentado nas escadas do templo cheirando a álcool e tabaco...

–Isso... Isso é um absurdo! Como isso pode acontecer embaixo de nossos narizes?! Foi burrice acreditar nisso Dohko! Como pode?! Deveria ter se lembrado de Albafica, ele jamais teve um treino assim!

–Não jogue a culpa em mim Shion! Eu sequer fiquei no santuário! E como poderia me lembrar de Albafica, ele nem mesmo se aproximava de nós, não conheci o treino dele!


O ariano passou as mãos nos cabelos, estava cansado, tivera um sério caso de abuso de poder bem embaixo de seu queixo, mas estava ocupado demais com as mãos nos olhos para perceber o que acontecia. Um sentimento de culpa e remorso tomou conta do seu coração, sua garganta fechou-se e um amargo invadiu sua boca, estava odiando o imbecil do mestre de Afrodite, se pudesse o reviveria apenas para matá-lo novamente. "Ele era apenas uma criança! Uma criança!!"


Dohko percebeu o palpável desconforto do outro, aproximou-se cautelosamente até o amigo como se temesse alguma reação de ódio com seus passos, ergueu os braços envolvendo o ariano em um abraço de consolo, sentira falta daquele calor, daqueles olhos e das palavras ríspidas, mas a situação que o fizera chegar até o outro não era das melhores e a cada segundo parecia piorar.


–Dohko.

–Sim?

–Que isso não saia desta sala, entendeu? Nenhum, absolutamente nenhum cavaleiro pode sequer sonhar sobre o que Afrodite foi.

–Eu sei.


As palavras cessaram e o silêncio instalou-se novamente, os velhos amigos permaneceram naquele acordo mudo por mais um tempo até o ariano desvencilhar-se do abraço corado, alegando estar cheio de coisas para fazer e um animado libriano correr até ele dizendo que o ajudaria no que fosse preciso! Ambos certos de que não havia mais ninguém ciente sobre o passado de Peixes, mas na verdade, definitivamente, não eram os únicos.


–Hei, Shion.

–Hum?

–Sabe por que eu me lembrei de tudo aquilo?

–Porque é um idiota desagradável?

–Haha... Não!

–Então, não consigo imaginar um motivo plausível.

–Hoje quando demos a noticia, você sabe, sobre a volta de Hades... Eu olhei para ele.

–E daí?

–Bem... Eu juro Shion, eu juro que vi aquele olhar, aquele olhar opaco e sem vida. Eu juro Shion que vi o Afrodite de treze anos bem ali, na minha frente.


~


A manhã veio tão (ou mais...) fria que os dias anteriores, Afrodite abraçou-se tentando se aquecer, havia acabado de sair do jardim, com a ajuda de Aldebaran havia coberto todas as flores para que não se machucassem com a forte nevasca que se aproximava. O brasileiro já tinha ido embora, ainda naquela tarde faria as malas para uma missão de reconhecimento junto com Shura e Mu em território espanhol. O santuário estava consideravelmente calmo e silencioso, Camus e Milo tinham saído para observar os treinos dos aprendizes (apesar de saber que o vizinho não pensaria duas vezes antes de chamar o antigo discípulo para substituí-lo), Aiolia esgueirou-se discretamente até o acampamento das Amazonas, Shion e Dohko isolavam-se no templo do Grande Mestre. Desceu as escadas sossegadamente, não tinha que se dar ao trabalho de anunciar seu cosmo, a maior parte dos templos encontravam-se vazios.


"Mas, por que estou indo até a casa de Virgem?"


A dúvida o fez travar nas escadarias entre Sargitário e Libra, seu estomago revirou-se sutilmente, mentia para si mesmo tentando convencer-se de que apenas caminhava até o templo de Virgem porque o loiro não comparecera em uma reunião de crucial importância e que era sua função alertá-lo! Tolice, possuía plena consciência de que Shaka já sabia sobre tudo! Até porque, se fosse apenas isso, iriar falar com Angelo também e, sinceramente, não se sentia nem um pouco inclinado a encontrar o canceriano.


–C-com licença. "Por que diabos eu gaguejei?! Deuses!"

–Bom dia Afrodite.

–Bom dia... Shaka.

–Tem liberdade para passar.

–Você sabe que não vou descer mais que isso.

–Sim, eu sei.


Ficou quieto por alguns segundos, era complicado manter uma conversa no nível de um deus e francamente?! Estava pensando seriamente em desistir e voltar seus passos para casa, era ridícula a ideia de visitá-lo, sequer tinha um real motivo para fazê-lo, apenas seguia seus instintos e desejos.


–Você não foi a reunião ontem.

–Não houve necessidade, eu já sabia.

–Ah sim, obviamente... É claro.


Revirou os olhos, definitivamente não tinha saco ou palavras para lidar com aquela pessoa e ainda assim insistia em tentar manter um dialogo, pensou em como Mu conseguia conversar horas e horas com o loiro. "Talvez porque albos são muito inteligentes... Ah, que patético, estou me sentindo um idiota!". Revirou os olhos tentando conter o cosmo de ameaçava se hostilizar aos poucos.


–Aceita chá, Afrodite?


Deu um pulo com o susto ao ouvir a voz suave e melosa do colega ao seu lado, seu coração palpitava como uma bomba relógio, acenou a cabeça freneticamente (a ponto de sentir uma agulhada em um dos nervos). O virginiano seguiu até a cozinha, minutos depois estava de volta com duas xícaras em mãos, ofereceu uma ao pisciano, sentando-se novamente em sua posição habitual dizendo num pedido mudo para que Peixes fizesse o mesmo, Afrodite aproximou-se cautelosamente se posicionando com certa dificuldade em frente ao cavaleiro que bebericava com calma e destreza. O aroma de camomila entrava nas narinas do pisciano, era um odor maravilhoso, continha hortelã e canela... Uma combinação exótica. Baixou os olhos recordando-se da última vez que estivera naquele templo, corou ao recordar-se do sutil beijo de agradecimento que oferecera ao colega.


–Er... Shaka?

–Sim?

–Eu... Gostaria de pedir desculpas, quer dizer, sobre meu comportamento da última vez que estive aqui, apenas pensei em agradecê-lo por sua gentileza e...

–Tudo bem. Eu gostei.


Se antes Afrodite estava rubro, agora poderia ser comparado a uma pimenta! Os dedos fecharam-se na "asa" da xícara e seu peito apertou-se de um modo que parecia quebrar suas costelas, seu coração não falhou uma batida, mas por alguns momentos definitivamente parou.


–C-como?

–Eu gostei.


"Deuses! Shaka! Não fale esse tipo de coisa ou vou infartar!"


Um riso abafado saiu de seus lábios invadindo aos poucos a casa de Virgem e aumentando ao sentir-se mais livre, o guardião do templo "fitava" o convidado com curiosidade como se perguntasse o que havia de tão engraçado.


–Me desculpe Shaka... -Tentava falar entre as risadas, fazendo com que as palavras saíssem trêmulas. -É que, sua sinceridade é adorável!


O loiro tombou o pescoço sutilmente ainda indagando-se do que havia de tão divertido em sua frase, havia apenas sido sincera, qual era o problema nisso?!


–Apenas disse o que senti. Há algum problema nisso?

–Não, não, de modo algum! É algum muito bom! -Ainda ria.

–Deveria tentar, então.


O riso silenciou-se instantaneamente, os olhos azuis baixaram-se para a xícara e tomou o primeiro gole do liquido na tentativa de esconder o rosto por detrás da porcelana.

Shaka tocou o objeto baixando-o, abriu os olhos vagarosamente cuidando para que nada ao redor fosse destruído, encarando frente a frente os olhos azuis piscinas do amigo. Afrodite estremeceu diante o olhar do outro, penetrava sua alma e o despia, seus pudores e pecados eram arrancados do fundo de seu corpo e jogados ao chão pronto para serem julgados pelo considerado ser o mais próximo dos deuses. Engoliu em seco.


–Ainda não confio em você Afrodite.


As palavras lhe doeram mais do que as de Milo, mais do que as de Atena, mais dos que a de Máscara da Morte, mais do que as de Saga... Penetravam seu corpo rasgando-lhe por dentro, agarrando seus membros e estripando seus sentimentos.


"É claro que ele não confia em mim! O que estava pensando?!"


Sentiu aquela sensação de choro apoderar-se de si e temeu realmente que desabaria ali ao ver a visão turvar-se, segurou-se o máximo que pode, não iriar chorar, não demonstraria fraqueza, não iriar ceder! Não podia!


–Ainda não confio em você Afrodite de Peixes, mas aos poucos me faz duvidar de minhas próprias convicções.


Os olhos azuis arregalaram-se, Shaka estava perigosamente perto o observando com curiosidade como se tentasse lê-lo e decifrar os segredos ocultos por trás da beleza sueca.


Um delicado meio sorriso desenhou-se preguiçosamente nos lábios rosados do pisciano, sua mão subiu até os fios dourados do colega a sua frente, os dedos enrolaram-se em uma mecha lisa, ergueu os olhos encarando o céu azul que o observava atentamente, alargou um pouco o sorriso, dessa vez, não aquele cansado e triste, mas um sincero e esperançoso... Pode-se dizer, um sorriso de amor e carinho.


–Você também me faz duvidar de minha próprias convicções, Shaka de Virgem.


Quando os primeiros flocos de neve começaram a cair o sol havia há muito se escondido dentre as nuvens, os céus nublaram-se e os ventos invernais recomeçavam sua rotina, mais fortes e hostis, anunciando uma grande tempestade e grandes mudanças. Mas, o pequeno pisciano sonhador não se ateve a estes detalhes, não percebeu o chamado de temor de suas flores, não notou o cheiro de morte e terror que o vento carregava e muito menos que a neve começara a cair com uma força anormal. Não, não percebeu.


Afinal, seus olhos estavam enevoados com outra visão. Uma que lhe trazia paz e calma. Trazia acalento e sossego. Afrodite estava cego... Novamente.


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Notas finais do capítulo

Nhom nhom nhom *u*
Tá, parei! o/
Gente, espero que tenham gostado, peço desculpas pelo atraso e pelos errinhos (logo arrumo, promessa de mindinho!). Mas como havia dito, to acordando as 4h e só arranjei tempo para escrever e postar agora a noite! Em todo caso, espero que tenham gostado, não deixem de comentar é muito importante para o desenvolvimento do enredo! Muito obrigada a quem teve paciencia para ler tudo isso (podem me xingar eu deixo u.u!), muito obrigada mesmo!
Espero que tenham gostado!!
Beijos e abraços a todos!! *-*

Tia Evye!