Faça de conta que estou numa sala, assentada em uma cadeira alta, redonda e sem espaldar. Finja que minhas mãos estão à frente de meu corpo e se apoiam no banco e que balanço os pés no ar, inquieta. Agora se imagine aproximando-se de mim, vendo meu rosto sorridente e o brilho em meu olhar que lhe mirava, e você perguntando:

          "Por que está tão contente?".

          Ampliando meu sorriso que ilumina o rosto, respondi:

         "Porque hoje eu vi o sol e lembrei de como você cuidou de mim. Vi a relva balançando à mercê do vento e lembrei dos seus carinhos. Vi o orvalho e lembrei das lágrimas que você enxugou do meu rosto, assim como aquelas que você correspondeu. Senti a brisa e também lembrei de suas mãos acariciando os meus cabelos. Recordei o seu sorriso ao ver uma joia, a sua pureza quando vi um lírio, a sua beleza ao ver uma rosa bem vermelha. Não só a sua beleza exterior, mas a do seu coração. Ele, como uma rosa, pode até apresentar resistência no começo, mas é inegável não se entregar quando chegamos às pétalas dele. Ouvi aos passarinhos e lembrei de você cantando para mim. Ouvi o piano e lembrei que você me contou ser aquele seu instrumento favorito. E agora finalmente posso lembrar dos seus abraços."

        Finja que eu pulei energicamente do banco e que, com um avanço, lhe envolvi num abraço. Faça de conta que cambaleamos um pouco e, enfim nos equilibrando, rimos um pouco. E finalmente finja que eu ainda sorrindo, mas constrangida, levantei minha cabeça para o seu rosto e confessei:

        "Desculpe por isso! Estou morrendo de vergonha! Mesmo assim não quero lhe soltar. Saudades..."

          Uma pausa e completo:

          "Amo você."

          Finja que isto aconteceu. Por enquanto apenas finja.