Capitulo 3: Hello

Depois de quase uma hora trancada no banheiro, cheguei à conclusão de prefiro ficar aqui para sempre.

Isso mesmo. Vou ficar aqui e não irei sair mais, posso dormir a vontade aqui é só deitar na banheira, o problema seria a comida ... Mas isso não importa agora.

Ah eu realmente estou pensando nisso? Não posso ficar aqui para sempre, embora, acredite eu quero, eu realmente quero! Mas uma hora eu teria que sair daqui, fora que eu não aguentaria ficar presa aqui, ainda mais sem comer.

E quando pensei em comida, me apareceu a fome de novo. Mas acho que não vou conseguir comer. Não na mesma mesa com a pessoa que eu dei o meu primeiro beijo. Meu primeiro beijo!

AH CARA! ISSO NÃO SAI DA MINHA CABEÇA!

Será que se eu bater com a cabeça bem forte na parede eu .... Ah no mínimo eu conseguiria um traumatismo craneano, esquece.

Quer dizer, nem um beijo foi de verdade, é não foi um beijo, só encostamos os nossos lábios acidentalmente. Isso!

Levanto-me mais positiva agora e vejo pela fresta da pequena janela do banheiro que já está escura e a janta já deve estar pronta.

Respiro fundo e abro a porta.

Quando dou o primeiro passo para a liberdade, já penso em me trancar de novo naquele banheiro.

Vejo Ryu, já com roupas rotineiras e seu adorável boné do Red Hot Chilli Peppers, saindo do meu quarto em direção á escada, mas para no meio do caminho ao me ver parada na porta do banheiro com a roupa da escola toda amassada.

Ai, meu coração começa a bater forte e rápido novamente, minha respiração fica desregular, mas o pior foi ver que ao invés dele continuar seu caminho, ele vem em minha direção.

E o que eu penso? Que o banheiro nunca me pareceu tão confortável quanto agora. Dou meia volta para meu esconderijo não secreto, mas sinto sua mão em meu braço me parando. Ryu tá virando um ninja ou o que? Como ele fez isso tão rápido?

–Chizuru - Viro-me em sua direção e o vejo á centímetros de distancia, na verdade ele está muito perto. Sua cabeça está na mesma altura que a minha e os seus lábios estão ...

Olho fixamente para seus lábios. Acho que ele está falando alguma coisa, mas só consigo olhar para seus lábios que parecem ser quentes, macios e ...

–Ah finalmente ela saiu - Exclama minha mãe na escada - Venham o jantar já está pronto. E Chizuru troque de roupa.

Antes mesmo que ela desça da escada vou correndo para meu quarto trocar de roupa.

Não acredito que estava pensando na boca dele! Como vou ficar perto dele?

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–Está melhor Chizuru? - Pergunta minha mãe sentada á mesa. Nós três estamos sentados jantando. Minha mãe na ponta, eu e Ryu de frente um para outro. É a vida está me sacaneando legal.

–Sim - Respondo, mais olhando para o prato do que para ela. Eu realmente estava comendo mal esses dias. Meu Deus que fome.

–Estou vendo - Pelo tom de voz percebo que minha mãe está sorrindo - Foi só o Ryu aparecer que você melhorou, na verdade sempre foi assim, desde crianças. Ai ai eu me lembro como se fosse ontem, se você ficasse doente ou estivesse mal com alguma coisa o Ryu sempre esteve perto de você e você logo melhorava. Eu inclusive comentei com o seu pai Ryu sobre como seria bom se você fosse meu genro.

Enquanto ela termina seu discurso de morte eu me engasgo com o lamen, tossindo desesperadamente em busca de ar. Começo a me debater na mesa, levanto-me e vou tossindo e batendo em tudo quanto é móvel em busca de água.

Bebo um copo inteiro e sinto minha ardência ao respirar, solto um suspiro de alivio, pela segunda vez do dia que eu quase morro. Desse jeito eu não vou durar muito.

Sento-me na cadeira com um baque forte e olho para meu prato quase terminado, acho que perdi a fome. Empurro o prato para longe.

Ao levantar os olhos percebo que minha mãe e Ryu estavam me observando.

–Perdi a fome - Digo simplesmente e dou de ombros.

–Pelo menos você comeu o bastante, isso significa que você está melhorando e isso é bom né Ryu? – minha mãe olha para Ryu, que simplesmente acena positivamente para minha mãe.

Vejo-o voltar a comer, mas percebo que seu entusiasmo ao comer não é tão grande assim, mesmo sendo onigiri, e dessa vez sou eu que me preocupo.

–Ryu? - Chamo-o e ele me olha instantemente - Se você não está com fome não precisa comer.

Ele olha para o onigiri e para mim e então sorri. E eu vejo algo que eu sempre soube, como o sorriso do Ryu é bonito, Por isso eu sempre quis o ver sorrindo. E sem que eu percebesse estava sorrindo também.

E é como se tudo tivesse voltado ao normal novamente. Ate minha mãe falar de novo.

–Então Chizuru, como somos os anfitriões devemos dar prioridade para o convidado por isso Ryu vai dormir junto com você no seu quarto – Diz minha mãe sorrindo - Sua cama tem um anexo embaixo certo? É só abrir e pronto. Tudo bem para você Ryu?

Ryu dá de ombros e minha mãe entende como se fosse ‘sim, eu adoraria dormir na mesmo quarto e praticamente na mesma cama com a sua filha’

E eu estou tão abismada que nem falar eu consigo. Levanto-me e tento dizer alguma coisa, mas nada sai.

–Ótimo, então está resolvido! Vão indo arrumando as coisas crianças, ainda não é fim de semana e vocês tem aula amanha - Minha mãe levanta-se da cadeira e começa a arrumar as louças. Quando Ryu pega alguns pratos, minha mãe da um leve tapinha em sua mão como se estivesse dizendo ‘não precisa, você é a visita’.

Ryu balança a cabeça concordando e me olha, enquanto minha mãe vai para a cozinha levando a louça.

Respiro pesadamente enquanto ele continua me olhando do outro lado da mesa.

–Chizuru, vamos lá para cima, precisamos conversar – Ele diz sério e me olhando com uma intensidade que eu nunca achei possível.

Ah Deus, o que eu faço agora?! Isso tudo é culpa da minha mãe! Ok ok ele quer conversar sobre o que? Será que é sobre o be-beijo?

Espere aquilo não foi um beijo! Isso agora sim, agora mantenha esse pensamento até o dia da sua morte, que pelo jeito que as coisas vão indo não vai demorar muito.

–Podemos conversar aqui embaixo também Ryu, de preferencia lá na cozinha, com a minha mãe junto, que tal? - Digo fingindo falsa animação.

–Não, eu acho melhor falarmos sobre isso em particular não acha? - Ele replica e cruza os braços.

–Depende, ‘isso’ o que? - Coloco as mãos na cintura em um desafio silencioso.

–Sobre nós, que tal agora?

–O que tem a gente?

–Esse é o problema Chizuru, o que nós temos? - Ao ouvir suas palavras fico muda. Eu não sabia que ele também pensava sobre isso.

–Nós temos um ao outro, não é? - Digo lentamente - Nós sempre tivemos um ao outro, para sempre.

Ele fica assustado como se não esperasse isso, mas o que ele esperava então?

Ryu cobre seu olhar sob o boné, o que houve? Ele coloca a mão em volta da boca como se estivesse escondendo alguma coisa.

–Ryu? Tudo bem? - Sem perceber eu vou andando em sua direção e paro frente á frente com ele.

Tiro seu boné rapidamente e com a surpresa ele acaba tirando as mãos que cobriam a boca. Quando eu o olho, vejo seus olhos brilhantes e percebo que ele estava escondendo seu sorriso. Ele está feliz, ah que alivio! Antes que eu me impeça levo minha mão para acariciar seu rosto, mas ele a impede.

Ryu segura minha mão e entrelaça nossos dedos.

E eu nunca me senti tão bem, como estou me sentindo agora.