Hemmy caminhava em silêncio ao meu lado enquanto olhava para o chão. Eu queria quebrar o clima tenso entre nós duas, então resolvi começar de novo.

-Então, as coisas nunca foram legais. - comecei - Por que a gente não tenta de novo? 

-Tanto faz. - ela deu de ombros.

-Quem sabe se passarmos mais tempo juntas? Preciso de uma companhia feminina, as únicas pessoas que converso nessa cidade são homens. Meu namorado, meu primo, os amigos dele... seria bom sair com você as vezes para variar. O que acha?

-Acho legal. - ela sorriu para mim, e percebi que era a primeira vez que ela fazia isso.

-Podemos começar conversando mais. O que acha? - ela assentiu - Ótimo, então... tem namorado? 

-Não. - ela deu uma risada um pouco sarcástica.

-Por que não? 

-Sei la, só não tenho. - ela ficou um tempo calada - E o seu namorado?

-O que tem ele? 

-Parece ser legal.- ela deu de ombros.

-Ele é muito legal. - suspirei - Tá legal, agora que seremos amigas, posso te mostrar algo. - puxei o bilhete do bolso onde o havia guardado - Encontrei isso na minha jaqueta hoje, eu tenho certeza de que não usei ela perto dele, até porque começou a fazer frio hoje. Além disso, ela estava no guarda-roupas desde quando me mudei.

-Eu achei fofo. - ela disse analisando o papel - Talvez um pouco estranho, mas fofo.

-Sim, é fofo, mas ainda preciso saber como ele entrou no meu quarto. Isso é estranho.

Fomos conversando ao longo do caminho sobre o que pode ter acontecido em relação ao bilhete. Quando chegamos na porta da escola, me despedi de Heemy e fui até o meu armário. 

Eu segurava o bilhete em mãos, assim que eu visse o Blame, perguntaria sobre aquilo tudo. A verdade é que eu sentia que ele estava em todos os lugares, talvez eu só estivesse mesmo gostando dele e um pouco paranoica, mas é como se ele me observasse o tempo todo.

Enquanto guardava alguns livros no meu armário, esses pensamentos me dominavam. Eu ainda estava um pouco assustada, mas tentava respirar fundo e não ter uma crise ou coisa parecida. Ao fechar a porta azul do armário, me assustei com Blame parado ao meu lado. 

Ele tinha um enorme sorriso no rosto e usava uma jaqueta xadrez, que combinara muito com os seus óculos. 

-Oi. - ele parecia empolgado.

-Oi. - devolvi, não com tamanha empolgação e ele me beijou.

-Preciso te perguntar uma coisa.

-Eu também. - suspirei já pegando o bilhete - Pergunta primeiro.

-Eu tenho uma consulta no psicanalista hoje a tarde, gostaria que fosse comigo. Quero que ele a conheça.

-Me conheça? - balancei a cabeça - Por que quer me apresentar ao seu psicanalista.

-Porque ele duvida da minha capacidade de arrumar um namoro, ele diz que meu nível está ficando pior ou algo assim. E você me passa segurança, por isso quero que vá.

Depois que ele me disse essas coisas, acabei deixando de lado o bilhete, resolvi perguntar sobre isso depois, agora eu precisava apoiá-lo. Ele parecia meio nervoso apenas de tocar na palavra "psicanalista". Quando ele a falava, abaixava um tom de voz como se não quisesse que eu entendesse o que estava dizendo. 

-Eu vou, claro. - tentei sorrir o máximo possível e logo depois o alarme soou. Precisava ir para a aula.

-O que ia me perguntar? - ele ajeitou os óculos.

-Nada, deixa pra depois.