Fiquei abraçada com Blame por um tempo até que ele falou baixinho que precisávamos conversar. Sugeri que subíssemos e então fomos. Ele não soltara minha mão, e a dele, estava suando frio. 

Entramos no meu quarto e ele se virou para mim. Levou alguns segundos para que firmasse sua atenção em mim e quando ele o fez, começou a gaguejar.

-Não sei se consigo fazer isso.

-Se não quiser, eu explico pra eles, tudo bem. - coloquei minhas mãos no seu rosto e tentei acalmá-lo.

-E se eu tiver uma cris? Eles vão achar que eu sou retardado!

-"E se" acontecer algo, eu vou estar lá tudo bem?

Ele respirou fundo e assentiu. Olhei para ele e sorri, aquele foi mais um raro momento em que consegui olhar nos seus olhos. Isso me deixava feliz, por saber que não era nada fácil fazer um autista olhar nos seus olhos. 

-Eu realmente gosto de você. - ele falou e em seguida nos beijamos.

-Acho que eles estão esperando. - falei quase querendo desistir de sair para poder ficar com ele.

-Tudo bem. 

**

Entramos no carro, onde meus três amigos já estavam. Decidimos que iríamos para uma pizzaria. Rodamos a cidade em busca de uma, e a única que encontramos, foi uma de criança, cujo a decoração era circense. 

-Acho que é essa mesmo. - falei.

-Mas isso é uma pizzaria de criança! - Elli reclamou do banco de trás - Tem um palhaço na entrada, provavelmente distribuindo cupons da felicidade ou algo assim.

-Por que não comemos, e depois vamos pra um bar, sei lá. - Greg sugeriu - Estou com fome. Acho que cerveja e vodca não vão matar minha fome. 

-O Greg tem razão. - falei e todos concordaram. 

Descemos do carro e entramos na fila para entrar. Elli se virou para mim e disse que apostava que ele estaria distribuindo cupons da felicidade, apostei vinte que seriam vale abraço da mamãe. 

Chegou nossa vez e o palhaço fez uma careta. Olhou para trás de nós procurando por alguma criança. 

-Não tem criança? - ele perguntou e sua voz era incrivelmente grossa.

Naquele momento imaginei como ele seria fora do trabalho, um velho bêbado que usa o pouco cachê que ganha na noite para comprar pinga. 

-Não. - falamos. 

-Tanto faz, se eu não distribuir dez desses, eles tiram do meu salário. - nos entregou um papelzinho que dizia "vale abraço feliz".

Olhei para Elli meio indecisa, quem havia ganhado? Nós duas rimos e acompanhamos os rapazes para dentro da pizzaria. 

Nos sentamos em uma mesa ao lado de uma máquina fliperama do Pac Man.  Blame ficou olhando-a desde quando nos sentamos, isso me fez rir. A inocência dele era incrível.

-Você quer jogar? - perguntei e ele negou. 

Não tinha dito nenhuma palavra desde que saímos da minha casa. Eu ainda segurava a mão dele, e esta ainda suava. 

-Então, Blame, o que você gosta de fazer? - Elli perguntou para ele. 

Quando ela perguntou isso, ele apertou mais forte minha mão. Disse a ele que estava tudo bem.

-Eu, - ele começou baixinho - gosto de ler, e vídeo-game e música também.

-Ah. - Elli tentava ser simpática. 

-E você? - ele peguntou de volta o que me surpreendeu muito.

-Eu, gosto de ouvir música e ir em festas, e ler também. - ela sorriu para ele que parecia mais tranquilo agora.

Ao longo da noite ele ia se soltando mais com meus amigos, conversava sobre jogos que gostava, esse papo de nerd que eu não entendo muito. Mas mesmo sem entender, eu ficava feliz em ver que ele deu certo com meus melhores amigos. 

Depois de comer a pizza, Greg estava disputando Pac Man com o Blame, nós ríamos da situação. 

-Então. - Ian falou - Vamos procura álcool? 

-Beleza. - Elli sorriu.