Eu ainda estava muito atordoada com o beijo de Blame, mesmo que já tenhamos nos beijado três vezes. Parece que sentimentos começavam a borbulhar dentro de mim. Ele era diferente de todos com quem eu já tivera algo.

Ele era tímido e fofo, era distraído, mas de um jeito legal. Eu o via constantemente distraído com seus dedos, ou fios de cabelo. Parecia ser mais interessante do que as pessoas a sua volta, ele parecia ter um mundo dentro de si, mais atraente do que o real. Eu não o culpava por isso.

O que me espantava eram suas notas, ele era bom em tudo. Menos Educação Física, já que só o que fazia nessa aula era apanhar dos outros caras. Mas de qualquer forma, como alguém tão distraído pode tirar notas tão altas?

Parecia ser tudo fácil para ele. Fácil de resolver, ele era muito direto e muito decidido. Raramente o via cumprimentando alguém ou dando um tchau discreto na rua. Ele andava sempre de cabeça baixa no seu universo individual.

–No que está pensando? - ele perguntou.

–Que gosto de você. - respondi e ele sorriu - E você?

–Que está na hora de você aprender a jogar.

Eu ri e tentei recusar mas ele não deixara.

–Legal, agora preste atenção nas minhas instruções, a não ser que queira ter três dedos arrancados.

–Oh, adrenalina, que jogo radical hein Blame. - falei irônica.

–Haha, muito hilário. Mas sério, ao jogar a bola, solte os dedos, ou eles irão se arrastar pela pista junto da bola. Você já deve ter reparado como nós jogamos, então vai lá.

Respirei fundo e me concentrei. Joguei a bola, e para a surpresa de todos, deixei apenas dois pinos em pé.

–Sorte de principiante? - falei.

–Talvez. - Blame tentava assimilar os fatos - Ou, você só teve um ótimo professor.

–Haha. - sorri.

Ficamos jogando por mais um tempo, descobri que eu era muito boa mesmo em boliche. Decidi que poderia praticar mais. Depois que nosso tempo na pista acabou, Blame ficou de me deixar em casa.

**

Blame parara em frente a sua casa e eu o olhei meio sem entender.

–Você ia me deixar em casa.

–Eu sei, é que... você talvez queira ver um filme comigo, sei lá, ainda são quatro da tarde eu, não sei. Tenho muitos filmes legais ali. Só uma suposição...

–Eu quero. - o interrompi antes que ele não parasse mais de falar.

Ele sorriu e nós descemos do carro. Entrei na sala de TV e ele me pediu para que o esperasse ali enquanto ele ia pegar um filme.

Eu olhava alguns quadros da sala quando uma mulher me surpreendeu.

–Com licença, eu te conheço? - ela disse.

–Ah, - meu rosto queimava de vergonha - eu sou Page, amiga do Blame.

–Page? ele me contou sobre você. - ele sorriu e fez sinal para que eu me sentasse.

–Contou? - falei me sentando no sofá.

–Sim. - ela sorriu - Fico feliz por ele ter uma amiga além de Tyler. Antes, nós não sabíamos muito o que fazer com essa reclusão particular dele mas depois...ficou mais fácil.

–Depois de que? - perguntei.

–Do diagnóstico querida. - ele falou como se fosse óbvio.

–Desculpe, diagnóstico?

–Blame é autista, Page, pensei que tinha te contado. - ela perdeu o sorriso por um instante.