1. Chapéu

O jovem encarou a garota a sua frente, que piscava inocentemente. Ela tinha cabelos castanhos sedosos presos nas laterais que estava debaixo de um enorme chapéu redondo e branco.

Ele não gostava daquele chapéu. Nem um pouco.

–Silv? Que foi? – Ela tombou a cabeça para o lado, confusa. – Ei, Si...

Mas foi interrompida quando Silver tirou o chapéu de sua cabeça.

Então, ele tirou uma pokébola do cinto e dela surgiu um Crobat. O ruivo colocou o chapéu na cabeça do Pokémon.

–Toma Crobat, some com esse chapéu.

O Pokémon morcego bateu as asas, feliz, e alçou voo. Kotone por outro lado estava parada, observando o Pokémon roxo se distanciar.

Só quando o Pokémon estava a uma boa distância que a ficha dela finalmente caiu.

–AH! O QUÊ?! NÃO! CROBAT VOLTA AQUI!! – E saiu correndo atrás dele.

Silver ficou apenas parado no lugar e bufou.

–... Chapéu idiota.

2. Jaqueta

–Deixa?

–Não.

–Por favor?

–Não.

–Ah, vai Silver. Deixa...

–Não.

–Por favozinho?

–Não.

–SIlver, por favor!!

–Que coisa, mulher! Já falei que não!

A jovem olhou para ele com seus grandes expressivos olhos castanhos, com as mãos juntas na frente do peito. Silver engoliu em seco e amaldiçoou em pensamento. Ele tinha certeza que a garota sabia muito bem que toda vez que ela fazia aquela cara o coração dele começava a correr tão rápido quanto um Rapidash.

–Que droga... – Ele bufou, mas abaixou o zíper da jaqueta dele e tirou-a, logo depois a entregando para jovem que a aceitou alegremente.

Depois que ela vestiu a jaqueta e ajeitou as mangas, já que ele era maior que ela, soltou um suspirou.

–Uhum, melhor. – Falou, escondendo a boca na gola da jaqueta.

–Não sei por que você gosta tanto da minha jaqueta.

–Não sabe mesmo?

Ele balançou a cabeça.

–Bem, não que eu me importe...

–Ah, ela é grande, aconchegante, gostosa de vestir...

–Hm. – Era verdade, não era a toa que ele vivia com aquela jaqueta.

–... E porque é sua, ué. – Ela falou com as bochechas levementes rosadas, olhando para ele pelo canto do olho, escondendo um sorriso.

Kotone podia jurar que viu a face do garoto ficar tão vermelha a ponto de fumaça sair das orelhas dele.

3. Pokémon

–Ahaha! Para, faz cócegas. – A jovem riu enquanto um gigante Pokémon azul esfregava seu nariz na orelha dela. – Ahahaha!

O ruivo assistia a jovem e seu inicial brincarem despreocupados perto de um lago. Depois de ter sido derrotado outra vez, Kotone o obrigou a lhe pagar um sorvete e por ideia dela também, resolveu que seus Pokémons tomassem sorvete também.

Ele suspirou pesadamente e levou seus olhos a outro ponto, onde um enorme Pokémon de pelagem azul escura com fogo saindo pelas costas o encara com raiva.

–O que eu fiz agora? – Ele pensou irritado e descansou a cabeça nos joelhos. Enquanto todos os Pokémons dele adoravam a sua rival, parecia que todos os Pokémons dela o odiavam.

Isso é, quase todos.

–Amphaa?

Silver levantou a cabeça de repente e olhou para o lado. Uma Ampharos alegre o olhava com um sorvete nas mãos.

–A-ah. Oi. – Ele piscou um par de vezes. – Serena... Certo?

A Ampharos soltou um som animada, feliz por ele lembrar do seu nome. O jovem levantou uma sobrancelha.

–O que foi? – Foi então que a Pokémon elétrica estendeu o sorvete para ele. – É pra mim?

Ela fez que sim com a cabeça. O ruivo segurou o sorvete.

–Obrigado... – murmurou.

–Amphaa! – Fez a Ampharos e logo depois se afastou indo na direção do Sneasel dele.

Silver encarou o sorvete e deu uma leve lambida. Pokémons são criaturas engraçadas, pelo menos os dele e a Ampharos de Kotone, não importava o quanto ele fosse rude, eles sempre eram gentis com ele.

–Ela sabe que você é uma boa pessoa.

Silver olhou para cima e deu de cara com olhos castanhos a centímetros dos seus prateados. Como sempre, ela não tinha a menor noção de espaço pessoal, fazendo o jovem se inclinar para trás um pouco com a súbita aproximação.

Kotone sorriu e mordeu a ponta do sorvete dele.

–Ei! – Silver sentiu suas bochechas queimarem, fazendo-a rir.

4. Poffins

Os olhos castanhos dela estavam arregalados, sua boca estava aberta e uma visível cor rosada se espalhava por suas bochechas.

Na frente dela, estava uma caixa com seis poffins violetas, decorados de maneira simples, mas bonitinha. O garoto ruivo que segurava a caixa estava olhando para outro lado, evitando encontrar os olhos da jovem.

–V- Vai ficar aí parada ou vai pegar a caixa?! – Ele exclamou, fazendo-a acordar do seu transe.

–D- Desculpa! – E pegou a caixa, seus olhos cor de avelã cintilavam. Kotone voltou a olhar para o jovem a sua frente e desviou seu olhar para as mãos dele que chamaram sua atenção, estavam cheias de curativos e com chamuscados que deviam ser queimaduras.

Silver percebeu que ela olhava e rapidamente escondeu as mãos dentro dos bolsos da jaqueta. A garota soltou uma risadinha e olhou para ele.

–Obrigada!

Algumas semanas depois, o ruivo foi surpreendido quando sentiu uma cutucada nas costas e se virou para dar de cara com uma caixa de tamanho médio bem na frente do seu rosto.

E uma jovem sorridente que a segurava.

–Para você. – Sorriu a morena, entregando a caixa. Ele levantou uma sobrancelha e aceitou hesitante.

–O que que é isso...? – Perguntou, mas a resposta surgiu da caixa aberta e não dos lábios de Kotone.

Dentro daquela caixa adoravelmente decorada, residiam seis poffins vermelhos.

–... Obrigado.

5. Trovões

KACHAAAW

–Kyah! – Exclamou uma jovem com as mãos tampando os ouvidos e tremia sem parar sentada no sofá do quarto do Centro Pokémon. Os olhos estavam molhados e fechados com força, isso graças a forte tempestade que caia sem parar do lado de fora, com direito a raios e trovões.

Kotone odiava trovões.

Ela ainda lembrava muito bem de quando era mais nova e como abraçava sua mãe toda vez que ouvia aquele som ensurdecedor do lado de fora. Tudo que ela mais queria agora era que aquela chuva passasse e aquele som sumisse.

Como sumiu quando ela sentiu algo repousar nas suas orelhas, expulsando as suas mãos do lugar. Seus dedos delicados tocaram o objeto para sentir sua forma.

Tampões de ouvido.

–Eh? – Mas seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu um braço envolver seus ombros, fazendo-a deitar sua cabeça no ombro do jovem que chegara de mansinho ao seu lado.

Ela olhou para cima e se deparou com cabelos vermelhos e olhos prateados que olhavam outro ponto.

–Eu não vou conseguir dormir se você continuar esperneando desse jeito. – Murmurou.

A morena ficou parada, observando-o. O som dos trovões estava abafado graças aos tampões, impedindo que eles a assustassem. Conseguia sentir muito bem o calor dele envolvendo o seu corpo, aconchegante como sempre.

Ela sorriu e fechou os olhos ao descansar a cabeça no ombro dele.

Eu sei que você tá preocupado, seu bobo!

6. Confissão

Ele engoliu em seco e respirou fundo.

Silver teve uma ideia. Uma ideia estúpida, pelo menos ele achava.

Na verdade, ele teve essa ideia a várias semanas atrás, mas conseguiu se conter a não colocá-la em prática.

Até que ele ficou cansado de embromar e decidiu mandar tudo as favas.

–Vamos, não seja covarde. – Ele rosnou para si por baixo da respiração. – Agora que você chegou até aqui, não amarele!

Mas toda a coragem que ele estava reunindo desapareceu ao som de passos vindo na direção dele.

O ruivo se virou para encarar a jovem a sua frente que esfregava os braços constantemente com um cachecol felpudo envolto no seu pescoço. Ela deu mais um passo, afundando seus pés na neve fofa do Mt. Silver.

–P-Poxa, Silver. Você não podia ter escolhido um lugar mais quentinho? –Ela murmurou.

...

–... Idiota. – Xingou-se em pensamento, resistindo a tentação de dar um tapa na própria testa.

–Enfim... O que você queria falar? – Kotone perguntou.

Ele não respondeu, apenas engoliu em seco de novo. Para onde tinha ido toda aquela coragem mesmo?

Kotone arregalou os olhos.

–Não me diga que...

–Argh! Ela sabe?! – Ele sentiu as bochechas esquentarem.

–... Que você quer batalhar? – Ela falou, desanimada.

... Espera, o quê?

–Ah, eu devia ter imaginado. – Ela suspirou. – Afinal por que motivo você me chamaria, né?

–Ei, ei... – Ele pensou.

–Eu sei que você quer ficar mais forte, tudo bem. Mas você podia ter escolhido outro lugar, né? Porque logo o Mt. Silver, ele é tão gelado e deserto!

–... Ela realmente acha... – Continuou com seus pensamentos, cerrando os punhos.

–Bom, não tem jeito então. – Suspirou, pegando uma pokébola. – Vamos acabar logo c...

–Eu não te chamei para batalhar! – Exclamou, assuntando a jovem.

–... Não? – Ela levantou uma sobrancelha.

–Não!

Ele sentiu as bochechas corarem de novo, só não sabia se era de vergonha ou raiva.

–Então, pra quê?! – Ela perguntou com as mãos na cintura.

–PARA DIZER QUE EU GOSTO DE VOCÊ, SUA IDIOTA! – Berrou tão vermelho quanto o cabelo.

Isso foi suficiente para sumir com todas as palavras da boca dela.

Depois de alguns minutos, ele finalmente percebeu o que tinha feito.

–Droga, droga, droga! – Ele praguejou em pensamento, dando alguns passos para trás e virando o rosto. – Não era para gritar, seu imbecil!

Mas seus pensamentos pararam quando ele ouviu um riso abafado. Quando ele se virou, viu que Kotone estava com uma das mãos sobre a boca, contendo o riso.

–P- Porque que você tá rindo?!

–Por nada... – E finalmente soltou o riso.

–Ei!

–É- É que... - Ela limpou uma lágrima do olho esquerdo. – Uma confissão dessas é bem a sua cara.

Ele sentiu suas bochechas esquentarem mais ainda.

–O- O que você q...

Mas suas palavras foram interrompidas quando a garota se aproximou dele e segurou seu rosto com as duas mãos que, apesar do frio, estavam quentinhas.

–Não precisa ficar nervoso. – Ela disse ao esfregar o nariz dela no dele, fazendo um arrepio descer pelas costas do ruivo. E completou com um tom doce. – Também gosto de você, seu besta.

7. Beijo

O cabelo dela tinha cheiro de berries e flores, seus fios eram sedosos e faziam cócegas no rosto dele. Suas mãos eram delicadas e macias, as pontas dos dedos dela eram levemente geladas e arrepiavam sua pele, mas ele não se importava. Os lábios dela eram pequenos e rosados e a proximidade em que estavam o tentava a tocá-los.

Mas ele não sabia se devia.

Ele pensou que odiaria aquele sentimento para sempre, que nunca sentiria isso por ninguém e que amor não passava de algo que só iria tentar machucá-lo.

Isso é, ele pensava assim. Até o momento que o coração dele começou a bater não somente para ele, mas por ela também. Quando ele percebeu que tudo que ele pensava a respeito disso estava errado e não se sentiu mais mal por deixar aquela sensação quente se espalhar pelo seu peito.

Mas ele tinha medo. Medo que ela o abandonasse também.

Ele viu os lábios dela formarem um sorriso.

–Está tudo bem. – Sussurrou. A respiração da jovem fazia cócegas no seu rosto.

Ele apertou o abraço que a envolvia pela cintura. A mão dela foi até a bochecha esquerda dele e repousou ali, roçando no seu cabelo ruivo e macio. Ela encarou as orbes prateadas dele, uma cor tão rara e tão bonita que ela não cansava de olhar.

–Eu não vou a lugar nenhum. – E beijou a ponta de seu nariz. O ruivo franziu o cenho e sentiu as bochechas esquentarem.

–... Você sabe que eu não deixaria. – Murmurou e ela riu.

–Eu sei, eu sei.

Então, Silver cedeu a tentação e uniu seus lábios aos dela, fazendo com que ambos sentissem um calafrio correr pela suas costas e seu corações acelerarem.

Kotone envolveu seus braços ao redor do pescoço dele e ele a abraçou mais forte.

Não foi um beijo simples, nem profundo. Foi apenas um beijo, deixando com que sentisse os calores um do outro, envoltos no seu próprio mundo e na sua pequena felicidade que se pudessem deixariam que não tivesse fim.

Um beijo terno com apenas um toque de travessura.