Haru não fazia ideia de que Rin tinha voltado à cidade, portanto quase teve um ataque do coração quando o cara dos cabelos roxos apareceu na antiga escola de natação dos quatro garotos. Logo de início, Haru pôde perceber o quanto Rin tinha mudado. Matsuoka estava agressivo e feroz, e sua nova personalidade era mais uma vez confirmada pelos dentes afiados.

         Nanase sentiu o coração batendo forte no peito. Ele viu aquela sombra no corredor; por um segundo não queria acreditar, mas estava ali, na frente dele, de Nagisa e de Makoto. Não era alucinação, não era fantasma, não era holograma. Era Matsuoka Rin em pessoa, com roupas escuras e um boné na cabeça. Os olhos de Haru quase saltaram das órbitas ao encontrarem os roxos de Rin.  Ele estava tão diferente, tão grande e forte, não parecia aquele garoto com quem o moreno nadava quando criança. Desde que Rin se mudou para a Austrália, os dois não se falaram. Haru sofria em silêncio, claro. Como explicar a Makoto ou Nagisa que o cara que ele sempre teve uma queda foi embora e o deixou no Japão sem dizer uma palavra?

         Mas ao ver o cara do cabelo roxo, tudo mudou. A coisa que Haru mais queria fazer era bater nele; bater por tê-lo deixado. Mas não, teria que se controlar. Ao invés disso, chamou o arroxeado para nadar com ele. Como naquele dia foi impossível, Haru, Makoto e Nagisa foram até o colégio do outro e lá o encontraram na piscina. Então, Nanase Haruka e Matsuoka Rin apostaram corrida.

         Ambos tinham tanto a dizer, mas não ousavam falar nada. Somente mergulharam na piscina. Haru deixou a água lavar a raiva que sentia, concentrou-se somente em dar as braçadas e respirar, e casualmente olhar para Rin. Já o arroxeado tentava de todas as maneiras chegar na frente de Haru, ele precisava se provar o melhor de uma vez por todas. Queria curar aquela ferida feita há muito tempo pelo moreno, queria mostrar que ele era igual, que Haru não precisaria ficar se diminuindo somente para Rin o acompanhar. Rin queria que Haru desse tudo de si para provar que não era fraco. Rin queria passar Haru. Queria que o moreno perdesse.

         No final, Rin ganhou. Ele ergueu a cabeça com um sorriso no rosto, arrancou a touca e os óculos de natação e gritou em comemoração. Haru chegou segundos depois. Ergueu a cabeça e sentiu nas entranhas que tinha perdido. Sorriu por dentro. Então finalmente Rin o tinha ultrapassado. Ele ficou feliz pelo outro.

         -Parabéns, Rin, você venceu – falou, olhando para o arroxeado.

         Matsuoka não pôde acreditar na cara de satisfação de Haru. Por quê? Porque ele estava feliz? Haru não tinha que ter essa cara. Haru tinha que estar triste, Haru tinha que perceber que Rin era melhor que ele, e que agora era ele que teria que correr para alcançar o arroxeado. Rin simplesmente não acreditava que Haru tinha ficado feliz por perder.

         -Parabéns? – Rin ecoou.

         Alguma coisa dentro de Rin explodiu. Ele não sabia o que estava fazendo quando puxou Haru pelos óculos no pescoço. O moreno ainda não tinha tirado todas as satisfações.

         -Você não tem direito de ficar bravo. – Haru disse calmamente – Eu tenho que ficar bravo.

         -Fique bravo por perder – a voz de Rin não era mais que um rugido.

         -Estou bravo porque você simplesmente foi embora e não me disse uma palavra. Você me deixou sem mais nem menos, então desculpe, você não tem o direito de ficar bravo. Não estou chateado por perder, estou feliz porque você voltou, Rin.

         A face calma de Haru fez a fera no interior de Rin sossegar. Ele não mudou nada... Meu Deus, depois de tanto tempo eu ainda amo esse filho da mãe? Rin puxou o óculos de Haru mais forte e tratou de colar a boca na dele. Makoto e Nagisa soltaram uma exclamação de surpresa.

         O toque da boca dele, depois de tanto tempo, fez o coração do moreno acelerar no peito. A última vez que tinham se beijado foi um dia antes de Rin se mudar. Até aí, Haru não sabia de nada. Logo depois, veio a notícia. Haru esperou e esperou até que o outro voltasse da Austrália. Ele voltou, e parecia que não tinha se esquecido do moreno. Haru sorria internamente. Passou por baixo da raia e se prendeu ao pescoço de Rin.

         -A-Acho melhor a gente sair daqui – Nagisa gaguejava – Se alguém vir...

         -Haru! Haru! Uma professora!!! – Makoto gritou enquanto tentava desesperadamente puxar Haru para fora d’água. Ele mesmo assim não se desgrudava de Rin. Makoto desistiu e esperou até que fossem pegos de uma vez.

         Para Haru e Rin, não importava. Nada mais importava. Se ganhavam ou se perdiam, se brigavam ou apostavam corrida, se a professora os pegasse se beijando na piscina, nada importava. Rin estava de volta, era tudo o que bastava. Haru estava feliz, Rin estava feliz por Haru estar feliz.