A Herdeira escrita por Cate Cullen


Capítulo 19
Revelações




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Todos se entreolham, mas ninguém ousa falar.

Esme olha para Rose atentamente como se pudesse voltar a ver o seu bebé, a sua pequenina que aconchegou nos braços muito menos tempo do que o que gostaria.

– Rosalie. – Murmura.

Carlisle olha de Rosalie para Esme e vice-versa. Não pode deixar de reparar na cor dos olhos, que nunca tinha notado antes, mas que é igual nos dois pares de olhos que agora se fitam mutuamente.

– Mas como? – Carlisle olha para Emmett.

– É uma longa história. Eu também não sei como é que Rose foi parar a uma casa do povo e foi criada por uma mulher do povo. Mas sei que esta rapariga é a princesa Rosalie. – Tira do gibão a pulseira com o R e os pingentes. – Esta pulseira, Majestade, a pulseira que mandastes fazer para cada uma das vossas filhas, a pulseira que estava com a princesa Rosalie no dia do seu desaparecimento foi encontrada em casa da mãe da Rose, da suposta mãe. – Corrige.

– E onde está essa senhora? – Pergunta Carlisle tentando a todo o custo manter a cabeça fria.

Jacob afasta todas as pessoas que estão em frente deles até conseguir abrir caminho até ao rei.

– É minha mãe. – Aponta para Renée. – Eu fui criado como irmão de Rose. De há uns tempos para cá tenho vindo a desconfiar dos meus pais. A minha mãe nunca gostou de ouvir falar da família real, não queria que Rose fosse assistir à vossa passagem quando chegaram aqui à vila e não queria que estivesse aqui presente hoje. E ambos sabem como ela estava estranha quando passaram uma noite na nossa casa e como reagiu quando Vossa Majestade a convidou para vir para a corte. Emmett falou comigo e as suspeitas dele fazem sentido.

– Não são suspeitas. – Emmett estende a pulseira para a rainha. – São certezas. É a pulseira da princesa, não é?

Esme tem as mãos a tremer quando as estende para a pulseira. Não tem dúvidas de que é. É realmente a pulseira que mandou fazer quando a filha nasceu. A pulseira que esteve junto ao berço dela todas as poucas noites que passou no palácio. A pulseira com o mesmo R do colar de pérolas que guarda com tanto carinho.

– Rosalie. – Levanta-se com os olhos cheios de lágrimas. – Oh, Rosalie, meu amor, minha filha. – Caminha até ela e aperta-a nos seus braços.

Rose deixa-se abraçar. Sente-se tão confusa, tão baralhada. Tudo o que Emmett e o irmão disseram faz sentido. Mas poderá ela ser mesmo filha da rainha? Poderá a mãe tê-la raptado do palácio quando era bebé? Poderá a mulher que sempre amou como uma mãe tê-la roubado dos braços da sua verdadeira mãe?

Com um pouco de dificuldade liberta-se dos braços da rainha e vira-se para a mãe, um pouco mais atrás, perto de Jacob, o seu suposto irmão.

– É verdade? – Pergunta. – É verdade que eu não sou vossa filha?

Renée mantém-se em silêncio.

– Respondei-me! – Grita Rose avançando uns passos em direção a ela. – É verdade que não sois minha mãe?

– É. – Responde Renée, sem saber como é possível a voz sair-lhe tão firme. – Vós sois filha de Suas Majestades.

Rose estaca sem saber o que pode dizer. Nem mesmo sabe o que pode pensar.

– Parece que tendes explicações a dar. – Carlisle, que tem estado calado sem saber bem o que dizer, manifesta-se. – Como é possível que tínheis a minha filha que desapareceu do palácio com tão pouco tempo de vida?

– Deixai-me explicar. – Pede Renée aproximando-se. O seu maior medo é que a separem da sua Rose para sempre, que a metam na prisão longe da sua filha.

– Estamos precisamente à espera que vos expliqueis! – Declara Carlisle começando a esgotar-se-lhe a paciência.

Não pode acreditar que esta mulher tenha ficado com a sua filha, a sua menina. A criança que tanto o fez feliz, a ele e à mulher que ama e que depois lhes foi tirada com crueldade, afastada deles sem nunca nenhum dos dois ter sabido alguma coisa dela durante dezoito anos.

Um sentimento de culpa invade-o.

Devia ter procurado melhor. Devia ter ido com guardas revistar a casa de todas as pessoas da vila, de todas as pessoas do país se fosse necessário. Quis acreditar que o seu povo seria incapaz de lhe tirar a sua princesinha. Não devia ter confiado. Não devia ter-se limitado a anunciar pelo reino o desaparecimento da princesa e a pedir que se a encontrassem a viessem trazer ao palácio. Devia ter ido ele próprio à sua procura. Agora sabe que a teria encontrado. Que teria poupado o sofrimento de Esme, as saudades, durante todos estes anos.

– Eu não raptei a princesa apesar de ser isso que vós estais a pensar. – Começa Renée, olhar para os olhos enganados da filha magoam-na. – Eu encontrei a princesa à beira da estrada, perto de uma carruagem que se despistara.

Carlisle e Esme entreolham-se.

– A carruagem do duque Álvaro e da duquesa Cecília. – Murmuram ao mesmo tempo como se houvesse transmissão de pensamentos entre eles apenas com um único olhar.

– Não sei de quem era.

– Sabemos nós. – Retorque Carlisle.

Renée respira fundo. O rei está sem dúvida a ataca-la. Tudo bem, tem em parte razão, ela ficou-lhe com a filha, mas também tem que estar um pouco agradecido, afinal tratou da criança estes anos todos e senão a tivesse encontrado podia Rose ainda estar nas mãos desses tais duques.

– A única pessoa viva era a bebé. – Continua Renée. – Nem mesmo um dos cocheiros estava vivo. E a princesa chorava, tinha fome e frio ali deitada sobre a relva com o orvalho a cair-lhe por cima. Fiquei com ela. Tinha tido um filho à pouco tempo e podia amamenta-la também. Não a deixaria ali a morrer de fome e frio quando podia tratar dela.

Carlisle percebe que foi por uma questão de minutos, talvez uma hora, que a guarda não chegou primeiro que esta mulher. Lembra-se bem que logo de manhã ainda antes do pequeno-almoço souberam do acidente e também do desaparecimento da filha minutos depois. Se Renée tivesse chegado um pouco mais tarde a guarda já teria encontrado a bebé e tê-la-ia levado para o palácio.

– Estais à espera que vos agradeça por ma terdes roubado? – Pergunta Carlisle irritado.

– Não, Majestade, mas podíeis, eu tratei da vossa filha como se fosse minha.

– Nós tê-la-íamos tratado com tanto ou mais amor se tivésseis vindo devolve-la. – Manifesta-se Esme, que apesar de manter a voz calma, o olhar parece poder reduzir Renée a cinzas.

– Eu não sabia que ela era vossa filha... Pelo menos logo na altura não soube. Pensei que fosse filha dos senhores que tinham morrido. Depois encontrei essa pulseira nas roupas dela. Percebi que era da nobreza, mas não a associei à família real. Mais tarde é que soube a notícia. Esperei algum tempo, não tinha a certeza se era esta a criança. E depois quando me decidi a ir entregá-la tive medo. Tive medo que não acreditassem em mim, que me mandassem prender, e eu tinha outro filho que precisava de mim.

– Ninguém vos mandaria prender nessa altura. – Diz Carlisle. – Mas agora sereis presa por esconderdes a princesa durante dezoito anos.

– Não! – O grito de Rose faz todos olharem para ela. – Por favor, Majestade, ela fez tudo com o coração, nunca vos quis causar dor ou sofrimento. Não a prendeis, peço-vos.

Carlisle pondera um pouco.

– Ela tem razão. – Diz Esme calmamente. – Não faz sentido. Ela salvou a nossa filha de qualquer das formas. Errou ao não nos vir entregá-la, mas tratou dela durante dezoito anos. A Rose agora ficará aqui no palácio e tenho a certeza quererá ter a mulher que sempre verá como sua mãe perto dela.

Carlisle assente.

– Tendes razão.

Rose sorri para os reis.

– Obrigada.

Esme retribui o sorriso. Emmett consegue ver que é igual. O mesmo sorriso meigo e doce.

– Esta será a vossa nova casa, nós só queremos que sejais feliz aqui.


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