A Herdeira escrita por Cate Cullen


Capítulo 10
Recordações e Tristeza




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/393947/chapter/10

Esmee olha pela janela da carruagem no caminho de volta ao castelo. O olhar dela perde-se no horizonte.

- Esme. – Carlisle apoia a cabeça no ombro dela. – Sentis-vos bem?

Esme assente em silêncio e sem se virar para ele.

- Esme, olhai para mim.

Ela permanece a olhar pela janela.

- Esme. – Carlisle pega-lhe no rosto fazendo-a olhar para ele, os olhos estão cheios de lágrimas. – Esme. – puxa-a para os seus braços e dá-lhe beijos na cabeça. – Não ligues ao que aquela mulher diz. Peço-te. Não sei como a filha pode ser tão simpática com uma mãe assim. A mulher é maluca!

- Talvez ela tenha razão. – murmura Esme levantando a cabeça. – Eu queria trazer a Rose para a corte e ela viu isso como uma espécie de roubo da filha.

- Sendo assim é uma ignorante. – murmura Carlisle.

- Não é. – Esme abana a cabeça. – Pensando bem se me quisesse levar a Victoria para longe eu não aceitaria. Ela é mãe como eu, quer a filha junto dela da mesma forma que eu quero a minha junto de mim.

- Por isso mesmo, deve saber o quanto custa perder uma filha, não tinha que dizer o que disse. Magoou-te, Esme, e isso nunca lhe perdoarei.

- Eu penso nela de qualquer forma e aquela menina. – abana a cabeça. – Podia ser a nossa filha. Aqueles cabelos tão louros e os olhos, os olhos eram tão…

- Calma. – Carlisle abraça-a de novo quando vê as lágrimas a cair.

- Eu senti um carinho tão especial por ela. – murmura Esme contra o ombro dele. – Foi como se ela fosse mesmo nossa filha. Queria traze-la para a corte, porque… porque…

- Calma. – repete Carlisle. – Vós sentis a falta dela como eu, talvez até mais. Ereis muito nova, meu amor, e ficastes tão feliz.

- A Rose fez-me lembrar dela. – termina Esme. – É assim que a imagino.

- É realmente assim. – concorda Carlisle. – Com os vossos olhos, o vosso sorriso, a vossa doçura.

- Mas ela não é nossa filha. – murmura Esme.

- Não. – concorda Carlisle. – Mas talvez um dia…

Esme abana a cabeça.

- Não falemos mais nisto. – a carruagem entra no pátio do palácio. – Não quero entrar a chorar senão todos vão pensar que estou com dores por causa da mordida e nunca mais me largam.

Carlisle limpa-lhe as lágrimas.

- Amo-vos. – diz olhando no fundo dos olhos dela.

- Amo-vos. – repete Esme e dá-lhe um beijo apaixonado.

A carruagem para, um guarda abre imediatamente a porta e oferece a mão para ajudar a rainha a descer.

Victoria, que estava a observar tudo da janela, aparece a correr no pátio, levantando o vestido, ainda com o cabelo apanhado na trança que usa para dormir com um dos caracóis soltos a cair-lhe para os olhos. É tão raro vê-la descomposta fora dos aposentos que os guardas e os criados ficam de boca aberta. Normalmente quando sai do quarto vem muito bem arranjada e nunca corre pelos corredores.

Desta vez veio a correr desde o quarto, onde uma das damas tinha acabado de lhe apertar o vestido, até ao pátio onde se atira nos braços da mãe.

- Mamã, estais bem? Dizei-me que estais bem.

Esme aperta a filha contra si. Ama-a tanto. As lágrimas vêem-lhe novamente aos olhos ao pensar na outra filha que tanto amava e em como morreria se acontecesse o mesmo com esta.

Vendo que a mãe não responde Victoria levanta o rosto para ela e depara-se com os olhos cheios de lágrimas.

- Estais a chorar! – exclama aflita. – Tendes dores? Dói-vos por causa da cobra? Tendes que ser vista por um médico como deve ser. Fostes tratada por campónios e de certeza que não vos trataram bem. Temos que chamar já o médico.

- Não. – murmura Esme recompondo-se. – Estou bem, meu amor. – passa a mão nos cabelos dela puxando-lhe a trança para o lado. – Estava apenas com muitas saudades vossas. Só queria um abraço assim como o que me deste.

Victoria franze uma sobrancelha.

- De certeza? Estais a chorar só por causa disso? Ainda ontem à tarde me vistes.

Carlisle suspira.

- Vós também estáveis com saudades da mãe. – lembra Carlisle. – Ela também tinha muitas saudades vossas. Estava preocupada convosco.

- Não há razão para isso. – diz Victoria desconfiada. – Eu estou bem, sempre estive. A mãe é que foi mordida por uma cobra. Que horror! – acrescenta histericamente.

- Eu nunca passei uma noite longe de vós. – diz Esme. – Estava preocupada. Mal consegui dormir por saber que não estáveis na mesma casa que eu.

- Que exagero! – murmura Victoria fazendo Esme sorrir.

- Irás perceber um dia. – diz. – Vós sois muito importante para mim. Uma das pessoas mais importantes da minha vida.

Victoria sorri. Gosta que a mãe o diga. Fá-la sentir-se mais importante do que já se sente habitualmente. Sabe que quando a mãe ou o pai o dizem é sincero, quando é dito por um ou outro cortesão é apenas lisonja e tem muito pouco de verdade, ou não tem nada.

- Vamos para dentro. – diz Esme. – Tenho de mostrar a todos que estou ótima. E vós tendes de arranjar o cabelo.

Victoria leva a mão à trança. Nem acredita que veio para fora dos aposentos nestes preparos.

- Tenho que ir já para dentro. Espero que ninguém me tenha visto assim.

- Estás linda como sempre. – assegura Carlisle, a filha parece um pouco mais nova assim.

- Que disparate! – grita histérica. – Nem sequer pôs as minhas jóias. Estou horrível! Tenho de voltar já para dentro. Já viste o que era se o meu noivo me visse assim.

- Qualquer homem se apaixonaria perdidamente. – diz Carlisle sorrindo.

- Deixava-me logo. – diz aflita. – Onde é que ele está?

- Encontramo-lo pelo caminho. – diz Esme. – Foi dar um passeio a cavalo.

Victoria suspira e põe a mão na cintura.

- Não percebo, juro que não percebo o que vos atrai tanto nos cavalos e nos animais em geral. Todos passam o dia a andar a cavalo. Acaso ele pensa casar com um deles em vez de ser comigo?

Esme e Carlisle riem.

- Não digas disparates. – repreende Carlisle.

- Vou para o quarto e vou falar a sério com ele quando chegar. – diz virando as costas aos pais e caminhando de volta ao palácio. – Ele vai ter de me dar uma explicação para andar sempre a sair a cavalo sem sequer me avisar. – e continua a resmungar sozinha.

Carlisle e Esme trocam um olhar.

- Não tem emenda. – dizem ao mesmo tempo e riem beijando-se logo a seguir.

...

Emmett mantém-se com os olhos fixos na porta. Vê-a abrir e vê Rose sair de lá a correr como se a sua vida depende-se disso. Ela entra pelo meio da floresta. Emmett esporeia o cavalo e tenta segui-la. Não é fácil no meio das árvores todas. Começa a ouvir uma cascata e volta a ver Rose sentada numa pedra, a cara escondida entre as mãos, parece estar a chorar.

Emmett desmonta e ata as rédeas do cavalo a uma árvore.

- Rose. – chama baixinho e aproxima-se.

Rose vira-se ao ouvir aquela voz tão conhecida.

- O senhor? – limpa as lágrimas nos olhos. – Que faz aqui?

- Vinha ter com os reis e depois vi-te sair de casa tão apressada, tive que ver o que se passa contigo.

- Não tem que se preocupar comigo. – diz Rose. – Tem de se preocupar com a sua noiva.

- Eu sei, mas preocupo-me contigo. – pega-lhe na mão. – E queria vir-te pedir desculpas pelo que disse.

Rose encolhe os ombros.

- Não precisais de o fazer.

- Mas eu quero.

- Porquê? Porque vos importais comigo? Eu sou uma camponesa que mal sabe ler e escrever. É por ser bonita que me procurais?

Emmett não sabe o que lhe dizer, não tem explicação, não tem resposta para as perguntas dela. Nem ele mesmo sabe porque a procura, não sabe porque precisa de a ver constantemente.

- Não sei. – murmura sendo sincero.

- Como não sabeis?

- Sei que preciso de vos ver.

- Porquê?

- Não sei. Mas vós… vós sois especial.

Rose vira-se para ele. Emmett fixa aqueles olhos azuis. Cada vez que vê aqueles olhos parece reconhece-los de uma outra pessoa, outra pessoa que tenha esses olhos. Olhos honestos, sinceros, amáveis, bondosos.

- Que aconteceu para estardes a chorar? – pergunta vendo ainda uma lágrima no meio do azul dos olhos.

- Foi uma coisa que aconteceu.

- Podeis contar-me. Confiai em mim. – pega-lhe na mão. – Contai-me, minha linda.

Rose consegue confiar nele. É inexplicável. Ele transmite confiança, as suas palavras, os seus atos, o seu rosto, tudo nele faz com que confiei.

Decide contar-lhe. Conta-lhe tudo desde a tarde anterior quando encontrou a rainha até esta manhã.

- A vossa mãe reagiu assim porquê? – pergunta Emmett espantado.

- Não sei. – encolhe os ombros. – A rainha ficou tão triste com o que ela disse. E eu queria tanto ir para a corte, deve ser tão bonito. Sempre quis viver no meio das damas todas chiques e dos nobres tão galantes.

Emmett sorri.

- Descreveis a corte muito melhor do que é. – diz. – É bom viver lá. Há muitas festas e divertimo-nos bastante. Mas também há muitas intrigas e algumas pessoas são maldosas. Todos competem pelo favor do rei e da rainha, todos desejam ser os seus favoritos para subir na vida. Muitas vezes parecem cães atrás de um osso.

- Não importa. – teima Rose. – Quero viver lá. Gostei muito da rainha e do rei também, mas especialmente da rainha, é tão boa e simpática. Ofereceu-me isto. – tira o colar da safiras que guardou no bolso e mostra-lho. – É tão bonito! E ela estava feliz e depois a atitude da minha mãe estragou tudo.

Emmett tem de concordar que a atitude da mãe dela foi estranha. Normalmente os pais desejam que as filhas vão para a corte, e aqueles que nascem no campo têm muito poucas hipóteses de chegar algum dia a servir sequer como criados quanto mais como damas de companhia ou cortesãos. A atitude da mãe dela é como a de uma mãe que já perdeu um filho ou que teme que lho roubem por alguma razão. Atitude estranha sem dúvida.

- É realmente bonito. – concorda pegando no colar. – Vi muitas vezes a rainha com ele. A princesa Victoria não descansou enquanto o pai não mandou fazer um para ela também.

Rose baixa os olhos quando o ouve mencionar a noiva, não gosta de pensar que ele está noivo e por momentos até se tinha esquecido.

Emmett percebe a atitude dela e muda de assunto imediatamente.

- Acho que ficarias linda com ele. – diz. – Deixa-me pôr-to.

Lentamente coloca-lhe a mão no queixo para a virar para si. Afasta-lhe os cabelos e passa o braço em volta do pescoço para lhe prender o colar.

Rose arrepia-se, não de sentir as pedras frias do colar tocar no seu pescoço, mas as mãos quentes dele a tocar na sua pele. É como se uma corrente de calor a percorre-se e ao mesmo tempo arrepia-se como se tivesse frio. Emmett sente o mesmo calor percorre-lo. Puxa-lhe o cabelo para a frente e observa-a. O olhar dele é de desejo. As safiras condizem perfeitamente com os olhos e ficam bem com os tons de cabelo louro. Aqueles olhos, ele já os viu noutro rosto.

- Linda! – murmura extasiado.

Sem pensar coloca-lhe a mão na face e puxa-a para si. Rose deixa-se levar pelo toque dele e quando se apercebe os lábios dele estão nos dela. O beijo é calmo, a língua dele explora minuciosamente a boca dela. Rose nunca beijara um homem. A sensação é única e maravilhosa. Ela corresponde ao beijo entregando-se completamente, deixando que uma das mãos dele lhe mexa no cabelo enquanto a outra a puxa de encontro ao corpo dele.

Quando Emmett afasta os lábios para poder admirar de novo o seu rosto, Rose levanta-se apressada.

- Mas o que estou eu a fazer? – murmura parecendo estar a falar mais consigo própria do que com ele. – Vós ireis casar.

Emmett agarra-lhe no braço.

- Esquecei, não penseis nisso. – pede.

- Tenho de pensar. – olha em volta. – E tenho de ir.

- Não, por favor.

- Tenho mesmo de ir. – insiste.

- Então dizei-me quando vos posso ver de novo. – pede entregando-se ao impulso, que já tem há muito, de lhe perguntar.

- Nunca. – responde Rose. – Ides casar.

- Por favor, eu preciso de vos ver. Só para conversar, juro que não faço mais nada a não ser conversar.

Rose volta a confiar nas palavras dele.

- Amanhã, aqui, à hora em que nos vimos a primeira vez. – dito isto desaparece pela floresta esperando que ele se lembre da hora em que a viu a primeira vez da mesma forma que ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Herdeira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.