“A garota de 15 anos se suicidou por motivos ainda desconhecidos. Mais notícias no jornal da noite...”

É isso que a TV está falando. O tempo todo, essas falas me acertam como tiros. Dói. Arde.

Eu não quero aceitar essa realidade.

“Esse mundo é real? Ou é apenas uma grande mentira?”

Eu lembro de você me dizendo isso, e eu não podendo responder. Eu lembro de você de costas para mim. O vento gelado que cortava nosso coração, as lágrimas que queimavam meu rosto, a dor interminável.

“Esse prédio é realmente alto, não é seguro ficar aqui com todo esse vento. Vamos, se afaste dessa beirada, vamos entrar.”

Eu te falei, não te falei? Não era seguro. Mas você não quis entrar. Você planejava morrer desde o início, não é mesmo? Por quê?

Porque você me deixou aqui sozinha?

Saio pra andar. Meu coração está doendo. O tempo todo ele dói. Eu te chamava de melhor amiga, mas não pude nem te proteger? Eu não pude nem te salvar?

Eu realmente sou um lixo de pessoa.

Eu é que devia ter morrido, eu daria tudo pra poder te salvar.

“Sabe, eu estive pensando”

Enquanto você falava aquilo, seus longos cabelos loiros dançavam com o vento.

“Esse mundo é realmente cruel. Os mais fortes ganham dos mais fracos. Quem não luta não tem o direito de sobreviver. Mas... mesmo eu dando meu melhor, eu nunca vou ser o suficiente, não é mesmo? Todos gostam da pessoa que eu finjo ser, não da que eu realmente sou! Por quê? Porque as pessoas esperam tanto de mim? Porque é que no final eu sou a única a ficar sozinha. Esse mundo só pode ser uma piada. Mas me diga o que você acha: ...”

Você era realmente linda, sabia? Ficava bem em qualquer roupa. Principalmente na que estava usando naquela hora. Aquele jeans, aquela blusa preta e aquele sobretudo branco.

“...esse mundo é real? Ou é apenas uma grande mentira?”

Eu me aproximei daquele prédio branco. As faixas amarelas ainda circundavam o lugar onde o acidente havia ocorrido.

“Eu não sei porque estou aqui. Eu não sei porque eu permaneço aqui. Porque é que eu tenho que sofrer tanto? Eu tentei tanto! Mas nunca adiantou, não é mesmo?”

O elevador estava vazio. Quando cheguei no ultimo andar, subi lentamente as escadas que davam para o terraço do prédio.

“Eu pensei que escondia minha dor tão bem. Sabe, eu sou muito agradecida a você. Quando aquelas garotas me atormentavam, você nunca saiu do meu lado. Lembra quando eu te disse que elas haviam parado? Era mentira. Elas continuam. Continuam até hoje. Eu senti tanta dor, tanta humilhação. Mas vai acabar hoje”

“Lucy, não é seguro ai, venha pra cá. Não tem problema você ter mentido, vamos dar um jeito nisso” Eu te disse isso, mas não adiantou. Você não veio em minha direção.

Na beirada daquele prédio tem muitas flores e velas. Elas estão ocupando seu lugar.

Esta realmente frio hoje.

“Eu tenho saudade de quando a gente era criança, sabe? Podíamos viver como queríamos, sem ligar para o que os outros pensam. Infelizmente, esse tempo não vai voltar”

Esta ventando muito hoje, tanto como naquele dia.

Esse vento frio faz minhas lagrimas secarem, e açoita meus cabelos

“Eu... eu não posso mais voltar atrás. Porque apenas mais um passo, e toda a dor e a humilhação terão terminado. Eu não vou ter que me fingir de forte. Não vou precisar agradar mais ninguém. Vou poder ser eu mais uma vez. Ser nós mesmos custa caro. Às vezes custa amigos, dinheiro ou fama. Dessa vez custou minha vida. Embora ela seja um preço barato para minha liberdade. Me desculpe, Levy, eu não posso mais fingir que esta tudo bem. Você foi a melhor amiga que alguém podia ter tido, mas ninguém pode me impedir agora. Não é sua culpa. Eu vou por um ponto final aqui.”

Dizendo isso, você escorregou para trás, caindo em direção ao nada.

Eu gritei e corri na sua direção, mas já era tarde demais. Eu só pude chegar a tempo de te ver caindo. Seu sobretudo branco dava a impressão de você ter asas. Em seu rosto, havia um sorriso calmo, como de quem já aceitou tudo que está vindo pela frente. E então, você se tornou uma mancha vermelha, e eu só pude gritar e chorar, minha voz e meu sofrimento sendo levados pelo vento.

Realmente, esse lugar é muito alto. Posso ver tudo daqui: desde minha casa até nossa antiga escola. Tenho lembranças muito boas. O vento aqui é realmente forte.

Sabe, você era uma pessoa muito boa. Nunca fugiu as suas obrigações, sempre ajudou aos outros. Porque são as pessoas boas que tem que sofrer?

Suas palavras fazem sentido agora.

“Não se preocupe, Lucy. Eu entendi, e finalmente tenho a resposta. Ele é apenas uma grande mentira”

Meu alento final foi escutado apenas pelo vento, e o mesmo me impulsionou para frente.

Minha jaqueta está se enchendo de ar de uma maneira que a faz parecer um pára-quedas.

O mundo é realmente engraçado desse ponto de vista.

Meu pulmão esta vazio, o ar esta passando muito rápido.

Logo eu devo sumir.

É melhor fechar os olhos.