Entregar-se - Continuação de "amor de prateleira" escrita por Cora


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Dedico essa fanfic a um dos homens que passaram pela minha vida. Desculpe pelas mentiras, pela dor e por não ter te amado como deveria, a Cora representa a garota que eu deveria ter sido, mas não fui e não sou. Ela é boa e frágil, eu não.

"O que estraga a felicidade é o medo."
Clarice Lispector



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A manhã foi agitada, cheia, confusa.
Acordei sentindo-me um passarinho, digo de boca cheia que nunca havia experimentado uma sensação como esta antes. Era mágico e eu me sentia nas nuvens.
Passar pela maratona de aulas não foi tão chato, aturar professores mal comidos, também não. Foi realmente incrível poder sorrir assim, sem medo de saber que seus sentimentos transbordavam para fora de você.
Eu poderia tocar o céu, já se sentiu assim? Capaz de qualquer feito, cheia de si mesma e de outro alguém que suas pernas tremiam, mas seu coração pulava do peito pedido mais, e você aceita, você aceita pular em direção ao desconhecido.

Tomei meu café e comi biscoitos e pão de queijo. Havia 3 livros na cabeceira da minha cama e uma vontade enorme de viver aquilo que eu lia.
Eu era feliz. Saber disso me fez querer pular pelas paredes, como podia me sentir assim com apenas um beijo? Eu não sabia.
Ele parecia surreal, a luz da biblioteca e aquela voz doce de quem tem medo de falar errado, e ao mesmo tempo tão rouca e sensual, como um ator de filme pornô. Não me pergunte como sei disso, mas eu sei.
E tinha aqueles olhos, há aqueles olhos! eram escuros, de um tom castanho quase preto, que pareciam esconder um segredo obscuro e quase vívido.
Eu poderia me perder naqueles olhos, afundando em direção a alguma coisa que não consigo entender. Quero que saiba disso antes de pensar que sou louca: eu nunca fui assim. Ok, talvez em partes eu seja. Talvez eu sempre tenha sido um pouco confusa e louca, mas nunca foi assim, não antes dele aparecer.
Luan, eu poderia repedir esse nome na minha cabeça dezenas de vezes e sentir seu gosto como se estivesse me beijando, isso tudo me apavora e ao mesmo tempo me entorpece de energia.
Ainda posso sentir a textura do cabelo castanho, de como era bom mergulhar as mãos nele enquanto seu corpo encaixava de leve no meu. Ele era alto ou talvez eu é que seja muito pequena. Não era magro e nem gordo, e cheirava a couro e perfume caro.
Eu não consigo tirá-lo da minha cabeça.
Acho que isso está me deixando em frangalhos, eu preciso de algo pra esvaziar a cabeça, mas não sei o que é. Já li todos os livros que estão na minha prateleira e os que ficaram pendentes na minha mesinha de cabeceira. Já bebi mais de 3 xícaras de Nescau gelado, que sempre foi um calmante para os meus nervosos diligentes, mas não adiantou de nada.
Fiquei vagando pela casa por horas até decidir sair, meus pais raramente estão em casa, se entopem de trabalho para não ter de olhar para a cara um do outro e lamentarem não pedir o divórcio por minha causa, e lá vão eles descontarem em mim a raiva que sentem, e me odiarem por ainda faltar um ano para sair de casa e ir para a faculdade.
Então lá pelas 2 da tarde eu resolvi sair.
Eu não queria ir lá, juro que não queria. Era cedo e por algum motivo minha barriga estava parecendo à beira de um ataque epilético, e minhas mãos tremiam e minhas pernas vacilavam.
Mas eu acabei bem ali, na frente do único lugar que eu encontro alívio, na frente do meu esconderijo, do canto do mundo que eu fiz questão de esconder do resto do mundo.
A biblioteca era meu sossego.
Entrei, não olhei para os lados, eu queria vê-lo, queria tanto que quando me dei conta disso eu quis rir.
Mas que droga! Eu nem o conhecia, só sabia a porcaria do nome dele! Eu que eu estava pensando? O que eu estava fazendo? O que diabos, estava acontecendo comigo?
Eu sentei sem me dar conta de que me sentava ao lado dele.
– Boa tarde. – ele abriu um enorme sorriso e eu fui incapaz de não sorrir de volta.
– Não sabia se iria encontrar você outra vez.
Ele me olhou um pouco constrangido.
– Tive medo de ter assustado você – confessou.
– Ahn, precisa ter um pouco mais de empenho se quiser me assustar, rapaz.
Ele soltou uma gargalhada gostosa, a voz rouca me tirando o chão.
– Isso é um desafio, pequena?
– Não me chame de pequena, a culpa é sua se é um brutamontes.
– Brutamontes?
– É.
– Ninguém fala isso hoje em dia, lady. – senti minhas bochechas ficando vermelhas.
– Eu falo. – disse orgulhosa.
Ele não disse nada por longos e constrangedores minutos.
– Eu quero beijar você outra vez.
Suas palavras tão diretas me pegaram de supetão e eu devo ter feito algo muito ridículo, do tipo arregalar os olhos, porque ele começou a rir sem parar.
– Não precisa rir de mim. – respondi ofendida.
– Então não faça essa careta, é impossível não rir. E também não faça biquinho se não quiser que eu beije você outra vez.
Olhei para o chão, nunca fui tímida, mesmo não falando com a maioria das pessoas, eu nunca fui tímida, apenas preferia o silêncio.
– Desculpe. – respondeu preocupado – não quero assustar você, eu falo as coisas sem pensar.
– Não peça desculpas, eu é que nunca fui acostumada com pessoas me dizendo coisas assim. Além do mais, talvez eu queira que você me beije outra vez.
Agora foi a vez dele de arregalar os olhos, surpreso.
– Você quer?
Sorri-
– É.
– Mesmo?
– Mesmo.
– Sem mentiras?
Bufei, irritada.
– Vai me beijar logo ou você vai querer que eu faça um documento por escrito?
Ele sorriu e puxou meu rosto para perto, roçando os lábios deliciosos nos meus. Impaciente eu puxei ele para mais perto.
Mais, eu queria mais.
Ele aprofundou o beijo, sua língua explorando minha boca e eu derretendo com aquele cheiro, aquele gosto que vinha dele.
Ficamos assim por um bom tempo, e mesmo quando o beijou terminou eu ainda tinha as mãos envolvendo seu pescoço, e as dele ao redor da minha cintura.
Deitei em seu colo, cansada e leve como uma nuvem.
– Luan.
– Sim?
– Posso ficar assim por mais um tempo? Tenho medo de voltar pra casa.
Ele me abraçou com força e me acomodou deitada em seu peito.
– O tempo que quiser, pequena.
Fechei os olhos, desde quando eu era assim? Desde quando me abria com estranhos e beijava-os? Nunca, eu nunca fui assim.
– Posso contar um segredo?
– Pode, Cora. – meu nome, ele disse meu nome de um jeito estranho. Soava como um Co, ninguém nunca tinha dito meu nome daquela maneira.
– Eu nunca beijei alguém antes.
Ele não disse nada, e eu fiquei feliz. Se tivesse me elogiado ou dito qualquer coisa para me animar eu teria achado que era mentira.
– Posso ensinar você sempre que quiser.
Sorri.
– Que tal começar agora?
– Ótima ideia.
E ele me beijou outra vez, e outra e outra e outra.

– Me conte algo sobre você. – pedi enquanto caminhávamos de mãos dadas em direção a minha casa.
– O que quer saber?
– Qualquer coisa.
– Deixe-me ver. Eu me chamo Luan Martinez, meus avós paternos vieram da Espanha, e eu tenho 19 anos. Moro a 5 quadras da sua casa, terminei meus estudos e começo a faculdade na próxima semana. Eu tenho um cachorro, chamado Pipe e um coelho que não têm nome. Minha mãe morreu quando eu tinha 10 anos e moro com meu pai, que é muito bom para mim. Ele é engenheiro. Eu tenho um melhor amigo, Gabriel, e não leio nem metade do que você costuma ler, mas gosto.- ele fez uma pausa e respirou fundo – agora é a sua vez.
– M-minha vez?
– É.
Suspirei.
– preciso mesmo? Minha vida não é interessante e eu não tenho bichos de estimação.
– Precisa, vamos Cora, fale logo.
– Tudo bem, meu nome completo é Cora Rebecca Taylor, sou um ano mais nova do que você, e ahn, eu não sei o que dizer, você já sabe tanto...
– Na verdade, eu sei algumas coisas que a maioria não sabe, mas você não me disse o básico.
Insegura, um desviei os olhos do rosto dele, olhei para o céu, que já estava ficando escuro com o pôr-do-sol, era difícil para mim me abrir daquele jeito.
– Eu...- travei.
– Por favor, Cora. Eu não vou machucar você.
Suspirei, depois de alguns minutos, cedi.
– Tudo bem. Eu estou no último ano do ensino médio e quero cursar biologia e...
Luan começou a rir.
– Biologia? Não consigo imaginar você usando um guarda-pó. Pensei que seria escritora.
– Escritora? Não! Eu amo ler, mas sou terrível escrevendo. Só porque alguém lê não significa que queria escrever, isso é tão piegas!
Ele continuava a rir e eu soltei a mão dele e cruzei os braços.
– Só você mesmo pra falar algo como piegas, Cora, isso é tão a sua cara.
E ele sorriu para mim, agarrou minha mão outra vez, e eu quando eu tentei soltá-la, ele a apertou com mais força.
– Continue, não falei por mal.
– Uhn.
– Não faça isso.
– Isso o quê? – perguntei.
– Biquinho.
– Eu estou brava.
– Não fique, eu... Desculpe, não queria deixá-la brava, falei demais, faço isso o tempo todo.
– Uhn.
Ele parou e se virou de frente para mim, me olhando com uma intensidade que me deixou zonza. Eu o fitei assustada, sentindo o aperto de sua mão contra a minha.
Ele estava sério, tão sério que fiquei nervosa.
– Não adianta, eu decidi que estou brava com você, não vai conseguir mudar isso.
Tentei parecer descontraída, mas ele continuava sério.
– Quer apostar?
E me beijou.
A primeira vez foi bom. Calmo e confortável, um deleite tranquilo para descobrir, explorar. As outras vezes também foram assim, embora houvesse uma urgência, não deixava de ser lento, calmo.
Mas agora, agora esse beijo mudava tudo, diferente de tudo.
Ele me empurrou contra si com uma força assustadora, chocando os dois corpos e depois me abraçando com ternura. Havia intensidade ali, uma chama e eu me senti acesa. Nunca soube que poderia ser assim, nunca soube que beijar alguém poderia ser tão intenso, como uma promessa. Sim, aquele beijo era uma promessa e eu não fazia ideia do quê.
As línguas se entrelaçavam, exploravam, pediam. Eu nunca havia me sentindo tão envolvida em minha vida.
Mudei o ângulo do beijo, segurando-o com firmeza. Senti as mãos dele em minhas costas, acariciando, depois nos cabelos. As sensações eram tão boas que nem me deu conta do que faziamos. Beijando-lhe a boca, descendo pelo pescoço, sentindo. Um gemido baixo escapou da boca dele, e nós nos afastaram, assustados, constrangidos.
– Isso foi bom – ele disse.
Comecei a sentir meu rosto pegando fogo. Deveria estar vermelha como um pimentão.
– D-Desculpe.
Ele sorriu timidamente e me abraçou.
– Eu não sei o que acontece comigo quando estou perto de você.
Nem eu, pensei.


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Notas finais do capítulo

É isso aê. Eu amo escrever contos, e espero que gostem de lê-los.
Quem gostou comenta! é sempre bom saber que seu trabalho é valorizados. Um beijo.

— Cora.



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