Longos dias se passaram em que Hinata não saiu de casa. O medo de ver o garoto que mexia com seus nervos era maior do que tudo. Ela passava a maior parte do dia com seu pai, a fim de aproveitar ao máximo o treinamento. Ela seria a futura comandante do clã e não poderia decepcionar o conselho. Sabia que Hanabi era a mais adequada, então teria que superar as expectativas de todos, inclusive as dela.

Depois de quase uma semana dentro de casa, a garota, finalmente, resolveu sair. Ela havia chegado à conclusão de que não poderia ficar para sempre dentro de casa e que um dia teria que encarar Naruto. Ele seria, provavelmente, o futuro Hokage e ela a pessoa que cuidaria de tudo no clã. Teria de tratar com ele vários assuntos.

Decidida, ela ajeitou os cabelos longos e lisos num coque baixo e saiu para caminhar pela vila. De repente, lembrou-se de Kiba. O garoto havia procurado ela quase todos os dias em sua casa. Ele era, realmente, um ótimo amigo.

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Os seis dias que se passaram, desde que Naruto vira Hinata pela última vez, foram mesclados por dúvida e desejo. Ao mesmo tempo em que Naruto se sentia mal pela reação que a morena havia tido após o beijo, ele sentia-se nervoso por querer beijá-la novamente. Por Kami, o que estava acontecendo? Era como se ela tivesse alguma coisa em especial, que as outras garotas não tinham, que o fazia querer mais. Algo naqueles lábios, naquele corpo, naquele perfume, que faziam com que ele se sentisse uma abelha atraída pelo néctar. Sentado na pequena mesa de jantar, o loiro balançou a cabeça a fim de tentar afastar o desejo e os pensamentos que tinha para com a garota.

Ele, definitivamente, não entendia o que estava acontecendo. Ela parecia ter correspondido e até mesmo gostado do beijo, mas logo depois chorou e disse que ele havia quebrado o coração dela. Talvez... Talvez ele não devesse ter rejeitado a garota tão cedo.

– Kuso... – disse em voz alta para si mesmo enquanto batia com a palma da mão na testa.

Mesmo sendo domingo, resolveu procurar Tsunade. Talvez ela o ajudasse em alguma coisa. O garoto se trocou e saiu do pequeno apartamento, caminhando sem pressa pelas ruas de Konoha.

*/*

– Hinata-chan! Finalmente saiu de casa! – ele corria alegre em direção à garota que parou ao perceber que ele se aproximava.

– S-sim.

– Oh, mas isso é ótimo! Como foi a semana de treinamento? – ele perguntou enquanto caminhava ao lado dela. Ele tinha um sorriso animado no rosto e Hinata se sentiu mais leve com a companhia do amigo.

– Foi difícil. Tive que aprender muitas coisas sobre os documentos.

– Entendo. Fiquei tão feliz quando me disseram que você tinha sido a escolhida para assumir o clã! Você realmente merece.

– O-obrigada, Kiba-kun. – ela não pôde deixar de corar, mesmo com aquele simples comentário.

– Então... Quando você começa a colocar aqueles velhos carrancudos pra correr? – ele perguntou divertido enquanto olhava para os olhos de Hinata.

– Ah, somente depois que eu completar dezoito anos. Daqui um ano e seis meses. – ela sorriu de canto e olhou para baixo. Dezoito meses de liberdade, antes de assumir todas as responsabilidades.

*/*

– Obaa-san? – Naruto batia constantemente na porta, esperando impaciente que ela fosse aberta.

– Damare, Naruto! Já estou indo! – ela gritava por trás da porta.

– Vai logo, eu sei que você está de ressaca! – ele gritava enquanto sorria.

– O que eu faço... – a porta se abriu, dando visão a uma Tsunade com cara fechada, roupão, olheiras e cabelos bagunçados. – Ou deixo de fazer, não é da sua conta, moleque!

– Ora essa, Obaa-san, todo mundo sabe que você sempre vai ao bar nos sábados à noite. – respondeu divertido enquanto entrava. – Vejo que está de bom humor hoje. – ela revirou os olhos com o comentário do garoto e fechou a porta.

– O que quer comigo num domingo, Naruto?

– É que eu... – ele não sabia como começar. Nunca havia falado sobre esse assunto com Tsunade e tinha medo dela rir ou não ajudar. – Ah, pensando melhor, deixa pra lá.

– Nada disso. Você veio até aqui. – ela começou enquanto puxava o garoto pela camisa, enquanto ele tentava escapar. – E me acordou. Então vai falar.

Eles se sentaram nas poltronas da sala da mulher. Naruto olhou para as mãos, claramente nervoso. Tsunade estranhou as ações do garoto, afinal, ele sempre fora muito aberto com ela.

– Naruto, o que está acontecendo?

– É só que... Eu estou tendo uns problemas pessoais.

– Problemas pessoais? – o pensamento de Tsunade percorreu os acontecimentos com Sakura. Talvez ele ainda estivesse muito mal, apesar de demonstrar estar melhor. – Ainda é sobre aquilo? – disse dando ênfase na última palavra.

– Sakura-chan? – ele perguntou levantando o olhar, mas ela não viu tanta tristeza ou desespero quando antes. – Não. É que eu... Eu não consigo parar de pensar em Hinata-chan.

– Hinata?! – ela estava supresa. Sabia que a garota nutria fortes sentimentos por Naruto, mas nunca pensou que fosse recíproco.

– S-sim. – ele corou, e Tsunade teve certeza de que era verdade.

– Ora... Eu... Eu não sei o que dizer. Você a rejeitou, não é?

– Sim! – ele elevou a voz com raiva. Agora sabia que não devia ter feito aquilo.

– Calma, Naruto. Eu só estou expondo os fatos.

– Eu não... – ele parou de falar e olhou para o lado. A onda de raiva ainda não tinha passado. Respirou fundo e voltou a falar, mais calmamente. – Eu não devia ter feito aquilo. Mas eu não sei como consertar.

– E você quer que eu te diga como consertar? – ela bufou e sorriu de lado.

– Claro! Eu não sei o que fazer! – ele olhava suplicante para ela enquanto gesticulava com as mãos, demonstrando que não havia saída para seu problema.

– Bom... A única coisa que posso dizer é pra conversar com ela. Abra o jogo. Diga tudo e, principalmente, faça-a dizer tudo. Não tenha medo de expor seus sentimentos, assim como ela expôs os dela.

– Mas... Se eu nem sei o que eu estou sentindo. – ele parecia confuso e perdido.

– Claro que não. Mas vai descobrir. E tem que deixar claro isso pra ela. – ela soava como uma mãe. Naruto sentia falta dessa parte materna em sua vida e Tsunade, às vezes, sabia como preencher esse vazio no garoto.

*/*

O dia estava meio nublado e ela passeava sem pressa pela rua de comércio da vila. Adorava ver as vitrines mesmo que raramente se interessasse em algo que a fizesse entrar e comprar, ao contrário de Hanabi que gostava de quase tudo que via, ainda mais se o preço fosse alto.

Hinata parou em frente a uma loja de acessórios e olhou para a vitrine. Uma pulseira de ouro branco, que carregava um pingente também de ouro branco com detalhes em zircônia e em forma de coração, chamou a atenção da Hyuuga. Ela observava atentamente a joia. Sua leveza, sua delicadeza, sua simplicidade e sua elegância fizeram com que ela cogitasse a hipótese de comprar o acessório.

– Muito bonito, não acha? – ele sussurrou em seu ouvido, fazendo-a pular de susto.

Ela se virou e se deparou com olhos azuis fitando os seus e sentiu seu coração disparar. Mais uma vez, estavam a poucos centímetros de distância e ela sentia-se nervosa e confortável ao mesmo tempo. Naquele momento, não quis ser fraca, não quis ser a mesma Hinata de antes.

Ela respirou fundo e se concentrou. Não deixaria que ele a magoasse novamente.

– Sim.

– Você estava pensando em comprar? – Naruto perguntou enquanto apontava para a pulseira na vitrine.

– Não.

– Hinata! – ele exclamou quando viu que a garota se afastava.

A garota continuou andando como se não ouvisse o chamado do amado. Ela queria se virar, queria encarar aqueles lindos olhos e deixar ser seduzida novamente. Reuniu todas as suas forças para não fazê-lo.

– Hinata-chan. – ele havia corrido a fim de chegar à frente da morena e bloquear seu caminho. – Só quero que me escute.

– Sinto muito, Naruto-kun. Não estou pronta. – ela falava olhando para baixo.

– Não. Eu não quero que esteja pronta. Eu quero apenas que me dê uma chance. – ele chegou mais perto e levantou o queixo de Hinata com a ponta dos dedos, fazendo-a olhar para ele.

Ambos sentiram um leve arrepio com o contato. Naruto olhou para os olhos perolados dela e foi capaz de enxergar amor. Um amor relutante. Um amor não correspondido. Sentia-se mal por tirar vantagem daquele sentimento, mas precisava dela.

– Eu não posso. – ela virou o rosto e olhou para o chão. Seus olhos já estavam marejados e ela tremia levemente.

Naruto segurou firme e levemente o rosto da morena com ambas as mãos. Com o cenho franzido, ele acariciou as bochechas já rosadas de Hinata. Tão perfeita, tão linda. Ele se perguntava como não havia a notado antes.

– Eu preciso de você. – ele falou aquelas palavras com segurança, com o coração e esperava que ela pudesse ver aquilo. – Eu posso não corresponder seus sentimentos com a mesma intensidade, mas eu sei que te quero. Desculpe-me por ter feito você sofrer! Eu não... – ele respirou fundo. Não deixou, em nenhum momento, de olhar para ela. – Eu acho que cometi um erro.

Se fosse possível seu coração acelerar mais, ele o fez. Hinata sentiu seu estômago dar voltas. Ela precisava dele. Ele precisava dela. Ela sentia muito. Ele sentia muito. Ela o amava. Ele não a...

Os pensamentos da garota foram interrompidos pelos lábios de Naruto se encontrando com os seus.