Sete Chaves escrita por Hakume Uchiha


Capítulo 28
Em chamas


Notas iniciais do capítulo

E então, pessoal? Prontos para o início do final de Alexia e Raul?



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Pensei que os primeiros meses do meu projeto “vida sem Raul” fossem os mais doloridos da minha vida, mas aquele fim de semana superou tudo o que eu já havia passado. Eu que pensei que aquela ferida no coração seria finalmente curada na sexta, nunca imaginaria que um buraco inteiro seria arrancado dele durante o sábado e o domingo.

Todo o meu final de semana que tinha tudo pra ser perfeito.

Mais três dias sem Raul. Três dias que agora simbolizavam toda a vida.

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Cap. 28

Segunda-feira. O desânimo pesava como se um elefante estivesse pendurado em minhas costas. Troquei de roupa e desci as escadas para a cozinha – e quando apareci na porta os três pares de olhos me fitavam intensamente, esperando alguma reação, esperando quem diria a primeira palavra para quebrar o silêncio.

– Hoje tenho aula o dia inteiro. Só volto à noite. - quebrei o gelo para o alívio de todos; mas a minha voz era tão triste que a fez a tensão voltar do mesmo jeito.

– Mas você chega a tempo de jantar? - minha mãe diz, e sua voz é tão limpa e suave que parece ter medo de me machucar com ela.

– Sim. - respondo, pego uma maçã e saio direto para a garagem.

Chego na faculdade; todos me cumprimentam e querem contar suas novidades, mas eu simplesmente aceno com a cabeça e passo direto pra sala. Teríamos prova amanhã e eu precisava recuperar o que não consegui estudar no fim de semana inteiro. Sentei na carteira e abri o livro, ciente de que teria muito a aprender, e começo a ler os parágrafos, quando paro numa parte importante da qual eu precisava lembrar.

– Laparoscopia... urológica... é... - repeti baixinho pra mim mesma, tentando lembrar o significado daquilo.

– É uma cirurgia através de pequenas incisões. – disse uma voz bem perto do meu ouvido, me fazendo arrepiar instantaneamente.

De repente meus olhos se arregalam e meu corpo é tomado por uma sensação estranhamente forte, primeiro como se um raio tivesse caído na minha cabeça e a corrente elétrica percorresse todo o meu corpo; depois um frio intenso que se originou nas extremidades se estende até o coração; e por fim um calor absurdo, como se minha pele inteira ardesse em chamas.

Eu conhecia aquela voz.

Virei meu rosto com urgência, ansiosa para ver seu rosto e ao mesmo tempo com medo de ter sido uma ilusão. Mas não é. Meus olhos instantaneamente se enchem de lágrimas ao fitar os seus azuis – tão escuros que parecem um mar profundo – no qual eu agora estou simplesmente à deriva.

– São as chamadas “cirurgias pelo buraco da fechadura” de várias doenças dos rins, adrenais, próstata, entre outras – ele continua a falar calmamente, despojado, como se fosse apenas mais um dia de nossas vidas na faculdade.

– Raul!– sussurro, e num salto eu estou em seus braços, envolvida no seu calor, no seu cheiro... Do jeito que esperei por todo o final de semana. E quando sinto seus braços apertarem minha cintura, me puxando cada vez mais pra perto, aqueles três dias dolorosos tornaram-se apenas pequenas manchas diante desse momento maravilhoso.

– Ei... por quê está chorando? - ele disse, puxando meu rosto para olhá-lo.

– Pensei que tivesse ido embora. Que não iria mais te ver... - digo, minha voz melosa em meio as lágrimas e soluços.

– Não acredito que você... esperaí, foi o seu pai, não é? Foi ele que te fez desacreditar em mim?!

– Mas você saiu na sexta e o final de semana todo...

– Você sabia que eu ia sair na sexta? - ele diz, assustado.

– Contei todos os dias. - falei, e vi a preocupação estampar seu rosto enquanto ele unia as sobrancelhas.

– Oh, Deus, me desculpe... eu não pensei que você soubesse, então saí para colocar a minha vida nos eixos... No sábado fui ver os garotos, dispensá-los... – ele sorriu de canto – e depois vim aqui, consertar as coisas e voltar a estudar, desde que fosse ao seu lado.

– Como sabia que eu estava aqui? - pergunto, e vejo-o rir e balançar a cabeça.

– Eu te disse que eles estariam de olho.

E agora finalmente a ficha cai. Agora sei de onde reconheço aquelas vozes no dia em que quase fui assaltada, as vozes tão familiares daqueles supostos “policiais”.

– Joel... - digo, lembrando-me da voz do segundo homem.

E Fabrício. - ele completa, e sorri como se tivesse me revelado uma pegadinha.

– Não acredito! - eu rio também, me achando completamente ridícula por não ter me dado conta antes.

– Falando nisso, eles me contaram sobre o assalto. Fiquei preocupado com você... Não saia mais sozinha.

– Você ficou preocupado por causa de um quase assalto?! Você sumiu por três dias! - digo, e ao pesar as informações ele se dá por vencido e me cala com um beijo. Um beijo que esperei há 3 anos e 3 dias.

Para mim, quando estamos juntos o tempo para. Mas para os outros não; cessamos o beijo em meio a gritos de “iiihh” e “uuhh” dos estudantes que nos ovacionavam, enquanto o professor nos separava e pedia respeito na sala de aula. Raul pediu desculpas e depois riu baixinho, e quando tentei acompanhá-lo encontrei o olhar de meus “amigos” perplexos, que apenas me fizeram corar.

Eu não consegui estudar – Raul não deixou – ele quis o intervalo de almoço inteiro para “recuperar o tempo perdido do nosso relacionamento”. Ri de sua ideia, mas acabei acatando. Ficamos juntos o tempo todo.

Mas até mesmo ele sabia que se não estudássemos para a prova de amanhã iríamos nos dar muito, mas muito mal. Mas nem ele nem eu estávamos dispostos a nos separar naquele dia, então, quando saímos da aula às 6h, lhe fiz uma proposta terrivelmente tentadora:

– Vamos lá pra casa? - disse, sorrindo de lado, e logo depois corando pela cara que ele fez.

– Tá maluca? - ele riu – Seu pai mata nós dois!

– Ele não vai fazer nada. Pagamos os três anos, ele não pode nos impedir... Mas e desde quando você tem medo do meu pai?! - digo, e o vejo semicerrar os olhos, entendendo o meu jogo sujo.

– Vamos pra sua casa. - ele diz firmemente, e não posso deixar de sorrir da sua determinação.


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