Suprimindo

 —VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO. —Exclamou Ian. Seus olhos se arregalaram de repente.

 —Posso. —Sussurrei. —E preciso.

 —Mas Jamie ficaria arrasado. E eu também. Todos nós. Você não pode se suprimir Ashley.

 Meus olhos se fecharam automaticamente com a palavra suprimir.

 —Não irei me suprimir. Apenas... Desaparecer por um tempo.

 A voz de Ian ficou mais baixa, sussurrante.

 —Quanto tempo?

 —Tempo necessário para que eu volte ao normal. —Sussurrei de volta. —Está tudo tão confuso na minha cabeça... —Abri os olhos. —Bruma tenta ajudar, mas às vezes eu acho que a mente humana não pode receber ajuda... Eu preciso ficar sozinha, entende?

 Ele negou com a cabeça, mas não me impediu.

 —Eu tenho um pedido. —Falei.

 —O que for necessário.

 —Bruma nunca teve contato com vocês. Ela é frágil. Promete que vai protegê-la, cuidar para que não a assustem?

 —Eu o faria mesmo que você não tivesse pedido. —Respondeu Ian. Um peso saiu dos meus ombros. Ele era um homem tão amável que me dava vontade de conferir seus olhos.

 —Obrigada. E se caso eu não conseguir voltar...

 Ele me interrompeu.

 —Você vai voltar Ashley. Tem que me dar sua palavra de que vai voltar.

 Engoli em seco, e percebi que um nó sumiu da minha garganta.

 ­—Prometo. ­—Sussurrei.

 Ian sorriu e segurou meu rosto para poder tocar minha testa com os lábios.

 —Não demore. —Ele sussurrou.

Fechei meus olhos e me concentrei para deixar minha mente pequena, pequena a ponto de sumir. Pequena, incapaz, esquecida. Era assim que eu deveria me sentir para me diminuir mentalmente. Começou com um formigamento na ponta dos dedos e reconheci as ferroadas ardentes. Minhas mãos começaram a tremer. Bruma se expandiu, e vi minhas mãos se agitarem fora do meu controle e no de Bruma. Ela as ergueu e tocou o rosto, que ficou corado. Conseguia ver os olhos de Ian pelos olhos de Bruma. Ele observava a tudo curioso. Eu diminuí na minha própria mente, me encolhendo no frio, sumindo, até que a visão que eu enxergava através dos olhos de Bruma ficar turva e embaçada. Eu estava me suprimindo, nem que fosse por algum tempo, sumindo até ficar inconsciente demais para pensar. Por um instante, tive medo de desaparecer para sempre. Eu nunca havia fechado os olhos, ficado fora do ar. Tinha medo de não voltar. E eu não sabia como fazer isso. Mas agora era tarde demais, eu já estava longe, distante. Precisava terminar o que havia sido começado. Precisava sumir. Soltei um soluço abafado, que ecoou na minha mente, e Bruma o ouviu. Ela ficou preocupada de repente, eu sentia o sentimento como vento batendo em meu rosto. Mas eu não tinha rosto. Ele agora pertencia a Bruma. Era algo estranho. Como se Bruma fosse uma segunda pele controlando meu corpo. Mas não nesse exato contexto. Era algo inexplicável, realmente. Procurei amparar o sentimento dela, acalenta-la como ela fazia comigo. Isso a reconfortou, e a preocupação gelada se tornou uma brisa quente, o conforto. Agora eu estava no vazio. Bruma se expandira totalmente, bloqueando todas as minhas ações no corpo. Ela ficou com medo de fazê-lo, mas senti coragem por ela. Eu estava no escuro, sem ver ou ouvir, apenas sentindo o coração bater num ritmo acelerado. Imaginei que isso era culpa de Ian, ou de seus olhos. Concentrei-me naquele coração, tentando fugir dele, desaparecer por completo. Bruma agora não me sentia, mas eu consegui sentir quando ela me procurou, e se sentiu vazia quando não me encontrou. Ela agora falava com Ian, mas as palavras eram distantes e sussurrantes, eu não as compreendia. Ela sorria com meus lábios, então imaginei que estava tudo bem. Tranquei minha respiração – que não existia – e fechei meus olhos também inexistentes, tornando tudo ainda mais escuro, se fosse possível.

Ouvi um ultimo pensamento de Bruma antes de sumir.

Por favor, não demore. Não posso suprimir você, Ash.