Tudo bem que depois de todas essas revelações em menos de um mês minha cabeça deveria mesmo estar tão confusa quanto qualquer outra coisa, mas, quando ouvi as palavras de Tyler, foi como se tudo desaparecesse em volta e até mesmo meu relacionamento com Henri ficara em cinzas. Eu não sabia ao certo do porquê disso, apenas que queria muito esquecer aquelas palavras perturbadoras e encontrar Henri. Talvez com ele eu pudesse afastar os pensamentos sobre Tyler e aproveitar um tempo com ele.

Quando cheguei na casa de Tom, esperei vê-lo por ali, mas de acordo com a Sra. Godwing ele ainda estava na gravadora. Meu pai costumava chegar tarde principalmente quando havia reuniões ou negociações entre alguma de suas bandas e a mídia. Então, isso poderia significar que ele chegaria tarde em casa, algo bom, pois nossa última conversa não fora exatamente a melhor.

– Srta. White? – disse a governanta assim que abrira lentamente a porta de meu quarto.

– Pode entrar, Sra. Godwing. – resmunguei.

Eu estava sentada sobre minha cama relendo novamente o roteiro para as cenas de amanhã. Seriam cenas longas, o que significava falas longas e difíceis de se aprender, então eu precisaria ficar um bom tempo ali para as filmagens.

– Por acaso... Tom já sabe sobre o garoto e você?

A pergunta era algo que eu menos esperava, afinal, a Sra. Godwing tentava ao máximo evitar o assunto sobre minhas brigas com Tom, ainda mais sobre Henri e nosso relacionamento secreto.

Vendo que ela não sairia dali sem uma resposta, percebi que não havia outra opção a não ser contar a verdade.

– Não. – murmurei antes de suspirar. – E nem pode saber por enquanto. Caso ele descubra sobre eu e Henri, pode ser que não me deixe vê-lo mais.

A governanta pareceu entender a seriedade da situação, tanto que não me perguntou mais nada além disso assim que caminhou em direção da porta para voltar a me deixar sozinha com o roteiro do filme. Quando ouvi a porta sendo fechada, não consegui mais voltar minha atenção à inúmera pilha de papel sobre meu colo, a qual pareceu perder a importância depois da pergunta da governanta. Agora, minha mente brigava com perguntas sobre se eu deveria contar a verdade para Tom e talvez revelar logo de uma vez ao mundo que eu e Henri estávamos juntos. Mas isso traria consigo um turbilhão de consequências, dentre elas o ódio das fãs.

Desde que me tornei fã de bandas e cantores solos, vi o quanto esses artistas sofrem por causa da mídia por seus namoros. Além disso, há também as inúmeras fãs que muitas vezes não aceitam o namoro e passam a atacar virtualmente o companheiro ou companheira do artista. Bom, eu não achava que estava pronta para aquele tipo de ódio, ainda mais agora que estava no começo de minha carreira e a mídia e alguns fãs usariam isso como pretexto para dizer que eu queria roubar a fama de Henri.

Ignorei os pensamentos assustadores sobre isso e voltei minha atenção ao roteiro das filmagens de amanhã, onde teríamos que colocar em dia as cenas com Tyler, já que ele resolvera sumir por um dia. Consequentemente, meus pensamentos se voltaram para aquela tarde, quando Tyler me dissera sobre... sobre estar apaixonado por mim. Afinal, como ele estava apaixonado por mim?! Quero dizer, ele bem que me tratara de forma estranha desde que nos vimos, mas ainda assim dizer estar apaixonado por mim parecia errado e irreal.

Desde nosso relacionamento que não dera certo e claro, quando descobri da traição, eu não conseguia mais vê-lo daquela forma. Agora, minha mente encarava Tyler como um de meus maiores inimigos e ignorá-lo parecia a melhor coisa a se fazer, algo quase que para minha sobrevivência.

Pouco antes de minha ida até o apartamento de Tyler, o diretor Jason me dissera sobre como eu e Tyler – os personagens principais da trama do filme – deveriam se comportar.

– Devem ser exemplares para a mídia, isso trata uma imagem positiva para o filme e os patrocinadores continuarão a fazer seu trabalho. – disse Jason. – Tyler precisa entender que não só o emprego dele nesse filme está em jogo, mas também tudo em geral. Então, Scarlet, quero que continue agindo como está e... tente colocar Tyler na linha, por favor.

Claro, como se isso fosse muito fácil.

Assim que terminei de estudar o roteiro, recebi uma ligação de Henri, quem apesar de tudo o que aconteceu, manteve distância para que Tom se acalmasse e claro, a mídia esquecesse a cena de eu indo até a casa dele e nos deixasse em paz.

– Noah me contou o que aconteceu entre você e Tom. – Henri falava baixo ao telefone, algo que indicava que meu pai estava perto dali. – Você está bem?

– Dentro do possível. – resmunguei. – Por que está sussurrando?

– Acabei de sair de um estúdio de gravação de um programa irlandês, mas não me pergunte o nome, porque não lembro. – isso me fizera rir. – Seu pai estava andando pelos camarins, então não posso arriscar.

– Então acho que você deveria parar de ligar na hora errada e esperar Tom estar longe, não acha?

– Não, porque eu sentiria sua falta mais do que o normal. – sussurrou ele. – E falando nisso, como eu sinto sua falta até demais e você parece que não, quero vê-la amanhã, ok?

Revirei os olhos.

– Henri, você me fez parecer uma bruxa de coração gelado. É claro que eu sinto sua falta também! E sim, nós vamos nos ver amanhã, só não sei onde e como.

Ele ficou em silêncio por algum tempo como se estivesse pensando nas poucas possibilidades e qual seria a mais apropriada. Claro, não poderíamos nos ver em minha casa, pois Tom poderia chegar de repente como da última vez e nos fazer correr pela casa para fugir dele. E também não poderíamos aparecer em público, por conta dos terríveis paparazzi.

– Que tal ver um filme na minha casa? – e como fiquei em silêncio, ele continuou. – Ei, Will não tem mais a chave daqui, só uma reserva que ele mesmo prometeu apenas usar em emergências. Bom, sei lá qual seria a emergência na cabeça dele, mas... ah, esquece isso. Que tipo de filme prefere alugar?

– Amanhã nós decidimos...

Por um pequeno instante, eu pensei em contar a Henri sobre o que aconteceu sobre Tyler e seus “sentimentos” repentinos por mim, porém depois de um segundo avaliando a opção, percebi que seria a coisa errada a fazer. Não queria que houvesse um segredo entre nós, mas seria melhor que Henri nem ao menos soubesse quem Tyler era, exceto a parte em que fazia parte do elenco.

– Ei, você está estranha.- disse ele tirando-me de meus devaneios. – Aconteceu alguma outra coisa que não quer me contar?

Mais uma vez, a sensação de estar sendo uma mentirosa surgiu em minha mente, mas a ignorei.

– Não. – menti. – Só estou cansada, sabe. As filmagens duraram o dia inteiro e foram um pouco cansativas, então só preciso de uma boa noite de sono e ver uma pessoa especial amanhã.

– Espero que seja eu. – disse ele fazendo-me rir novamente. – E não alguém tipo... o entregador de pizza.

Não conseguindo evitar, acabei soltando uma longa gargalhada depois da história do entregador de pizza e o quão absurda ela era.

– Claro, por que não? – brinquei. – O cara que entrega pizzas para meu pai é bem bonitinho até...

– Ok, ok, já entendi! – interrompeu ele quase que parecendo nervoso, mas isso apenas me fez rir mais. – Então, garota que adora dar mole para o entregador de pizza, agora vou indo porque tenho uma entrevista para dar. E vai ser ao vivo, caso ainda queira ver o cara que costumava ser seu namorado sendo aclamado por milhões de garotas.

Ainda rindo desci as escadas até a sala e já colocando no canal em que eles apareceriam.

– Tudo bem, cara que costumava ser meu namorado, já liguei a televisão. Agora, vai logo lá antes que Tom apareça ai.

Antes de desligar, Henri riu um pouco de nossa brincadeira e murmurou algo que não consegui compreender. Assim que desliguei o celular e o coloquei no bolso, aumentei o volume da televisão para ouvir o apresentador anunciando a entrada dos garotos. Era um homem um pouco gordo, uma voz engraçada e fazia muitas piadas e por esse motivo, a plateia ria descontroladamente várias vezes enquanto ele anunciava.

– E agora, a banda mais querida do momento composta por quatro britânicos capazes de levar todas essas garotinhas levadas do nosso estúdio à loucura! Com vocês, a The Blue!

E logo os meninos apareceram quase que enfileirados – Will e Zack logo na frente um com o braço sobre o ombro do outro acenando para as fãs que gritavam loucamente o nome deles. Em seguida, Noah e Henri já pareciam um pouco mais tímidos, mas acenavam assim como os outros dois, levando – como o apresentador disse – as garotas realmente à loucura. Eles se sentaram em um sofá posicionado ao lado da bancada do apresentador na mesma ordem em que chegaram.

– E então garotos, como vai a vida de pop star? Imagino que estão trabalhando muito, certo?

– Sim, as vezes até demais. – brincou Zack fazendo todos rirem. – Mas é um trabalho duro que vale muito a pena, os sorrisos de nossas fãs fazem nossos dias muito melhores.

Todos eles pareceram concordar com Zack, mas um silêncio tomou conta do estúdio assim que perceberam a expressão chorosa do apresentador, quem simulava um choro além do comum. Ele começou a gemer e chorar alto realmente como se estivesse feliz (triste?) com a frase de Zack.

– Isso foi... foi muito comovente!! – exclamou ele voltando a fazer o som de choro.

Isso fez com que os meninos e inclusive a plateia começassem a rir e Zack, quem ficou parcialmente vermelho ao ver que a piada começara por conta dele.

Resumindo a entrevista, os meninos contaram sobre os últimos prêmios que ganharam e o quanto agradeciam à dedicação dos fãs por eles serem o motivo de os meninos chegarem a onde estavam. Eu não conseguia conter o orgulho de ouvir aquelas palavras, afinal, eu sempre fui uma fã e por isso sempre os apoiei e me dediquei a ajuda-los a ganhar prêmios e outros. Meu coração de fã estava mais alegre do que o normal.

– Ok, agora vamos para um assunto mais... pessoal. – disse o apresentador logo recebendo em resposta uma posição mais hesitante dos quatro. – Como andam os relacionamentos, meninos?

Zack fora o primeiro a responder obviamente, já que seu relacionamento com Heiley já se tornara público.

– O meu vai bem. – disse ele sorrindo. – Na verdade, estamos muito bem um com o outro.

O apresentador alternou o olhar entre os meninos, como alguém prestes a escolher sua próxima vítima. Por um segundo, meu coração parou quando percebi que Henri olhava para seus pés, indicando o quão nervoso estava, algo que chamou a atenção do apresentador.

– Henri!! – chamou ele de forma escandalosa, arrancando risos da plateia e um olhar confuso de Henri em sua direção. – Você está muito quieto, menino! Vamos conversar sobre a sua vida amorosa, quero saber detalhes! Tem alguma garota de sorte por ai?

Muitos podem não ter percebido, mas eu fui capaz de ver quando Will dera uma cotovelada nada delicada em Henri, como quem estava avisando sobre ele não dizer nada. Meu coração praticamente parou ao ver que ele olhou para o apresentador com um meio sorriso nos lábios, algo que indicava que ele diria uma besteira muito grande.

– Existe uma garota especial por ai, mas... é tudo o que posso dizer. – disse ele recebendo um olhar assustado de Noah, quem provavelmente estava o xingando mentalmente de todos os nomes existentes.

O apresentador encarou todos os meninos de forma nada satisfeita.

– Então há mesmo uma garota especial! – disse ele. – E me diga, Henri, isso tem algo a ver com os últimos rumores sobre você e a filha do empresário de vocês e também madrinha da banda, Scarlet White?

Henri ficou completamente branco ao ouvir meu nome.

– Ela, ahn...

– Ela é uma amiga nossa! – interrompeu Noah de forma rápida e inteligente. – Todos gostamos muito de tê-la por perto, mas nenhum de nós têm um relacionamento com a Scarlet. Ela é apenas uma amiga e madrinha da banda.

O alívio quase me fizera desmaiar ao ouvir as palavras de Noah e ao perceber que isso fora o suficiente para que o apresentador não voltasse a esse mesmo assunto. Agora, eu poderia respirar aliviada e ver mais algum tempo da entrevista dos meninos para o programa irlandês.

Mas, ao mesmo tempo em que a adrenalina deixava meu corpo, eu não conseguia parar de sorrir ao me lembrar das exatas palavras de Henri sobre mim.

“A garota especial.”