Não posso dizer que estava raciocinando corretamente ao ouvi-lo dizer isso, pois seria a maior mentira já conta por mim. A verdade, era que eu estava paralisada, sentindo todos os meus neurônios se desligarem por completo ao ouvir aquelas palavras saírem da boca de Henri Price. Quem estava ficando louco ali? Eu ou ele? Eu por deixa-lo angustiado à espera de uma resposta e mesmo assim não me mover e ele, por ter me perguntado aquilo após o que passamos para fugir de meu pai.

Limpei a garganta pelo menos umas quinhentas vezes com o olhar perdido para todos os lados. Eu realmente não esperava por essa, era informação demais para minha mente raciocinar direito. Como eu deveria agir após receber um pedido daquele tão repentino, tão incoerente, tão irresponsável... tão romântico.

– Henri, eu... – sussurrei com a voz quase que inaudível. Deveriam ter saído palavras coerentes, porém eu estava sem a capacidade de juntá-las em uma frase sem gaguejar. – Não sei o que dizer.

Eu estava sendo verdadeira, não fazia a menor ideia de como responder a ele aquilo sem magoá-lo.

– Pode começar com um “sim” ou um “não”. – brincou ele todo galanteador depois de esboçar um sorriso torto.

Ele conseguia ser charmoso naturalmente, sem esforço algum, o que me deixava em uma posição difícil ao tentar dizer algo coerente que pudesse expressão exatamente o que se passava em minha mente. Bom, Scarlet, está na hora de agir. Você é uma atriz. Uma profissional. Está na hora de parar de ser confusa o suficiente para deixar os outros confusos.

– Eu quero... – mais uma vez, minha voz saiu como um sussurro, deixando Henri confuso. Respirei fundo lentamente até que tive coragem e certeza de que as palavras não sairiam como murmúrios. – Henri, eu quero.

Não sei bem como explicar a cena a seguir, a forma com que seus lábios naturalmente rosados se esticaram em um sorriso largo de orelha à orelha. Ou como suas fileiras de dentes perfeitamente brancos foram expostos no sorriso mais alegre e bonito que já vi em toda minha vida. Por um segundo, ele parecia que morreria de tanta ansiedade à espera por minha resposta e agora, não conseguia conter o sorriso que escapava de seus lábios.

Henri tinha a expressão em paz, a tentativa de conter a felicidade fora em vão, pois quando me dei conta, ele me pegou no colo erguendo-me para ficar na mesma altura de seu rosto, já que ele era muito alto e me girou no ar várias vezes. Tenho que admitir, eu estava feliz, em paz comigo mesma. Eu já tinha certeza de meus sentimentos para saber que apenas a presença de Henri já me atraia todos os pensamentos bons e calmos.

Ele me girou várias vezes, suas mãos presas estrategicamente em minha cintura e nossos risos enchendo o ar daquela rua. Provavelmente, estávamos chamando a atenção das pessoas, mas eu nem ligava, só queria estar com ele, vendo aquela expressão sorridente no rosto de Henri Price.

– Henri, me solta! – falei batendo minhas mãos em seus braços para que ele me descesse, porém, não consegui conter o riso. Apenas a risada dele era muito contagiante. – Estamos chamando a atenção de todos os vizinhos!

– E quem liga?! – perguntou finalmente me descendo e depositando um milhão de beijos em meu rosto inteiro. – Por um momento achei que você fosse me rejeitar!

Não consegui parar de rir com ele beijando-me o rosto inteiro, rindo comigo e me descabelando numa brincadeira. Mesmo com todos os pontos negativos envolvidos naquele possível namoro, eu não conseguia pensar neles, desde nossa conversa em meu quarto, percebi que eu gostava dele mais do que o normal. Apenas estar perto dele já me tirava um sorriso.

– Eu não poderia fazer isso, estaria mentindo para mim mesma. – disse depois de bagunçar ainda mais seus cabelos negros. – Só fiquei assustada, você perguntou muito de repente.

– Eu sei. – murmurou roubando-me mais beijos. – Mas não pude evitar. Você e todo esse romance secreto são muito excitantes para serem deixados de lado.

Arqueei uma sobrancelha veemente curiosa.

– Romance secreto? Acha mesmo que isso vai durar? – Henri encarou-me por alguns segundos não compreendendo bem. – Quero dizer, com todos esses fotógrafos para todos os lados, meu pai e os garotos, acha mesmo que nunca irão descobrir sobre nós? Henri, é óbvio que de secreto, isso não tem nada.

– Os garotos vão saber. Só vamos deixar isso em segredo de seu pai e a mídia por mais algum tempo e preparar tudo. – ele tirou uma mecha loira que caia sobre meus olhos. – Scar, eu não me importo em me encontrar em segredo com você. Só de saber que você estará comigo, já o suficiente para esquecer o que a mídia acha e o que...

“seu pai acha”. Eu sabia que aquele era o final da frase de Henri, ele ainda se encontrava em uma posição de desvantagem depois de sua conversa com meu pai antes de eu chegar em Londres. Meu pai sentiu seu ego sendo atingido e por isso, descontou em Henri fazendo-o se afastar de mim.

– Então não podemos ser vistos juntos muitas vezes, pelo menos não de um jeito que faça a mídia pensar que estamos juntos. O que é difícil, pois só porque você me cobriu nas fotos, todos já começaram a pensar isso.

– Mas você sempre sai comigo e com os garotos, temos que arrumar um jeito de dizer para a mídia sobre sua amizade conosco. Isso pode ajudar, assim, quando nos verem, vão saber que só estamos saindo como amigos.

Ele estava certo. Abracei seu pescoço trazendo-o para mais perto vendo uma expressão maliciosa e um tanto confusa em seu olhar, então encarei-o sorrindo antes de dizer qualquer coisa.

– Só que tem um porém, você não vai poder me beijar. – ele fez uma careta, arrancando-me risos.

– Eu espero até estarmos a sós. – sussurrou escorregando seu nariz por minha bochecha até chegar na região de meu pescoço. Seus braços já envolviam minha cintura formando um quase abraço de urso. – E ai, cubro você inteirinha de beijos.

Com um sorriso malicioso, Henri me deu um último beijo, agora ele como sendo meu namorado. Era estranho pensar nisso, mas agora, um sorriso tomou conta de meus lábios. Bem... pelo menos no meio tempo entre seus beijos.

[...]

Na manhã seguinte, tive que me preparar para o trabalho constante na gravadora, primeiro com uma reunião e depois com uma sessão longa de filmagens de muitas cenas. O diretor andava apressado por todo o cenário do filme, apontava para a figuração alguns pontos que deveriam ser arrumados e guiava nós atores para nos posicionarmos.

De acordo com Daiana, Jason já havia escolhido entre os novos testes quem faria o papel do par romântico de Valentina, justo a pessoa que estava atrasada em seu primeiro dia. Depois da reunião sobre onde seria filmado o filme, como em algumas cidades próximas a Londres, fui atrás de meu figurino para poderem ser preparados meu cabelo e maquiagem. Valentina é como uma rainha, sempre com roupas um pouco reveladoras, cabelo excessivamente arrumado e uma maquiagem um pouco ameaçadora. Eu gostava do estilo do personagem, era muito diferente de mim, o que transformava aquele filme em um grande desafio.

Daiana me ajudou a fechar o zíper do vestido e me acompanhou até o maquiador da produção do filme que faria a maquiagem ameaçadora de Valentina. Todas as vezes que colocavam a sombra negra ao redor de meus olhos, eu sentia uma pontada de curiosidade. Meu rosto parecia mudar completamente, transmitia um ar perigoso, olhos caçadores e levemente sensuais.

Coisa que eu não era nem um pouco.

– As filmagens vão começar daqui dez minutos! – avisou Daiana olhando algo como sempre em sua prancheta. – O ator acabou de chegar. Já que irão fazer tantas cenas juntos, deveria dizer um oi.

Sorri de lado tentando omitir meu atual nervosismo. Valentina e Dominic – seu par – tinham muitas cenas juntos realmente, porém ela era um pouco má demais, tanto que chegava a mata-lo no final.

É, o final é muito tenso.

– Tudo bem, vou lá vê-lo. – eu disse levantando-me da cadeira.

Atravessei toda a extensão do estúdio passando por três cenários diferentes até finalmente chegar do lado de fora. Estava chovendo um pouco, então tive que caminhar bem próximo à parede, quase que encostada. Muitas pessoas trabalhavam correndo para todos os lados usando blusas e outras coisa para se cobrir da chuva, tentavam salvar cenários e outros objetos usados na cenografia.

Quando cheguei na entrada do grande estúdio, um garoto alto de cabelos castanhos claros curtos e roupas casuais conversava com um dos produtores com quem conversei depois que acabara a reunião. Provavelmente aquele era o ator que faria Dominic e deveria estar perdido e pedindo informações para o produtor.

– Oi. – falei na direção do produtor que abriu um sorriso largo e acenou.

Aproximei-me lentamente deles até que o garoto virou o rosto lentamente na minha direção. Ao ver seu rosto, o choque tomou conta de todo meu corpo. Foi como se meu coração parasse por um segundo interminável, o sangue subiu para meu rosto, o qual deveria estar pegando fogo.

Era ele.

Flashback on

Tyler Blackwell era um aluno de intercambio que eu namorava na época do colegial, lindo, alto e muito divertido, eu achava que o amava e por isso, meus pensamentos agora eram que eu era uma completa idiota. Jes e Ana sempre me diziam sobre ele ser um idiota e que eu deveria abrir meus olhos, pois Tyler não era como eu pensava.

Claro, cega por amor, nunca ouvi uma palavra que as duas me dirigiam.

Durante uma festa do final do ano, eu e Tyler nos separamos durante uma dança e ele desaparecera por muito tempo. Confusa, fui atrás dele por todo o lugar até que o encontrei e juntamente com isso, a pior cena de toda minha vida – ele beijava outra garota, prensando-a na parede de uma forma intensa.

– Tyler!! – berrei chamando a atenção de cada ser daquela festa. Até mesma a música foi pausada e todos pararam o que estavam fazendo para tentar entender o que estava acontecendo. – Que merda você está fazendo?! Quem é ela?!

Como se fosse atraída a ele como um imã, corri na direção dele numa combustão de lágrimas e tapas fortes nos braços de Tyler com toda a força que ainda me restava. Irritado, ele segurou meus braços a frente de meu corpo, tentando me controlar.

– Scarlet, qual é o seu problema? – berrou ele tão alto quanto eu seguindo seu olhar por todas as pessoas que riam e assistiam à cena. – Eu sei que você ama chamar atenção, mas isso é demais!

O encarei completamente indignada.

– Chamar atenção? Qual o meu problema? Você é um maldito, Tyler, como ousa me trair na frente de todo mundo com uma vadia como essas?!

Desviei o olhar cheio de nojo para a garota ao lado dele que tinha os lábios vermelhos e inchados por causa do beijo e as sobrancelhas franzidas de total indignação comigo.

– Cala a boca! – disse ele furioso. – Duvido que você não tenha me traído com todos os caras dessa escola! Você é uma vagabunda, então não se ache melhor do que essa garota.

Essa fora a gota d’ água, dei um tapa forte e doloroso no rosto de Tyler antes de sair correndo dali dessabendo em lágrimas. Porém, isso não fora pior. No outro dia, Tyler espalhou para toda a escola sobre aquele assunto, dizendo que beijou a garota como vingança de eu ter traído ele com todos.

E por causa de Tyler, tive que mudar de escola para longe de Jes e Ana.

Flashback off

– Tyler? – só tive a noção de como minha voz fora alta assim quando o produtor fez uma careta e se retirou, deixando-nos sozinhos. – O que está fazendo aqui?

– Acho que o mesmo que você. – disse debochado não parecendo nem um pouco surpreso em me ver ali. Droga, ele estava aprontando alguma. – Então também foi contratada pelo grande Jason McNight?

– Desde quando você é ator? – perguntei tentando desviar de suas perguntas. A dor de vê-lo novamente era grande demais e ignorá-lo totalmente, parecia a melhor opção.

– Desde o dia que comecei a gostar da carreira. – ele sorriu novamente, um sorriso galanteador que poderia derreter milhares de garotas. Exceto por mim. – Mas que coincidência estranha, não? Nós dois, depois de tanto tempo sem nos vermos, aqui atuando no mesmo filme e ainda como...

– Não sou dizer isso. – cortei furiosa. – Se está planejando algo, é bom desistir. Esse filme é muito importante para mim e você não vai estragar tudo de novo!

Ele fez a expressão indignada mais cínica que já vi em toda minha vida. Tyler possuía uma voz aveludada, sedutora e completando com seu meio sorriso galanteador, tinha todo o poder que poderia querer. Era difícil não pensar nisso quando se está falando com ele, a minha sorte era que eu possuía muita força de vontade e ódio dele de sobra.

– Planejando algo? Scarlet, quem pensa que sou? – ele arqueou uma sobrancelha como se estivesse sendo ofendido. – Até alguns segundos atrás, eu nem sabia sobre você estar nesse filme, queridinha. Vamos ser francos, só estamos aqui por causa do dinheiro e do papel.

Ele só pode estar brincando, eu nunca engoliria essa. Tyler pode ser tudo, menos verdadeiro, ele consegue ser o maior mentiroso do mundo, como fizera comigo quando namoramos.

– É. – menti desconfiada. – Então, “Dominic”, o que faz em Londres?

– Trabalhando, vivendo... – ele deu de ombros. – À procura de uma garota... – seu olhar pairou por mim por longos segundos. – Sabe, mudando de assunto, você está linda. Bem diferente da época da escola.

Tive que soltar uma risada pesando sarcasmo. Tyler é um idiota, ele acha mesmo que vai conseguir alguma coisa comigo dizendo as mesmas baboseiras daquela época?

– Hum... obrigada. – eu disse depois de soltar o riso. – Preciso ir, temos que trabalhar, não é?

Ele fez um gesto com as mãos para que eu fosse antes e juntos, andamos de volta para o estúdio. Eu sentia como se algo estivesse entalado em minha garganta, a presença de Tyler ali ainda me assombrava, afinal, ele havia sido meu primeiro amor e vê-lo novamente mexia com a parte ruim dentro de mim. Odiava ter ódio, era um sentimento ruim, mas com Tyler... era uma exceção.

Realmente esse filme vai ser bem difícil.