Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 39
A Eternidade que Nos Espera




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Jane e Maximilian deixam o castelo com as mãos unidas, encontrando-se com Alec do lado de fora e chamando a atenção dele para o singelo gesto de seu amor. O vampiro ainda estava perplexo por saber que a gêmea, que nunca gostou de demonstrar emoções humanas, realmente encontrou o sentimento que ele tanto desejava experimentar.

Mesmo que Jane não falasse de seu amor com todas as letras, a prova estava ali, diante de seus olhos, nas mãos unidas e nos olhos que se tornaram mais expressivos, pairando sob a superfície suave de sua pele. Alec sorri diante da cena, porque eles possuíam um histórico semelhante de crueldade e mortes, e, se Jane estava amando alguém, isso significava que ele também conseguiria encontrar o amor, e estava ansioso para que o seu momento chegasse.

Os vampiros caminham juntos pelas ruas escuras de Volterra, analisando-as uma última vez e guardando cada detalhe na memória, pois sabiam que não pisariam ali nunca mais. Ninguém deixou o castelo com a intenção de segui-los ou atacá-los, e Jane ficou satisfeita por ter cultivado uma fama tão letal ao longo dos anos, a ponto de fazer até mesmo o grande Aro Volturi recuar.

— Falta pouco para o amanhecer, não conseguiremos ir para muito longe de Volterra – comenta Alec, atraindo o olhar do casal para o céu e para os indícios de que o Sol logo nasceria.

— Vamos embora, aqui não é seguro! Precisamos de um abrigo fora dos limites da cidade – comenta Jane casualmente, deixando que a súbita tranquilidade de seu interior tornasse sua voz mansa e relaxada.

— Para onde vamos agora? – Era Alec novamente, ansioso para saber o que o futuro reservava para ele.

— O céu é o limite, pequeno Alec, o céu é o limite! – responde Maximilian, bagunçando os seus cabelos e o fazendo resmungar enquanto acertava sua mão com um tapa. – Para quem tem a eternidade a seu favor o tempo é inexistente e o espaço é inconsistente, com infinitas opções de partida e nenhuma perspectiva de chegada. Contanto que estejamos juntos, podemos fazer qualquer coisa e irmos para qualquer lugar...

— Vamos para um lugar onde não tenha tanto verde. O Alasca parece bom pra mim, muita neve e pouco mato – comenta Jane enquanto passavam pelos limites da cidade, deixando a vida de Volterra finalmente para trás.

— Nós poderíamos ir para Forks – sugere Alec com um sorriso maldoso. – Tem muito mato, mas seria legal assustar os Cullens um pouco… Aposto que eles ficarão semanas em desespero quando Alice prever nossa chegada!

— Seria divertido – concorda Jane com um sorriso idêntico, fazendo Maximilian esboçar seu melhor semblante de “eu não faço ideia do que vocês estão falando”. – Vamos deixar essa ideia pendente por hora, até termos certeza de que Aro nos deixará em paz…

Todos ficam em silêncio de repente. Era a primeira vez que a vampira se referia ao Volturi sem chamá-lo de mestre e isso não passou despercebido pelos outros dois, que sondaram o seu rosto calmo tentando descobrir – sem sucesso – no que ela estava pensando.

O trio caminha durante vários minutos sem dizer uma só palavra, apenas curtindo o momento da partida enquanto se afastavam de Volterra cada vez mais. E quando Jane julgou que estavam longe o bastante e que precisavam encontrar abrigo, ela parou:

— Alec, veja se consegue um lugar para nos protegermos – sugere ela, fazendo o gêmeo assentir com a cabeça e correr a procura de um lugar seguro, para se abrigarem dos raios solares e da exposição à raça humana.

Jane volta-se para Maximilian em seguida, sorrindo levemente e inclinando levemente a cabeça para o lado esquerdo, fazendo-o sorrir igualmente ao considerá-la uma vampira realmente fofa, não imaginando que aquele adjetivo era a pior escolha para defini-la.

— Você está bem? – pergunta ela, fazendo uso de sua voz aveludada.

— Melhor, impossível.

— Que bom! – conclui Jane, ligando seu poder à mente de Maximilian e infligindo-lhe uma pequena parcela de dor que durou exatos 5 segundos, exatamente como fizera da última vez, levando-o a se contorcer e cair de joelhos no chão. Ela sente o corpo estremecer com seu sofrimento, e isso fez o sorriso sumir de seus lábios instantaneamente.

— Ai, Jane, isso dói! – esbraveja o camaleão quando o golpe cessou, massageando o corpo como se isso pudesse aliviar a sensação de dor que ainda pairava sobre sua mente.

— Isso foi por ter me desobedecido! Qual parte do “fique dentro da casa” você não entendeu? O que deu em você para me seguir até aqui e se colocar diante dos Volturis daquela forma? – questiona, irritando-se ao se lembrar de tamanho descuido e do quão fácil eles poderiam tê-lo matado, se ela e Alec não estivessem lá.

— Jane, eu…

— Se você quer morrer é só me falar, eu mesma posso matá-lo!

— Eu só queria estar ao seu lado. Não quero me afastar nunca mais, porque, da última vez em que fiz isso, levei muito tempo para reencontrá-la… Eu te amo, Jane.

— Eu sei – responde ela, tentando suprimir a raiva e o medo que sentia de perdê-lo, que vinha a tona somente por imaginar a possibilidade. Será que ele conseguia ver aquilo nos olhos dela? – Eu sou a líder desse grupo! – dita autoritária, fazendo Maximilian fechar o semblante em uma carranca por não ouvir exatamente a resposta que queria.

— E por que eu não posso ser o líder?

— Porque você quase morreu duas vezes e estava atrás de uma terceira, isso pelo que pude contar, enquanto eu não passei perto da morte uma única vez e ainda tive que salvá-lo! Quem você acha que é o melhor líder? – questiona, arqueando as sobrancelhas.

Maximilian abre a boca para retrucar, mas a fecha na sequência, estreitando os olhos ao perceber que ela estava certa. Ele poderia facilmente superá-la se trapaceasse e bloqueasse o seu poder novamente, contudo, isso não anularia o fato de que ele já foi “quase morto” dezenas de vezes, enquanto ela seguia em sua segunda vida com um recorde perfeito de zero “quase mortes”.

— Eu posso levantar agora ou a senhorita ainda me quer no chão? – resmunga, mostrando-se infantilmente irritado com a discussão que acabara de perder.

— Fique aí mais um pouco, eu gosto da visão de tê-lo ajoelhado aos meus pés – debocha, esboçando um sorriso torto e o deixando ainda mais zangado.

— Ha, ha, muito engraçado – retruca, sentindo a mão direita de Jane segurar suas bochechas e fazer sua boca assumir o formato de um peixinho.

— Você vai ser meu escudeiro, como Alec. Não vai tomar decisões no meu lugar, não vai me desobedecer e não vai fazer nenhuma idiotice. Eu amo você, Max, mas as minhas regras não mudaram: se me desobedecer ou fazer algo que me desagrade, vou machucar você!

— Você é muito controladora! – reclama Maximilian, sentindo a voz sair engraçada devido ao formato de peixinho de seus lábios e fazendo-a rir.

— Sempre fui, desde a infância, mas você já deve se lembrar disso.

Jane o encara por alguns segundos, apenas para que ele percebesse que falava sério e que nada tiraria dela o título de líder. Maximilian revira os olhos dando-se por vencido, e quando percebe o seu gesto, a vampira se curva sobre o seu rosto, tocando a ponta do nariz em sua bochecha e inalando o seu cheiro, antes de deslizar em direção aos seus lábios.

A vampira o beija mais uma vez, por iniciativa própria, começando com um simples tocar de lábios antes de se aprofundar no sabor de sua boca, fazendo o camaleão suspirar e perceber que nunca enjoaria daquilo, que nunca enjoaria dela. Igual pensamento cruzou a mente de Jane, que também constatou que seria impossível se cansar dele, dos seus beijos ou do seu toque, que tudo nele agora lhe pertencia e que ninguém o tomaria dela.

— Tenho mais uma ordem pra você – sussurra de repente, interrompendo o beijo e a bolha amorosa que começava a se formar ali. Jane encara o rosto de Maximilian mais uma vez, ajeitando a coluna e acariciando a lateral de seu rosto antes de segurar seu queixo com a mão direita. – Você me pertence agora, por completo. Tudo o que você tem aí: os seus beijos, o seu toque, o seu cheiro e o calor do seu corpo, tudo é meu! Por isso eu o proíbo de beijar, tocar ou olhar para outra vampira, com segundas, terceiras ou quartas intenções!

— E o que a faz pensar que vou obedecê-la neste ponto? – provoca ele, esboçando um sorriso soberbo e bastante irritante ao perceber que Jane fazia o tipo ciumenta.

— O fato de que, se não me obedecer, vou castrá-lo!

— Credo, Jane! Você não sabe nem brincar! – esbraveja subitamente, estremecendo diante da ideia de perder uma de suas partes mais “importantes”.

— Por que raios você está de joelhos no meio da estrada? – questiona Alec, surgindo de repente e fazendo a irmã se afastar levemente para que o camaleão pudesse se levantar.

— Ele está polindo os meus sapatos enquanto eu explico quem irá mandar de agora em diante – caçoa Jane com um sorriso perverso, fazendo-o resmungar novamente e uma leve risada ecoar da garganta do gêmeo.

— Eu concordo com os seus termos se você se comprometer a responder minhas declarações com o que realmente sente. Nada de monossílabos ou respostas vagas como “eu sei”. Responda-me com a exata expressão de seus sentimentos por mim e eu não questionarei sua liderança nunca mais! – propõe Maximilian ao se levantar.

— E quanto a minha segunda ordem? – questiona seriamente.

— Obedecerei pelo bem da minha masculinidade – comenta com um sorriso sínico.

— Feito – concorda Jane rapidamente, satisfeita.

— E você vai me deixar desenhá-la sempre que eu quiser – solicita cruzando os braços, lembrando-se que ainda havia um retrato para terminar, mas já querendo garantir os próximos.

— Somente se também desenhar o Alec!

— Feito.

— Feito – repete ela.

— E Alec precisa de roupas novas, eu não posso ser visto ao lado de uma pessoa vestida assim – debocha, apontando as roupas de Alec com a palma da mão aberta, pois ainda eram as roupas comuns ao clã.

— Não tem nada de errado com as minhas roupas!

— Ah, tem sim, os Volturis tem um gosto muito cafona.

— Feito – conclui Jane, reprimindo um sorriso enquanto sua mão esquerda tateava a saia de seu vestido em busca do bolso escondido ali, retirando um cartão de crédito de seu interior.

Os vampiros se entreolham com o mesmo semblante irônico, reconhecendo o cartão de crédito internacional do clã Volturi que Jane usara durante a sua missão individual, mas que não tivera tempo de devolver antes de toda a confusão de sua partida eclodir. Com aquele objeto, eles teriam um ou dois dias de compras até que alguém em Volterra se lembrasse de bloqueá-lo, tempo suficiente para gastarem algumas centenas ou milhares de euros em roupas novas e outras futilidades.

Após um leve movimentar de cabeça de Jane, Alec indica o caminho para o esconderijo que encontrara e o trio se coloca novamente em movimento. Os primeiros raios de Sol despontavam no horizonte e já clareavam o céu, tornando inviável qualquer outro tipo de rota ou atraso por parte dos vampiros. Eles não pertenciam mais aos Volturis, mas os cuidados que deveriam ter ainda eram os mesmos.

Cada um deles sentia algo especial, todas muito semelhantes, mas, ao mesmo tempo, distintas. Alec sentia-se finalmente livre das amarras do clã, e, a partir disso, tudo parecia diferente. As estrelas pareciam brilhar mais e ele percebeu como a brisa do alvorecer era gostosa. E havia a perspectiva de também encontrar o amor, de vivenciar a sua própria história e de descobrir quem ele era, assim como acontecera com a irmã. Tudo isso o enchia de esperança e de uma intensa sensação de liberdade.

Maximilian, por sua vez, sentia que o sorriso nunca mais deixaria o seu rosto. Depois de anos em uma existência sem sentido, as peças bagunçadas do quebra-cabeça de sua vida finalmente estavam em seus devidos lugares. Por mais que o caminho até ali tenha sido difícil e, muitas vezes, doloroso, tudo estava em ordem agora e ele só conseguia pensar no quanto tudo aquilo tinha valido a pena. Cada dor, cada lágrima, cada medo, cada momento de ansiedade, tristeza ou desesperança, tudo valeu a pena porque ele não desistiu, porque continuou de pé e seguiu – hora caminhando, hora se arrastando – até a linha de chegada, alcançado o maior prêmio de sua vida: o amor e a felicidade. Seu amor de infância o amava, ficaria ao seu lado dali em diante, e não havia mais nada no mundo que ele quisesse além disso.

E enquanto os seus companheiros de viagem sentiam esperança e felicidade, respectivamente, Jane sentia paz. Após muitos anos vivendo a base do ódio, da negação de seu passado e da ausência de humanidade, ela tinha finalmente se encontrado. Agora a vampira sabia quem ela era, redescobrira o seu coração e a sua humanidade, e, mesmo que nada disso pudesse apagar as lembranças ruins do dia em que condenaram sua família à fogueira, Jane conseguira se livrar do aprisionamento do ódio, encontrando finalmente a paz.

Jane agora dava os seus primeiros passos para uma nova vida, uma vida que os Volturis nunca seriam capazes de lhe dar, e não se arrependia de sua escolha. Ela ainda não sabia como lidar com todos aqueles sentimentos ou como expressá-los tão abertamente como Alec e Maximilian faziam, mas os aceitava, porque sentimentos eram bons, a humanidade era boa, e o amor era a força mais poderosa que ela já conheceu, mais forte que o ódio ou a dureza de um coração congelado, mais forte que as vontades dela e mais forte que os punhos de ferro dos Volturis.

Ela sentia paz e a certeza de que estava trilhando o caminho certo. E enquanto caminhava, tendo Alec a sua esquerda e Maximilian a sua direita, Jane segurou a mão de seu gêmeo com carinho, fazendo-o sorrir e com a mensagem clara que ela lhe enviava através daquele gesto: “eu te amo, ficaremos sempre juntos”. A gêmea corresponde ao seu sorriso, desviando os olhos para o camaleão logo em seguida e o observando por alguns segundos.

O vampiro caminhava relaxadamente ao seu lado, com um semblante feliz no rosto e os braços balançando preguiçosamente ao lado do corpo. Jane desce os olhos por seu braço e focaliza sua mão, estendendo levemente o braço direito e também entrelaçando os seus dedos, chamando a atenção do vampiro para o fato de que ela sentia o mesmo que ele, que o queria sempre por perto e que pretendia segurá-lo para que nunca mais pudesse partir.

— Eu te amo, Jane – diz Maximilian, encontrando os olhos dela para mostrar que aquilo não era um teste do acordo que acabaram de fazer, mas a real declaração do que ele sempre sentiu por ela.

— Eu também te amo, Max – responde timidamente, sentindo-se estranha por dizer tais palavras na frente do irmão, expressando um sentimento que lhe era tão particular.

O vampiro sorri e, como fizera com o irmão, ela corresponde com o seu próprio sorriso, sabendo que de todas as escolhas que já fizera na primeira e na segunda vida, Maximilian era e sempre seria a melhor delas.

FIM


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Notas finais do capítulo

Considerações finais ♥
E chegamos ao fim de mais uma fanfic da Saga Crepúsculo.
Espero que tenham gostado de tudo o que encontraram aqui, e que eu tenha conseguido suprir com as expectativas de vocês com relação ao enredo.
Jane Volturi não é uma personagem fácil de se trabalhar, por ter uma vida e uma personalidade bastante complexa. No entanto, coloquei na história tudo o que tinha planejado para que a revolução na vida de Jane acontecesse, e espero que a história dela tenha sido tão emocionante para vocês quanto foi para mim.
Fica aqui um agradecimento especial a todos que acompanharam a história e a todos que a recomendaram. Muito obrigado mesmo, fiquei muito feliz com todas recomendações.
.
Pretendo escrever uma segunda temporada, focando um pouco mais no Alec e no romancinho que percebemos começar a nascer nesta fanfic. Não tenho data para a publicação ainda, mas fiquem de olho em minhas redes sociais (Twitter e Instagram: @JaneViesseli) porque estarei postando as novidades por lá.
Por enquanto, deixo apenas este presente para vocês saberem o que os esperará em nossa próxima temporada: https://www.youtube.com/watch?v=barUWmV3qxs

Agradeço novamente a todos que acompanharam Coração Gelado.
Beijos mil e até a próxima fanfic! ♥



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