Seus Olhos escrita por Beatriz de Moraes Soares


Capítulo 1
A doença


Notas iniciais do capítulo

Essa estória veio a minha mente quando presenciei pela primeira vez uma crise de Esclerose Múltipla de uma pessoa muito querida. Olhando ela passar por toda aquela situação, notando os olhares curiosos e alguns ignorantes usando o verdadeiro significado da palavra senti certo aperto no coração. Eu sabia o que se passava ali, porém, as pessoas de fora não tinham nem noção do que estava passando e do que ela estava sentindo. Mas eu sabia. Eu queria contar para eles o que se passava, queria explicar que ela não estava fazendo aquilo por que queria e sim porque era forçada. Mas eu não podia. E então, me passou pela cabeça que talvez eu pudesse fazer isso, com minha visão sobre o que ela passava, com discrição é claro, um pouco de ficção que eu simplesmente adoro e assim de certa forma, também prestar uma homenagem a uma pessoa que todo dia ao se levantar da cama já é uma guerreira.
Espero que goste desta história, ela é real, em algum lugar nesse mundo.



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Para C, que sempre luta.




Digito em algum site de pesquisa alguns títulos de livros de literatura infantil. Irei comprar alguns para as crianças do Centro Comunitário San Frances, onde eu dou aulas de inglês. Ouço o som de Nova Mensagem vindo da janela aberta do meu e-mail soar e vou checar no mesmo instante.



A primeira coisa que noto é o nome do remetente: Meredith Pieruzzi. Minha melhor amiga desde os tempos da pré-escola. Meredith mora atualmente em Dublin, na Irlanda, junto de seu namorado americano, Peter Harrison, ou como todos os chama, Pete, o qual irá se casar daqui alguns meses.

Abro seu e-mail e leio atentamente o que ele diz:

Para: Valerie Novack

De: Meredith Pieruzzi

Assunto: Missão – fada – madrinha.

Querida, Val.

Como madrinha, irei precisar mais do que nunca de sua ajuda, pois estou totalmente perdida! Então esteja bem preparada, pois você será muito requisitada, e quando eu digo muito, é muito mesmo, Valerie.

Pete e eu chegaremos à Londres amanhã (sábado), ele conseguiu um afastamento em seu emprego e com isso iremos iniciar os preparativos.

E sabe quem se mudou para Londres...? Aquele primo do Pete que te falei que era solteiro, bom, ele será nosso padrinho. Segundo Pete, ele foi promovido na gravadora que ele trabalha e se mudou para Londres.

Pete pode me matar se ler isso, mas pelos meus poucos encontros que tive com ele, achei ele um gatinho – óbvio, é da família de Pete – e acho realmente que você deveria conhecê-lo.

Bom, sábado. Às sete. Na casa dos meus pais, haverá um coquetel de boas vindas pela nossa chegada de Dublin.

Estarei esperando.

Meredith Pieruzzi (Futura Sra. Peter Harrison).


Passo a mão pelo meu longo cabelo e solto um suspiro pesado: Meredith está querendo me arrumar novamente o tal primo de Pete!


Eu nunca o vi. Meredith o viu algumas vezes e disse que ele realmente é muito bonito, mas eu não quero isso. Não quero me relacionar com alguém, e muito menos ser um peso na consciência de outro ser humano, ter de forçar ninguém a ter uma vida sem grandes realizações, por causa de minhas limitações.

Ainda estou deitada em minha cama, olho ao relógio, são quase seis da tarde e eu havia acabado de chegar do San Frances. Fecho meu notebook e levanto da minha cama, vou até meu closet, na parte de bolsas e pego uma delas, a mais versátil que encontro: uma Kate Spade, que havia ganhado de minha mãe no último natal, e assim jogo dentro dela minha carteira com meus documentos, minha nécessaire e o Rivotril.

Depois vou até o banheiro e tomo um banho rápido, pego minha bolsa e vou saindo na ponta dos pés do meu quarto. Passo pelo corredor, desço as escadas, caminho pela sala de estar e quando finalmente eu passo pela sala principal e estou prestes a abrir a porta de entrada de minha casa, ouço berro agudo vindo do alto das escadas:

– Valerie Annabele Novack! – era minha mãe –onde pensa que vai?

Solto um suspiro e me viro lentamente para observá-la. Sua feição é rígida e sua testa está franzida, formando pequenas rugas de expressão, que se notadas, ela com certeza correrá imediatamente para comprar seus caros cremes anti-rugas.

– À livraria do shopping, mamãe – explico.

– E não iria avisar a ninguém? – grita e então abro a boca para contar-lhe, mas então ela berra – Roland!

– Mãe... Não há a menor necessidade de chamar o papai! – imploro.

– ROLAND! – grita ela novamente e dessa vez mais alto do que antes.

– O que está acontecendo aqui? – diz papai saindo pela porta de seu escritório – o que houve Bridget?

– Roland, querido. Valerie iria sair sem nos avisar – disse ela indignada gesticulando com as mãos.

– Valerie? – pergunta desapontado.

– Papai... – suspiro.

– O que havíamos combinado Valerie?

– Pai! Eu já tenho vinte e quatro anos. Segundo a lei eu sou livre, em outros países eu já poderia ser considerada uma anciã! – disse e ele com isso ele arqueia a sobrancelha – Já sou adulta! Eu acho que tenho direito de sair sozinha, não?

– Valerie... – suspira – você sabe que com você é diferente.

Ele me fez mais uma vez relembrar tudo em minha cabeça, tem sido assim desde que descobrimos que tenho Esclerose Múltipla.

A Esclerose Múltipla é uma doença neurológica crônica de causa desconhecida. É pouco conhecida e o tratamento é à base de remédios que apenas minimizam os sintomas, que varia de acordo com o paciente. É uma doença degenerativa, ou seja, não tem cura e só tende a piorar com passar dos anos.

Em mim, a Esclerose Múltipla não provoca muitos sintomas. Às vezes tenho perda de memória momentânea, minha visão fica turva em alguns momentos e tenho alguns problemas renais – não muito graves – porém, o mais grave dos sintomas que tenho devido a Esclerose Múltipla são os espasmos musculares involuntários que normalmente ocorrem quando tenho fadiga excessiva, alterações emocionais – como nervosismo, irritação, entre outros – ou às vezes simplesmente do nada e agora carrego isso comigo para sempre.

Faço fisioterapia uma vez por semana – devido aos espasmos musculares preciso tratar minha musculatura – e tenho um acompanhamento direto com minha médica pessoal, a Doutora Christina Schwartz. A Dra. Schwartz procura sempre me incentivar a fazer alguma atividade física com acompanhamento, que segundo ela, ajudaria muito em meu tratamento.

No começo tentei fazer as atividades, mas assim que tinha uma crise, as pessoas começavam a me olhar torto, evitavam falar comigo com medo de eu ter uma crise à sua frente e ela teria que arcar com os prejuízos. Tentei de tudo, natação, aeróbico, musculação, pilates, bike indoor e tudo mais.

Descobri que tinha E.M. – iniciais de Esclerose Múltipla – quando tinha acabado de completar dezoito anos. Eu estava muito nervosa, pois faria o teste para entrar na Royal Academy of Dance, de Londres.

Naquele dia eu estava na frente de todos os jurados, meu coração acelerado, as mãos suando e a cabeça a mil. Quando tudo isso desencadeou a primeira crise, fui diagnosticada com Esclerose Múltipla devido a crise, mas segundo a Dra. Schwartz eu apresentava alguns pequenos sintomas, pouco perspectiveis. Logo fui dispensada pelos jurados e daquele dia em diante nunca mais pude fazer o que eu amava: dançar balé.

Tentei de várias maneiras continuar a dançar – pois segundo a Dra. Schwartz, eu poderia fazer, era uma atividade que trabalharia meus músculos e se não houvesse um grande impacto, e claro, se eu tivesse um acompanhamento, não haveria problema algum – mas sempre que eu dizia ter Esclerose Múltipla eles torciam o nariz e diziam que iriam me ligar, mas nunca ligavam, então acabei desistindo do meu sonho de ser uma grande bailarina.

Fiquei sem chão e tive que adaptar-me. Entrei em uma depressão profunda, tendo que tomar remédios fortes, tendo crises diárias, meus pais já não sabiam mais o que fazer. Eu já não tinha mais vontade de viver, até que conheci o Centro Comunitário San Frances, através da minha tia Josephine – irmã de minha mãe – que dá aulas de artes para as crianças carentes de lá, e ali eu vi que eu poderia ser útil.

Com meu vasto conhecimento em Literatura Inglesa – meus pais sempre me incentivaram muito a ler – eu me ofereci a dar aulas de inglês a crianças e jovens de lá. O projeto foi logo aceito e eu tinha uma pequena sala empoeirada no final do corredor com menos de dez alunos. Aos poucos, outros alunos foram se interessante e entrando em minha aula.

Eu não tinha remuneração alguma, mas quem precisava de dinheiro com uma liberdade parcial na qual eu tanto desejava desde que eu descobrir ter E.M.?

A princípio meus pais não gostaram da ideia de me deixar sozinha, pois depois da EM eu não poderia ficar sozinha, porque quando eu tinha uma crise e não tivesse algum auxílio, poderia simplesmente acontecer alguma fatalidade. Com isso, tia Josephine prometeu me vigiar, mas claro que ela sempre me deixava bem mais a vontade do que meus pais e isso fez com que eles abaixassem a rédea e me deixassem suspirar um pouco aliviada.

Meus pais são os melhores pais do mundo. Creio que o único defeito deles é serem “super protetores” e tudo que eu menos quero é alguém no meu pé, que fique com pena de mim, já não basta eu mesma me sentir assim.

– Quer saber? Não vou mais também. – digo dando meia volta.

– Não, querida. – diz mamãe mudando seu tom de voz, tornando o mais suave – chame Charlotte para acompanha-la.

– Não quero incomodar, Charlotte. – digo irritada – Não de novo.

Toda vez que eu necessitava sair e meus pais não poderiam me levar, Charlie sempre é requisitada. No começo era tudo normal, mas aos poucos percebi que Charlie perdia algumas coisas por isso.

– Me incomodar?

Charlie apareceu descendo as escadas, reluzente em uma saia justa, com uma camiseta social com dois botões abertos que faziam um decote bem sexy e um Converse All Star preto cano longo.

Charlotte Novack, uma das garotas mais desejadas da alta sociedade londrina. Todos a desejavam: novos, velhos, pirralhos e anciões. Charlie era o estereotipo da beleza. Ela tinha o rosto em forma de coração, belas maçãs no rosto que tinham um tom rosado que combinava com sua pele pálida – que na verdade todos em nossa família tínhamos a pele naquele tom –, cabelo loiro escuro, olhos cor de mel e lábios carnudos. Charlie tinha muito de minha mãe, praticamente tudo, exceto os olhos, pois os de nossa mãe eram de um verde vívido – bem parecido com o de Meredith –, mas fora isso, Charlie era a cópia fiel de mamãe.

Diferente de mim, que me parecia muito com nosso pai, os cabelos castanhos – apesar de que seu cabelo tem um tom grisalho agora – os narizes bem desenhados, dentes perfeitos e os olhos cor de chocolate, nada muito excepcional.

– Charlotte, querida. Poderia acompanhar Valerie ao Shopping?

– Claro que posso. – diz Charlie sorrindo simpática.

– Não! – protesto – você não iria ao cinema à tarde com Hunter?

– Podemos ir outro dia, Val. – diz amigável.

Mais uma vez eu fazia isso, fazia com que Charlie perdesse seu tempo comigo.

– Tudo bem – concordo – só porque os livros são para as crianças do San Frances.

Papai apenas assente, mamãe sorri assim como Charlie.

– Deixe-me pegar minha bolsa e ligar para Hunter. – diz Charlie subindo para seu quarto, creio e depois voltando alguns segundos depois – vamos? – assinto – tchau pai, tchau mãe!

– Adeus, Charlotte! Adeus, Valerie! – dizem papai e mamãe.


Charlie e eu caminhamos em direção à livraria pelos corredores do shopping, ela falava sobre sua formatura, como estava entusiasmada para ir à faculdade e quem sabe, casar com seu namorado, Hunter e eu ficava muito feliz. Feliz por Charlie ter um futuro inteiro pela frente, coisa que jamais irei ter. Jamais irei casar-me com alguém, muito menos ter um relacionamento estável.


– Valerie? – me chama Charlie estalando os dedos a minha frente – está me ouvindo?

– Me desculpe, Charlie – peço pela milésima vez – me desculpa por te forçar a vir comigo.

– Valerie – diz Charlie enquanto revirava seus olhos – você é minha irmã e eu adoro sair com você, além do mais, você não me forçou a nada!

– Mas papai e mamãe, sim. Isso me incomoda e creio que também incomoda você também.

– Não, Valerie. Não me incomoda!

– Eu sou a irmã mais velha, eu que deveria cuidar de você.

Charlie faz uma careta e abro um pequeno sorriso.

Caminhamos até a livraria e enquanto eu procurava os livros para as crianças, Charlie ficava vendo os best-sellers que haviam acabado de serem lançados. Depois de encher várias cestas de livros, fui até o caixa e entreguei o cartão American Express de papai.

– Tem a autorização? – pergunta a moça.

– Sim, um momento – procuro em minha bolsa a autorização e entrego a moça do caixa.

Após observar minha autorização, entrego minha identidade e ela confirma, faz uma nota fiscal e coloca os livros em algumas sacolas. Depois de pegá-las, volto para Charlie, que está a minha espera na porta da livraria e ela pergunta:

– Vamos tomar um chá?

– Tem uma Starbucks aqui perto. Pode ser?

– Pode – confirma Charlie.

Sentamos em uma das mesas, coloco minhas sacolas em uma cadeira, ao invés de pedir chá como de costume, decido pedir um café com creme e Charlie pede seu chá. Depois do pedido chegar, Charlie diz:

– Nossa! As crianças do San Frances vão surtar com esses livros, Val – exclama – quatro sacolas cheias...

– Mas são cinco... – checo as sacolas que contabilizo quatro, como Charlie disse – Ah, meu Deus! Vou voltar para buscar!

– Tudo bem – ela diz se levantando.

– Não Charlie, você quer ir à loja ver aquela calça da Calvin Klein desde que chegamos, vá à frente depois eu te sigo.

– Não, Val. Vou com você.

– Charlie! – a repreendo e ela hesita.

– Sério mesmo, Val?

– É, Charlie. São cinco segundos longe de você, eu não vou ter uma crise.

– Tem certeza?

– Claro – digo e pego minhas sacolas e meu café e segui para a livraria.

Sigo tentando equilibrar as sacolas em minhas mãos junto com meu café. Estou na porta da livraria, um dos livros cai da sacola e em um movimento desastrado tento pegá-lo, quando me levanto bato de frente com alguém e meu copo de café se vira diretamente em um casaco claro, sujando-o completamente.

– Ah, meu Deus! – grito desesperada e faço o resto de meus livros caírem no chão.

– Não, tudo bem – uma voz rouca masculina diz.

Levanto meus olhos e dou de cara com um par de olhos azuis me observando, que se enrugam automaticamente e percebo que seus lábios formam um singelo sorriso.

Abaixo minha cabeça envergonhada no mesmo instante.

– Me perdoe - digo rapidamente, recolhendo meus livros no chão. Sinto que o rapaz me observa e coro, ainda mantendo minha cabeça baixa – eu pago a lavanderia – digo assim que termino de recolher meus livros.

– Não, não tem problemas – Olhos Azuis diz, seu sotaque americano é perceptível, isso é tão... Sexy! Eu mal consigo o encarar com esse pensamento, posso sentir meus batimentos cardíacos aumentarem. Eu preciso sair dali, rápido!

Um. Dois. Três...

Faço a contagem que a Dra. Schwartz me ensinou para quando eu sentisse que teria uma crise. Ela diz que é uma forma de tentar acalmar meu corpo e oxigenar alguma coisa... Coisas de médico.

– Eu faço questão – reviro desesperadamente em minha bolsa e entrego meu cartão de visitas – tome, mande para mim a conta!

Ele hesita e então o pega e o observa por alguns segundos.

– Valerie Novack?

Eu posso sentir minhas bochechas corarem ao ouvir meu nome em sua voz rouca com sotaque.

– Isso. – confirmo e então dou meia volta, me afastando dos Olhos Azuis.

– Espere! – grita ele e me alcança, colocando sua mão sobre meu ombro. Rapidamente meus olhos encontram o lugar de seu toque e sinto um tremor em meu corpo. Ao perceber meu desconforto, Olhos Azuis tira sua mão – er... – ele parece desconcertado – já que eu acabei com seu café – diz ele mostrando seu casaco sujo – acho que devo lhe pagar outro, não?

Oh meu Deus! Olhos Azuis esta me convidando para um café? Ele esta realmente flertando comigo?

– Er... – digo mais do que desconcertada – eu n-não... – eu gaguejo e nesse instante eu sinto um pequeno movimento em meu dedo anelar esquerdo, repetidamente ele vai crescendo e ficando mais rápido e com isso percebo que estou tendo o primeiro espasmo.

Escondo rapidamente minha mão esquerda atrás de meu corpo, rezando para que Olhos Azuis não tenha visto.

– Você, não? – pergunta ele confuso.

– E n-não. – fico desesperada e então o espasmo passa para o dedo do meio também e com isso sacudo a cabeça em negativa – Eu não posso, tchau.

Digo e saio correndo dali, deixando aquele belo par de olhos azuis a ver navios.

– Hei, você não sabe o meu nome – grita ele.

– Eu não perguntei! – grito de volta.

Saio correndo no meio das pessoas no shopping procurando desesperadamente um banheiro e acabo até perdendo uma de minhas sacolas no caminho. Assim que chego ao banheiro, observo minha mão com espasmos contínuos.

Pego minha bolsa com a mão direita e procuro a cartela com Rivotril, há apenas um comprimido, o coloco embaixo da língua e aguardo.

Espero que ele faça efeito, mas parece que nada acontece e isso só faz aumentar meu desespero. Não há mais nenhum comprido e com isso tenho que fazer o que menos queria fazer: chamar Charlie.

Pego meu celular e sou recebido com um espasmo forte em todo braço direito, ele se enrijece parecendo concreto, o que faz com que o celular caia no chão. Noto uma mulher junto de sua filha entrando ao banheiro e ao ver cena comigo lutando contra meu próprio braço, sai no mesmo instante. Quinze segundos depois, meu braço volta ao normal. Eu sinto fadiga no meu braço e isso faz com que meus olhos se encham de lágrimas.

Faço tudo muito rapidamente antes que eu tenho outro espasmo. Pego meu celular, vejo quinze ligações perdidas de Charlie e com isso retorno ao seu número. Ela atende no mesmo instante.

– Valerie, onde você esta?! – ela praticamente grita em meu ouvido.

– Charlie! – grito o nome dela serrando os dentes, pois no mesmo instante tenho um espasmo no braço esquerdo e ele se enrijece.

– VALERIE! – ela grita, já sabendo o que se passa – onde você está?

– No... – meu braço relaxa e por fim posso respondê-la, mas estou desespero – no banheiro do shopping...

– Qual banheiro? Há tantos.

– Perto da livrariaaaaa... – a última palavra sai como um rugido, pois outro espasmo me toma nesse momento.

– E-eu, eu já estou indo, Valerie – ela desliga.

Depois de alguns segundos o músculo do meu braço relaxa e eu me sinto muito cansada, como se tivesse feito exercícios com o braço o dia inteiro. Encosto-me sobre a parede do banheiro e lentamente vou me abaixando até por fim estar sentada. Quando fecho meus olhos procurando paz, outro espasmo me atinge fazendo o pânico tomar conta de mim novamente e uma lágrima escorrer sobre minha face.

– Valerie, vai ficar tudo bem – quando Charlie chega o Rivotril já fez efeito e eu estou completamente anestesiada. O Rivotril é praticamente um Mata Leão que faz com que meus músculos relaxem e acaba com os espasmos. Charlie me abraça, me confortando – você já tomou o seu remédio? – pergunta e balanço a cabeça que sim– você sabe que teremos de ir a Dra. Schwartz.

Com os olhos já húmidos, nego rapidamente com a cabeça e digo:

– Ela irá contar a papai e mamãe e... Eles não irão me deixar sair por um bom tempo!

– Val – suspira Charlie – Eu não posso fazer isso e você sabe.

Então a umidade dos meus olhos escorrem pelo meu rosto e por fim decido ceder finalmente às lágrimas.

Meia hora depois, apesar de muito fraca, consigo me levantar e Charlie chama um táxi, já que não estou apta a dirigir, e me leva a Dra. Schwartz. Ao chegar lá, ela começa o interrogatório para saber o que havia acontecido para eu ter uma crise.

Menti dizendo a ela que havia sido um estresse por que eu havia derrubado meu café em uma senhora. Ela não acreditou muito, mas também não insistiu. Logo após, ela me deu uma medicação especifica que me deixou inconsciente por horas e acabo não fazendo minha fisioterapia que faço toda sexta-feira, pois era impossível inconsciente do jeito que eu estava, é claro.


Ao acordar noto que estou em casa, mais precisamente em meus quarto. Ao abrir meus olhos, vislumbro papai e mamãe e já soube o que viria pela frente.


– Valerie – diz papai em um tom de reprovação, logo após abaixou a cabeça e tampou os olhos com a mão e sacudiu a cabeça – Val – diz ele novamente e dessa voz sua voz era mais como uma súplica ao invés de uma reprovação.

– Pai... – eu sussurro.

Eu sabia que papai não iria dar uma bronca em mim, nem havia por quê. Minha crise foi um acaso, não uma consequência. Foi então que ele me abraçou em silêncio e eu retribui o abraço com a mesma intensidade. Logo depois mamãe se juntou a nós, por fim Charlie também estava lá conosco.

– Eu amo vocês – digo com os olhos cheios de lágrimas.

– Nós também – papai diz e eu sabia que ele realmente falava por todos naquele quarto.


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Notas finais do capítulo

Isso foi apenas uma introdução, espero sinceramente que tenham gostado! Dêem suas opiniões, por favor? Beijos