Capítulo 36 

Quando o coração para

POV Jade  

O meu corpo estava rígido pela posição em que fiquei por tanto tempo. Kid, ao meu lado, estava acordado e com olheiras que mais pareciam riscos feitos com delineadores, de tão escuras e fundas. Por mais que quisesse, não consegui ficar irritada por ele não ter me chamado para trocar de turno. O imbecil tinha que descansar também, caso quisesse sobreviver até sairmos daquele lugar doido. Mas era impossível depois daquilo... não depois daquela confissão. As mãos dele estavam mais frias que as de um defunto quando as toquei.  

—Não precisava fazer isso sozinho, podia ter me chamado para você descansar um pouco.  

Um sorriso amarelo e um beijo na testa foi a resposta que ele me deu. Resmungando alguma coisa, Kid se levantou e me puxou junto.  

—Vamos? Temos um longo caminho a percorrer antes de sairmos daqui...  

Ele tinha razão. Tínhamos que dar o fora dali antes que alguma coisa decidisse que nós seriamos o café da manhã.  

Quando eu pensei que as coisas não podiam ficar mais estranhas, a lagartixa gótica decide que tem que me levar pela mão. O caminho foi feito num silêncio carregado de tensão, e embora bastante atento ao arredores, Kid estava mais que nervoso. O mínimo ruído era o bastante para que ele se posicionasse como se estivesse cercado de bruxas. Mais de três vezes uma simples folha foi razão para que ele liberasse uma descarga de ondas da alma. Aquilo era paranoico demais até para ele. Não muito tempo depois a minha paciência se esgotou.  

—Kid, você quer parar de ser tão paranoico?- Tentei falar calmamente, mas estava bem difícil.- Fui eu quem pisou no galho.  

Para meu crescente azar, ele não recebeu aquilo como um conselho.  

—Paranoico?- Ele berrou numa voz completamente alterada. -Estou tentando nos manter vivos, deveria agradecer por isso!  

Eu podia considerar o nível de stress dele, a situação e tudo mais, mas já tinha mandado a consideração para a puta que pariu no momento em que ele levantou a voz.  

—Nem vem com essa de "salvar a vida dos outros", porque a única coisa que você está fazendo é se desgastando e nos colocando em perigo! - Gritei de volta. Cara insuportável- Se você realmente está tentando nos tirar daqui, deveria pelos menos considerar a sua situação atual!- Kid levantou uma sobrancelha arrogante.- Vai se defender de que maneira se até o som de um galho te faz cagar nas calças? Admita, você nem sabe o que está fazendo, está deixando a magia capetosa desse lugar te dominar.  

A cara que ele fez depois da minha resposta foi impagável. Sinceramente, deveria andar com uma câmara para registrar as caretas de imbecil que ele era capaz de fazer. Ah, se ele soubesse o quanto era assimétrico...  

—Se pensa que nos consegue tirar daqui, então ótimo, vá em frente! Afinal, é uma Rubby, não é? Consegue fazer tudo completamente sozinha....  

O cinismo na voz daquele boboca era praticamente palpável, e ele teve a audácia de revirar os olhos enquanto falava o nome da minha família. Será que shinigamis morrem por espancamento? Ele estava pedindo por um... Um barulho veio da mata e ambos olhamos para um arbusto a pouco mais de um metro e meio dali. Um instante depois uma criatura peluda, selvagem e não muito cheirosa pulou de lá babando e rosnando. Nem foi preciso uma ordem concreta para que começássemos a correr.  

—Ótimo!- Kid falou, a correria o deixava ofegante.- Parece que a sua berraria atraiu uma aberração da natureza mágica!  

—A minha berraria? Não sei se reparou, mas foi você quem gritou primeiro!  

—Talvez eu não teria gritado se você não se intrometesse na minha missão enquanto shinigami!  

—Enquanto shinigami? Oh, você não disse isso!  

Teria berrado mais com a lagartixa gótica, mas a aberração divina tinha que se intrometer na nossa discussão disparando uma gosma verde - extremamente nojenta, a meu ver - , fazendo a pobre árvore atingida derreter feito manteiga numa torrada quente. Kid interviu com um chute bem localizado na mandíbula da coisa. Eu não fiquei para trás, peguei um pedra com uma extremidade bastante afiada e enfiei no olho esquerdo daquilo. A criatura guinchou de dor enquanto o sangue escuro escorria do buraco que eu tinha feito.  

—Se quiser me comer, vai ter que me pegar primeiro. Sou maravilhosa demais para ser devorada por uma aberração feito você.  

Era um pensamento meio avulso, mas aquela coisa me lembrava muito um Canyon crawler de Avatar. Por sorte a criatura recuou de volta para o meio do mato, mas por outro lado Death the Kid tinha sumido. O pânico me atingiu de tal maneira que antes que me desse conta eu já estava gritando por ele.  

—Kid? Kid, onde você se meteu?  

POV Autor 

Maka levantou-se com dificuldade e logo procurou sua arma com os olhos agitados, encontrando os cabelos brancos de Soul sujos das cinzas do incêndio.  

—Maka, Soul... — Brad que se via na mesma situação deplorável do casal ajudou-os a levantar. 

—O que ouve? – A loira perguntou, pressionando os dedos nos olhos fechados. 

—Chuva de meteoros... Corremos e encontramos essa caverna! Fui o primeiro a acordar, estou fazendo alguns medicamentos com ervas que encontrei, já Liz, Patty e Fred foram procurar algo para comer-mos. 

—Onde está o Kid? – Perguntou o albino, atordoado e procurando o amigo pela caverna – E a Rubby? 

—A última vez que os vi, estavam correndo juntos para o lado oposto – Falou com a preocupação e medo palpável. – Acredito que Kid estava com uma das malas... O que me preocupa é que a floresta acabava em um desfiladeiro para o lado no qual eles seguiram. 

—Temos que ir atrás deles! – Gritou Soul. 

—Isto não tem cabimento Soul... Não podemos fugir da rota, só podemos torcer que estejam vivos, e quando se tratando dos dois tenho certeza que estarão bem... Provavelmente pularam o desfiladeiro, só espero agora que encontrem o caminho. 

POV Jade

Francamente, sou horrível em seguir rotas, seguir mapas, GPS, sou péssima, pois juro que já vi esta pedra umas cinco vezes, e essa árvore, e aquele ninho de coruja, e o raio quatro!

Não acho o shinigami, não acho o caminho, estou perdida e sozinha...

—Merda — Falei para eu mesma e logo ouvi alguém pisando em um arbusto e me virei na esperança de ser o moreno, para pode-lo xinga-lo de todos os jeitos possíveis.

Ledo engano.

Em minha frente se encontrava uma mulher de altura mediana, coberta por uma capa desgastada, fazendo com que eu não visse sua face.

—Quem é você? — Peguei a faca que estava no meu bolso traseiro e me surpreendi em ouvir uma risada conhecida vinda da pessoa.

—Sério que você não sabe quem sou eu, Jadezinha? — E sorrindo a mulher tirou a o capuz da cabeça, mostrando os dentes em um sorriso de canto.

Engasguei.

Engoli em seco.

Meu coração parou e voltou.

—Bel Delacur... 

Continua...