- Haruka, onde você está? – Gritou Makoto entrando naquela casa que ele conhecia como se fosse a própria.

Passou pela cozinha, estava vazia, subiu até o quarto do outro, nada também. Estava tudo impecavelmente arrumado, como sempre. Mesmo que o mais novo morasse sozinho nunca se descuidava com a limpeza da casa. Percorreu todos os cômodos, e encontro sempre o mesmo resultado, nada. Com um suspiro seguiu até o final daquele andar. Sabia onde o amigo estava, abriu aquela porta e entrou. O banheiro não tinha nenhum vapor ou estava úmido, Haruka sempre deixava a água na mesma temperatura de uma piscina, afinal o amigo adorava nadar tanto quanto ele. Deu um sorriso tranquilo, aquilo era tão característico do menor.

- Haruka. – Alertou o menor de sua presença.

Recebeu um olhar do outro que estava completamente mergulhado na pequena banheira. Como se o amigo nem estivesse ali Haruka voltou a fechar os olhos, adorava aquela sensação mais do que tudo. Ficar dentro da água, sem precisar competir ou se preocupar, pena que sua banheira não era maior.

- Ah, Haruka, vamos. Venha me fazer companhia, o jantar é por minha conta. – Disse balançando a sacola que carregava.

Ao ouvir o barulho da sacola o menor moveu a cabeça na direção do som e disse:

- Tudo bem, já estou indo.

Sem precisar de mais iniciativas Haruka levantou-se. Makoto quase morreu do coração novamente ao ver o amigo se levantar. Cambaleou, caindo contra a parede.

- Ha- Haruka o que? – Disse o mais velho gaguejando e corando levemente.

Levantado no meio da banheira com a água batendo em suas pernas, o menor encarou o amigo.

- Hã? – Perguntou. – Makoto? O que foi?

Agora podia ver completamente o corpo do amigo. Mesmo que aquilo já tivesse acontecido várias vezes ele nunca se acostumaria. Haruka, como há alguns dias atrás quando veio visita-lo, estava com sua roupa de natação, o calção roxo e preto habitual. Respirando fundo Makoto se recompôs e em seguida levantou-se.

- Tudo bem. Você poderia tomar banho como alguém normal Haruka? É estranho te ver saindo da banheira com um calção de banho.

Saindo da banheira e pegando uma toalha ele respondeu:

- Não.

Makoto parou a frente dele, com certeza o amigo nunca teria jeito.

- Vamos – Disse o anfitrião saindo pela porta. – Você disse que o jantar hoje seria por sua conta não?

Makoto deixou um suspiro sair de seus lábios, então se virou seguindo o outro. Os dois seguiram até a cozinha em silêncio, depois de reencontrar Nagisa o silêncio havia ficado tão raro, não que ele não gostasse de ter reencontrado o pequeno, mas sentia falta desses momentos calmos com Haruka. Deixou um sorrisinho transparecer, estava feliz de estar com o amigo.

- Então... – começou o moreno.

Entendo o que o menor queria dizer falou.

- Vou fazer um ramen. Você sempre come peixe, será bom variar às vezes.

Sem esperar uma resposta Makoto se dirigiu a pia onde encheu uma panela com água. Haruka sentou-se na pequena mesa em silêncio para esperar a refeição. Enquanto o maior cozinhava poucas palavras foram trocadas. Em pouco tempo a refeição ficou pronta.

- Bem, aqui está. – Disse o maior virando-se.

Parou para observar o amigo.

- Haruka, você não deveria tirar a sua roupa de banho, e botar uma normal?

O moreno simplesmente direcionou seus olhos diretamente aos do maior, e depois os abaixou sem dar nenhuma resposta.

- Ahh, tudo bem. – Makoto não iria contrariar se assim o outro queria.

Servindo duas tigelas, uma pra cada um, ele se sentou em frente ao moreno.

- Itadakimasu!

- Itadakimasu!

Enquanto comiam o único barulho ouvido era o da comida e de suas respirações.

- Está bom. – O mais novo comentou.

O loiro sorriu para o moreno. Gostava quando era elogiado pelo amigo que raramente falava.

- Obrigado.

Recebendo uma atitude completamente inesperada Haruka baixou o rosto rezando para que Makoto não houvesse visto sua face corada. Não que o maior não sorrisse, mas aquele sorriso era diferente, Haruka o havia visto tão poucas vezes. Mas ainda o achava muito bonito.

Assim que terminaram, o menor lavou as tigelas usadas e sentou-se novamente em frente ao amigo.

- Haruka, - começou o loiro – você sente falta de nadar como antes?

Haruka não respondeu aquela pergunta, Makoto sabia bem a resposta, ele amava nadar. Olhou para o teto de sua casa como se fosse a coisa mais interessante do mundo, mesmo que amasse nadar ainda não podia se permitir...

Makoto percebendo a reação defensiva do amigo soltou um suspiro.

- Haruka. – O moreno olhou pra ele. – Ninguém pode mudar o que aconteceu no passado.

- Eu não... – Começou, olhando novamente o outro a sua frente.

Mas o que iria dizer? Não queria compartilhar aquilo com ninguém, era uma dor que teria que aguentar, afinal nada mudaria o fato de que ele era culpado.

- Você tem que compartilhar isso comigo Haruka. Está escondendo algo. Deixe-me saber.

Makoto nunca se preocupou tanto com o amigo, talvez só quando ele deixou de nadar, mas isso parecia ainda pior do que aquilo. Na verdade ele já sabia o que havia acontecido, mas queria entende de verdade. Ouvir os motivos do próprio Haruka, afinal ele não tinha culpa de nada, só havia aceitado o desafio de nadar com Rin uma última vez.

O moreno voltou a desviar o olhar. Gostava muito que Makoto estivesse preocupado com ele, mas ainda não falaria. A culpa era sua e somente sua. Olhou para o outro em sua frente. O rosto estava suave e os olhos mostravam muita preocupação e afeição. Coisas que ele sabia que o maior sentia por ele, mas que nunca imaginou ver em tamanha quantidade. Para seu imenso alívio não viu aquilo que temia, podia enxergar todas as emoções que o amigo sentia por ele no momento, e não viu a pena. Não queria que sentissem pena dele.

Aquele silêncio desconfortável ficou por mais um tempo. Makoto queria atravessar aquela mesa e abraçar o moreno, dizer que estava tudo bem, e que voltaria tudo a ser como antes. Ter o outro agora em seus braços era o que mais queria. Porém, não podia se desviar do seu objetivo. Cerrou os punhos e atraiu a atenção do menor para si.

- Haruka... – Começou calmamente – Nada do que aconteceu em relações ao Rin é culpa sua.

Haruka fechou as mãos com toda a força que tinha. Não iria explodir. Manteu-se o mais impassível que conseguia e disse:

- Vou voltar para a banheira.

Levantou-se vendo por um segundo uma expressão... Magoada? No rosto do amigo. Não tinha certeza do que aquela expressão era, mas ela fez seu coração doer. Virou-se e saiu do cômodo deixando o outro sozinho.

- Haruka... – Disse o loiro quando teve certeza de estar sozinho. – Por que você faz isso consigo mesmo?

Makoto ficou lá parado por um tempo, estava pensando em tudo que houve. O reencontro entre eles e Rin. A raiva guardada por parte do recém-chegado. A culpa e a saudade que sabia que Haruka sentia. Deixou um suspiro alto e longo sair, gostaria de poder pegar tudo aquilo para si e salvar o mais novo. Ou pelo menos queria poder conforta-lo e ajuda-lo. Depois já de ter ficado a sós com apenas o compasso do relógio e seus pensamentos, levantou-se tomando sua decisão. Abriu a porta do banheiro novamente como quando chegou.

- Não foi culpa sua... Não é culpa sua. – Disse entrando

Sentou-se ao lado da banheira em cima de um pequeno tapete. O outro simplesmente mergulhou a cabeça na banheira para não ouvir.

- Haruka, se você não explicar o que sente, eu nunca vou pode te ajudar. – Continuou.

Haruka retirou sua cabeça de dentro da banheira olhando para o loiro. “Ele está tão sério e preocupado” pensou.

- É culpa minha sim... É por minha causa que ele é assim hoje. – Abriu-se o menor.

- Não, não é. – O maior contradiz.

Como o moreno podia pensar assim? A culpa não é dele. Se Rin é assim foi porque ele escolheu mudar, não porque Haruka o obrigou.

- É sim. – Haruka começa a ficar distante lembrando-se. – Se eu não tivesse aceitado... Se não tivesse ganhado dele... Tudo poderia ser diferente.

Apoiou a testa nos joelhos fitando a água. Makoto parou um segundo fitando-o.

- Se o Rin é assim, foi porque ele quis isso. – O loiro expressou seus pensamentos.

Haruka simplesmente moveu a cabeça em sinal negativo.

- Haruka...

- Não! – O moreno o cortou. – Makoto, você não está entendo porque não o viu  aquele dia. Quando eu ganhei, o Rin... Ele me pareceu completamente diferente, não era ele mesmo... Ele perdeu aquilo que sentia pela natação, pela água, tudo por causa minha... E nós perdemos nossa amizade. Mas já não importa mais. Ele deixou isso bem claro. Eu... Eu já não ligo mais.

Makoto estava atônito depois de ouvir aquilo, o menor estava realmente machucado. Ele não podia fazer nada? Olhando agora daquele lugar podia perceber a face séria e serena de sempre, mas dessa vez tentando esconder tudo, os punhos serrados, e o olhar distante. Sentiu uma grande onda de carinho. Já não ligava mais se seria rejeitado, ou correspondido, se perderiam sua amizade, se a coisa iria ficar estranha. Haruka precisava dele. E ele já não tinha mais medo.

Levantou-se devagar e pousou o rosto na beira da banheira por um segundo, o moreno não havia percebido seus movimentos. Retirou suas meias e levantou a calça que usava. Sem ligar se aquilo era loucura entrou na banheira.

- Haruka, não precisa mentir pra mim... – Disse levantando o mais novo pelos ombros.

Haruka ficou assustado o que Makoto estava fazendo ali dentro com ele? Estava completamente chocado.

- Eu te conheço há muito tempo. E também melhor do que ninguém. Sei quando está bem e quando não está.

Ergueu o corpo do menor já sabendo que veria a água da banheira escorrer por todo aquele corpo que estava apenas com uma sunga. Não pode deixar de soltar uma risada interna. Deu um sorriso terno e fixou seus olhos nos do outro. Agora perguntando-se se aquilo era o certo.

- Nós vamos conseguir consertar tudo. Não se preocupe, é só você me deixar saber tudo o que está pensando e sentindo.

Quando o moreno, mesmo que visivelmente corado, estava abrindo a boca para retrucar alguma coisa, Makoto fez a coisa mais insana da noite. Mandou tudo para o inferno, e selou seus lábios nos do menor a sua frente.

Foi um beijo tranquilo, como este era seu primeiro com aquele que amava, por serem dois himens Makoto esperava um empurrão, um tapa, ou qualquer tipo de resistência, mas nada daquilo aconteceu. Haruka por sua vez estava estático, não esperava que o loiro fosse fazer isso nem em um milhão de anos, sua primeira reação foi levar as duas mãos ao peito do moreno para empurra-lo, mas ele tinha perdido sua força, não queria tirar o maior de perto de si, queria que aquele contato ficasse ainda mais intimo. Levou suas duas mãos até aqueles cabelos castanho claros entrelaçando seus dedos nos pequenos fios. Agora se permitia fechar seus olhos com força e aproveitar aquilo. Levado pelo incentivo do moreno Makoto passou uma de suas mãos pela cintura definida do parceiro e deixou a outra subir pela extensão das costas meio morenas. O contato, como os dois desejavam, ficou mais intenso, agora não havia um milímetro de distância entre os corpos. Suas línguas faziam uma tranquila dança, seguindo uma o compasso da outra com intenção de explorar tudo, como se nem o tempo nem a necessidade de respirar existissem.

Mas para infelicidade de seus corações, ainda precisavam de ar, então a separação foi inevitável, mesmo que nem essa necessidade fosse capaz de quebrar o contado de seus corpos. Ficaram pelo que pareceu o infinito olhando um nos olhos do outro. O mundo já não mais existia em sua volta, tudo estava apagado.

Haruka, como num choque percebeu os acontecimentos, então desviou o rosto sem se desvencilhar. Parou para organizar seus pensamentos sabendo que tinha o olhar do maior sobre si. Antes que pudesse controlar qualquer emoção ou saber o que fazia seu coração falou mais rápido que a mente podia acompanhar.

- Makoto, eu te amo.

Quando percebeu o que havia dito desviou-se ainda mais, mas o maior não o deixou se soltar. Apenas dando um sorriso seguindo de uma pequena risadinha Makoto disse.

- Eu te amo Haruka.

O menor olhou sério para aquele que estava a sua frente. Aquilo era sério, ele havia dito que o amava.

- Haruka... – Makoto riu.

Sentindo-se meio bravo pela última risada o menor fez menção a retrucar, mas teve seus lábios presos novamente, agora o beijo estava mais confiante, já havia passado de um tranquila dança para uma briga agitada. Quando se soltaram o maior o olhou tranquilo.

- Você vai dividir suas preocupações comigo agora não vai?

Nervoso o menor fraquejou diante daquele olhar. Mas tentou falar normalmente.

- Talvez...

Makoto sorriu e acariciou aquela bochecha, não seria fácil fazer o outro dividir tudo com ele, mas Makoto não desistiria.

- Eu te amo. – Repetiu.

- E-Eu também te amo. – Haruka respondeu.

- Vamos lá, você já está limpo, então vamos sair dessa banheira. – O loiro sorriu divertido.

Sem dizer nada o mais novo saiu da banheira e foi se vestir enquanto o maior secou suas pernas molhadas e foi atrás. Parou na cozinha e olhou o relógio já era 00:30. Não tinha como ir para casa.

- Ei, Makoto, - ouviu a voz de Haruka de longe – você pode passar a noite aqui se quiser.

O mais velho riu internamente, não precisava var o rosto do menor para saber como este estava.

- Tudo bem. – Foi sua resposta

Foi em direção ao quarto do moreno. Assim que entrou teve um pijama atirado contra si.

- Acho que esse vai servir. – Disse Haruka.

- Valeu. – Makoto disse dirigindo-se ao banheiro.

Depois de poucos minutos quando voltou, Haruka estava na janela olhando para rua.

- Eu sábia que você estava preocupado com aquilo. -Disse de repente.

Haruka olhou para trás assustado, mas logo se acalmou.  Deixou um suspiro sair. Ignorando o que o loiro havia dito deitou-se na cama. Sentiu um corpo pressionado contra o seu.

- Você vai me contar sobre isso, pode não ser hoje, mas eu vou descobrir todos os seus mistérios. – Makoto disse enterrando seu rosto no pescoço do menor.

O menor corou violentamente e sem responder começou a se mexer atraindo a atenção do moreno. Virou-se de frente para o maior que deu um sorriso.

- Não duvido que você faça isso. – Falou.

Makoto riu.

- Boa noite. – Haruka falou rapidamente enterrando seu rosto no peito do moreno e encaixando-se completamente a ele.

- Boa noite. – Respondeu Makoto.

- Haruka? – Depois de um tempo Makoto pergunta.

- O que foi?

- Não se esqueça que agora você é meu namorado.

Mesmo não vendo o rosto do menor soube que estava muito corado.

- Eu sei.

- Então tá. Boa noite, e eu te amo.

- Eu também te amo, mas se você não me deixar dormir vai sair daqui agora.

Makoto fez uma carinha magoada e falou.

- Você é muito cruel Haruka!

- Boa noite Makoto. – Disse Haruka.

Depositou um beijo naqueles lábios que estavam prestes a reclamar, agora já podia descansar. Sem esperar para ouvir a resposta, o moreno adormeceu sabendo que agora poder dividir aquele peso, que tudo acabaria bem, e só faltava uma coisa para sua vida ser completa.

- Haruka. – Disse baixíssimo para si mesmo o loiro. – Nós vamos trazer o Rin de volta, tudo ficará bem e nós poderemos ser felizes.

Não sabia se o moreno ouviu o que disse. Mas tinha certeza que os dois sabiam disso. Tanto quanto sabiam que um pertencia ao outro e não poderiam mais fugir daquilo. Depositou mais um beijo nos lábios do namorado adormecido, e deixou-se levar pelo sono também.