Immortals - Eternal escrita por V i n e


Capítulo 5
Capítulo IV - Photography


Notas iniciais do capítulo

Pequeno, mt pequeno, masok.



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Corins estendeu a mão em minha direção esperando que eu o cumprimentasse. Hesitei tempo o bastante para que ele arqueasse uma sobrancelha.

– Olá, senhor – forcei as palavras a saírem por meus lábios. Minha boca parecia estar cheia de areia quente. Apertei a mão do pai de Rachel sentindo-me extremamente desconfortável. – É um prazer.

– Finalmente posso conhecer o grande Jason O’Connor – disse ele, enunciando meu nome com uma ênfase sombria. – Minhas garotas falaram muito de você, sabe? E só o conhecem há menos de um dia.

Garotas? No plural?

Então eu vi a forma esguia e linda se aproximar de Corins e Rachel. Tinha cabelos louros que caiam como uma cascata dourada até a metade das costas. Curvas bem delineadas e que fariam qualquer garoto desejá-la. Auree Seaholm vestia jeans e uma camisa justa de botões sob o casaquinho bege. Os saltos absurdamente altos deixavam-na da mesma altura que eu.

– Jason, você deve conhecer minha sobrinha Auree, certo? – perguntou Corins. Balbuciei um “sim” sem desviar o olhar do corpo magnífico da garota. Rachel bufou, irritada.

– É bom ver você de novo, Jason – disse Auree, fazendo-me ter pensamentos pervertidos com ela, eu e quatro paredes.

– Pare de babar, garoto – reclamou ela. – Não vai nos convidar para entrar?

Balancei a cabeça, esquivando-me dos encantos de Auree. Sai do caminho liberando a passagem deles.

– Entrem, por favor.

Um sorriso cínico se formou nos lábios de Corins.

Rachel passou por mim, ainda irritadiça. Corins a seguiu, descontraído. Auree estalou os saltos para dentro da casa, mas deteve-se para me esperar. Ela mordeu o lábio inferior e algo se agitou dentro de mim.

– Desculpe o comportamento da minha prima – disse ela. – Ela realmente fica insuportável quando está brincando com os sentimentos de alguém.

Arqueei ambas as sobrancelhas. Auree pareceu horrorizada com o que acabara de falar, tapou a boca.

– Eu não queria dizer isso, sinto muito – desculpou-se ela. – Não é que ela esteja brincando com você, tá? É só que ela sempre faz isso. Mas você é tão bonito... Acho que pode ser sincero.

Controlei a irritação. Rachel não era quem parecia ser afinal, ótimo.

– Tudo bem, Auree – balancei a mão em um gesto de desdém. – Vamos antes que a comida esfrie.

Ela sorriu para mim e uma centelha de desejo incendiou minha razão. Eu precisava tê-la. Ela tinha que ser minha.

Guiei-a pela casa até chegar à sala de jantar onde todos já estavam sentados.

Minha mãe estava usando um vestido azul que destacava seus cabelos negros e as mechas grisalhas tornavam sua fama como ótima advogada um marco em Gravity. Ela servia a lasanha para todo mundo enquanto meu pai e Corins conversavam sobre os projetos de policiamento que a cidade precisa para conseguir crescer. Vi Rachel revirar os olhos quando meu pai disse que Gravity tinha crescido muito nos últimos dez anos.

Minha mãe se sentou e começamos a comer. Charlie, Auree, Rachel e eu continuamos calados, comendo a lasanha enquanto os adultos conversavam.

– A lasanha está ótima, Ellie – elogiou Corins.

– É mesmo, sra. O’Connor – concordou Auree. – Essa marca de lasanha congelada é muito boa. – Ela sorriu como se não entendesse que minha mãe fingira que havia cozinhando.

Minha mãe forçou um sorriso, pega em flagrante.

– Obrigada.

Terminado o jantar meu pai recolheu os pratos e minha mãe disse que pegaria a sobremesa. Charlie foi atrás para poder pegar a calda quente de chocolate.

Auree parecia estarrecida com a indelicadeza que cometera ao comentar que a lasanha era congelada. Corins estava se deliciando com o vinho que meu pai comprara e não pude deixar de lembrar o rei tomando o sangue do Jason-malvado.

Rachel ainda parecia aborrecida comigo e Auree, respondia as perguntas da prima com rispidez.

– Então, Jason – começou Corins, bebericando mais do vinho. – Como conseguiu conquistar o coração de minhas duas mulheres preferidas em apenas um dia?

Minha expressão deve ter sido hilária porque Corins riu.

– Estou brincando, rapaz – disse ele. E ouvi Rachel suspirar aliviada.

Um estrondo chacoalhou a casa, ensurdecedor. Saltei da cadeira e corri para a cozinha com o coração acelerado. Charlie estava abaixado, com as mãos sobre a cabeça. Minha mãe e meu pai estavam perto do microondas, avaliando os danos. A porta havia sido arrancada e uma gosma fumegante tinha se espalhado para todos os lados.

Corins e Rachel apareceram na entrada da cozinha. Ela curiosa. Ele forçava uma expressão de espanto e curiosidade.

– O que houve? – perguntei, evitando um pedaço de ferro chamuscado.

– Pedi ao Charlie para esquentar a calda de chocolate e ele colocou a lata no microondas – falou meu pai, olhando feio para Charlie que permanecia encolhido em um canto. – Ler o rótulo salva vidas, menino. Você poderia ter explodido a casa!

– Creio eu que seja a hora de nos retirarmos – anunciou Corins. – A comida estava excelente, Ellie. Obrigado mais uma vez.

– Não foi nada, desculpe o transtorno.

Corins balançou a cabeça como se não fosse nada. Levei-os até a porta, agradecido por ver Corins indo embora. Durante todo o jantar esperei ele puxar uma faca subir em cima da mesa e gritar “TE PEGUEI!”. Mas é obvio que isso não aconteceu. Corins se manteve cordial e descontraído até o fim do jantar. Mas eu conseguia perceber que aquilo tudo era forçado.

Guiei-os até a saída por educação já que certamente eles já sabiam onde ficava a saída. O único som audível era o estalo dos saltos de Auree. Chegamos à porta e Corins virou-se para mim.

– Foi um prazer, Jason O’Connor – disse ele, fazendo questão de colocar meu sobrenome na frase. Ele desceu os degraus da varanda e o carro apitou, destrancando as portas. Rachel se adiantou, aparentemente menos irritada do que antes.

– Até a manhã, Jason – disse, esboçando um sorriso sincero.

– Até.

Auree se adiantou, fazendo Rachel cambalear para trás. Ela jogou os cabelos para trás e se aproximou de mim com um papel dobrado entre os dedos.

– Obrigada pelo jantar, Jason – disse Auree, se aproximando mais e colocando o papel no bolso de trás do meu jeans. Ela beijou o canto dos meus lábios e recuou. – Espero vê-lo em breve.

Senti o rosto esquentar.

– Claro, Auree. Mal posso esperar.

Rachel girou nos calcanhares e bateu o pé até o carro. Deslizou para o banco do carona e fixou o olhar na estrada, trincando os dentes.

Auree copiou os movimentos da prima com muito mais elegância e suavidade. Parecia uma super modelo.

Vi o Mercedes cantar pneus e avançar pela estrada, desaparecendo no fim da rua.

Subi para o meu quarto, deixando meus pais limpando a bagunça na cozinha enquanto Charlie limpava a calda quente que voara para todos os lados. Ninguém pediu para que eu ficasse e ajudasse.

Assim que troquei de roupa e me deitei senti o peso do dia se desfazer em nós pelo meu corpo. Desamarrando-se e sendo varridos para longe enquanto a subconsciência vinha me embalando após um dia cansativo e anormal.

Naquela madrugada acordei com o som da madeira rangendo na varanda e meu coração acelerou quando uma sombra deslizou pela janela do meu quarto. Sentei na cama e ouvi o retumbar nervoso do meu coração. Estava escuro. As cortinas balançavam com o vento frio que invadia meu quarto.

Levantando-me, fui até a janela e espiei a grama do jardim abaixo. Comecei a fechá-la, mas parei assim que vi uma mancha dourada na floresta do outro lado da rua. Os olhos estavam tão negros quanto sempre foram. Olhos amigáveis, divertidos e maliciosos do meu melhor amigo me encaravam, mas dessa vez não havia malicia bem humorada por trás de sua expressão. Estava extremamente frio e rígido, sofrido. Olhei para trás para ver a hora no rádio relógio. Os números piscavam, vermelhos e chamativos. 03h25min da madrugada. Voltei o olhar para Christopher, mas ele não estava mais ali. No exato lugar onde ele estivera havia apenas o movimento farfalhante das folhas e a sensação fria que ele deixara em minhas veias. Traidor.

Às 7h em ponto o despertador tocou e eu me arrastei para fora da cama. De forma robótica tomei um banho e desci para tomar café. O ônibus havia passado e levado Charlie então peguei o Chevy Impala 98 do meu pai e joguei minha mochila no banco do carona. Coloquei a chave na ignição e pisei no acelerador, avançando pela rua. Meus olhos viajaram até o lugar onde eu havia visto Christopher na noite passada. Minha desconfiança e raiva iam atingindo níveis completamente novos.

Rachel era filha do cara que aprisionara a irmã do meu melhor amigo. E meu melhor amigo trabalhava para o cara que queria me trancar assim como aprisionaram a irmã dele. Em quem eu poderia confiar?

Percorri as estações de rádio até encontrar uma música boa o bastante para animar-me. Dirigi pela avenida principal até chegar a uma bifurcação já conhecida. Um lado levava ao leste de Gravity, diretamente para o prédio feito com tijolos vermelhos e com um tigre oscilando com o vento na bandeira vermelha hasteada na entrada da escola e o outro levava para o extremo oeste, um condomínio fechado onde Christopher vivia com seus pais.

Dane-se, pensei e virei o volante bruscamente para a esquerda, rumo à minha própria missão de espionagem.

O caminho não era difícil. Na realidade eu já havia ido tantas vezes a casa dele que poderia dirigir de olhos fechados e na pior tempestade, mas mantive os olhos bem abertos para o caso de alguém me ver passando por ali.

O porteiro permitiu minha passagem sem nem verificar se tinha alguém na casa. Acenou para mim quando passei pelos portões automáticos e acelerei para dentro do condômino de luxo. As casas eram dos mais variados estilos e tamanhos, algumas conservavam o estilo gótico, enormes casarões. Outros levavam o contemporâneo a níveis assustadores e, certamente, muito caros.

Segui pelas ruas recém pavimentadas (talvez as únicas ruas que haviam sido pavimentadas recentemente nos últimos vinte anos em Gravity) e encontrei o sobrado vitoriano no centro de uma rua mais afastada, solitário e imenso. Uma mansão em miniatura.

Estacionei o carro na rua de trás cobri o rosto com um capuz e parei na varanda. O que eu iria fazer? Invadir a casa do meu melhor amigo porque ele era um traidor imbecil? Sentei na guia e resmunguei por um bom tempo.

Os pais dele eram um exemplo. Sempre foram muito gentis comigo, mesmo quando eu e Chris aprontávamos e só Deus sabe como a mãe dele nos livrava de problemas com os representantes da cidade.

Os pais de Christopher eram médicos, sempre ficavam o dia inteiro fora ou no plantão. A casa certamente ficaria vazia até de noite e eu tinha muito tempo para vasculhar tudo e ir embora. Mas eu não teria coragem de fazer aquilo sozinho, não. Peguei o papel que Auree havia colocado no meu bolso na noite anterior e que eu transferira para essa calça jeans. Enviei uma mensagem breve e direta, rezando para que ela pudesse me ajudar.

PODE VIR AO CONDOMINIO ROSEFIELD? FICA NO EXTREMO OESTE DA CIDADE.

CLARO, TÔ AQUI PERTINHO. Respondeu ela, antes que eu pudesse agradecer mais uma mensagem chegou. CHEGO EM 5 MINUTOS!

Nem cinco minutos. O Mercedes de Corins surgiu na esquina, com Auree no volante. Ela estacionou e saltou do carro, exibindo suas lindas e perfeitas curvas em uma calça jeans preta apertada e um casaco azul escuro com apenas um botão abotoado. Os saltos das botas eram enormes e assustadores, tinham visivelmente cerca de vinte centímetros. Sinistro.

Bonjour, Jason – cumprimentou ela enquanto eu me levantava e espanava minhas roupas para eliminar a sujeira.

– E aí, Auree.

Inclinei-me em sua direção, atraído pelo odor inebriante do seu perfume e da sua aura sensual e envolvente. Toquei o canto dos seus lábios suavemente, assim como ela fizera na noite passada.

Ela esboçou um lindo sorriso com os dentes brancos e alinhados. Indiquei a casa de Christopher e vi seu sorriso cair um pouco.

– Espero que não se importe em invadir – comentei, constrangido pelo fato de ter esquecido de mencionar que estaríamos invadindo uma propriedade privada.

Dessa vez seu sorriso não era nada gentil, era malicioso e extremamente levado.

– O que é a vida sem riscos, certo? – perguntou ela.

– Como passou pelo porteiro tão depressa?

Chegamos à varanda antes que ela respondesse com um aceno displicente com a mão.

– Nenhum homem diz não a uma garota que lhe pede um favor, independente de quão louco e irresponsável for o favor.

Decidi não argumentar. Com aquelas curvas e com um pouco de jogo de cintura Auree certamente me convenceria a fazer algo muito estúpido e eu não gostaria de arriscar. Tentei girar a maçaneta, mas era óbvio que estava trancada. Abaixei-me e peguei a chave reserva que ficava debaixo do capacho, vi Auree bufar e apertei os lábios para conter o sorriso.

Destrancada a porta, entramos e seguimos pelo hall de entrada. O chão era de madeira polida e reluzente. Lustres caiam pelo teto e retratos de uma família feliz eram exibidos em portas-retratos em todas as estantes e paredes. Os saltos de Auree eram incrivelmente silenciosos no corredor, apesar do eco irritante dos meus passos.

– O que estamos procurando? – perguntou a garota atrás de mim. Eu não sabia se podia confiar nela, afinal era sobrinha do Corins. Mas Auree parecia tão boa e sincera que não havia como mentir para ela. Mesmo que eu quisesse nunca conseguiria sob seu olhar continuo e sedutor. – Conte-me.

E eu contei tudo. Desde as visões com Corins e Christopher, meu amigo me espionando do lado de fora da casa e também a visão com Jason-malvado.

Auree era uma ótima ouvinte. Não esboçava reação a nenhuma das cenas que eu narrava, cenas que aconteceram em minha mente e que não faziam o menor sentido. Que, no mínimo, indicavam minha fraca sanidade mental. Esperei que ela risse ou corresse, mas ela revirou os olhos.

– Perguntei o que estamos procurando, garoto.

– Qualquer coisa que aponte a ligação dele com seu tio – respondi, passando pelo primeiro degrau da escada de mármore negro. – Eu vou revistar lá em cima. E por favor, não faça bagunça.

Ela assentiu e eu corri para o andar superior. Foi loucura, eu sei. Envolver uma estranha nos meus problemas pessoais, invadir a casa do meu melhor amigo e acima de tudo me sentir feliz com isso. Ele me espionava e eu xeretava na casa dele, justiça.

O primeiro quarto em que entrei foi o dele. Revirei todas as gavetas, desde a de cuecas (não fiquei surpreso em encontrar embalagens de preservativos e preservativos usados lá dentro, apesar de não ficar feliz em ter tocado em uma delas acidentalmente) até a de suéters. Não havia nada de interessante nas gavetas, então passei para o guarda-roupas e por fim para o criado mudo. Havia uma foto sobre o criado. Eu nunca havia visto ela em todas as vezes em que estivera ali. Coloquei o celular em cima da cama e voltei a atenção para a foto.

Eram quatro pessoas em um parque. Central Park em Nova Iorque. Christopher estava no colo da mãe, um bebê. O pai repousava o braço protetoramente nos ombros da esposa e estava de mãos dadas com uma garotinha de aproximadamente quatro anos. Ela tinha imensos olhos azuis e cabelos louros que caiam até os ombros. Ela era muito familiar e, apesar de eu nunca tê-la visto eu sabia que se tratava da irmã raptada de Christopher.

Esbarrei o dedo no porta-retrato e uma enxurrada de imagens fluiu à minha frente. Apareciam rápidas, mas eu conseguia distingui-las e entende-las com certa dificuldade.

Era outono. A paisagem era uma mistura de laranja, vermelho e amarelo. As folhas caiam ao redor das famílias que brincavam com seus filhos ou deliciavam-se com suas cestas de piquenique recheadas com guloseimas preparadas em casa. Salada de batatas, sanduíches de peito de peru e pasta de amendoim. Os pais de Christopher estavam parados com o pequeno Chris no colo, uma garotinha rodeava por entre as pernas co casal, correndo atrás das folhas que caiam antes que elas tocassem o chão. Um homem estava com o rosto escondido por debaixo daqueles panos que cobriam a traseira das máquinas fotográficas antigas, que faziam as fotos na hora. A menininha parou para se postar ao lado do pai, exibindo um sorriso imenso para a câmera. Assim que a foto foi tirada e o homem tirou o pano de cima de si a expressão da mãe de Christopher mudou bruscamente. Passou de gentil (como sempre fora, mesmo quando nos metiamos em encrenca com o pastor na missa de domingo) à hostil e feroz. Ela apertou o filho nos braços, gritou para que o marido se afastasse do homem, mas antes que pudesse impedir a menininha correu na direção dele, estendendo a mãozinha gorducha para pegar a foto. Um sorriso nada gentil e amigável apontou no rosto do cara e eu o reconheci. Corins abraçou a menina com uma velocidade assustadora e, virando um borrão de velocidade, desapareceu por entre as árvores...

– Jason! – chamou-me Auree, torcendo o nariz ligeiramente ao ver a foto. – Acho que os donos da casa chegaram.


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