Immortals - Eternal escrita por V i n e


Capítulo 14
Capítulo XIII - Family Problems


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei, bitches!



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Eu acordei em uma sala escura. Tudo o que eu conseguia ver era a escuridão que toldava minha visão, impossibilitando-me de saber onde estava. Fiquei horrorizado ao pensar que o impacto poderia ter me deixado cego. Coloquei a mão na testa e senti algo molhado entre meus dedos. Minha cabeça latejava e cada músculo do meu corpo estava dolorido, lançando ondas de dor dos pés à minha cabeça. Com um esforço exorbitante, consegui me sentar e apurei os ouvidos, tentando ouvir qualquer coisa, mas tudo o que eu ouvia era o martelar assustado do meu coração.

O som metálico de uma porta se abrindo fez com que o sangue fluísse mais rápido em minhas veias. Tateei os bolsos em busca do celular e a luz que invadiu o âmbito quando a porta foi aberta foi o bastante para eu conseguir enxergar a silhueta de alguém. Virei o rosto, com os olhos irritados pela claridade.

– Procurando por isso? – meu sequestrador perguntou. Ele exibiu meu telefone. Um click do interruptor ressoou, alto demais e as lâmpadas fluorescentes zumbiram, banhando a sala com a luz pálida e morta. – Não se preocupe. Não faremos mal algum a você.

– Então me deixe ir embora – murmurei, reunindo todas as minhas forças para conseguir pronunciar essas palavras.

Ele fechou a porta atrás de si e seus olhos faiscaram.

Olhei ao redor e tentei absorver cada detalhe. A sala era apertada e não havia nada nela. Era feita de concreto e a porta parecia ser de aço, eu não conseguiria escapar mesmo que desse tudo de mim.

– Não posso fazer isso, Electus.

– Então me mate.

Ele riu e seu rosto se deformou com o movimento da cicatriz. Seu olho esquerdo estava ótimo, apesar da cicatriz rasgar sua pálpebra.

– Farei isso na hora certa – confessou. – Mas primeiro... satisfaça minha curiosidade.

Mantive meus olhos abertos com muito esforço, mas não consegui reunir energia para mandá-lo se ferrar.

– Por que a preciosa doppelgänger está solta por aí quando Corins Whelpton sabe exatamente onde ela está? – ele questionou, semicerrando os olhos. Eu não tinha forças e nem intenção de responder. O silêncio se prolongou por algum tempo e eu senti meus olhos pesarem. Engoli um resmungo e senti a pressão dos dedos dele no meu queixo, obrigando-me a olhar para ele. Seus olhos ficaram frios e agressivos, mas eu estava cansado demais para temer alguma coisa. – Responda.

– Apodreça no inferno – consegui murmurar e a pressão dolorosa se foi, junto com minha consciência quando ele impactou minha cabeça novamente, dessa vez contra o chão.

Acordei com os músculos rijos. Haviam me colocado em outra sala e pude perceber que se tratava de um galpão por que eu estava dentro de uma caixa de ferro, como as que haviam nos portos. Contêineres. Eu estava sentado em uma cadeira, amarrado pelos pulsos e pelos tornozelos por cordas grossas e apertadas. Ainda bem tonto olhei para o aparelho ao meu lado. Havia um tubo enfiado no meu braço, tirando meu sangue e transferindo-o para uma bolsa hospitalar. Sabendo tudo o que meu sangue poderia fazer e os estragos que causaria se caísse nas mãos erradas tentei me libertar a todo custo.

Lutei contra as cordas e grunhi quando elas cortaram meus punhos, mas não parei até chegar à conclusão de que ficaria sem as mãos de continuasse.

– Socorro! – gritei, usando minha força de vontade para fazer as palavras saírem pela minha garganta e ecoarem, altas e frágeis.

Encolhi-me quando as portas rangeram e se abriram. Dois homens vestidos de branco entraram no contêiner e checaram os equipamentos. Nenhum dos dois disse nada e continuei me debatendo, tentando escapar das cordas.

– É melhor vocês me soltarem agora ou eu...

– Ou você vai fazer o quê? – perguntou alguém parado à minha frente.

O homem tinha cerca de quarenta anos. Os cabelos loiros estavam penteados e os olhos eram tão negros quanto a escuridão. Eram os olhos de Christopher. Ele vestia jeans, sapato social e uma pesada jaqueta. Contemporâneo e ao mesmo tempo sofisticado.

– Ou eu vou ter que lutar para sair daqui – eu grunhi, renovado por uma onda irracional de raiva. Aqueles idiotas achavam que podia me sequestrar e sairiam impunes? Não, mesmo. Iriam pagar muito caro por isso, nem que eu mesmo tivesse que cobrar a conta.

– Truques mentais? – questionou ele. Então eu não contava mais com o elemento surpresa. Eles sabiam. – Pode tentar, mas duvido que consiga algo aqui.

Engoli em seco e tentei entender a semelhança dele com meu melhor amigo. Até a forma dos olhos lembravam a expressão de Christopher e isso me incomodava demais. Era quase como...

– Quem é você? – perguntei. Um dos homens de branco arrancou a agulha da minha veia e desmontou o aparelho, recolhendo a bolsa e sangue. Eles saíram sem falar nada e o homem só respondeu quando os passos dos seus lacaios pararam de ecoar pelo galpão.

– Meu nome é John Werthcarf – ele anunciou e toda a duvida em minha mente se dissipou como névoa fétida e corrosiva. Christopher mantinha o mesmo nome que o pai biológico. Esse homem era o pai do meu melhor amigo.

– O que você quer comigo? – consegui perguntar. Será que Christopher sabia que o pai estava comigo? Seria tudo um plano?

– Ah, pensei que já soubesse – seu tom sugeria seu desapontamento, mas não tive tempo de contradizê-lo. – Você será sacrificado na Lua Vermelha, que será no seu aniversário de dezessete anos daqui a quatro meses. Mas, por hora, seu sangue será usado para criar adagas especiais.

Então era para isso que estavam tirando meu sangue. Eles não sabiam que podiam se tornar imortais se bebessem ao invés de fazer rituais com pedaços de ferro que cortam e eu não pretendia informá-los sobre isso. O silêncio se prolongou e John me deixou sozinho. Concentrei-me em ouvir, mas o retumbar apavorado do meu coração era tudo que meus ouvidos captavam. Pelo menos era isso que eu ouvia até que o frio fez com que eu estremecesse e as vozes que me perturbavam nos meus sonhos voltaram ainda mais altas, e mais indistintas. Elas se misturavam em uma cacofonia insuportável e confusa, deixando-me completamente tonto.

– Por favor, pare – implorei enquanto me remexia sob as cordas que me prendiam. Senti o sangue escorrer e empapar as cordas, mas não consegui me livrar delas mesmo assim. Felizmente as vozes cessaram e o calor voltou, abafando o frio.

O contêiner todo sacudiu e um ruído metálico fez meu sangue congelar nas veias. O lado esquerdo da caixa de metal foi deformado, como de alguém batesse ali com uma marreta. Comecei a me debater ainda mais nas cordas e grunhi com a dor dos cortes nos meus pulsos.

– Deixe-me sair! – gritei e, mais uma vez, algo muito pesado se chocou contra o contêiner, mas dessa vez a parte superior afundou.

Eu conseguia ouvir a agitação do lado de fora das paredes de aço. Uma algazarra havia se instalado, gritos e correria. Ouvi algumas ordens e sons de luta. Eu congelei quando a porta do contêiner se abriu bruscamente, sendo arrancada das dobradiças metálicas. Olhos azuis me encontraram no mesmo instante que os meus olhos encontraram o rosto familiar e ao mesmo tempo tão semelhante ao meu. Adam Corbridge entrou no contêiner seus dedos fortes arrebentaram as cordas empapadas com meu sangue. Ele me ajudou a ficar de pé, mas não abriu a boca nem por um segundo. Com os braços sobre o ombro dele, apoiando-me para poder andar vi John Werthcarf no fim do galpão olhando para seus seguidores mortos. Vários híbridos estavam estirados no chão, sangrando. Todos mortos.

– Peguem eles! – urrou o pai de Christopher e os híbridos que ainda restavam puxaram lâminas dos mais variados tipos e tamanhos, todas brilhavam com o mesmo tom acinzentado sobrenatural. Adam me empurrou para trás e eu cambaleei, quase caindo no chão. Minhas pernas estavam fracas e meus joelhos tremendo.

O primeiro híbrido não teve a menor chance. O punho do imortal afundou no peito do agressor e com um giro breve do pulso Adam retirou o coração ensanguentado. Meu estômago se revirou e senti uma pontada na parte de trás da cabeça. Eles haviam drenado meu sangue e eu estava exausto, ferido e enjoado, porque quando o segundo híbrido se aproximou eu não tive forças para correr. Meu corpo parecia uma massa congelada. O cara me segurou pelos ombros, mas o corpo do meu pai se moveu como um raio e atingiu um soco tão potente no rosto do meio-humano que sua cabeça girou bruscamente para o lado e o estalo de seu pescoço sendo quebrado ecoou em meus ouvidos.

– Matem-no, seus mongolóides! – berrava John, sem nem ao menos se mover para impedir o imortal de destruir sua corja. – Nós precisamos da doppelgänger!

Uma lâmina foi arremessada com a precisão sobrenatural de um híbrido. O alvo, o coração de Adam, seria alvejado sem duvidas se o imortal não tivesse agarrado a arma ainda no ar e a cravado na lateral da cabeça do oponente que se aproximava pelas costas. Mãos fortes me agarraram pelos braços e me puxaram para trás. Usando a energia que me restava enviei uma onda maciça de dor diretamente para a mente dos caras que me seguravam. Senti suas proteções ruírem sob o meu poder mental e imaginei uma corrente elétrica projetando-se como sangue em suas veias. Ambos tombaram e Adam se virou para mim, surpreso e curioso. Ele se aproximou e me ajudou a andar alguns passos antes de olhar para a porta e abrir um sorriso maníaco.

– Espero que tenha estômago forte, garoto – disse meu pai biológico, erguendo-me alguns centímetros do chão. Eu já havia visto os imortais correrem e sempre achei incrível a velocidade com que faziam isso, mas vivenciar a amostra grátis desse passeio sobrenatural, ainda mais estando ferido e exausto, foi a pior experiência da minha vida.

Tudo ao meu redor se tornou um borrão de cores e o vento contra o meu rosto me deu a sensação de estar caindo. Ouvi os gritos dos híbridos e o som do ar sendo rasgado por nossos corpos em alta velocidade. Chegamos à porta em menos de uma fração de segundo, mas seguimos até o carro dele em velocidade humana. Adam me amarrou no banco do carona e contornou o carro com aquela velocidade anormal, entrando e girando a chave na ignição. Vi os híbridos saindo do galpão, mas o carro avançou, cantando pneus e deixou meus sequestradores para trás.

O silêncio não nada agradável. Eu estava ao lado do meu pai biológico, finalmente eu o havia conhecido e o cara tinha ido me salvar de uma tremenda enrascada. Então por que tudo o que eu sentia era o desejo insano de socá-lo até meus punhos doerem? Não que eles já não estivessem doendo. Os cortes no meu pulso eram muito feios, mas a dor que me incomodava era o latejar insistente na minha cabeça, bem onde eu havia batido na árvore.

– O que fizeram com você, exatamente? – perguntou Adam depois de um tempo dirigindo para lugar nenhum, dando voltas pelas estradas rurais de Gravity.

Resisti ao impulso de me encolher ao ouvir a voz do meu pai. Um pai que eu nem sabia que existia e que nunca havia tido a curiosidade de me ver crescer. Ele havia me salvado e isso era o bastante para que eu respondesse sua pergunta com sinceridade.

– Eles drenaram o meu sangue para fazer novas armas – eu falei tão rápido que as palavras se atrapalharam, mas ele assentiu e eu acrescentei. – Se eles beberem meu sangue se tornam imortais. Temos que destruir aquele galpão.

Mais uma vez, Adam assentiu. Senti uma onda renovada de raiva do meu pai biológico. Ele aparecia de repente, salvava minha vida e se achava no direito de ficar calado e dizer o mínimo possível? Que tipo de babaca pretensioso era ele? Com qual grau de arrogância, ignorância e falsidade eu estava lidando?

– Não quero ter que obrigar você a me contar o que está pensando, Jason – disse Adam, sem tirar os olhos da estrada. – Sabe que eu poderia muito bem fazer isso.

Dessa vez ele passou à Avenida principal de Gravity. Como ele sabia onde ficava minha casa, eu não fazia ideia, mas ele seguiu o caminho que eu percorria desde que me entendia por gente. Depois de uma longa e desconfortável pausa silenciosa eu suspirei e fuzilei a rua.

– Por que apareceu justo agora?

– Você precisava de ajuda – foi o que ele respondeu. Apenas isso, nenhum explicação diferente.

– Eu precisei de ajuda em muitas ocasiões, por que justamente nessa?

– Eu estava observando você já faz um tempo, Jason – explicou ele, por fim. – Você tem amigos interessantes. Híbridos e imortais. É curioso que Corins tenha arquitetado um plano tão engenhoso a ponto de fazer a própria filha se apaixonar pela duplicata e ainda obrigar um híbrido a fingir ser seu amigo. Uma barganha perigosa para seu amigo, mas muito inteligente.

– Corins sequestrou a irmã dele quando eram pequenos – resmunguei, não gostando nem um pouco na forma como ele insinuava que Christopher estava fadado ao fracasso. – Ele está do meu lado.

– Claro que está. – O olhar debochado de Adam não morreu quando ele parou em frente à minha casa, mas seu sorriso desapareceu ao ver minha mãe segurando um cutelo na varanda. – Ellie sempre encantadora.

Grunhi e abri a porta do carro, indo na direção de minha mãe. A expressão dela ficou angustiada ao ver meu estado, mas isso só durou uma fração de segundo antes dela olhar para Corbridge atrás de mim. Seu semblante endureceu e ela pareceu alguns anos mais velha do que realmente era. Os nós de seus dedos, que envolviam o cabo do cutelo, estavam brancos. Minha mãe podia saber pouca coisa sobre o mundo dos imortais e sobre a própria espécie, mas eu se Adam fosse inteligente não a subestimaria.

– O que ele está fazendo aqui? – rosnou ela, sem desviar os olhos do meu pai biológico. – Entre, Jason. Vou colocar o cachorro para fora.

– Amável de sua parte, Aella – contra-argumentou Adam, colocando as mãos nas costas ocasionalmente. – Mas acho que Jason precisa de mais cuidados do que você pode oferecer.

– Sou completamente capaz de tomar conta do meu filho, Adam! – exclamou ela, exaltada. – Diga-me o que diabos está fazendo na minha casa!

– Mamãe, ele me salvou. – Seus olhos se fixaram em mim e por um momento a fachada de durona ruiu com sua preocupação. – Eu vou ficar bem, tá?

– O que aconteceu com você, querido? – perguntou ela, cobrindo a distância entre nós e deixando o cutelo cair no caminho. Ela segurou meus pulsos com cuidado e analisou os cortes. – Você foi torturado? Vou ligar para o Steve e...

– A polícia mundana não vai resolver o problema, Aella. – Adam se aproximou mais e mamãe ficou tensa. – Você negligenciou o conhecimento que eu lhe ofereci anos atrás. Preferiu se esconder do nosso mundo e não vejo motivo para participar dele agora.

– Não tenho o menor interesse em participar do seu mundo, Adam – garantiu mamãe, fuzilando-o com um olhar glacial. – Mas não vou permitir que envolva o meu filho nisso tudo, ele é só uma criança!

– Jason é nosso filho, Aella. Não se esqueça disso.

– Você nunca se importou com ele! Agora suma daqui antes que eu... – minha mãe caçou o cutelo com os olhos, mas eu segurei sua mão para impedi-la de fazer alguma bobagem .

– Ele já está atolado até o pescoço nisso, Aella. Jason namora uma imortal e está sob a mira de Corins Whelpton desde que o período letivo começou. Ele corre mais perigo do qualquer mestiço jamais correu. Ele é uma doppelgänger da primeira geração, herdeiro direto de Ladon. O rosto dele é o mesmo do imortal mais poderoso que já existiu. – Essas palavras saíram forçadas pelos lábios de Adam, como se ele discordasse delas. – Para ser mais direto, cada criatura sobrenatural que habita esse mundinho em que vivemos irá caçá-lo para eliminar a raça inimiga. John Werthcarf e Corins Whelpton sabem da existência dele e ambos vão usar todas suas artimanhas para conseguir sacrificá-lo daqui a quatro meses.

Minha mãe parecia atônita. Até mesmo eu, que já sabia de tudo aquilo, fiquei um pouco tonto com a maneira como Adam proferira aquelas palavras.

– Corins Whelpton é meu cliente... Eu nunca...

– Nunca percebeu? – desdenhou Adam. – Claro que não. Desligou-se de suas raízes desde que nasceu. Preferiu permanecer no escuro ao invés de aprender sobre o mundo ao qual pertence. Agora, nosso filho corre perigo e você nem é capaz de prote...

Nunca pensei em minha mãe como uma pessoa violenta. Ela era a pessoa mais amável que eu já vira, mas seus olhos estavam marejados quando ela perdeu as estribeiras e afundou a mão no rosto de Adam, interrompendo-o. Meu pai cambaleou para trás, estarrecido, e seus olhos azuis ficaram inteiramente negros.

– Eu vou fazer de tudo para protegê-lo, Adam Corbridge – garantiu mamãe. Puxando-me junto a ela para dentro de casa. Antes de me obrigar a entrar ela olhou por cima do ombro, olhando para a figura estática e mordaz de meu pai. – E saia logo do meu jardim, está pisando nas minhas flores.

Meus ferimentos, milagrosamente, começaram a cicatrizar com o dobro da velocidade normal. Minha mãe soltava alguns palavrões ocasionais e fatiava o pão com mais força do que o necessário, mas seu olhar magoado e ferido estragava sua atuação. Ela estava ferida pelos comentários de Adam. Em parte por que ela acreditava que eles eram verdade. Eu havia tomado banho e meus hematomas já haviam desaparecido. Alguns cortes cicatrizaram e as marcas nos meus punhos pareciam linhas rosadas e com um aspecto bem melhor que as marcas horrorosas e sangrentas que apresentavam quando Adam havia me resgatado.

Doppelgänger – resmungou mamãe, afundando a faca nos legumes que cortava para o jantar. – Quanta besteira sem sentido.

– Sabe que eu posso me ofender por ser chamado de besteira, certo? – perguntei, tentando amenizar o clima pesado.

Mamãe deslizou os legumes mutilados para a panela que ardia sobre as chamas azuis do fogão. Ela limpou as mãos no avental e se virou para mim.

– Não acredite em nada do que ele disser Jason. Ninguém vai encostar em você enquanto estiver aqui, pode ter certeza disso!

Suspirei e beberiquei um pouco do meu chocolate quente antes de contradizer minha mãe. Queimei a ponta da língua.

– Acontece, mãe, que não é a primeira vez.

Ela me olhou, confusa, e eu despejei tudo sobre ela. Desde o encontro com os híbridos até as visões com Atticus e o encontro com John. Senti-me terrível por não ter contado tudo antes, mas não tão terrível quando me senti quando minha mãe falou.

– Você deveria ter confiado em mim, Jason – ela soava tão magoada que eu desejei poder voltar no tempo. – Mas o que está feito está feito. Vamos dar um jeito nisso, ok?

Ouvi o barulho da viatura parar em frente à casa e puxei as mangas da camiseta para esconder as cicatrizes. Mamãe e eu havíamos combinado de que era melhor para a sanidade do meu pai e de Charlie que eles não soubessem nada. Os dois entraram em casa rindo como se não sentissem o clima pesado até meu pai ver minha mãe. Se havia como a bruma negra que pairava sobre nossas cabeças ficar ainda mais densa, ela conseguiu.

Jantamos em silêncio e subi para o meu quarto antes da sobremesa.

Encolhi-me sob as cobertas e esperei que o sono viesse, mas ele se recusava a cooperar comigo. Ouvi o piso ranger e me rolei na cama, assustado. Meus dedos encontraram o abajur a o quarto foi banhado com uma luz amarelada. Uma tempestade de cabelos ruivos estava parada em pé no meu quarto, com uma expressão preocupada estampada nos olhos. Sua jaqueta de couro caia perfeitamente no corpo curvilíneo sobre o vestido com estampa florida.

– Graças a Deus você está bem! – Rachel pegou o telefone e digitou uma mensagem rápida. – Christopher e eu estamos loucos atrás de você. Eu apareci aqui depois que você não foi na aula, mas não quis preocupar a sua mãe. Onde é que você estava?

– Ah, eu não estou nada bem – contei a ela o que havia acontecido, descrevendo cada detalhe turvo que minha mente enevoada conseguira captar. Rach ficou chocada quando contei como meu pai havia aparecido e me salvado e sua expressão se tornou solidária quando contei sobre a briga entre ele e minha mãe.

– Sua mãe disse isso mesmo? “Saia do meu jardim, está estragando minhas flores”. Uau!

– É, uau.

O sorrisinho dela morreu e ela se sentou na beirada da minha cama. Seus dedos acariciaram as cicatrizes nos meus punhos.

– Você acha que Christopher sabe sobre o pai dele? – perguntou Rachel.

Dei de ombros, sem saber bem no que acreditar.

– Acho melhor não contarmos que o pai dele é um tremendo idiota – e eu não pude deixar de perceber a ironia da situação. Nenhum de nós três podia acusar o pai do outro de ser um idiota. Parece que paternidade era um assunto delicado no mundo sobrenatural.

Rachel e eu passamos o resto da noite abraçados, comentando sobre como sobreviveríamos caso os híbridos pusessem a mão em mim primeiro. Lembrei-a de que nem todos os imortais eram bonzinhos e me deixariam vivo e foi a vez dela de me lembrar que Corins prometera me proteger. Decidi que não era a melhor hora para dizer a ela que o cara também era um grande idiota. Por fim o sono começou a me engolfar e eu me alarmei, preocupado com a possibilidade de encontrar Ladon novamente em meus sonhos.

– Posso dar um jeito nisso se quiser – Rachel se ofereceu depois que expus minha preocupação a ela. Seus dedos tocaram minha testa com uma suavidade vítrea. O lugar onde ela tocou começou a formigar e meu corpo respondeu ao seu toque. Minhas preocupações se esvaíram como fumaça, desaparecendo sem deixar vestígios. Eu não me lembrava mais de nada que pudesse colocar fim a minha noite tranquila e acabei dormindo com Rachel se alimentando de tudo o que me preocupava.


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