Immortals - Eternal escrita por V i n e


Capítulo 11
Capítulo X - Blood


Notas iniciais do capítulo

Capítulo pequeno, mas algumas respostas aparecem nele e espero que isso seja o bastante para saciar alguns de vocês. Por enquanto.



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Chegamos à cidade no dia seguinte. Estamos os quatro esgotados e muito abalados com a morte de Blair. Ayumi havia se mantido calada por treze horas de viagem, olhando para a janela como se Blair pudesse simplesmente surgir do nada e dizer que tudo não passara de uma piada de mal gosto. Até mesmo nos revezamos ao volante para que todos pudessem ficar descansados para quando fossemos interrogar Corins. Rachel tinha várias perguntas sobre a ligação de Blair e o pai, mas manteve-se calada por educação e para não incomodar Ayumi.

Assim que Christopher passou chegou ao centro de Gravity Rachel nos guiou até sua casa. Meu amigo dirigiu nervosamente o caminho que eu já havia percorrido uma vez e Rachel se virou para mim.

– Você pediu para que eu não contasse ao papai sobre o quanto você sabia sobre nós – ela disse. Senti os olhos de Ayumi pairando sobre nós dois. – Se você continuar querendo que ele fique no escuro... bem, não pode passar do portão.

– É a identidade do meu pai – suspirei, olhando para a casa enorme e sombria que se aproximava cada vez mais. – Chega de me esconder.

Um sorriso se formou nos lábios dela e ouvi Christopher prender a respiração e soltar o ar vagarosamente. Ele massageou as têmporas e estacionou o carro em frente ao portão de ferro retorcido.

– Não posso entrar – resmungou ele, virando-se para me encarar. – Nem quero. Desculpe.

Balancei a cabeça e forcei um sorriso encorajador. Eu não queria enfrentar Corins sozinho, até porque Rachel acreditava que o pai tinha boas intenções. Mas se Ayumi acreditava que ele podia ter informações do meu pai... eu não podia simplesmente abandonar o barco.

– Eu entendo, cara.

Meu amigo abriu a porta e ignorou os protestos de Rachel. Ele correu com a velocidade de um atleta olímpico até as árvores e desapareceu sem deixar vestígios de sua presença.

– O que foi que aconteceu aqui? – Rach indagou, olhando feio para o lugar onde ele tinha desaparecido.

Ayumi riu, mas soou tão distante e sem humor que quase pensei que ela tivesse se engasgando.

– Ele é mais inteligente que nós.

Rachel olhou para a asiática, arqueando uma sobrancelha ruiva.

– O que quer dizer com isso? – murmurou, irritadiça.

– Quero dizer que nenhum híbrido deveria se meter com Corins Whelpton – desdenhou Ayumi. – Nenhum imortal o contraria por algum motivo, não acha? Prefiro me atirar aos lobos a confiar nele.

– Então por que você está aqui?

Ayumi deu de ombros.

– Não tenho nada a perder.

Rachel não falou mais nada. Apenas saiu do carro e nós dois fizemos o mesmo. Ela empurrou os portões e atravessamos um jardim morto, repleto de folhas mortas em diferentes estágios de decomposição. Um calafrio desagradável se instalou na minha espinha. Havia também algumas arvores retorcidas se espalhando pelo jardim, lançando sombras escuras e oscilantes. Uma fonte de água quebrada se encontrava em uma área plana e abandonada também. O musgo havia se incrustado no mármore como uma segunda pele. O clima em todo o Maine estava normal, com o sol deixando tudo mais vivo. Mas a casa de Rachel estava sob uma massa cinzenta e sinistra de nuvens de tempestade.

– Quem demitiu o jardineiro? – Ayumi perguntou, arqueando uma sobrancelha.

Rachel riu baixinho, passou a mão pelo vestido e se virou para nós, erguendo os braços como se estivesse nos apresentando a construção.

– Bem vindos à mansão Whelpton – seu sorriso era tão irônico que Ayumi riu.

– Esse lugar parece uma mansão assombrada, ruiva. Como consegue morar aí sem entrar em uma depressão profunda?

– Ela sabe que no final do dia vai me encontrar e no fim tudo fica bem – comentei quando chegamos à varanda. A madeira rangia sob nossos pés. Rachel puxou as chaves e as colocou na fechadura. A porta estalou ainda mais alto do que o normal e senti o calafrio se intensificar.

Entramos em um corredor estreito. Havia um carpete espesso cobrindo o chão de madeira e o ar pesava como se estivéssemos respirando puro mofo. Rachel pendurou seu casaco atrás da porta e nos conduziu até o segundo andar, passando por quadros velhos e tapeçarias antigas. A madeira rangia como se fosse um alarme anunciando nossa chegada. Ayumi não estava mais confortável do que eu, mas vi que Rachel parecia feliz por estar em casa.

– Pai?

Ayumi olhou para os lados e apertou mais o cabo do canivete (que eu não a vi puxar do bolso).

– Vejam só o que temos aqui – disse uma voz feminina e extremamente atraente no fim do corredor. Auree estava linda como sempre e eu quase me esqueci que ela havia traído minha confiança e contado tudo o que e o havia confiado a ela para Corins. – Bonjour, Jason.

Não respondi, temendo que o charme imortal dela ou o poder de persuasão sobre o qual Rachel me alertou pudesse me afetar.

– Hm, mau humor – ela crispou os lábios e seus olhos pousaram em Ayumi, tornando sua expressão gélida e arrogante. – Tio Corins sabe que trás mestiços para casa, Rachel?

Ela se tornou um borrão de velocidade e tentou agarrar a asiática pelo pescoço. Ayumi se jogou para o lado bem a tempo e desferiu uma cotovelada em Auree. A imortal segurou o braço da híbrida e o torceu para trás, mas foi surpreendida por um chute que a fez cambalear para o lado.

– Sua vadiazinha!

Dessa vez a velocidade sobrenatural de Auree levou vantagem e ela envolveu a garganta de Ayumi com as mãos. A asiática arfou e foi erguida do chão pelo pescoço. Auree girou o corpo e esticou o braço, deixando Ayumi pendurada sobre a escada... Se a loira a soltasse a híbrida iria cair para a morte.

– Deixe-a em paz! – Rachel avançou um passo, mas manteve-se parada, com medo de se aproximar. – Não a solte!

Ayumi resfolegou, tentando inspirar o ar com afinco. Auree olhou para trás e seus olhos tinham mudado. As íris se tornaram negras e não consegui diferenciar a pupila da íris.

– O que há com ela? – perguntei, lembrando-me de como os olhos de Ladon ficavam inteiramente negros. Ayumi engasgou, sua pele começou a ressecar e os cabelos foram perdendo o brilho. Marcas de expressão e rugas vincaram seu rosto. Auree estava se alimentando dela sem pedir permissão. Ela estava drenando a energia vital de Ayumi e estava a matando na minha frente.

– Auree! – Rachel estendeu a mão para agarrar a prima, mas deteve-se novamente.

– Basta, Auree – uma voz autoritária ressoou pelo corredor. A loira soltou Ayumi na mesma hora e seus olhos voltaram à tonalidade natural. Hibrida ou não, Ayumi se agarrou no corrimão para não rolar escada a baixo e se encolheu nos degraus, respirando com dificuldade. Auree passou a língua pelos lábios, como se limpasse os vestígios de um bom vinho.

– Desculpe, titio. Eu estava com fome.

Corins surgiu no corredor trajando sua calça sócia e camiseta de botões coberta por um blazer. Seus olhos castanhos estavam fixos em mim, mas desviaram-se para Ayumi e Auree com uma suavidade e lentidão irritantes.

– É falta de educação se alimentar de nossos convidados – ele falou com tamanha naturalidade que não me surpreendi por ele deduzir que eu já sabia de tudo. – Ainda mais na presença de alguém tão importante como o candidato a namorado de sua prima. É um prazer vê-lo novamente, Jason.

Engoli em seco e balbuciei um “olá” nervoso. Eu não confiava em Corins e não gostava nem um pouco da forma casual com a qual ele me tratava.

– Você deve ser a irmã adotiva de Blair – especulou o homem olhando diretamente para Ayumi que voltava a aparência normal. – Perdoe o comportamento... agressivo de minha sobrinha. Ela não é tão tolerante com outras espécies.

E você é?, pensei, mas mantive-me calado.

Auree jogou os cabelos loiros para trás e voltou para o seu quarto. Rachel se encolheu um pouco quando o pai passou por ela.

– Creio eu que temos muito que conversar – ele passou o indicador por uma tapeçaria e voltou-se para mim. - Acho que tem muitas perguntas para mim, Jason. Ficarei feliz em responder todas elas.

O escritório de Corins era um lugar aconchegante e ao mesmo tempo assustador. Havia várias estantes atravancadas com livros velhos e empoeiradas. Ele nos indicou algumas poltronas e Rachel se sentou sem pestanejar, ela se esparramou na poltrona e inspirou o ar mofado do escritório. Ayumi e eu não nos sentimos tão à vontade assim, mas nos sentamos de qualquer forma.

– Sem muitas ladainhas – murmurou Corins, sentando-se atrás de uma imensa escrivaninha de carvalho negro. – Quanto você sabe sobre nós, Jason?

– Sei de tudo – agradeci mentalmente por minha voz não vacilar quando respondi. Os olhos de Corins brilharam, maliciosos.

– É impossível saber tudo sobre nossa espécie, meu jovem. Há muito mais oculto pelas entrelinhas do passado, pode acreditar. Mas creio que minha filha já o tenha colocado a par da história que remonta os séculos de rivalidade entre ambas as raças sobre-humanas que habitam seu precioso mundinho.

– A forma como os híbridos queriam se vingar dos imortais pelo modo que foram tratados? Sim, ela me contou.

Corins assentiu e bebericou um gole de uísque enquanto passava os olhos por nós três.

– De fato, essa é a história que contei a ela e é também a que deixarei que você se baseie – comentou e logo depois de mais um gole Corins acrescentou: - Por enquanto.

– Como assim, papai? Existe outra história por trás dessa briga? – Rachel se curvou para frente e eu previ uma futura dor de cabeça.

– Sim, querida. Essa cidade, Gravity, na verdade é o berço da rixa que nasceu entre ambas as espécies. Em uma versão da história os imortais não deram aos seus filhos com humanos o amor adequado e a prole mestiça decidiu retalhar com violência e guerra. Há quem diga que Gravity foi criada para lembrar aos híbridos mortos que o poder de uma raça inteiramente pura era o que mantinha o Império Eterno unido e poderoso. Essa versão, particularmente, faz com que os mestiços saiam como vítimas nessa guerra colossal.

– Mas eles foram as vítimas – sibilou Ayumi apertando os estofado de sua poltrona até suas unhas rasgarem o couro com a frustração. Ela já estava visivelmente melhor graças a seu poder de cura acelerado. – Os servos de Ladon abusavam dos mortais e não cuidavam dos próprios filhos. Muitos foram mortos pelos próprios pais. Aldeãos tiveram que esconder os recém-nascidos para que não fossem massacrados pela fúria do feiticeiro de se deus lacaios. Em 1864 a guerra se generalizou pelo Maine e veio em direção a essa terra de ninguém. Os imortais, quando venceram a guerra, deram o nome do general híbrido assassinado em combate para essa cidade. Não foi uma homenagem como alegaram e sim um lembrete do poder que exerciam sobre nós.

– Isso é crueldade – murmurei voltando o olhar até Corins. O sorriso cordial em seus lábios não refletia no olhar cruel e mortal.

– Grevitus Archent, o general do septuagésimo escalão da Confraria da Serpente. Os híbridos adotaram a serpente de cem cabeças como símbolo para sua causa, mesmo sabendo que o símbolo era a marca do feiticeiro imortal Ladon. Lembro-me de ter arrancado o coração do tão precioso general quando ele tentou matar um bebê mortal, alegando que ele era um dos nossos.

Ayumi ficou boquiaberta. Sua raiva emanava como ondas eletrizadas em todas as direções, arrepiando os pelos do meu braço.

– Você o matou...

– Sim, livrei-me de alguém que queria fazer mal à um inocente, mas é claro que a culpa sempre irá cair sobre nós, imortais. – Ele se serviu com mais uma dose de uísque. – A outra versão da história é um pouco mais pesada do que a anterior e vocês deverão escolher na qual acreditar.

Ayumi trincou os dentes e afundou na poltrona ainda irradiando ódio e agressividade.

– Em 1864 o general Grevitus Archent descobriu uma forma de criar armas capazes de matar um imortal. Uma lâmina amaldiçoada e banhada no sangue de uma doppelgänger. Creio que já tenha visto uma delas em ação, correto? Ele possuía em seu exército um Eleito e, partindo do principio que vocês sabem tudo sobre as duplicatas e sobre a Lua Vermelha, ele pretendia sacrificar o garoto quando ele completasse dezessete anos a data exata da Lua Vermelha.

– O que é essa coisa de Lua Vermelha? – perguntei.

– É um fenômeno astral que ocorre a cada cento e dezessete anos quando um Electus nasce. A Lua Vermelha é no mesmo dia do seu aniversário e quando a lâmina maldita ceifar sua carne quem o fizer terá o poder de colocar o fim em uma das duas raças que alteram o equilíbrio natural do universo.

– Então eu não posso ser morto antes do meu aniversário de dezessete anos – conclui quase que aliviado.

– Pode, sim. – Corrigiu Corins repousando o copo de uísque sobre a escrivaninha. – Sua morte causaria um tremendo abalo que poderia acarretar coisas desastrosas para quem teve a intenção de te matar, seja ele sobrenatural ou não. Mas se você for morto no dia do seu aniversário uma guerra chegará ao fim e sem ela a raça que sobreviveu ao apocalipse terá pelo controle do mundo, sem obstáculos maiores do que a mera ignorância humana.

– Então terão que me manter vivo por que querem dominar o mundo – sussurrei, segurando a ânsia de vômito. – Só não entendo o porquê de você se importar tanto com a minha segurança a ponto de colocar Rachel e Christopher atrás de mim.

– Christopher fará o que eu disser pelos motivos do qual você tem plena consciência e minha filha é uma garantia que tenho sobre sua vida. Você é precioso demais para ser deixado a solta, Jason O’Connor.

– Por quê? Por que meu sangue é a única forma de amaldiçoar lâminas que podem matar imortais? Ou é porque você mesmo quer me sacrificar e colocar fim a vida não só de Christopher como também a da minha mãe e a de Ayumi?

Rachel me encarou horrorizada. Senti-me péssimo por dizer as verdades na frente dela, mas Corins tinha o dom da palavra e sua persuasão natural havia afetado a cabeça dela. Eu não podia deixá-lo continuar manipulando tudo e todos ao nosso redor.

– Por que a única forma de se criar novos imortais é usando o seu sangue – disse ele, sem esconder o sorrisinho nos lábios. – O mortal que beber seu sangue, assim como o de Ladon e as outras centenas de sósias, terá os dons da imortalidade. Você não é apenas o trunfo de uma guerra, Jason. É também a única forma de impedir a extinção da minha espécie. O seu sangue pode ser venenoso para os imortais, matando-os assim que tocar-lhe os lábios. Mas pode transformar híbridos e humanos em criaturas tão poderosas quanto eu.

Aquilo me atingiu com tanta força que senti minha cabeça girando violentamente até parar com a mesma velocidade. Aquela maldita dor de cabeça voltou com força total e eu não pude fazer nada para impedi-la. A voz de Corins estava distante e sepulcral. Imortais e híbridos não viriam a mim só porque queriam por um fim na raça inimiga, viriam também por que meu sangue poderia dar poderes inimagináveis a eles.

– Então, Jason? – indagou o homem. Sua expressão era tão vitoriosa que o ar escapou de meus pulmões. – Lutará sozinho nessa guerra ou permitirá que eu o ajude a sobreviver?


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