Quebrados escrita por Shizaya


Capítulo 1
Capítulo Único - Quebrados


Notas iniciais do capítulo

Olá! Rafs falando. Como vão vocês?

Essa oneshot já estava pronta há algum tempo, mas entrei em férias e fiquei com preguiça de revisar e postar, hehe (/apanha). Mas aqui está.

Ela explora mais o lado triste desse casal (Shizaya) e a complexidade dos personagens, que muitas vezes é deixada de lado em histórias mais românticas e fofas (muitas vezes levando à OOC).

Shizaya é um casal beeeeeeem complicado. Mas essa é uma das razões pelas quais me apaixono por eles cada vez mais todos os dias.

Boa leitura!



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Izaya Orihara, o famoso informante de Shinjuku, bateu o punho na escrivaninha de mogno de seu escritório-apartamento, com sinais de irritação aparente.

– Shizu-chan, você não entende!

Era raro ver o informante demonstrar tanta raiva - ou seria aquilo angústia? Todos sabiam que uma das marcas registradas de Izaya era seu humor calmo e descontraído, que ele controlava quase que perfeitamente, impedindo que qualquer sinal de desequilíbrio pudesse ser notado por seus clientes em seu dia-a-dia turbulento.

Izaya era um homem cheio de máscaras - ao menos essa era a percepção que a maioria das pessoas tinham sobre ele. Porém, tal percepção não se aplicava a Shizuo Heiwajima, seu atual 'amante' e a única pessoa que era capaz de enxergá-lo por dentro. E, também, a pessoa com quem ele estava discutindo há quase uma hora.

A discussão dos dois tinha começado com uma conversa banal: estavam apenas conversando sobre qual seria a reação das pessoas se os vissem juntos na rua. Esse tópico, de alguma maneira, havia evoluído, chegando a um ponto em que começaram a discutir sobre o tipo de relação que mantinham.

Shizuo deixava óbvio que queria algo sério e já havia declarado seu amor pelo informante mais de uma vez, mas este tentava fugir daquele tipo de conversa de qualquer maneira.

Não é que Izaya não nutrisse nenhum tipo de sentimento pelo ex-barman - ele, na verdade, correspondia àqueles sentimentos, talvez até com mais intensidade. Mas declará-los, torná-los óbvios, render-se a Shizuo era algo que Izaya não queria ter que fazer. Nunca. Por mais que fosse para seu próprio bem.

'Render-se' soava como uma derrota; Izaya jamais aceitaria perder. Jamais aceitaria abrir mão do controle que exercia. Ou, ao menos, era isso que ele pensava.

– Você não entende - repetiu, deslizando uma mão pelo rosto, com a expressão cansada de quem tenta ensinar à uma criança que dois mais dois é igual a quatro, mas a mesma insiste em dizer que é igual a cinco.

– É você quem não entende, Izaya-kun. Você tem medo de entender, na verdade. - Respondeu o loiro, tirando um cigarro do bolso juntamente com o isqueiro para acendê-lo.

– Ahhh~, então agora você acha que conhece tudo sobre mim, Shizu-chan? - O moreno provocou, com um sorriso irônico, amargo, estampado em seu rosto. - Então a gente dorme junto algumas vezes e você já começa a se achar o meu psicólogo? Que bom saber que você pode fazer uma avaliação do meu comportamento assim de graça. Talvez eu te chame aqui quando estiver estressado pra você ser meu terapeuta, nee. Se bem que eu acho que é você quem mais precisa de um...

– Será que você pode parar de desviar o assunto? - O loiro cerrou os dentes. - E, aliás, nós não dormimos juntos algumas vezes. A gente já faz isso há mais de um ano.

– Ah, Shizu-chan, que lindo! A gente já pode se casar.

– SERÁ QUE DÁ PRA PARAR DE TRATAR TUDO ISSO COMO SE FOSSE UMA PIADA, PULGA?

A respiração de Shizuo ficou irregular e ele levantou uma cadeira, como se planejasse atirá-la na direção do informante. Izaya apenas continuou a organizar alguns papéis sobre sua mesa como se nada estivesse acontecendo.

– Já chega, pulg- digo, Izaya. Eu realmente gosto de você-

– Não - Izaya interrompeu, olhando-o nos olhos, sério e frio. - Não use essa palavra.

– 'Gosto'? O que tem de errado nisso? Por que você tem que tratar isso como se fosse a coisa mais complicada e surreal do mundo? O que você acha de 'amo', então?

– Shizu-chan - o informante bateu mais uma vez o punho na mesa, afastando os papéis com os quais trabalhava, tentando manter o controle completo da situação, além dos próprios sentimentos. - Acho que já tá na hora de você ir embora, nee?

Ao invés disso, Shizuo abaixou a cadeira que segurava no alto e sentou-se sobre ela, acendendo outro cigarro pacientemente e dando sinais de que não sairia dali tão cedo.

– Eu não vou sair daqui até você me dizer o que sente por mim.

Izaya riu alto, uma risada falsa e seca.

– Eu odeio você, achei que isso já estivesse bem claro.

– Já faz algum tempo que eu sei que isso não é verdade.

Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Sempre imprevisível. As palavras repetiam-se na cabeça de Izaya, que já estava doendo por causa daquela conversa. Se ele pudesse simplesmente se teletransportar dali, estaria nesse momento comendo ootoro no Russia Sushi ao invés de discutir aquele tipo de coisa com o homem mais forte de Ikebukuro.

– Isso não faz sentido, Shizu-chan. A gente não faz sentido. Eu odeio a maneira com que você age como se... Como se fosse possível! Ha, ha! Como se fosse real! Você me faz ter aquelas ideias nojentas de que até eu, que sou o diabo encarnado nessa cidade, vou encontrar alguém que me... Alguém que me...

– Ame - completou Shizuo. - Você age como se tivesse alergia a essa palavra.

Izaya ignorou o comentário desnecessário. Já estava explodindo.

– Você não me ama, Shizu-chan. Você ama me foder. É diferente, será que você não consegue processar essa informação? Ok, eu até entendo que eu seja mais atraente do que a maioria das pessoas - ele aproveitou a oportunidade para usar seu humor frio e sarcástico - e duvido que alguém mais queira fazer com você já que todos morrem de medo da sua força sobre-humana, mas sexo, o que a gente fez até agora, não significa nada pra mim.

Falar aquilo doeu mais do que ele esperava. Um lado de sua cabeça queria dizer 'é mentira, é mentira, estou dizendo isso para te afastar', mas o outro contra-argumentava 'é para o bem dele, é melhor para ele'.

Então Izaya começou a se perguntar quando foi que começou a se importar com o bem estar de outra pessoa além do seu próprio.

Agora o estrago já tinha começado a ser feito e tinha que ser terminado.

– Então, - continuou - pare de ser gentil comigo porque me dá vontade de vomitar.

Mesmo sentindo naquele instante a real vontade de vomitar por causa de suas próprias palavras, que faziam sua garganta arder como se fosse ácido - e isso era exatamente o que eram -, Izaya conseguiu fazer uso de seu típico sorriso cruel.

Seu peito ardia, queimava. Não queria ter dito aquilo mas, de certa forma, achou que precisava. É melhor assim, é melhor assim...

Se ao menos eles fossem diferentes. Se ao menos ele fosse uma pessoa diferente. Se ao menos pudessem apagar o passado...

– Você sempre diz que eu sou diferente dos 'seus humanos', o monstro - disse Shizuo, a voz firme e séria. - Mas, na prática, você dá a impressão de que pensa que eu sou exatamente como eles. Você acha que eu não consigo ver através das suas máscaras, Izaya?

O moreno ficou sem reação. Em seus olhos, lágrimas pediam para ser liberadas, mas ele as recusava. Chega. Chega. Pare. Vá embora. Me deixe sozinho para que eu possa lamber as minhas feridas em paz.

Eu preciso de você para que eu não destrua a mim mesmo.

Mas se você ficar comigo, eu vou te destruir.

Nós só vamos nos machucar.

Nós somos monstros, Shizu-chan. É o que somos. Mas eu sou muito pior do que você.

Quem é o verdadeiro Monstro de Ikebukuro, afinal?

Eu não posso te amar como você merece.

E eu não posso ser amado sem merecer.

Nós somos loucos, não somos?

Shizuo ficou em silêncio por alguns segundos e por fim andou até a porta, sem se virar sequer uma vez.

– Adeus, Izaya-kun.

O loiro abriu-a, saiu e a bateu com tanta força que parte dela se soltou do batente.

Izaya permaneceu congelado por alguns segundos, olhos vazios, lábios semi-abertos. Então, andou até a porta com o pensamento impulsivo de verificar se o outro ainda estava no corredor ou chamá-lo. Encostou a mão na maçaneta mas logo a recuou, voltando à realidade. Encostou-se em seguida na porta, e foi deslizando devagar até sentar-se no chão.

As lágrimas que ele tinha lutado para segurar provaram-se mais fortes do que ele e começaram a descer por seu rosto pálido, em filetes, por serem muitas.

Izaya tinha um rosto angelical para alguém que era considerado quase um demônio.

– Eu amo você... Eu odeio amar você... Dói... - Murmurou, levando uma das mãos ao peito que parecia estar pegando fogo, soluçando e abraçando os joelhos para se encolher.

De repente, alguém girou a maçaneta, empurrando a porta contra suas costas de leve.

Izaya levantou-se em um pulo, alarmado, e a porta se abriu, dessa vez soltando-se completamente do batente e caindo em frente à pessoa que a havia aberto.

Shizuo.

Izaya recuou, em um instinto de auto-proteção. Shizuo tinha ficado do lado de fora o tempo todo e provavelmente tinha ouvido as últimas coisas que ele tinha dito.

O loiro não disse nada, apenas se dirigiu com rapidez até o moreno e segurou seus braços, forçando-lhe um beijo brusco, dolorido e com gosto de lágrimas, em seguida abraçando-o com força, como se tivesse que protegê-lo.

– EU VOU DESTRUIR VOCÊ! - Izaya gritou, chorando, desesperado, lutando para se soltar.

O menor tirou seu canivete do bolso e o abriu, ameaçando enfiá-lo no bíceps de Shizuo. Porém, ao perceber que Shizuo não iria soltá-lo de jeito nenhum, largou o instrumento, que caiu no chão com um baque surdo.

Izaya finalmente se rendeu ao abraço e soluçou no pescoço do seu amado monstro de Ikebukuro. As roupas de Shizuo e ele mesmo tinham um cheiro forte de cigarro, que a princípio ele detestara mas, naquele momento, aquele cheiro lhe dava uma sensação de segurança que ele não encontraria em nenhum outro abraço.

– Se você ficar comigo, eu vou arruinar você, Shizuo... - O moreno murmurou, a voz embargada. - Você sabe disso, não sabe...

Shizuo acenou com a cabeça, em sinal de 'sim' e abraçou o outro ainda mais forte. Em seguida, sussurrou em seu ouvido:

– Eu prefiro ser destruído por você do que sem você.


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Notas finais do capítulo

~~fugindo das pedradas de leitoras enfurecidas~~

Não tenho muita confiança na minha escrita mas espero que vocês tenham gostado da oneshot, pelo menos um pouco. Por favor deixem comentários, são eles que alimentam os escritores, hehe!

A gente se vê numa próxima oneshot (de preferência mais feliz da próxima vez), bye bye!~