Ela não bateu na porta. Sequer se anunciou. Entretanto, Arthur não se importou. Afinal, não era como se ele batesse ou se anunciasse quando precisava falar com ela.

- Morgana – ele disse relaxando em sua cadeira. – A que devo a honra da visita?

A garota revirou os olhos.

- Corta o sarcasmo, por favor – Morgana disse séria. – Eu soube que você e seus amiguinhos idiotas andam implicando com o Cristóvão.

A boca de Arthur se abriu em um perfeito O.

-Isso seria impossível, querida Morgana – ele respondeu com o mesmo tom excessivamente pomposo e sarcástico que usara antes. – Não conheço nenhum Cristóvão.

Mais uma vez, Morgana revirou os olhos.

- O filho do senhor Celestino – ela esclareceu.

- Oh, - Arthur disse com falsa inocência. – O camponês cara de porco. Ele passou um bom tempo no chiqueiro?

Morgana grunhiu.

- Pare de implicar com ele! – Ela exclamou furiosa, aproximando-se da cadeira dele. – Arthur, só por que pensa que é mais poderoso do que os outros, não pode tratar o resto do mundo como merda! O que você ganha provocando e maltratando o garoto de qualquer maneira? O que aquele garoto te fez?

Arthur sentiu um pingo de raiva atravessar seu corpo – o mesmo pingo responsável por fazê-lo atacar moralmente e fisicamente o tal garoto por qual Morgana estava lutando.

Ele levantou-se e cruzou os braços, não se importando em se posicionar perigosamente perto de Morgana. Arthur nunca se importava ou evitava a proximidade.

- Não é da sua conta, Morgana – ele disse, olhando-a de cima.

Palavras erradas.

- Não é da minha conta? É claro que é da minha conta! – Morgana vociferou ultrajada. – Você sabe que eu não suporto presenciar injustiças, Arthur. Francamente, é difícil para eu ver que o próximo rei de Camelot será alguém tão mesquinho e mau caráter como você. Eu me sinto enojada!

Não era verdade, e Morgana sabia disso. Ela não queria dizer nem mesmo metade do que disse. Nunca duvidaria do caráter de Arthur. Ver a expressão machucada no rosto dele não tornava as coisas mais fáceis. Entretanto, o mal já estava feito e ela não iria voltar atrás. Morgana nunca voltava atrás.

A garota observou Arthur se distanciar, cada passo era um nó que se formava na garganta dela.

- Não vou mais incomodar seu precioso Cristóvão – ele disse derrotado, fingindo que inspecionava livros em uma estante. – Já pode ir, Morgana.

Ela queria dizer algo, precisava dizer. Porém, as palavras não se organizavam em sua mente. Por um segundo, Morgana pensou em assentir e sair correndo daquela sala, mas então seria ela quem ganharia o troféu má caráter.

- Arthur – ela tentou, mal reconhecendo sua própria voz.

- Vá embora, Morgana – ele respondeu com a voz fria. Não demorou muito para os passos dela ecoarem enquanto se afastavam.

O que mais o machucara, não foram as duras palavras de Morgana. A razão pela qual Arthur afrontara o tal Cristóvão foi porque o camponês fizera um comentário sobre a beleza da protegida do rei, algo que Arthur definitivamente não podia aturar. Somente ele poderia notar Morgana.

Ainda assim, a própria Morgana viera tirar satisfações com ele. O quão contraditório e irônico isso poderia soar?

Todavia, Arthur sabia que ela não fizera o que fez por maldade. Pelo contrário, Morgana era portadora de uma bondade que nem mesmo ela conseguia controlar. Ela era como uma faísca, que um dia seria responsável por um incêndio.

Arthur gostava desse pensamento.