A jovem olhava para a janela tentando não mostrar a curiosidade que havia tomado conta de si quando chegaram à velha cidade de Londres. Ela costumava conhecer o lugar como a palma da sua mão, mas, aparentemente, o tempo que passara com a sua avó na Bulgária havia mudado mais que o pensamento da menina, mas também as ruas da sua cidade.

Como tudo estava diferente! Aquela chapelaria estava lá quando ela viajara? E aquela mercearia não era a antiga doceria da cidade? E, pelos céus, como as roupas estavam diferentes! Os chapéus mais extravagantes e os vestidos com tantos babados que a deixaram tonta!

Ela virou o rosto e respirou fundo. Tudo havia mudado, mas e sua família? Como estaria?

- Senhorita, sente-se bem?- Uma de suas criadas falou com um pesado sotaque búlgaro. A menina assentiu um pouco tonta. Estava assustada em retornar para casa, estava assustada em como estaria a sua família com tantas mudanças que via na sociedade até uma família tradicional como a sua podia ter se rendido a tanta modernidade.

Não demorou muito para que a carruagem chegasse à mansão da sua família. Não era muito antiga nem grande, visto que seu pai a havia construído com suas próprias mãos quando veio com a mulher e os filhos para a cidade, mas era respeitada. Sua família havia ganhado prestígio pela tradição e o trabalho duro com o comércio, mas, atualmente, seu pai estava bastante concentrado em títulos de nobreza.

E ela esperava não ter arruinado todas as chances dele.

Ela sentou-se ereta e esperou a porta da carruagem ser aberta enquanto seu coração batia como o de um passarinho recém-nascido, quase sem parar. Viu sua mãe aparecer na porta da mansão com uma expressão saudosa, mas severa.

A porta foi aberta.

Ela desceu e foi seguida pelas suas duas criadas búlgaras e um criado foi levando as suas malas, poucas, para dentro da casa. A jovem tomou em seu rosto uma expressão confiante e andou até a sua mãe fazendo uma leve reverencia.

-Mama. – Ela falou incerta da reação que obteria.

- Katerina. – Ela ouviu sua mãe falar. – Então, você finalmente voltou.

Katerina assentiu um tanto nervosa, só agora se dera conta do tanto que sentira falta da sua mama.

-Entre. – A mãe falou com um leve sorriso.

Katerina entrou e observou a mobília da família exatamente como estava quando ela deixou Londres, a lembrança do dia a trazia arrepios, e outro fato incomum.

- Onde está o papa? – Ela perguntou mostrando que a sua estadia na Bulgária trouxe um leve sotaque quando ela tentava falar em inglês novamente.

A mãe olhou para os lados com uma expressão triste. Estava muito feliz com o retorno de Katerina, mas todo o transtorno que a família havia sofrido desde a aquilo. Ela se culpava diariamente pelo infortúnio na vida da filha, sentindo que devia tê-la educado mais rigidamente e intolerando seus caprichos.

-Não receberam minha carta avisando minha chegada? – Katerina voltou a perguntar confusa, lembrava-se de ter mandado a carta. Ela observou a feição da mãe e, mesmo sabendo exatamente o que estava acontecendo, negava-se a acreditar que o pai ainda a considerava uma desgraça na família.

-Seu pai e seu irmão foram caçar com o Lorde Mikaelson, um homem de muito prestigio na sociedade. – Sua mãe falou desviando o olhar para uma sujeira invisível na mesa de madeira escura que ficava no meio da sala.

Estão me evitando. Katerina pensou, mas já imaginava que seria assim. As últimas palavras do pai para com ela chicoteavam em sua memória repetidamente há meses:

" Você desgraçou esta família,Katerina"

Ela se recompôs. Havia aprendido muito com a avó e sabia que devia honrar o seu sangue e não ter medo de qualquer consequência. Enfrente tudo com postura e elegância, ela recordou mentalmente o que a avó lhe disse na hora de sua partida.

- E Elena, onde se encontra? – Katerina falou sentando-se no sofá cor vinho e alisando seu vestido. Viu a mãe sorrir, devia ser uma pergunta fácil.

-Estou aqui, irmã. – Katerina ouviu a voz de Elena soar pelas suas costas e levantou-se virando para a escada em espiral para ver sua duplicata. Elena usava um vestido simples, para casa, e certa alegria em seus olhos.

-Elena! – Katerina falou enquanto abraçava a irmã. – Passou-se tanto tempo que esqueci como era olhar-me em ti, irmã!

Elena e Katerina eram irmãs gêmeas e a única diferença era o cabelo cacheado nesta e o liso naquela. Somente. Suas personalidades também diferenciavam de uma forma extraordinária, pois enquanto Elena era boa, misericordiosa e encantava a todos com sua lealdade, Katerina era caprichosa, determinada e um tanto mimada.

Tais personalidades costumavam a entrar constantemente em choque quando moravam juntas e o reencontro trazia uma dúvida quanto ao futuro do relacionamento das irmãs, que há tanto não se viam.

-Katherine, senti tanto sua falta! Os bailes são chatos sem você ! – Elena falou abrindo um sorriso alegre para a irmã que o retribuiu. – E senti sua falta, minha irmã.

Katherine ( ou Katerina, como era chamada pelos pais) abriu um sorriso ao lembrar-se dos bailes, como sonhava com eles enquanto estava com a avó.

- Como foi a estadia na casa de nossa avó? – Elena perguntou sentando-se com a irmã, mas antes que esta pudesse responder foi interrompida pela mãe.

-Elena, Katerina terá muito tempo para contar-nos sobre sua viagem! Ela está cansada e deve descansar antes da chegada do seu pai, ele quer conversar com Katerina no jantar.

Katherine sentiu o medo em seu coração, mas apenas assentiu com a cabeça e abriu um sorriso.

- como quiser, mama. – Ela falou enquanto se levantava e chamava Elena para subir com ela e ver os vestidos que a avó havia dado para Katerina e mandado para Elena.

Porém a mente de Katerina não conseguia se parar de pensar na conversa que seu papa queria ter com ela. Ela respirou fundo e tocou no cordão dado pela avó para ela e lembrou-se de outra frase da avó:

Você conseguirá superar tudo isto, Katerina, Você tem o fogo das Petrova.

Como ela desejava que a avó estivesse certa.