— Por que você fez isso?

Larissa observava a amiga, profundamente chateada. A outra só olhava a parede do quarto, sem falar nada. Seus cabelos negros longos escondiam parte de seu rosto, mas era óbvio que não estava arrependida.

Algumas horas atrás, Letícia tinha ido à casa de sua melhor amiga, como sempre fazia. Mas tinha encontrado algo a mais dessa vez. Uma pessoa que nunca tinha visto antes, só em fotos. A melhor amiga de Larissa no passado.

Letícia tinha ficado com ódio, afinal, quem era a melhor amiga da ruiva era ela, e não aquela vara-pau que nunca mais tinha aparecido na vida da outra. Por que justo agora? Ela não sabia mais como a Larissa estava, não sabia seus gostos, como Letícia sempre sabe. Afinal, ela estava sempre perto da amiga, e a seguia em qualquer lugar.

Eram melhores amigas, afinal.

Então, de uma hora para outra, aquela vadia volta e Larissa já não dá mais tanta atenção a morena. Claro que Letícia iria ficar com raiva! Então o que ela fez foi justificável, certo? Afinal, ela precisava arrumar um modo de tirar aquela intrusa dali, do mundo perfeito em que as duas viviam.

Então colocar laxante na comida daquela vadia estava certo, não?

Larissa não achava isso, e Letícia não entendia o porquê. Bem, talvez um pouco. A ruiva continuava a olhando chateada e a morena estava odiando isso. Mas era teimosa, então não falava nada. Por fim, a ruiva desistiu e saiu do quarto, deixando a outra só no quarto.

Nesse tempo, Letícia pegou uma roupa da amiga e cheirou.

Tudo o que fazia sempre era para o bem de Larissa, mas talvez... Realmente tenha passado dos limites. Talvez... Isso que sentia não era norma. Esse ciúmes... Sim, ciúmes. Por que é natural amigas sentirem ciúmes uma das outras, certo? Mas... Talvez o sentimento que a morena possuía estava além de qualquer ciúme.

Letícia sacudiu a cabeça. Talvez estivesse mesmo ficando louca.

Saiu do quarto, com a intenção de pedir desculpas. Larissa estava no sofá da sala, lendo um livro. A morena sentou ao lado da amiga e ficou lá, sem dizer nada. A ruiva não mexeu um músculo. Foram minutos de silêncio, até que...

O celular de Larissa tocou.

Ela atendeu, e logo abriu um sorriso. Letícia não gostou daquilo, e quase teve um ataque de ódio quando soube que era a vadia da antiga amiga dela. Na verdade, sem nem mesmo controlar suas próprias ações, ela teve mais um daqueles surtos e tomou o celular da amiga, jogando-o no chão.

Logo se arrependera na mesma hora.

Larissa ficou chocada e sem palavras. Letícia estava desesperada. Não sabia o que tinha dado nela, mas não adiantava mais. Já era tarde demais. Mesmo se pedisse desculpas, nunca iria consertar aquilo... Aquela coisa horrível que tinha feito com a garota que mais amava...

Então começou a chorar.

A ruiva ficou ali estupefata, afinal tudo o que aconteceu nas últimas 24 horas foi uma surpresa para ela. Larissa nunca imaginou que aquela garota meiga, brincalhona e gentil pudesse se comportar tão agressivamente daquela maneira... E por um motivo tão banal.

E agora, a ver chorando assim...

Larissa não aguentou. Não podia ver a garota que estava apaixonada, secretamente, daquele jeito. A abraçou, dizendo que estava tudo bem. Que não estava com raiva. Letícia a olhara com olhos inchados e vermelhos, como se dissesse “É mesmo?”. Aquilo fez a ruiva lhe dar um beijo na testa.

— Não sei o que te fez fazer aquilo, mas sei que foi um motivo muito grande. — Larissa disse, calmamente. Aquilo acalmou a morena um pouco, mas demorou para que ela parasse de chorar.

— Eu fui uma idiota. — Letícia ainda não conseguia encarar a amiga. — Me perdoa? Eu nunca mais faço isso!

Larissa sorriu. Era lógico que perdoava. Mas decidiu que aquela era a hora em que apostaria em todos os cavalos.

— Então prometa uma coisa para mim. — disse com uma voz provocante.

A morena levantou as sobrancelhas. Sabia que do nada a amiga ficava provocativa daquele jeito, mas não sabia o porquê. A única coisa que sabia era que adorava.

— O quê? — perguntou inocentemente. Larissa apenas riu.

— Seja apenas minha e só minha... — a ruiva disse, a beijando.

Logo após isso, Letícia acordou.

Olhou meio tonta o quarto escuro onde estava, e observou o ser que dormia ao seu lado. Ali estava Larissa, sua namorada. A morena sorriu. Tinha sonhado com o momento em que descobrira que amava aquela garota... E que era recíproco.

Imaginando ser a pessoa mais sortuda do mundo, beijou a bochecha de sua amada, logo voltando a dormir, desta vez abraçando Larissa.

Eram um casal estranho, meio obsessivas uma com a outra, mas que se amavam mais que tudo no mundo. Disso se pode ter certeza.