Eu estava andando de madrugada pelas ruas da cidade. Estava um frio suportável. Eram poucos os carros que passavam nas ruas, e não havia ninguém caminhando, além de mim. 

Me virei para ter certeza que não estava sendo seguida, e então percebi que estava sendo observada. O observador se escondeu atrás de uma arvore. Não consegui ver seu rosto. Continuei andando, e ele continuava me seguindo. 

Vi que uma confeitaria estava aberta, então entrei. Pelo menos lá ele não poderia fazer nada, caso fosse essas suas intenções. 

Poucas mesas estavam ocupadas. Numa das mesas perto da janela, tinha uma mulher que aparentava ter seus trinta anos. Ela estava lendo um livro.

Numa das mesas do canto, perto da porta, tinha alguns meninos.  

Pedi um cappuccino e fiquei no balcão. 

Pude ver o rosto do observador, parecia ser mais velho que eu. Ele se sentou na mesa com os garotos e começou a conversar animadamente com eles. Aproveitei a oportunidade para ir embora.

Achei que ele não iria me notar saindo, mas notou. Ele e os outros garotos estavam a me seguir. Apressei o passo. Não sabia se devia ir para casa, poderia piorar a situação.

Ele enfiou a faca em seu próprio coração. Seu corpo caiu no chão, ele estava morto. Suas roupas rapidamente ficaram manchadas de sangue. Me ajoelhei até ele.

Meiling: Nick! NICK! POR FAVOR DIGA QUE ESTÁ FINGINDO! NICK!

Eu estava chorando muito. 

Meiling: N-Nick...

Escutei o grito de Mi-cha, eu já havia esquecido dela. Fui correndo até a sala e me assustei com o que vi. Nicholas estava caído no chão, sangrando. Não estava morto, mas era fácil perceber que ele estava com muita dor. Mi-cha era refém de sua própria mãe. Myung Hee estava com grandes asas negras abertas, suas escleras estavam negras enquanto sua iris estava de cor prateada. Eu estava assustada. Ela segurava Mi-cha, colocando uma espada contra seu pescoço.

Ela atacava Nicholas, que gemia de dor a cada vez. 

Meiling: Você... PORQUE?

Eu ainda estava chorando.

Ela deu uma risada sarcástica.

Myung Hee: Pelo amor... você ainda não entendeu? Garota estupida. 

Ela me atacou, e eu fui lançada até o outro lado da sala.

Mi-cha: MEI!

Myung Hee: Calada.

Mi-cha estava apavorada.

Myung Hee: Uma abençoada, tão perto assim... Eu nunca perderia a oportunidade. Porém, eu sabia que outros demônios viriam atrás de mim assim que eu conseguisse esse poder e.... bem, eu poderia esperar mais um tempo. Eu só precisava que você se livrasse de Azazel, meu maior inimigo, e então eu poderia ter seu poder em paz. 

Ela se aproximou de mim.

Myung Hee: É uma pena que eu tenha que te matar para isso... você seria muito útil para mim mais tarde...

Meiling: Myung Hee... SUA COBRA!

Me levantei. Ela não demonstrava preocupação.

Myung Hee: Ah por favor, não me chame de Myung Hee. Prefiro Astarte.

Abri minhas asas.

Meiling: Como pôde fazer isso? Como pode usar sua própria filha como refém?

Percebi que seus olhos voltaram ao normal por um instante, mas logo voltaram a ser demoníacos.

Astarte: Minha filha...

Ela enfiou a espada no estomago de Mi-cha. Pude ver a espada atravessando-a. Logo em seguida, Astarte a jogou para o mesmo lugar que Nicholas estava.

Ela apontou a espada pra mim. Quando ela me atacou, consegui desviar. Por pouco, quase que minhas asas foram acertadas.

Meiling: DESINAM VITAE!

O feitiço atingiu o coração de Astarte, e então ela começou a sangrar, mas mesmo assim ela não morreu.

Astarte: Você acha mesmo que um feitiço desse nível pode me matar?

Ela acertou um ataque em mim, e novamente fui lançada para longe. Um circulo de fogo se formou ao meu redor, e ele rapidamente começou a se expandir pelo resto da casa. Tentei lançar um feitiço de proteção em Mi-cha e Nicholas, mas não consegui acerta-los.

Astarte fez com uma pedra semelhante a um diamante aparecesse em sua mão.

Astarte: O que? Já vai desistir? Mas isso estava ficando tão divertido.

Tentei ataca-la, mas uma barreira de fogo se formou e o feitiço voltou contra mim. Ela começou a rir.

Ela fechou a mão, e quanto abriu, uma adaga inteiramente de diamante surgiu. Ela lançou a arma em direção a mim. Eu não tinha para onde fugir. Ali seria meu fim. 

Fiquei esperando ser atingida, mas me surpreendi quando vi aquela adaga sumir do nada. Olhei, era o pai de Mi-cha. Ele segurava a adaga.

Pai de Mi-cha: MYUNG HEE!

Vi os olhos de Astarte voltarem ao normal novamente.

Pai de Mi-cha: O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

Nunca vi o pai de Mi-cha tão bravo.

Astarte: A-A-Amor! Não é isso o que você está pensando!

Os olhos demoníacos voltaram por um momento, mas logo em seguida estavam normais de novo. 

O pai de Mi-cha lançou a adaga no coração da esposa. Ela caiu no chão.

Astarte: A-achei que v-você me amasse.

Todo o fogo que dominava a casa sumiu. Pude ver uma lagrima escorrendo em seu rosto.

Pai de Mi-cha: Eu a amei, Myung Hee. Mas você não é mais uma pessoa boa para nossas filhas.

Ele se abaixou e tirou a adaga do coração de Astarte. Logo em seguida, esticou seu pescoço e colocou a adaga nele.

Pai de Mi-cha: Eu sinto muito.

Astarte: NÃO! POR FAVOR! ME DESCULPE! EU VOU MELHORAR! EU PROMETO! EU...

Ela não pode terminar a frase. O pai de Mi-cha cortou a cabeça de Astarte fora. Pude ver uma lagrima escorrendo no rosto dela.

Eu estava com os olhos arregalados.

A adaga de diamantes se desintegrou da mão do pai de Mi-cha. Ele então se levantou e foi até Mi-cha e Nicholas. Escondi minhas asas e fiz o mesmo.

O pai de Mi-cha levou todos nós para o hospital. Eu fui a primeira a ser liberada, enquanto Mi-cha e Nicholas precisaram fazer alguns exames e tudo mais.

Fiquei na sala de espera com o pai de Mi-cha. Estávamos em silencio. Pelo fato de o pai de Mi-cha sempre usar seu hanbok, algumas pessoas ficavam olhando para ele de maneira estranha. Ele não se importava. 

Pai de Mi-cha: Mei... aquele não é Matthew?

Olhei para o mesmo lugar que ele. Ele estava no balcão, falando com a atendente.

Meiling: É.

Pai de Mi-cha: Por que não vai falar com ele?

Meiling: Eu tenho mesmo que ir?

Ele apenas fez um sinal afirmativo com a cabeça. Respirei fundo e fui. Não havia fila.

Meiling: O pai de Mi-cha quer que eu fale com você.

Ele se assustou com a minha presença.

Matthew: M-Mei? O que você está fazendo aqui?

Meiling: Mi-cha e Nicholas...

Ele me interrompeu.

Matthew: MI-CHA E NICHOLAS? O QUE ACONTECEU?

Meiling: Fale baixo idiota!

A atendente estava rindo.

Meiling: Resumidamente: Myung Hee, que na verdade era Astarte e você já sabia disso, e Nick, morreram.

Matthew: O que? Espera... que dia é hoje?

A atendente deu um calendário para ele.

Matthew: Eu não acredito...

Ele me encarou.

Matthew: Você está bem?

Meiling: Estou, por que a pergunta?

Matthew: Acho melhor não falarmos disso aqui. Vamos.

Avisei ao pai de Mi-cha que iria sair para conversar com Matthew. 

Fomos até a lanchonete do hospital e nos sentamos em uma mesa. Matthew pediu para que eu contasse toda a história.

Meiling: Mas e você? O que está fazendo aqui?

Matthew: Minha mãe trabalha aqui. Ontem eu não dormi em casa, e esqueci de pegar a chave. Ela saiu para uma emergência aqui no hospital hoje de manhã, e levou a chave.

Comecei a rir.

Meiling: Ah sim, entendi.

Ficamos em silêncio por um tempo. 

Matthew: Como você está... em relação ao Nick?

Comecei a lembrar de tudo o que ele havia me dito antes de morrer.

Meiling: Eu não sei...  Ele me disse tantas coisas...

Matthew: Ele sempre te amou, Mei.

Fiquei encarando a mesa. Não sabia o que dizer.

Matthew: A questão é... você sempre amou ele?

Eu estava sem nada para fazer, e não estava com sono. Então resolvi espionar Meiling. Ela estava caminhando pelas ruas da cidade.

Não tinha muitos carros passando, e não tinha ninguém andando, apenas ela. Em nenhum momento ela me viu. 

Ela parou de andar e se virou. Olhei para o mesmo lugar que ela. Havia alguém alem de mim a seguindo.

Ela entrou numa confeitaria, e a pessoa que estava a seguindo também. Fiquei a observando pela janela do local. A pessoa que estava a seguindo era Nick. 

Quando ela saiu, Nick e alguns de seus amigos a seguiram. Percebi que ela estava ficando preocupada e não se sentia a vontade com aquilo. 

Ela estava quase passando em frente a um beco sem saída, e eu sabia o que Nick e os outros planejavam.