The Innocent Can Never Last escrita por Clarawr


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal.
É, hoje é sem gracinha, sem zoeira, sem risada. Eu preciso falar para vocês que existem três capítulos da fic que eu simplesmente me odeio por ter escrito. Esse é o primeiro deles.
Vou parar com o drama, porque do jeito que tá eu vou acabar fazendo todo mundo desistir da fic e não é isso que eu quero de jeito nenhum kkkkkkkk
Independente de tudo, gostaria de agradecer todos que estão lendo e que me acompanharam até agora. Mesmo sendo pouca gente, vocês me dão incentivo para continuar. Obrigada ♥
Sobre a minha provável futura fic Fannie: Já comecei a escrever os primeiros capítulos e não vou mentir: Tá ficando pica. Agora com vocês, Capítulos Que A Clara Se Odeia Por Ter Escrito, Parte 1/3.



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Chego à sala de TV, cumprimento Blight e largo meu corpo no sofá, com os pensamentos ainda meio enevoados por conta da ressaca. Olhava para a TV sem na verdade ver coisa alguma. Sento-me, ereta, buscando um pouco de concentração dentro de mim. “Foca, Johanna”, eu penso. Não me perdoaria jamais se minha falta de atenção me fizesse cometer um erro que levasse a morte de nenhum dos dois.

– E aí? – Pergunto, a apreensão distorcendo minha voz.

– A garota do 5 enfiou uma faca na perna de Liz. – Blight responde, a voz também meio alterada. Até alguém como ele fica mexido de vez em quando. – Eles fizeram um curativo e ela está mancando um pouco, mas seguindo. Só que, pelo que deu para ver, foi profundo. Se essa bagaça não terminar logo, vamos ter de mandar algo para ela.

– Tem quantos vivos? – Pergunto, torcendo para que sejam poucos.

– Cinco. Mas isso já está durando quase três semanas. Eles vão dar um jeito de fazer acabar rápido porque já está ficando chato.

– Você acha que ela aguenta até lá?

– Espero que sim. Não temos patrocinadores o suficiente para mandar linha e agulha para os pontos, nem antibiótico, caso infeccione. As coisas estão muito caras agora que é a reta final.

Engulo com força, porque por algum motivo minha gargante se fechou dos lados e respirar se tornou mais difícil.

– Não faz mal. Eu completo o que faltar com o meu dinheiro. - Sugiro, começando a entrar em desespero.

– A gente não pode fazer isso. Os mentores não podem ajudar com donativos, a gente só fecha com os patrocinadores. O dinheiro é com eles. São as regras.

Meu coração vai se contorcendo até chegar ao tamanho de uma ervilha. Então eu só podia ficar sentada, assistindo a infecção se espalhar pelo corpo de Liz até que fosse tarde demais? Ou eu teria de vê-la sangrando até morrer?

Mas espera... Blight falou que ela estava bem. De repente, ela segurava até acabar. Ela era forte e eu já vi gente em estado muito pior passar pela batalha final e ganhar.

Blight se despede de mim e eu assumo meu lugar no sofá, esperando que o dia de hoje não traga novas desgraças.

Eles tinham parado para descansar um pouco. Os dois se enfiaram entre algumas árvores com troncos incrivelmente grossos. Com neblina que enevoava a eterna noite daquela arena macabra, eles nunca seriam notados. Sentaram-se um ao lado do outro, olhando para o céu, esperando os rostos dos mortos do dia. Eles só não sabiam que nenhuma foto apareceria lá no alto essa noite. Sem ninguém morrendo hoje, logo os Idealizadores iam dar um jeito de movimentar as coisas.

– Eles estão demorando a aparecer hoje. – Lizzenie comenta, preocupada.

– Talvez ninguém tenha morrido. – Roger responde com voz calma, mas ele mesmo parece apreensivo. Esperto do jeito que é, devia ter chegado a mesma conclusão que eu. E como ele protegeria sua irmãzinha com uma perna quase aberta da sede de sangue dos Idealizadores?

Lizzenie afaga a perna enfaixada. O curativo já está manchado de sangue em algumas partes.

– Está doendo? – Roger pergunta, preocupado.

– Está incomodando. - Ela responde, a voz com o tom certo de indiferença. - Vou ter de trocar isso logo. Será que dá para dormir com isso assim?

– Se começar a sangrar demais, eu mesmo troco.

– Roger, você não vai poder cuidar de mim para sempre. – Ele fecha os olhos, pensando no real sentido de suas palavras. O fato de ele não ter mais como protegê-la não seria por conta de ela ter crescido, ou ter aprendido a seguir sozinha. Ele não ia mais ter como olhar por ela porque um dos dois ia morrer. – Deita e dorme. Daqui a pouco eu te acordo.

Ele parece hesitar, porque não quer deixar Lizzenie sozinha nem por um segundo, principalmente com aquele ferimento. Mas ninguém pode ficar acordado para sempre.

– Anda, Roger. – Ela tenta fazer a voz fininha parecer severa. – Eu vou ficar bem. Daqui a pouco eu te acordo com um tapa. – Ela sorri.

– Qualquer coisa, QUALQUER COISA. – Ele enfatiza. – Você me acorda, hein?

– Pode deixar.

Então ele se deita ao lado da irmã e Liz começa a afagar sua cabeça. No nível de exaustão que ele se encontrava, provavelmente já está totalmente desmaiado. Mas ela não para. Acho que o gesto de carinho é mais para ela mesma. Para acalmá-la no meio daquela brutalidade toda.

Assisto aquela cena e de repente, a coisa vem queimando por dentro de mim do nada. Reconheço aquilo que se agita violentamente em meu peito no ato. Porque foi exatamente o que senti no dia da minha colheita. A nuvem negra. O mau pressentimento. Algo vai acontecer.

Meu coração se acelera e minhas mãos começam a suar. Sento-me totalmente ereta no sofá, com os olhos atentos na TV, tentando ver tudo o que fosse possível, detectar qualquer sinal de que fossem ser atacados. Ligo a TV que mostra os Jogos editados pela Capital. Ela focaliza o menino do 12 fugindo do casal do 1. Ele sabe que não tem nenhuma chance com os Carreiristas, mas foge mesmo assim. Sei que o menino vai morrer, mas mantenho o aparelho ligado, para o caso de eles trocarem a imagem e aparecer algo que pressagiasse um ataque a Lizzenie e Roger.

As horas passam e nada acontece. Roger continua dormindo, Lizzenie continua com a mão sobre sua cabeça, com os olhinhos fechando um pouco por causa do sono. Eles estão seguros, tão seguros quanto possível, e eu começo a cogitar a possibilidade do estresse estar me enlouquecendo. Porém, a suspeita assustadora ainda me ronda e minha intuição, em geral, é muito boa. Boa o suficiente para eu confiar nela. Boa o suficiente para me fazer ficar parada ali, em frente a TV. Decido que não saio mais daquela sala até que os Jogos acabem. Por mais masoquista que pareça, eu quero ver o pior acontecendo. Não quero que ninguém me conte. Acho que não existe muita escolha. Por mais que digam que é melhor não ver a pessoa com quem você se importa sofrendo, saber exatamente o que aconteceu é sempre melhor do que descobrir pelos outros. Nada é pior do que a dúvida.

Roger acorda depois de três horas. Ele olha sobressaltado para o lado e dá de cara com uma Liz sonolenta, quase capotada.

– Por que não me acordou? – Ele quase rosna.

– Porque estava tudo bem e você precisava dormir.

– Mas você está quase desmaiada.

– Ah, Roger. – Ela revira os olhos. – Fala sério. Para de se preocupar tanto comigo. Eu consigo segurar a barra, tá? Se eu disse que estava tudo bem, é porque estava tudo bem.

Inesperadamente, Roger sorri:

– Tá achando que é quem, menina? Uma pirralha de 14 anos me falando que sabe se cuidar. Ah, tá. – Ele diz, irônico, mas dá para ver que só está implicando com Liz. Ele sorri afetuoso para ela.

– Ah, pára de ser idiota, moleque. Não me enche mais o saco, porque eu quero dormir. – Ela boceja e se recosta no irmão.

Ele se ajeita para que seja um travesseiro relativamente confortável para a irmã e eu percebo que a TV que mostra os Jogos para o resto de Panem também está focalizada no momento de afeto entre os dois. Então, a Capital também tem o coração mole e gosta de ver essas coisas. Se um deles morrer, a gota de amor no mar dos Jogos se perde. Bom saber. Quem sabe assim eu não descolo mais uns Patrocinadores para a perna de Liz?

Meu turno acaba e Blight irrompe pelo cômodo. Como eu não me mexo para sair e ele começa a me olhar interrogativamente, trato logo de fazer o comunicado:

– Não saio mais daqui.

– Por quê? – Ele franze o cenho.

– Porque já está terminando. E eu quero ver quando eles morrerem. – Percebo com tristeza que usei o “quando” ao invés do “se”.

Blight não indaga mais nada e eu fico aliviada por não ter de dar mais explicações. Ele simplesmente se joga do meu lado e pergunta:

– O que aconteceu de novo?

–Nada. - Respondo e o assunto se encerra, de modo que ficamos em silêncio até Liz acordar, apenas uma hora depois. Com todos acordados, eles decidem sair para procurar comida, porque os suprimentos que Roger tinha pegado na Cornucópia estavam perigosamente no fim.

Lizzenie insiste que quer ajudá-lo a procurar comida, mas Roger se recusa categoricamente. Ela é teimosa, muito teimosa, tanto que ele permite que a irmã fique num raio de trinta metros procurando por algo nos arbustos enquanto ele vai um pouco mais longe ver se acha um lago ou alguns animais que possam ser abatidos. Só que eles estavam no meio de um cemitério esquisito, então as chances eram poucas. Mas eles ainda não tinham vasculhado tudo, a área era grande e de repente deu a louca nos Idealizadores e eles resolveram botar uns bichos rondando por ali. Mas também pode ter dado a louca neles e a única fonte de comida ser a Cornucópia.

Esses dois têm sorte. Roger não anda muito até que encontra uma ave ciscando ali por perto. Está escuro e ele não consegue enxergar com clareza, mas parte para cima do bicho mesmo assim. Em menos de dois segundos, uma lança está atravessada na barriga daquela espécie de pato preto. Ele cata a sua caça e volta em direção à árvore, sacudindo a comida no ar, feliz por que pelo menos de fome eles não iam morrer. Avista Liz com algumas frutas na mão, resultado de sua busca pelos arbustos, mas não faz alarde. Os dois são silenciosos, têm medo de ser escutados e encontrados. Roger está andando o mais rápido que pode ser fazer barulho, doido para compartilhar a refeição com a irmã. Só que mesmo com o cuidado de não produzir ruídos, eles não estavam sozinhos.

A adrenalina me faz ver tudo perfeitamente, claro como cristal. Eu vejo uma cabeça loira se levantar do chão. Ele está pintado, camuflado. Roger tinha acabado de passar por ele e agora suas costas estavam viradas para o inimigo, sem nenhum tipo de proteção.

Levanto subitamente, a mão estendida para a TV. E então, Roger cai no chão com as costas viradas para cima, derrubando sua caça. A câmera focaliza em suas costas e eu vejo seis pontos coloridos fincados nela. Reconheço as pequenas flechas.

São dardos venenosos.

Lizzenie esta há dois passos do irmão caído e o menino que atirou os dardos já está correndo em disparada para longe. A reação da pequena e doce Liz me surpreende. Ela não chora nem se desespera. Pelo contrário. Seus olhos têm algo de louco, desfocado e é estranho ver aquele olhar maníaco no rosto de uma menina como ela. Ódio misturado com amargura e uma fria maquinação. Sua boca se contrai enquanto ela se concentra. Liz solta o machado que estava fincado ao lado da árvore que foi o abrigo dos dois durante o sono e o atira na direção do assassino de seu irmão. Ela não tinha se saído lá muito bem arremessando armas no Centro de Treinamento, eu sei, mas pelo ângulo de seu braço e pela força que ela imprime no objeto, sei que vai ser um tiro bem sucedido. O machado vai girando no ar e em poucos segundos, alcança uma velocidade maior que a corrida do menino. A lâmina se aloja em suas costas e seu canhão soa.

Ela finalmente cai de joelhos ao lado de Roger, como se lhe faltassem forças para ficar de pé e entrelaça a mão direita nos dedos praticamente inertes do irmão. Com a esquerda, tenta arrancar os dardos das costas dele, num claro sinal de desespero. Mas eu conheço bem aquelas flechinhas. Dependendo de onde atingem, você tem sorte se sair sem sequelas. Com seis delas espalhando veneno por sua corrente sanguínea, era questão de minutos. Roger ainda resiste e vejo seus dedos apertarem a mão de Lizzenie.

– Roger... – Ela soluça e põe a mão do irmão no peito.

– Volta... – Sua voz não passa de um sopro rouco – Para casa...

– Não quero voltar sem você. – Ela choraminga, as lágrimas rolando por seu rostinho de princesa.

Ele olha uma última vez nos olhos da irmã, uma cópia idêntica dos seus e sorri. Acho que ele ia falar algo, talvez até tenha falado, mas a único coisa que eu consigo ouvir e registrar é o canhão ao longe. N

Não consigo fazer a conexão. Aquele tiro era para outro. Tinha de ser de outro. Por mais que os fatos estivessem escancarados na minha frente, eu me recusava a aceitar. Vejo Lizzenie correr para a sua árvore, esperando o aerodeslizador rebocar o corpo de Roger. Por fim ele vem e Panem inteira assiste a separação definitiva dos irmãos do 7.

Ela continua parada, encostada na árvore, encarando obsessivamente o ponto onde o irmão morreu e eu consigo ver claramente a transição acontecendo dentro dela. Seu corpo se posiciona de uma forma rígida, como se ela tivesse se tornado de pedra por dentro. Seus olhos endurecem, ferozes e raios de gelo parecem sair de dentro deles, prontos para machucar quem estivesse na frente. Era exatamente o olhar que encheu seu rosto quando ela atirou o machado.

Algumas lágrimas brotam e ela não tenta reprimi-las. Mas ela chora silenciosamente e a tristeza derrete o gelo em seu rosto, em seu corpo. Liz parece ter duzentos anos agora.

– Se você quiser ir... – Blight começa, cheio de dedos.

– Eu vou ficar exatamente aqui. – Minha voz é dura por causa da tensão que se acumula em meu peito. Aquilo não era justo. Que merda de mundo é esse que eu vivo? Um mundo onde adolescentes matam e morrem para divertir um minoria poderosa. Onde ninguém faz nada contra isso. Onde ninguém é capaz de se mexer, porque o medo é mais forte do que qualquer coisa. Afinal, uma Capital que mata suas próprias crianças em um joguinho seria capaz de fazer algo muito pior com quem ameaçar ir contra ela.

Ficamos observando Liz. Ela passa a próxima meia hora com as costas apoiadas na árvore, olhando para a frente. Então se levanta, recolhe a caça que Roger tinha trazido e se ocupa de fazer aquilo ficar comestível. Se enrola um pouco quando depena o pato e aproveita que uma leve claridade iluminou o cemitério para fazer uma fogueira sem ser notada com tanta facilidade. Assa a ave e come, apagando a fogueira logo em seguida. Por precaução, sai para procurar outro abrigo, já que, mesmo com a claridade, poderiam achá-la por conta da fumaça.

E assim ela vai seguindo, como um robô, movendo-se apenas por conta de algum instinto animal de sobrevivência. Ou talvez ela fizesse isso apenas para honrar a memória do irmão. Ela não ia desistir agora, depois de o irmão ter passado os últimos dezessete dias lutando para protegê-la.

As coisas vão caminhando, Liz caçando, comendo, pegando água da chuva, fugindo de inimigos, tendo alguns inconvenientes proporcionados por Idealizadores, sendo picada por alguns insetos esquisitos e ficando com calombos de tamanho de castanhas por todo o corpo e, é claro, matando um ou dois tributos pelo caminho.

Em nenhum momento o olhar gelado abandonou seu rosto.

O problema de todos esses inconvenientes é que eles faziam seu ferimento abrir-se cada vez que ele começava a dar sinais de que ia começar a fechar. Não parecia profundo, mas era uma porta de entrada para doenças e se essa droga não acabasse logo, ela podia acabar arrumando uma infecção, coisa que nenhum de nós está preparado para lidar.

Como a máxima que rege nossas vidas é "Sempre dá para piorar", um dia, meus temores tornaram-se realidade. Liz senta-se em seu esconderijo e começa a tremer. De início, acho que é por causa do frio da arena, mas depois de olhar mais atentamente a TV que mostra os Jogos editados, vejo que nenhum dos outros tributos restantes está com os dentes batendo, nem fazendo fogueiras, nem desesperados por agasalhos extras.

Ela não tem mais como trocar seu curativo. E eu não consigo mandar nada devido à má vontade dos Patrocinadores. Eu tinha enchido o saco de todos os Patrocinadores, passei três horas tentando convencê-los de que manter Liz viva valeria a pena, mas eles se recusaram a bancá-la.

Passo metade do meu turno vendo-a tremer, se enrolar em torno de si mesma para aplacar o frio que a febre traz.

“Faltam três”, eu penso. “Não vai dar para esperar. Ela não vai aguentar”. Eu me desintegro por dentro, porque se ver Roger morrer já foi demais para mim, a morte de Liz vai terminar de acabar comigo. Penso, desanimada, que nos anos seguintes não poderei agir dessa maneira. Não poderei me apegar aos meus tributos como me apeguei a Roger e Liz esse ano. Mas, por ser minha primeira vez, talvez as pessoas tenham relevado meu comportamento sentimental.

Mas o fato é que me apeguei e não posso lutar contra isso. Então, começo a pensar que talvez terei de burlar as regras se eu quero mesmo trazer Lizzenie de volta.


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Notas finais do capítulo

No aguardo das ameaças de morte.
PS: Para aliviar a barra, acho que o próximo capítulo vai ser POV Finnick. O que acham?



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