A Arma Escarlate - As Aventuras Dos Píxies escrita por Erik Alexsander


Capítulo 19
Capítulo XIX - Caimana




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/391477/chapter/19

XIX

CAIMANA

Caimana não acreditou no que viu.

Momentos antes, quando chegaram ao riacho, Caimana avistou em uma rocha no meio do riacho uma criatura horrenda e assustadora. Não poderia ser uma sereia. De acordo com as lendas, Iara, era uma mulher bela e charmosa, com metade de seu corpo coberto por escamas.

Mas quando a viu pessoalmente, não acreditou. Era uma híbrida de humana e peixe, mas a parte humana se parecia mais com um réptil, com olhos em fendas e o rosto cheio de escamas, o cabelo era feito de alguma coisa que se assemelhava muito com algas marinhas. Ela sibilava como uma cobra, deixando seus dentes longos e afiados á mostra. Por um breve momento, a imagem dela oscilou se formando em uma bela mulher, mas Caimana não se deixou ser enganada por seu feitiço, agora que já sabia sua verdadeira aparência.

Desejou muito que os três garotos, que pareciam mais bobos do que o normal, vissem aquela criatura. Mas conhecia muito bem a história da Iara e já elaborou um plano cuidadosamente na cabeça, já que Capí também estava hipnotizado pela sereia. Para o plano, seria necessária grande parte da ajuda do Viny. Quando tentava convencê-lo disso, ela foi jogada para longe por uma onda enorme de água que se ergueu do riacho.

Ela caiu no chão, mas não se feriu. Estava encharcada da cabeça aos pés.

Quando recuperou forças para se levantar, ela viu os meninos entrando no riacho na direção da sereia.

- Não! Acordem! – ela berrou. Mas seu grito não fez efeito algum contra o feitiço daquele monstro marinho.

Ela mergulhou e eles a seguiram, nadando na direção do mar aberto e por fim emergiram nas águas escuras.

- Mas que idiotas! – disse. – Pelo menos eles comeram aquela planta antes. Espero que o efeito demore a acabar...

Não poderia ficar ali parada, pensou. Tinha que agir de alguma maneira. Não sabia o que acontecia com os homens que eram levados pelos encantos da sereia, mas sabia que não era nada bom.

- Vou ter de ir atrás deles. Assendjá! – a ponta de sua varinha emitiu uma forte fonte de luz que iluminou a mata ao seu redor e se refletiu nas águas que corriam no riacho. Ela mergulhou com a bolsa e o tênis. Não ligava de que algo importante estivesse na bolsa. O importante era salvar seus amigos daquela criatura.

Por incrível que pareça, ela conseguia respirar normalmente embaixo d’água. Sentiu um medo tomar conta dela. E se o efeito acabasse e ela estivesse bem fundo no mar? Será que conseguiria guardar oxigênio o suficiente para emergir sã e salva junto de seus amigos? Ela tentou expulsar esses pensamentos e continuou a nadar.

Por breves momentos, ela vislumbrava cardumes de peixes que fugiam com a luz de sua varinha. Estava muito escuro. O máximo que a iluminação podia chegar era a poucos metros dela, o que não era muita coisa... Após dez minutos nadando, ela enxergou no meio da escuridão seis coisas brancas que lhe chamaram a atenção. Ela tentou nadar mais depressa, como gostava de surfar, ela tinha essa habilidade de nadar um pouco mais rápido que as pessoas normalmente nadariam. Ela chegou a uma distância considerável e percebeu então, que as seis coisas brancas eram as solas dos tênis de seus amigos. Mais a frente deles, ela viu a sereia agitando sua enorme calda de peixe, que a fazia se locomover mais rapidamente.

A sereia os levou a um ponto onde a luz do luar iluminava o fundo do mar. Caimana, com a força do pensamento, conseguiu apagar a ponta de sua varinha para que não chamasse atenção. Havia uma caverna estranhamente iluminada por peixes elétricos que Caimana não se lembrava do nome. Era uma caverna pequena, mas Caimana não se arriscaria a ir até lá. Contentou-se em se esconder em uma rocha cheia de musgos e algas.

Ela viu os garotos parados em frente à caverna. De onde Caimana estava, podia ver o interior da caverna. O lugar era cheio de plantas aquáticas e no centro havia um enorme caldeirão enferrujado que estava em cima de uma cripta de fogo. Fogo. Fogo? Caimana pensou. Como pode ter fogo embaixo da água?

Porém, essa não era uma preocupação para ela, ao menos que aquele caldeirão fosse usado para o jantar. Caimana não iria querer ficar para a janta, com toda a certeza! Ela tinha que arrumar uma forma de sair daquele lugar o mais rápido possível. Antes que ela pudesse pensar em algo, uma coisa estranha tocou nela. Ela gritou, mas apenas uma enorme bolha de ar saiu de sua boca. Ela virou-se assustada e viu que não era nada de assustador.

Quatro enormes cavalos marinhos estavam atrás dela, acariciando-a com a ponta de seus focinhos. Eles tinham a parte posterior de um cavalo com escamas e a inferior de peixe. É muito fofo, ela pensou. Ela acariciou o cavalo marinho que havia cutucado ela, e ele deu um salto mortal na água.

- Olá amiguinho. – ela tentou dizer. Mas bolhas de ar saíram de sua boca.

Você poderia me ajudar? – ela pensou fortemente, com esperança. Se mais bolhas saíssem de sua boca ela poderia ser notada. Ele deu uma volta nela e ficou em uma posição vertical, em seguida deu mais alguns saltos mortais na agua.

- Excelente! – pensou animada, aquelas águas eram realmente mágicas. Caimana já tinha uma carona para fugir daquele lugar. Tudo o que precisava agora era um plano para distrair Iara.

Olhou para a caverna e viu que a sereia colocava alguns ingredientes dentro do caldeirão, onde borbulhava um líquido marrom.

Caimana olhou para os lados, mas vendo que não tinha nada para atrair a atenção da sereia e resgatar seus amigos, ela decidiu virar a isca. Deixou os cavacos marinhos brincando e nadou em direção à caverna. Quando a sereia virou-se e viu Caimana nadando na direção da caverna, ela ficou louca. Balançou sua calda fortemente, pronta para atacar Caimana, mas esta foi mais esperta e nadou na direção contraria à da caverna.

Avistou ao longe um labirinto de corais de cores variadas e jogou seu corpo naquela direção. Caimana sacudia as pernas o mais rápido que podia, mas era apenas uma humana. Não tinha uma calda que a impulsionasse para frente mais rápido. A sereia estava cada vez mais perto, Caimana preparou sua varinha e nadou por entre os corais e algas que chegavam a poucos metros de altura.

Por um momento, quando Caimana se virou para encarar sua inimiga, ela havia desaparecido. Olhou atentamente, mas nem sinal de Iara.

Quando ela menos esperava, foi atacada pela lateral e Caimana deixou a varinha cair no mar de corais.

Ela foi jogada na parede de uma grande rocha. A sereia agarrou suas duas mãos com as longas garras, arregaçando a boca e mostrou seus dentes afiados, soltando um grito agudo e amedrontador. Caimana se soltou e deu um soco no rosto escamoso da sereia que afrouxou as mãos com garras que seguravam Caimana.

Ela mergulhou na escuridão das algas em busca da varinha. Mentalizou o feitiço de luz e avistou entre uma vasta camada de musgo no fundo, um brilho de luz. Agitou os braços até chegar lá e alcançou sua varinha.

Quando se virou Iara vinha nadando loucamente, mas Caimana ergueu a varinha em sua direção e gritou:

- Irum Aguapé!

Apesar de bolhas escaparem de sua boca, a varinha obedeceu a sua dona e lançou um feitiço esverdeado na direção da sereia.

Por um momento Caimana ficou encarando Iara, que ficou envolta por uma névoa verde. Após a névoa passar, Caimana riu muito. O cabelo da criatura havia ficado na forma de um disco plano... Como uma Vitória-Régia.

A sereia olhou pasma para Caimana e levou as mãos escamosas à cabeça e ao perceber algo estranho retirou do cinto (que Caimana incrivelmente não tinha notado antes) um pequeno espelho arredondado com bordas brancas e bem detalhadas. Aquele era o espelho que eles deviam entregar ao Curupira. Ela congelou.

Caimana teve uma súbita vontade que deveria ser realizada naquele momento, enquanto Iara olhava para seu reflexo no espelho. Totalmente distraída.

Ela nadou o mais rápido que pode e apanhou o espelho da mão de Iara. Por apenas um segundo, a criatura ficou desconcertada, mas no minuto seguinte sua fúria apenas aumentou.

Ela nadou feito um trem bala atrás de Caimana. Ela sabia que não teria muito tempo até Iara alcança-la, mas tinha que tentar fazer alguma coisa.

Enquanto nadava desesperadamente, ouviu um relincho. Estava achando que estava louca até olhar para trás. Além da sereia nadando furiosamente atrás de Caimana, ela viu também os cavalos marinhos que foram carinhosos com ela nadando á toda velocidade. Agitava sua calda ferozmente na água, ultrapassando a sereia que estava com um único objetivo em mente: Pegar seu espelho de volta e matar Caimana.

O cavalo nadou ao lado de Caimana e fez um gesto com a cabeça. Era a ajuda que ela estava precisando. Ela agarrou-se no pescoço do animal e deixou-se ser levada para longe da sereia.

- Temos que despistá-la! – Caimana gritou no ouvido do cavalo marinho. Bolhas saltaram de sua boca, mas ela sabia que o cavalo também havia entendido, pois ele fez uma curva com seus companheiros á sua traseira.

A silhueta de algo grande era possível ser vista com a pouca luz do luar que refletia na água. Ao se aproximarem, Caimana viu que era um grande navio. Não teve muito tempo para admirá-lo, pois o cavalo que a levava nas costas se engrenhou pelo navio com tábuas cheias de musgos e outras coisas nojentas.

A sereia já estava na cola deles, quando o cavalo mudou de direção tão rapidamente que Iara não teve tempo de reagir. Ela bateu contra a parede do navio e a tábua se quebrou fazendo com que ela mergulhasse em um buraco no navio.

Eles pararam por um momento esperando que a sereia saísse daquele buraco escuro, mas nada aconteceu.

- Vamos! – Caimana gritou instintivamente. Bolhas saíram de sua boca e o cavalo pôs-se a nadar de volta a caverna da criatura dos mares.

Eles retornaram a caverna e notaram que os meninos continuavam parados no mesmo lugar. Ela entrou na caverna e ficou surpresa. A caverna não era preenchida por água, mas sim por ar. Ar puro, totalmente preenchido por oxigênio. Ela sacudiu um por um.

- O que foi? – Viny acordou do transe assustado.

- Vá para o cavalo! – ela mandou. Ele tentou falar algo, mas ela simplesmente ignorou e acordou o outro.

Eles montaram nos cavalos. O efeito da planta que permitia que ela respirasse debaixo d’água já estava acabando. Eles tentaram nadar o mais rápido possível para a superfície, porém no meio do caminho, o efeito acabou e ela quase se afogou.

Quando chegaram á superfície, Caimana estava desmaiada no colo de Viny. Todos estavam molhados dos pés á cabeça, inclusive a bolsa deles.

Ao chegarem às enormes pedras do riacho, eles sentaram no chão para descansar e socorrer Caimana, que já recobrava a consciência.

- O que houve? – a visão dela estava embaçada. Via uma enorme massa roxa atrás de onde estava o rosto de Viny acima dela.

- Você está bem?! Salvou nossas vidas! – ele exclamou.

A visão dela foi voltando ao normal. A massa roxa era na verdade uma fumaça que subia no céu cada vez mais. Ela se lembrou de ter visto tal massa antes. O sol no horizonte começava a nascer, dando lugar ás cores vivas das árvores ali perto. Dando vida a forma humana que a fumaça roxa formava.

- O que é isso? – Ela perguntou assustada.

Os meninos olharam para trás e ficaram de boca aberta. Nunca pensaram que ele iria atrás deles. Nunca pensaram que ele os encontraria. Nunca pensaram que logo após uma luta de sobrevivência debaixo da água, viria uma logo em seguida em terra firme!

- Finalmente achei vocês – cantarolou uma voz aguda.

Como estavam exaustos, Caimana teve certeza de que morreriam naquele exato momento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Arma Escarlate - As Aventuras Dos Píxies" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.