O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 41
Mike e eu contra o ser das sombras




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Mesmo com meus olhos fechados a luz azul que o caldeirão emitia era vista por detrás de minhas pálpebras.

–Esta com medo? abra os olhos. insistia o ser.

–Não. respondi.

–Então, enquanto está com os olhos fechados, posso brincar com seu amiguinho. falou o ser de um jeito ameaçador.

Abri os olhos, mas não olhei para o caldeirão, olhei para o ser de capa segurando Mike pelo pulso enquanto ele tentava soltar-se.

–Olhe no caldeirão. Falou o ser com um sorriso estranho no rosto.

Briguei comigo mesma, e num movimento rápido olhei para o caldeirão, mesmo que foi uma olhada de meio segundo a visão me assombra até hoje.

No caldeirão que borbulhava haviam partes de pessoas, mutiladas. Depois de ver aquela cena tudo ficou preto.

~//~

–Julie. Mike falou.

Acostumei minha visão ao lugar com iluminação precária.

–Onde está o ser de capa? perguntei sentando-me.

–Não sei, ele nos deixou aqui.

Olhei ao meu redor, encontrei um buraco na parede suja, a torre estava mais longe do que da última vez.

–Vamos quebrar a parede. falei.

Mike me olhou com um olhar cansado.

Distanciei-me da parede que parecia muito frágil por sinal e fui correndo em direção a ela com força batendo meu ombro.

–Ai! caramba! reclamei com meu braço ardendo.

Mike começou a rir.

–Nos dois estamos com o braço vermelho agora. ele falou me lembrando da hora em que o ser de capa apareceu.

–Pensava que a parede fosse frágil... e desculpe pelo seu braço.

–Tudo bem, acredito que se batermos com mais força e mais vezes conseguiremos derrubar a parede.

–Provavelmente. concordei.

Nos distanciamos da parede, contamos até três e no três corremos e tentamos não machucar tanto nossos braços vermelhos, e como podem imaginar a parede não se mexeu e nossos braços ficaram ainda mais vermelhos.

–Que coisa! reclamei.

–O Destino quer nossos braços quebrados. Falou Mike rindo e fazendo-me rir também.

Estávamos distraídos pensando em alguma saída quando ouvimos uma espécie de portão de ferro sendo aberto e da parede de tijolos uma entrada se abriu e uma jovem de cabelo preto e olhos verdes com aparência de 17 anos entrou, ela era fria e não esboçava sentimento algum.

Eu e Mike tentamos nos esquivar dela, sabíamos que não era bom estar perto dela.

Sem olhar para o lado (onde estávamos) a menina falou em tom seco e estranho:

–Saíam daqui!

Achamos estranho, podia ser uma armadilha, mas não importava por quê de um jeito ou outro íamos nos dar mal. Saímos correndo pelo portão escondido. Paramos de correr quando estávamos novamente na floresta.

–Quem era aquela? perguntei.

–Não tenho a mínima ideia. Mike respondeu recuperando o ar.

–Vamos, acho que estamos perto do castelo. Falei puxando-o.

Andamos, melhor, corremos até nossos pés cansarem ou cairmos o que aconteceu primeiro graças a lama que estava no chão.

–Estamos perto do castelo? perguntou Mike levantando-se.

–Não sei. respondi limpando minhas mãos.

–O que havia no caldeirão? Mike perguntou enquanto andávamos.

–Não lembro. menti. Resolvi não falar sobre o assunto por quê além de me assustar a insistência do ser de capa provava que deveria ser algo para me apavorar, provavelmente eu conhecia a pessoa que estava no caldeirão.

–Tem certeza? ele insistiu.

Assenti.

Andamos em silêncio, talvez eu devesse contar o que vi no caldeirão, mas eu tinha medo em ter que descrever a cena que vi. Minha vida estava aos poucos virando um filme de terror.

–Você tem que ser forte, Julie. Falou Mike como que lesse meus pensamentos.

–Não é tão fácil quanto parece. respondi e aquele silêncio enorme voltou a reinar.

Admirava as árvores que tinham troncos retorcidos e pareciam estar em pura agonia, como se estivessem sofrendo, a casca que envolvia o tronco estava machucada e por vez ela formava uma espécie de rosto, rosto sofrido.

–Podíamos ter puxado a capa do ser de capa e descobrir quem é. Mike quebrou o silêncio.

Dei um suspiro.

–Eu não quero mais saber quem é. respondi.

Mike riu cinicamente.

–Ju, mesmo que você não queira temos que ter pistas das coisas, precisamos saber quem está por trás da capa.

–Por quê eu iria nos por em perigo mais do que já estamos para descobrir uma pessoa que nunca ouvimos falar, que nunca ouviríamos falar, não fará diferença. argumentei.

Mike filosofou um pouco.

–Então vá indo ao castelo, não podemos continuar andando assim, é perigoso, eu vou atrás do ser de capa e te encontro lá.

Olhei indignada para Mike.

–De jeito nenhum, não podemos nos separar, ficará bem mais fácil do Destino nos liquidar.

–Vocês acham que não está fácil? perguntou algo entre as árvores.

Olhei para cima na esperança de tudo que estava acontecendo ser só um mísero pesadelo.

A capa que usava o ser passou flutuando e parou em nossa frente.

–Posso em qualquer momento acabar com os dois, eu adoraria, mas o Destino ainda tem planos para vocês. Falou o ser mostrando-nos uma adaga enorme, reconheci aquela adaga imediatamente, mas de onde?

–O que ele quer? perguntei como aquelas pessoas corajosas dos filmes, mas há uma diferença entre eu e elas, elas são realmente corajosas.

Mike como sempre ficava atento a tudo que acontecia em volta e não falava nada, era o modo como ele se concentrava.

–Vou lhes ajudar, levarei-os ao castelo do Destino.

Era incrivelmente óbvio que não era para nos ajudar.

–Não precisamos da sua ajuda. Falou Mike.

–Não é escolha.

Uma nuvem cinza se formou ao nosso redor e o chão sumiu deixando apenas um enorme buraco, um portal. Caímos e dêmos de cara ao chão de mármore do castelo.

–Chegamos ao castelo. Falei olhando, estava a mesma coisa, até mais ajeitadinho.

–Nos queríamos e não queríamos estar aqui. Falou Mike olhando em volta.

–O jeito é andar. falei levantando-me e ainda admirando o castelo.

–Temos que encontrar todo mundo. Falou Mike repitindo nosso objetivo.

–Mas para que lado vamos?

–Por aquela porta ali. ele falou apontando para uma porta discreta.

Eu sabia que iria encontrar cadáveres e afins no castelo, era tudo um teste, mas eu não estava pronta psicologicamente para ver muito sangue.

–Tudo bem, Ju, eu olho primeiro e depois você olha, assim, se houver sangue você não verá. Falou Mike fazendo-me sentir-me melhor.

–Obrigada. falei.

Andamos até a porta que não parecia sombria nem nada.

–Pronta? Mike perguntou.

Segurei sua mão e assenti.

Mike abriu uma brecha da porta e olhou.

–É um armário de limpeza. ele afirmou.

Olhei, era mesmo, só algumas vassouras, uns rodos e... cochichos?

Aproximei-me da parede e colei meu ouvido nela.

–Esta sendo inútil! falou uma voz seca.

–Tudo precisa de tempo. respondeu outra voz que não reconheci.

–É o que não temos, sabia que ela está aqui, no castelo?

–Use o mapa e descubra a localização dela.

–Roubaram o mapa, você tem que agir, agora!

Houve um silêncio amedrontador onde só se ouvia uma respiração pesada.

–Não precisamos de um mapa para saber onde ela está. Falou a voz que antes estava sendo acusada.

Fui dando passos para trás até esbarrar em Mike.

–Julie? o que aconteceu?

–Tem alguém aqui, agora e ele está procurando por nós.

–Diga algo que não sabemos.

–Mas é sério, eu conheço esta pessoa, mas da onde?

Mike parou um pouco para pensar, como se ele tivesse ouvido a voz.

–Não tenho ideia, mas posso fazer um chute.

Revirei os olhos.

–Fale.

–Felipe.

Olhei para ele com raiva, ele não tinha direito nenhum de acusar sem ter certeza.

–Não acho que seja o caso. respondi.

Ouvimos passos grandes e fortes no piso de mármore. (ainda éramos pequenos comparado ao castelo) com toda certeza não era o Felipe ou minhas primas.

Fiquei ali paralisada esperando para ver quem era.

–Vamos! Mike falou puxando-me para um dos cantos do castelo.

Nos escondemos embaixo de um criado mudo (que estava cheio de pó por sinal) e esperamos.

–Eu sei que eles estão aqui, eu sinto. Falou a mesma voz da última vez.

Outra pessoa, que eu suponho ser o acusado pela voz estava fechando as portas, estávamos encurralados. Não conseguia ver a cara de nenhum dos dois, eles usavam um gorro, talvez com este objetivo mesmo.

–Levante este sofá! gritou o da voz bem grossa.

Ouvimos um sofá arrastando e depois sendo levantado.

–Eles não estão embaixo do sofá, senhor.

–Então veja se estão embaixo do armário!

O ser que levantava os objetos os tacava na parede depois, quebrando-os

O armário foi levantado e jogado na parede, foi então ordenado levantar o criado mudo.

–Vão nos encontrar, Julie. falou Mike baixinho.

–Não, me da sua mão. Falei segurando com força o pé do móvel e com a outra a mão do Mike.

O ser levantou o criado mudo e nos subimos junto segurando o pé do objeto que era grande e como eles não olhavam para nada além do chão não viram-nos.

–Não estão aqui também, chefe.

–Dê um fim desta mobília também.

–É, Julie, acho que este é o nosso fim. Falou Mike ainda segurando minha mão para não cair.

Suspirei, não podia ser, ainda não.

–Mike, segura com força que eu vou pular.

–O quê! Falou Mike assustado.

–Se não quiser morrer é melhor segurar-se.

O gigante que segurava o objeto estava próximo, meu plano: pular até seu ombro. Funcionou? você pergunta, não, ao invés caímos no chão e se não fosse aquele tapete enorme e macio não continuaria contando esta história.


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