Sanatório Reyes Albuquerque escrita por Tia Miss


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Isso é um conto.



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[...] O grupo de estudantes mexicanos e estadunidenses havia acabado de descer do avião lotado de turistas de vários lugares do mundo, no aeroporto internacional de Guarulhos. Eram ao todo, dezesseis jovens estudantes, que haviam se conhecido após o término de um intercâmbio universitário. O intuito desse grupo era investigar o tão temido Sanatório Reyes Albuquerque, situado na Rodovia Régis Bittencourt, que liga São Paulo ao estado do Paraná. Isso não fazia parte de nenhuma pesquisa da faculdade, mas era um assunto que os interessava muito e estavam dispostos a se arriscarem. A líder do grupo era Charlotte Rivera, uma mexicana estudante de Psicologia, responsável pela organização do “evento”.

O relógio marcava cinco e dez da manhã e o restante dos jovens dorminhocos, acordaram num só pulo de susto. A maioria parecia um zumbi por conta da noite mal dormida, já que os corujas que estavam na cozinha falavam alto demais. Todos pegaram suas enormes mochilas que são usadas em acampamentos e colocaram primeiramente, coisas que não podiam faltar, como: lanternas, óculos de visão noturna, agasalho, comida e muita água, celulares, computadores, filmadoras, câmeras digitais e detectores de ruídos, que segundo eles, seria muito útil, pois provavelmente encontrariam almas vagando pelo sanatório, ou melhor, apenas ouviriam e sentiriam.

Em vinte minutos todos estavam de prontidão e Samuel – um ex-funcionário público que conhecia muito bem o lugar – já havia chegado em sua van, para levá-los á beira da Rodovia Régis Bittencourt, já que era impossível chegar de carro até o enorme portão do sanatório por causa do mato alto. A van foi deixada à alguns quilômetros do portão principal ficando entre ele e a estrada, depois todos seguiram á pé. Héctor não tirava os olhos do tablet, onde havia encontrado um mapa simples do sanatório pelo querido e salvador da pátria Google maps. Como o lugar era imenso e provavelmente cheio de passagens secretas, ele não entendia bulhufas o que estava vendo. Deixou que Samuel, um homem já velho, ex-funcionário público que conhecia muito bem a história daquele sanatório, os guiasse. Todos se aproximaram do portão que parecia precisar de dez homens para abri-lo. Samuel colocou uma dinamite fraca sob os cadeados e correntes apodrecidos e acendeu, para que pudessem abrir o portão e prosseguir.

— Afastem-se. — falou ele num tom seco e rouco, se afastando enquanto via o pavio ser queimado.

— Quê? — perguntou Kimberly sem entender, era tarde demais. Um estouro alto quase deixou-a surda. — Porra, cuidado aí! — berrou, dando um pulo para trás e o velho a encarou torto.

— Certo...vamos empurrar agora. — disse Michael para os outros rapazes. Os cinco rapazes mais fortes do grupo tiveram de levantar um lado do portão e empurrar ao mesmo tempo.

— Caralho! — resmungou Jack, esfregando as mãos sujas de ferrugem e um pouco machucadas.

— Isso dá calafrios! — disse Megan caminhando de braços cruzados ainda com frio.

— Olha esses muros...essas marcas de mãos... — disse Kimberly sentindo calafrios — era praticamente impossível fugir daqui!

— Ninguém nunca conseguiu fugir. — falou Samuel com a sua voz rouca e seca.

— Ninguém sobreviveu?! — perguntou Charlotte.

— Existe uma regra clara aqui: — Samuel fez uma pausa olhando para todos — Depois que você pisa aqui, não há como sair. Estejam cientes. — Samuel deu as costas e continuou a andar em direção a grande mansão.

— Ah, mas isso é lenda. Isso foi fechado há mais de 100 anos provavelmente... — falou Héctor conferindo no Wikipédia.

— Só porque foi fechado não quer dizer nada. — falou o velho.

— Mas o senhor já entrou e saiu daqui várias vezes, então... — falou Charlotte, mas foi interrompida.

— Sim, porque não sou como vocês, medrosos. — retrucou ele, agora com um riso irônico.

— O quê?! — perguntou Michael indignado. — nem conhece a gente cara! — disse rindo ironicamente. Samuel virou-se novamente para todos, encarou todos fixamente e deu um risinho para provocá-los. Aí todos já haviam subido uma pequena escadaria que dava para a porta principal.

— Os espíritos se alimentam dos medos de quem pisa aqui. — disse Samuel ainda encarando-os. — Por esse motivo, ninguém NUNCA, escapou. — ele deu ênfase no nunca erguendo as sobrancelhas. Ao ouvirem isso, Michael e os demais tiveram a sensação de que haviam caído numa geleira.

O cômodo principal parecia ser o maior da mansão. Em suas paredes valiosas obras de artes eram penduradas, algumas em um estado aceitável, outras com manchas de sangue. Haviam sofás, poltronas e cadeiras estofadas pelo cômodo com uma mistura de alegria e tristeza em seu ambiente. Parecia a casa de uma grande família rica e feliz, que fora brutalmente torturada e depois assassinada. No chão, Megan havia notado algo que chamara sua atenção: uma boneca de pano que tinha cabelos negros, a boca costurada e os olhos eram grandes, quase humanos. Segundo Samuel, a dona da boneca era uma menina de 12 anos, que tinha esquizofrenia, tal motivo que levou a menina costurar a boca da boneca, como reflexo da própria vida que tinha ali, quando era amordaçada, por morder e arrancar pedaços dos outros pacientes.

— Credo! — disse Megan ao ouvir o final da história, arrepiando-se.

— Não vou dizer-lhes “fiquem á vontade”, porque eles não gostam de visitas, então, boa sorte. — disse Samuel saindo da sala principal em silêncio, caminhando tranquilamente até o grande portão.

— Vamos confessar, esse cara é sinistro! — disse Kimberly se entreolhando com os demais.

— Certo. — Charlotte suspirou — Por onde vamos começar?!

— Venha aqui, Héctor. Tire uma foto dessa boneca sinistra... — falou Megan, abaixando-se para pegar a boneca que franziu o cenho para ela. — Ela... — Megan soluçou. — ...ela fez cara feia pra mim! — disse com os olhos arregalados e largou a boneca, que ao tocar no chão, disse “ai!”.

— Eu também vi! — Héctor ficou arrepiado. — Não vou tirar foto dessa boneca não cara... — disse ele afastando-se. Logo, ele teve a sensação de que alguém estivera passando por trás dele, fazendo o olhar para ver o que era e quando voltou a olhar para a boneca, ela estava sentada em uma das cadeiras estofadas, dessa vez sorrindo. — Mas que porra é essa?! — gritou ao vê-la sentada na cadeira.

— Vocês ouviram o que Samuel disse, ninguém sai daqui depois que entram e creio que já notei o porque. — disse Charlotte aproximando-se da cadeira para pegar a boneca. — Respeite-os. Esse é o segredo. Se você respeitar os moradores e sua casa, eles respeitarão vocês. — disse ela, olhando fixamente para a boneca de uma forma diferente, como se quisesse vê-la sorrir ou piscar.

— Não viaja, Char! — disse Kimberly querendo zoá-la.

— Não viaje você, Kimberly. Tome cuidado em onde você pisa e o que você imagina quando toca em alguma coisa nesse lugar... — Charlotte encarou-a fixamente. Agora, ela estava agindo como Samuel, como se fosse uma pessoa sábia que já tivesse passado por isso.

O silêncio tomou conta daquele lugar frio e sombrio depois do que Charlotte tinha dito. Eles entreolharam-se, olharam para o chão, paredes, teto e objetos, tentaram ouvir alguma coisa, mas nada aconteceu. Megan ficou de costas para a boneca o tempo todo, Kimberly olhava só para o chão e Héctor olhava as fotos anteriores que havia tirado. Na câmera, ele encontrou fotos da boneca, que ele tinha certeza absoluta de que não havia tirado foto alguma dela, muito menos, quando viu que havia uma foto dele com a boneca. Seu coração nesse momento gelou de novo, sua mão começou a suar e em sua mente, se perguntava o que aquilo significava. Então, ele se virou para a boneca novamente, ficou encarando-a tentando vencer o medo e a vontade de sair correndo ou atear fogo nela. Aos poucos o medo parecia estar sendo vencido, tanto que ele estava se aproximando cada vez mais da cadeira onde estava a boneca. Quando se deu conta de que estava próximo demais, olhou para trás e viu que estava sozinho, conseguia ouvir as vozes dos amigos mas não fazia ideia de onde estavam. Depois, virou-se novamente para a cadeira e a boneca já não estava mais lá. Aí o medo de Héctor voltou. E então, quando tornou a olhar para trás, Diana, a boneca esquizofrênica, o pegou. O vidro da janela onde a cadeira estivera próxima, foi quebrado em estilhaços, fazendo os demais ouvirem um pequeno estrondo e o tinir dos vidros caindo no chão. Quando o grupo voltou para a sala principal, viram a boneca intacta na cadeira, sorrindo, porém ensanguentada e com a câmera de Héctor, mostrando a foto em que ele a segurava próxima ao rosto, enquanto a boneca olhava para a região do pescoço do rapaz. Rapidamente correram para a janela e viram Héctor no chão, ensanguentado, com o pescoço dilacerado. Agora, juntamente com a pobre Diana, Héctor viveria para sempre naquele lugar. A boneca continua lá, encantando e assustando curiosos, sempre limpa para receber seus “clientes”. Charlotte conta que todas as vezes em que vai visitar o Sanatório, quando se aproxima daquela janela, encostando na mancha de sangue de Héctor, ela o ouve sussurrar em seu ouvido, dizendo: “Pule e junte-se á mim!”.



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Notas finais do capítulo

Livro|Web Sanatório Bustin Gerald de Kamila A. adaptado para Conto por Miriã Veloso.



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