Depois daquela conversa, eu e Edward não estávamos mais nos falando.

        Tudo bem, eu estava evitando ele. Tinha alguma coisa que eu não gostava naquele cara. Quando eu via ele em algum lugar eu simplismente dava meia volta e ia fazer algo mais interessante.

        Certo dia, estava bem quente. Mais quente do que o normal. Pelos meus cálculos, esse era o dia mais quente desse verão. Tinha pensado em tudo. Cortei a minha camiseta para ficar uma regata, coloquei um biquíni, e ia nadar no riacho com a Annabeth e Jess. Antes disso, eu peguei uma água na cozinha. Tinha acabado de sair de uma partida de vôlei, e estava realmente sedenta.

        Saí da cozinha, bem feliz. Quando eu ia colocar a água na boca, estava esperando por esse momento, estava quase lá e POFT.

       Alguma coisa atingiu a minha cara, uma bola de futebol americano talvez. Caí no chão com tudo e virei toda a minha garrafinha de água por cima de mim. Ah, está bem. Agora eu realmente tinha ficado irritada. Quem quer que fosse ia ter que me pedir bastante desculpas por isso. OK, eu gostei de me encharcar de água, mas isso é outra história.

       - QUEM FOI O DESGRAÇADO QUE FEZ ISSO?

       - Nossa, realmente o estrago foi beem grande. – Edward. Vida, você só pode estar de brincadeira. Mas pelo menos foi um grande motivo para eu ficar mais braba ainda.

       - Você podia olhar para onde joga essa bola! – Minha voz estava muito mais elevada do que o normal. Hehe.

       - Bom, e você poderia olhar por onde anda! Por acaso não viu que nós estávamos jogando?

       - Exatamente! Estavam! – Peguei a bola e furei-a com as minha unhas. A cara pasma dele estava divertidíssima, mas eu não me esqueci do que ele fez. – E aliás, está dizendo que a culpa foi minha? Menino, ninguém te deu educação?

       - A minha educação eu uso com quem mereçe! E você – ele apontou para a bola – não parece ser um dessas pessoas!

       - E nem queria! Imagine só! Boas maneiras limitadas a um grupo de pessoas! Faça-me o favor!

       - Olha só quem está falando! A menina que, cada vez que eu falo com ela, dá uma desculpa para sair da conversa e nem sequer olha na minha cara! E depois disso, me evita por quase três dias!- Não sabia como ele sabia, mas de uma coisa eu tinha certeza. Esse garoto petulante já tinha passado dos limites.

       - Eu achei que você pudesse ser um doido psicopata! Na verdade, agora eu tenho certeza!

       - Deve ser estranho mesmo para você! Pessoas gentis querendo conversar a sua volta! Acho que sei porque você não tem muitos amigos.

      - E para você deve ser bem fácil, não é? Sendo filho de um dos Três Grandes, as pessoas devem fazer fila para conhecer uma celebridade! – Isso era verdade. Todas as meninas ficaram caidinhas por aquele mané. Gostaria de ter Thalia aqui conosco. Ela botaria jeito nesse panaca.

      - Acho também que sei porque você não tem um namorado, sabia?

      Fiquei quieta. Contra isso eu não tinha argumento nenhum. Ao mesmo tempo vi as pessoas que tinham assistido a discussão animadas, perceberem que ele tinha tocado em um dos meus pontos fracos. Elas estavam ali quando tudo aconteceu.

      - Ah, então você tinha um namorado, sim! O que foi que aconteceu? Ele te largou por outra? Provavelmente. – Quanta ironia. Não me arrependi do que fiz depois.

      Dei um tapa bem no meio daquela cara bonita.

      - Isso foi pela água. E não julgue as pessoas assim, Ketterley. Isso é patético. Até para você.

     Saí, deixando todas aquelas pessoas chocadas. Até ele. As minhas lágrimas caíam enquanto eu andava em direção do riacho. Iria pedir desculpas a Jess e iria falar com Annabeth a sós. Eu amo ela e poderia falar muito bem com a Jess, mas ela não entende. Ela não passou por tudo que eu passei. Ela não perdeu várias pessoas como eu perdi. A única vez eu eu conversei com ela sobre a minha vida foi assim :

      - Jess o que você acha sobre isso? – Eu chorava em prantos. Precisava de apoio.

     - Não chore, Ronnie. Pare de viver no passado. Não é bom para você. Vem, vamos ouvir a nova música da Beyoncé.

     Eu não queria ouvir música nenhuma. Queria sentir que tinha alguém no mundo. Companhia. Amava muito o Quíron, mas ele tinha coisas pra fazer. Viagens, resgates de semideuses, entrega de morangos. Eu só queria alguém que entendesse e estivesse pronto para conversar a qualquer hora do dia.

    Por isso, falava com Annabeth. Ela podia ser pequena, mas eu não tinha outra pessoa. Ela dava conselhos incríveis. Era tão jovem e tão adulta ao mesmo tempo. Tinha pssado quase as mesmas coisas que eu. Na verdade eu nem queria falar com ela sobre os meus problemas. Ela já tinha muitos, apenas com sete anos. E não sei se ela ficaria sobrecarregada.

    Ás vezes, ficava sozinha também, mas não era a mesma coisa.

    Cheguei no riacho e nem vi Jess, quando a Annie me encontrou.

     - O que aconteceu, Ronnie? – Aqueles olhos cinzas eram a única coisa que me fazia feliz. Tinha esperança neles. Uma coisa que se tivesse nos meus, eu não conseguia mais enxergar.

     - Preciso falar com você. – Levei ela aos campos de morangos. Hoje não era dia de colheita, por isso ninguém ia lá , e a Toca ainda ficava em sigilo total.

     Lá, contei a ela sobre tudo o que tinha acontecido. Ela sabia da minha vida inteira, por isso a história não demorou muito. Ela era uma boa ouvinte, também. E quando eu terminei, ela só me deu um abraço. O que era o conselho perfeito.