Saímos da festa rindo, abraçados, felizes. À noite de sábado havia sido ótima, aproveitei ao lado de meus amigos e meu namorado a festa em comemoração ao final do nosso primeiro semestre na faculdade. Muitos outros viriam, eu sei, mas o primeiro é sempre mais especial, e necessitava uma comemoração. Fora uma festa regada a música, jogos e bebida, sim, muitos colegas e amigos beberam além do ponto, mas eu e Joaquim prometemos não beber, ele dirigia e precisávamos pegar a rodovia no caminho de volta para casa. E foi isso, nos despedimos de alguns amigos que ainda estavam por lá, entramos no carro, Joaquim deu a partida enquanto eu ligava o rádio.

- Foi uma boa festa – Joaquim comentou distraído.

- Foi sim, agora é só férias! – eu exclamei rindo sozinha.

Continuei sintonizando alguma rádio qualquer, foi quando vi um clarão e olhei para frente.

- JOAQ...

Tarde demais.

*PI PI PI*

Bati com a mão em cima do despertador. 6h00min. E o mesmo pesadelo na cabeça, aquele me acompanha há um ano. Ter esse pesadelo todas as noites não me faz bem, lembrar-me de Joaquim, de como ele se foi e quanto me sinto culpada por tudo que aconteceu. Os pais dele nunca me culparam. As pessoas que viram também não. Mas me sentirei eternamente culpada por ter pedido para ele para irmos à festa, por termos pegado a rodovia sem o consentimento de nossos pais, por alguém muito bêbado ter errado a pista e batido de frente no carro de Joaquim, por ter sido ele e não eu!

Aquela noite foi horrível, assim que saímos do estacionamento, um dos convidados da festa, que estava muito bêbado, bateu de frente no nosso carro, Joaquim morreu na hora, eu fui para o hospital desacordada e só voltei a mim quase duas semanas depois, quando recebi a notícia, foi um choque. Chorei por dias seguidos, meus amigos, meus pais e os pais de Joaquim me consolaram o tempo todo e me apoiaram na minha estadia, de seis meses, no hospital. Foi difícil, mas depois de tanto tempo saí do hospital com apenas algumas cicatrizes. Depois de sair, iniciei uma nova batalha, não queria voltar pra faculdade, nem ficar em Buenos Aires, e após muita conversa, meus pais me mandaram para Córdoba, para passar uma temporada na casa de meus avós e depois de seis meses resolvi, por livre e espontânea pressão de meus pais, voltar a estudar, mas não vou voltar para Baires, vou estudar por aqui mesmo. Hoje é meu primeiro dia na nova faculdade, um ano depois do acontecido, voltarei a estudar Psicologia, e nesse momento da minha vida, parece o curso mais certo a ter escolhido.

Levantei-me, fui até o banheiro me arrumar e desci para tomar café, minha avó já estava com a mesa farta pronta, como todas as manhãs nos últimos seis meses, sentei-me e comi em silêncio. Vovó sabia da minha vontade não voltar à faculdade, não agora, mas como meus pais pediram e eu tive que aceitar, ela ficou na dela.

- Vai dar tudo certo, meu bem – ela disse, sentando-se ao meu lado.

- Eu espero, vovó! – respondi e levantei-me. – Vou indo, quero chegar mais cedo, tchau.

- Tchau, amorzinho.

Saí e segui a pé, a faculdade era meio longe de casa, meus pais haviam me dado um carro para isso, mas ainda não me sentia segura para dirigir ou andar de carona. Cheguei à frente da faculdade, olhei para aquela grande construção a minha frente criando coragem para dar o primeiro passo rumo à nova vida.