Hermione abriu os olhos e não sentia nenhuma vontade de levantar-se. Não queria encarar sua mãe.

–Hermione. –A voz que soou do lado de fora do quarto era muito diferente daquela ouvida no dia anterior. –Posso entrar querida? –Pediu pacientemente.

–Claro que sim mamãe. –Deu a permissão e sentou-se na cama.

–Hermione eu sei que agi mal com você, mas estava cuidando da minha filha. –Disse arrependida.

–Você quer me afastar do Draco mãe, eu não posso deixar ele sozinho nesse momento. –Os olhos começaram a lacrimejar.

–E não vou fazer isso. –Respirou fundo.

–Isso quer dizer que... –Hermione mostrou um meio sorriso.

–É eu não vou afastar você do menino. Gostei dele. –A mulher acariciou o rosto da filha. –Levante-se, tome um banho, se vista, tome café. –Disse enquanto levantava.

–Mas por quê? –Hermione cruzou os braços.

–Liguei para minha amiga e você tem um consulta daqui uma hora e meia. –Saiu do quarto.

Hermione bufou de raiva, jogou o travesseiro na porta e cobriu o rosto com o outro travesseiro abafando o grito de raiva.

–Eu não tô louca. –Disse para si mesma.

Levantou-se relutantemente e caminhou até o banheiro do quarto, ligou o celular tocando “Roar-Katy Perry” enquanto tomava um banho.

A menina tirou algumas saias, calças, vestidos e blusas e jogou na cama. Vestiu uma saia azul com uma blusa preta olhou-se no espelho e desistiu. Decidiu pegar um vestido azul, vestiu jaqueta jeans e tirou uma bota de debaixo da cama e calçou-a.

Hermione caminhou até a penteadeira, abriu o porta joias pegou uma correntinha com o nome Believe e o anel que Draco havia lhe dado na praia.

–Tô pronta. –Disse com uma cara emburrada.

–Melhore essa cara menina, você está indo para uma consulta e não para um abatedouro. –Disse e pegou a bolsa. –Não vai tomar café?

–Estou sem fome. –Abriu a porta e saiu.

–Tenha paciência com ela Clarice*. –O pai de Hermione selou a esposa.

–Estou tentando, Deus sabe que estou. –Saiu.

As duas entraram no carro, que depois de uns doze minutos o carro parou em frente á uma clínica.

–Eu tenho que fazer isso? –Hermione encarou a mãe.

–Tem filha. Para o seu bem. –Abri a porta e sai.

Hermione aperta o celular na mão e sai do carro com uma cara de quem comeu e não gostou. A tensão rondava a menina.

–Olá Hanna, bom dia. –Clarice cumprimenta a secretária.

–Bom dia Senhora Granger. –A moça de grandes olhos castanhos e cabelos lisos sorriu enquanto tirou os olhos da tela do computador. –A Doutora Longbottom logo irá atendê-las.

–Acredite, eu não estou com pressa. –Hermione disse jogando-se num sofazinho verde na recepção.

–Hermione tenha modos. –Repreendeu.

–Tudo bem Senhora Granger, é normal os pacientes estarem arredios no primeiro dia. –Hanna sorriu.

Hermione pegou o celular e discou o número de Luna. Ela precisava com alguém alto astral naquele momento.

Ligação: ON

–Mione. –Gritou do outro lado da linha.

–Tudo bem Luna?

–Ah como sempre tudo ótimo e você?

–Nem tanto.

–É soube que Draco ainda está no hospital, mas ele fica bom logo.

–Ah Luna, só você mesmo pra me fazer sorrir.

–Por que você está com essa voz desanimada?

–Minha mãe me trouxe numa psicóloga.

–Que bom você está precisando mesmo.

–Até você Luna?

–Desculpe Mione, mas você anda estranha.

–Eu vou desligar acho que já vão me chamar.

–Tchau amiga, boa sorte.

–Obrigada.

Ligação: OFF

–Hermione Jean Granger. –Hanna sorriu.

–Boa sorte minha filha. –A mãe da menina sorriu.

–É, acho que vou precisar.

Hermione entrou no consultório com o olhar fixado na tela do celular.

–Senhorita Granger sente-se no divã. –A mulher tem os cabelos brancos e finos e o rosto redondo.

Hermione notou um pouco de semelhança dela com alguém que a moça conhece. Mas não conseguia lembrar quem.

–Senhorita Granger posso chamar-lhe de Hermione? –A moça assentiu. –Eu sou a doutora Longbottom.

–A senhora tem um filho? –Hermione encarou-a.

–Tenho sim, meu Neville. –Mostrou a Hermione um porta-retrato com uma foto de Neville.

–Eu o conheço, somos amigos. –Sorriu de canto.

–Vamos falar de você querida, sua mãe contou-me por alto o que você está passando com seu namorado. –A psicóloga não encarou Hermione dando-lhe tempo para responder.

–É que ele tem leucemia. –Hermione olhou para o papel de parede do celular.

–Posso? –Estendeu a mão e Hermione a entregou o celular. –Com todo o respeito é um lindo rapaz. –A psicóloga não devolveu o celular, colocou-o na mesa.

–Eu sei. Ele é o mais lindo de todos os meninos do colégio. –As lágrimas brotaram no olhar da menina.

–Hermione tem sentido irritabilidade? Angustia? Ansiedade? –Estreitou os olhos.

–Na verdade tenho. –Hermione disse e a psicóloga anotou.

–Desânimo? Cansaço? –Continuou com o mesmo olhar.

–Desânimo sim, cansaço não. –Disse passando uma mão na outra.

–Falta de apetite? –Hermione assentiu. –Você está conseguindo ser feliz?

–Estou. –Pensou. –Na verdade não, eu tento ser, convenço os outros de que estou feliz, mas não estou. –Deixou uma lágrima escapar.

–Falta de vontade? –Assentiu. - Sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero, desamparo e vazio?

–Tenho medo de perder Draco, medo de ficar doente também, medo dos meus pais ficarem doentes, meus amigos. –A respiração acelerou. –Ando insegura, passo a visibilidade de que acredito que Draco ficará bom, mas não acredito. –Chorou. –Eu tô desesperada e estou vazia. Sem Draco eu fico vazia.

–Vou te perguntar uma coisa querida. –A menina assentiu. –Você se acha linda? Seu cabelo é sedoso? –Hermione estranhou a perguntar.

–Eu não sou linda, dizem que eu sou, mas é mentira. E meu cabelo parece uma palha. –Disse transparecendo raiva.

A psicóloga anotou “Baixa alta estima”.

–E sua vida meu amor, tem um sentido? –Olhou para a menina novamente.

–Sem Draco não. Ele tá no hospital e logo ele não estará lá e nem em lugar algum. Às vezes penso que quero morrer. Eu não sirvo pra nada, eu queria salvar o Draco, cura-lo, mas não posso. Milhões de crianças passando fome e eu não posso fazer nada. –Entre soluços.

A psicóloga anotou na prancheta “Sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, doença e morte”.

–Como o dia está hoje? O céu como está? –Hermione olhou para a janela.

–Cinza, medonho, triste e chuvoso. –Disse sem sentimentos na voz.

Anotou “Visão distorcida e negativa da realidade”.

–Como está indo na escola?

–Tenho dormido nas aulas, duas notas baixas, eu não consigo entender direito os assuntos. –Hermione passou as mãos nas bochechas secando as lágrimas que por ali escorriam.

Mais anotações “Dificuldade de concentração, raciocínio mais lento”.

–Anda esquecendo facilmente das coisas? –Perguntou.

Hermione lembrou-se de duas ou três vezes que se esquecera de fazer algo, ou de dizer. A menina começou a se preocupar.

–É, de uma á três vezes. –Abaixou a cabeça.

Anotou novamente “Esquecimento”.

–Hermione tem dormido bem? –Agora a mulher tinha uma expressão preocupada.

–Estou com muita insônia. Não consigo dormir e quando consigo tenho pesadelos. –Deitou no divã.

–Tem sentido muitas dores? –Disse anotando “Insônia”.

–Dores não. –A médica abriu um pequeno sorriso.

–Graças a Deus. Hermione nós terminamos as perguntas. –Sorriu para a moça.

–O que eu tenho? –Disse com lágrimas invadindo novamente o rosto.

–Depressão. Não se preocupe menina, está no começo. Conseguiremos acabar com ela antes do seu namorado ficar bom. –Garantiu.

–Tenho que tomar muitos remédios? –Sentiu medo.

–Não, só uns dois comprimidos por dia de antidepressivos e vir aqui às vezes desabafar comigo. –Pegou a receita e entregou a Hermione.

–Obrigada doutora, logo voltarei e vou fazer tudo direitinho. –Prometeu. –Thau. –Despediu-se e se foi.

–E ai meu amor arrancou algum pedaço? –A mãe brincou.

–Eu tenho depressão. –Disse tristonha e entregou a receita para a mãe. –A doutora Longbottom disse que ficarei bem.

–Eu sei que vai, você é muito forte. –Acariciou o rosto da menina. –Vamos para casa almoçar e á tarde eu vou com você visitar Draco. Posso?

–Claro que sim. –Disse forçando um sorriso.

Elas foram para casa, ao chegarem Hermione esforçou-se para ajudar a mãe no almoço. Quando colocou a comida no prato teve uma sensação estranha, ela queria comer, mas não tinha fome.

–Você vai comer? –O pai da menina perguntou enquanto sentava-se á mesa.

–Vou. –Deu a primeira colherada.

Hermione comeu metade do prato de comida, já era alguma coisa para quem não comia praticamente nada.

Depois do almoço ela foi para o quarto deitou-se na cama, pegou o tablet e atualizou depois de semanas o facebook. Hermione postou a seguinte frase:

“Continue á nadar. –Dory”

Quem diria que três palavras pronunciadas por um peixe numa animação, aconselharia tanta gente. Mas é isso que essa frase faz, incentiva á continuar á nadar e isso que Hermione vai fazer. Ela vai seguir.

Hermione ligou o som com a música “Can I Have This Dance- High School Musical 3” a menina dançava sozinha no quarto, usando apenas a pontinha dos pés.

Aumentou o som com a música “Best Song Ever-One Direction” enquanto tomava um banho rápido e vestia uma calça jeans, blusa branca de manga comprida, bota preta, cabelo meio preso. Desligou o som e desceu as escadas.

–Vamos mamãe. –Chamou e a mãe atendeu-a.

...

Ao entrarem no quarto de Draco, lá estavam Narcisa e Lúcio Malfoy, Pansy e Draco sentado na cama. Ele tinha olhos fundos que se iluminaram de certa forma ao ver Hermione.

–Desculpe o atraso. –Abraçou-o e logo em seguida selou o namorado. –Mamãe veio te ver.

–Olá Senhora Granger. –Draco cumprimentou.

–Olá genro. –A mulher sorriu. –Hermione eu vou comprar seus remédios e depois venho te buscar. –Hermione estremeceu.

–Que remédios? –Draco perguntou com expressão séria logo depois da mãe de Hermione sair.

–É besteira. –Mentiu. –Mas e você está bem? –Mudou de assunto.

–Que remédios? –Insistiu.

–Você não vai desistir não é? –Ele negou. –Eu fui á psicóloga hoje e ela me passou dois antidepressivos. Satisfeito?

–Antidepressivos? –Fechou os olhos. –Isso quer dizer que por culpa minha você está com depressão?

–Não é culpa sua, e está no começo. Eu vou ficar bem. –Hermione segurou a mão dele.

–Você emagreceu quantos quilos desde que eu fiquei doente? –Ela não queria responder. –Um? Dois?

–Três. –Todos os presentes no quarto suspiraram preocupados. –Eu vou ficar bem. Eu prometo Draco.

–É bom mesmo. –Sorriu para a namorada. –O médico disse que não vai demorar muito para que eu saia daqui. –Disse esperançoso.

–Ai que bom meu amor. –Abraçou-o novamente.

–Estou muito feio? –Draco perguntou deixando todos indignados.

–Eu não vou responder. –Cruzou os braços.

–Amo quando você fica brava. –Draco disse e todos riram.

Hermione sentou-se na cama ao lado dele segurando-lhe a mão. Ela não queria sair de lá, nunca mais.

Mas logo a visita acabou e ela teve que ir para casa.

Á noite Hermione esforçou-se para jantar, subiu, trocou de roupa vestindo uma calça de moletom preta cheia de desenhos de corações, camiseta cinza, blusa de frio e fez uma trança no cabelo.
Deitou-se na cama e abraçou o ursinho que Draco havia lhe dado, ela precisava dormir. Tinha tomado um comprimido. Ela precisava dormir, tinha prometido que ficaria bem. Tinha que ficar bem.

Hermione puxou o edredom para cima de si, apertou o ursinho contra o peito e depois de alguns minutos ela dormiu pensando em Draco.