Draco estava sentado na sala de espera do hospital. Ele tinha feito alguns exames e hoje vinha mostra-los para o médico. Sua mãe mendigava um olhar do marido que andava de um lado para o outro discutindo algo com um de seus empregados na empresa.

–Draco Lúcio Malfoy. –A enfermeira saiu da sala do médico com uma prancheta na mão e procura quem poderia ser o paciente.

Draco levantou-se seguido por sua mãe e foram levados para a sala do médico. O homem que os esperava aparentava uns sessenta e poucos anos, tinha um barba mal feita branca, cabelos grisalhos e não usava óculos de grau.

–Senhora Malfoy sente-se. –A mulher sentou-se e Draco ao seu lado. –Visita de rotina ou problemas com a saúde?

–Doutor Draco tem apresentado manchas estranhas nas costas. –Narcisa disse e o médico levantou-se e levantou a blusa do rapaz e fez uma expressão facial incompreensível.

–Dói? –O médico apertou uma das manchas e Draco negou com a cabeça. –E essa? –Negou novamente. –Seja sincero comigo rapaz, você tem sentido fraqueza?

–Tenho. –Draco encarou-o. –Mas é normal, não ando comendo bem. Estou sem tempo porque tenho treinado futebol demais.

–Cansaço? –O médico anotava alguma coisa em um papel.

–Claro que sim, ando muito cansado, mas já disse o motivo. –Disse cruzando os braços.

–Seu filho tem tido febre Senhora Malfoy? –O médico olhou para a mulher que parecia nem saber o significado de febre.

–Você tem tido febre Draco? –Era impossível, como uma mãe pode não saber sobre a saúde do filho.

–Tive, algumas vezes. –Draco se sentia humilhado. –Eu tomo um remédio e acaba.

–E depois volta? –O médico franziu a testa e Draco assentiu. –Dores nos ossos? –O rapaz assentiu começando a se preocupar. –Tem tido sudorese noturna? –Draco assentiu.

–Como você sabe de tudo isso? –Arqueou a sobrancelha.

–Só me diga uma coisa Draco, você tem tido sangramentos? Na gengiva ou sangramentos nasais? –Agora sim a expressão do médico estava estranha, ele estava quase sem sangue e tinha os olhos três vezes maiores que o natural.

–As vezes meu nariz sangra, mas é pouco. –Draco respondeu e o médico arfou.

–O que o meu filho tem Doutor? –Narcisa estranhou o comportamento do médico que parecia estar assustado.

–Não tenho certeza, preciso que você faça hemograma. –O médico escrevia algo.

–Hemograma? Mas esse exame não é para saber se a pessoa tem... –Draco parou de falar. –Não pode ser!

–Sinto muito. –O médico encarou Draco. –Tenho suspeitas de que você tenha... –Draco assustou-se e Narcisa arregalou os olhos. –Chame seu marido, por favor. –Referiu-se a Narcisa.

Narcisa saiu do consultório e depois de um minuto entrou com o marido que parecia não estar entendo o motivo de ter que estar ali.

–Por que necessita da minha presença? –Lúcio era um homem ocupado, frio e invencível.

–Eu sinto dar-lhes essa notícia, mas... O seu filho tem grandes chances de estar com Leucemia mieloide. –Draco levantou-se, Narcisa marejou os olhos e Lúcio desligou a ligação. –Isso afeta as células mieloides, acho estranho porque afeta normalmente adultos e seu filho é novo. Então vou pedir que ele fizesse urgentemente um hemograma. –O médico encarou Draco.

–Está avançado Doutor? –Narcisa disse com a voz cortada.

–Pelo que ele me falou, sim. Vocês deviam ter prestado atenção nisso mais cedo, talvez ele tivesse mais chances ainda de viver. Leucemia é uma doença grave. –O médico repreendeu a falta de atenção dos Malfoy para com o filho.

–Eu vou morrer? –Draco virou-se para o homem.

–Talvez não, há tratamento e você é jovem. –O médico disse esperançoso.

Draco sabia que não era tão simples. O rapaz saiu do consultório como um foguete, ele estava transtornado.

–Vocês dois vão precisar dar uma força para o menino, não quis dizer na frente dele, mas a situação dele pode não ser tão simples. Pode ser bem complicada. –Narcisa queria morrer, ela sabia que se tivesse dado atenção para o filho teria visto que havia algo de errado antes.

–Não queira me ensinar a cuidar do meu filho. –Lúcio disse prepotente. –Leucemia tem tratamento, eu tenho muito dinheiro. Eu posso salvar o meu filho. –O homem era presunçoso e orgulhoso.

–Se a doença estiver muito avançada o tratamento pode prolongar um pouco a vida dele, alongar o sofrimento dele. Mas salvação, cura... Só Deus... Só um milagre pode salvar o menino. –O médico disse e se levantou.

Os pais do rapaz saíram e foram a sua procura, Draco estava parado ao lado do carro do pai. Ele não chorava, não queria demonstrar fraqueza.

–Draco... –Narcisa tentou tocar o filho que recuou.

–Não quero falar disso, vamos pra casa. –Draco entrou no carro e bateu a porta fortemente fazendo um estrondo enorme.

Ao chegarem a casa Draco não disse nada, apenas subiu correndo para o quarto. Ele se olhou no espelho e pensou que um dia ficará careca. E se Hermione se afastar dele por isso? É claro que ela não o faria. Ela é boa demais pra isso. Mas ela não merece ter um namorado doente.

O rapaz se permitiu chorar e sua raiva e sua revolta eram tão grandes que ele quebrou tudo que via pela frente. Ele pegou uma foto sua com seus pais, ele era apenas um bebê e seus pais pareciam ser felizes. Ele se perguntou quando sua família começou a se destruir. E com esse pensamento arremessou o porta retrato na parede espedaçando-o.

Todas as fotos, espelhos, câmeras, livros e tudo que estava ao seu alcance foram jogados pra longe se rasgando, quebrando-se.

Narcisa ouvia todo o barulho e toda a ira do filho, ela estava sentada na escada aos prantos. Lúcio finalmente pareceu acordar do transe e perceber o que realmente estava acontecendo, o homem sentou-se ao lado da esposa e a confortou e permitiu que uma lágrima escorresse pelo canto do olho.

Draco estava muito abalado com seu diagnostico, ele estava trancado no quart. O rapaz estava perturbado e seu coração apertava cada vez mais toda vez que Hermione ligava para ele e ele não atendia.

O rapaz se encolheu na cama e encarou a foto de Hermione na tela de seu celular sempre que ela ligava. Seria tão difícil contar pra ela de sua doença. Ela sofreria. E isso o mataria mais rápido.

Era fim de tarde, o céu estava acinzentado, chovia forte. Draco continuava recluso no quarto, Narcisa não parava de chorar e Lúcio não sabia mais o que fazer ou o que falar para a esposa. Draco se recusava a ver pessoas.

Hermione estava preocupada com o sumiço do namorado e então se viu parada na frente da grande casa dos Malfoy. Ela tocou a campainha e logo uma empregada abriu a porta.

–Olá senhora Malfoy eu sou Hermione Granger. –Ela estendeu a mão para a mulher que se forçou a receber a visita.

–Olá, você é a nova namorada do Draco não é? –Hermione assentiu. –Vou te entregar uma chave e quero que você converse com o meu filho.

A mulher abriu um pote e de dentro tirou uma chave e mostrou a Hermione que olhou curiosa.

–É do quarto de Draco, converse com ele. –A mulher disse segurando as lágrimas.

Narcisa deu a chave auxiliar do quarto de Draco para Hermione que não pensou duas vezes e correu até o quarto do rapaz abrindo a porta. Granger assustou-se ao se deparar com o espelho quebrado, porta retratos no chão, a roupa de cama espalhada pelo chão, tudo estava desarrumado e ela deixou que seu olhar encontrasse o namorado que estava sentado na janela encarando o céu escuro.

–Draco o que tá acontecendo? –Hermione caminhou um pouco. –Que bagunça é essa? –Ela apontou para a cama e depois para o chão. –Por que sua mãe estava chorando? –Ela chegou até o namorado e pegou o porta retrato da mão dele.

Era a foto dela. Draco não respondia, estava com os olhos inchados e a face encharcada de lágrimas. Hermione preocupou-se ainda mais.

–Draco pelo amor de Deus o que tá acontecendo? –Hermione tremia.

Draco em um único movimento se abraçou a Hermione e permitiu que as lágrimas invadissem cada vez mais seu rosto. Lágrimas pesadas, lágrimas de dor, lágrimas de desespero. O Draco que sempre havia sido tão frio estava ali tão vulnerável e fraco.

–Dá pra me dizer o que tá acontecendo? –Hermione afastou Draco de si e encarou-o. –Por que todo mundo tá chorando? –Hermione insistia e Draco não respondia.

O rapaz caminhou até a cama e sentou-se, Hermione caminhou até ele e ficou de joelhos erguendo a cabeça do namorado com as mãos forçando-o a encara-la.

–Você tá me deixando desesperada. É por causa da consulta? –Hermione viu os olhos de Draco ficarem vazios.

–Eu vou morrer. –Draco disse com a voz engasgada e olhou para cima para impedir que as lágrimas escorressem ainda mais.

–Você tá brincando não é Draco? –Hermione já estava a ponto de chorar. –Diz que está. –Ela tentava se convencer que aquilo não estava acontecendo.

–Eu tô falando a verdade. –Draco se levantou e ficou de costas para a namorada que agora havia se sentado no chão. –Me diz Hermione, toda a minha vida valeu a pena? –Draco levantou o tom da voz. –Todos esses anos valeram a pena? Acho que não, agora eu tenho leucemia e vou morrer. –Draco passou os dedos por dentro do cabelo. –Eu não queria te contar assim.

–Draco tenta se controlar. –Suplicou.

–Me controlar? Pra que? –Draco jogou o frasco de perfume na parede. –Eu vou morrer, pra que eu preciso me controlar?

–Nós vamos superar isso. –Hermione levantou-se.

–Não. Isso não pode ser apenas superado. –Draco esfregou as mãos no rosto. –Eu passei a tarde inteira tentando encontrar um sentido pra minha vida. Sabe quanto tempo eu perdi fazendo besteira? Eu não estou pronto pra morrer e deixar tudo isso pra trás. –Draco gritou desesperado. –Eu não sei mais quem eu sou ou onde eu estou. –Exclamou desesperado.

Hermione não sabia o que fazer, os gritos de Draco atraíram os pais a subirem para seu quarto. Lúcio abraçava protetoramente Narcisa.

–Draco... –Hermione tentou falar.

–Não Hermione eu não quero que sinta pena de mim. –Draco secou as lágrimas. –Eu não estou pronto pra partir mãe. –Draco olhou para a mãe que caiu de joelhos na soleira da porta. –Eu não quero partir, senão eu nunca vou saber o que eu perdi.

–Meu filho você não vai morrer. –Lúcio tentou acalma-lo.

–Vocês vão se separar. Você acha que eu não sei? Acha que eu não fico todas as madrugadas ouvindo gritos e choros da minha mãe? Você acha que eu não ouço você bater a porta e ir encontrar a sua amante? –Draco gritou as acusações para o pai.

–Eu não queria magoar a sua mãe, mas aconteceu Draco. –Defendeu-se o homem.

–Nunca quis magoar minha mãe? –Draco caminhou até o pai. –Você não foi homem o suficiente para assumir os seus erros, minha mãe teve que contratar um detetive pra descobrir sua amante. –Disse com o dedo na cara do pai. –Você não foi um pai. Nunca foi um marido. Quando eu morrer minha mãe vai ficar sozinha no mundo. –Draco gritou furioso. –Eu tive que fazer coisas horríveis pra ter sua atenção e no mesmo assim quase não consegui.

–Meu filho... –O pai tentou falar.

–Não me chame assim. Não pense que porque eu vou morrer eu vou perdoar todo mundo. –Draco gritou ainda mais alto.

–Draco. –Hermione tocou no ombro do rapaz que virou-se e a abraçou. –Você vai ficar bom. É só fazer o tratamento.

–Minha leucemia está avançada demais. Vocês acham que eu não ouvi o médico esperar eu sair pra falar? –Draco disse ainda abraçado a moça. –Eu não vou me tratar.

–Você vai se tratar. –Hermione disse e obrigou Draco a olha-la. –Ouça o que eu estou dizendo, você vai se tratar. Olha pra mim. –Ela selou-o rapidamente. –Eu não posso perder você.

–Você vai aprender a viver sem mim. –Draco insistiu.

–Não Draco. Como você espera que eu viva sozinha? Como eu vou viver sem você? –Hermione chorava. –Meu mundo gira ao seu redor, eu respiro por você.

–Eu não quero morrer. –Draco soluçou.

–Você não vai. –Hermione segurou a mão do rapaz. –Eu amo você. –Disse olhando dentro dos olhos tempestuosos de Draco.

–Eu também amo você. –Disse chorosamente.

–Draco Malfoy, me prometa que você vai se tratar. –Hermione e encarou ainda mais.

–Prometo. Por você e por minha mãe. –Ele estava tão frágil.

Hermione nunca havia visto Draco tão desprotegido. Ela queria abraça-lo, queria fazer com que tudo isso fosse embora, queria protegê-lo, queria ajuda-lo. Mas se sentia totalmente impotente naquele momento. Estava tão frágil quanto Draco.

–Fica aqui comigo? –Draco havia se acalmado um pouco.

–Até você dormir. –Acariciou o rosto do namorado. –Vá tomar um banho enquanto eu arrumo um pouco dessa bagunça. –Ele assentiu.

Hermione arrumou a cama, enquanto duas empregadas arrumavam o resto. Draco estava debaixo do chuveiro imóvel, ele sentia a água quente escorrer sobre seu corpo tentando acreditar que tudo não passava de um sonho. Ou melhor, dizendo, de um pesadelo. Narcisa estava abalada demais, a mão do loiro tomou um banho, engoliu um comprimido calmante e se deitou na cama.

Draco saiu do banho ele apenas vestia uma calça de moletom. Mesmo abalada Hermione não conseguiu conter os olhos que percorreram todo o corpo de Draco.

–Perdeu alguma coisa na minha barriga Hermione? –O rapaz forçou um sorriso.

–Bobinho. –Hermione sorriu tentando se conter. –Vem. –Ele a obedeceu rapidamente.

Ele se deitou na cama e Hermione acariciava o rosto do rapaz e penteava o cabelo do rapaz com os dedos. Ele é tão lindo. Era o pensamento da moça naquele momento. Logo Draco dormiu, estava cansado demais. Hermione ajeitou a cabeça do namorado no travesseiro, o cobriu e pegou um papel e uma caneta deixando um bilhete preso debaixo da foto dela.

Draco precisei ir para casa. Preciso arrumar os meus pensamentos e descansar. Amanhã cedo eu venho te ver.

Não faça nenhuma besteira mocinho.

Muitos beijos da sua e eternamente sua Hermione Granger.
Amo você.

O bilhete tinha um coração desenhado no final e o papel estava um pouco úmido pelas lágrimas na menina.

Hermione desceu as escadas silenciosamente, ligou para a mãe e foi para a casa. Ao chegar em casa reuniu-se com os pais para ter um conversa breve e direta.

–Mãe e pai. –Ela iniciou tentado segurar o choro. –Draco esteve no médico e foi diagnosticado com leucemia. Eu não vou deixa-lo nesse momento e tenho certeza do quanto eu o amo e sei que ele vai viver. –Disse e sem esperar a resposta dos pais foi para o quarto chorando.

A mãe da moça encarou o esposo com ternura expressa no olhar.

–Eu tenho tanto orgulho da nossa menina. –Ela disse e abraçou o marido que sussurrou um “Eu também”.