Fix You escrita por Diana Wright, Naya Parker


Capítulo 24
Adeus, Luce


Notas iniciais do capítulo

Olha, eu podia fazer um texto enorme agradecendo a cada um por comentar, favoritar e acompanhar essa fanfic. Mas eu não vou.
Porque vocês sabem, que essa fanfic é de todos vocês. Sem vocês, ela não seria nada. Então, muito obrigada, pessoal. Só por terem lido. Mesmo que não tenham comentado, mesmo que nem tenham gostado, obrigada.
E, Liana Bourbon, Naya Parker, Anna Potter Jackson, Melany Malfoy, SaGaúcha, Becky Cahill e Gabi Carpenter (maiores fãs da fic), esse capítulo é 45% de vocês. E, Lucia - a pessoa que me inspirou a escrever essa fanfic - esse capítulo é 50% seu. Pelo simples fato de existir. E 5% do Dani e do Lucas, que me incentivaram a fazer uma coisa muito boa, que eu nunca vou esquecer.



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Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso

Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa

Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir

Preso em marcha ré

Quando as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto

Quando você perde algo que não pode substituir

Quando você ama alguém, mas é desperdiçado

Pode ser pior?

Luzes te guiarão até em casa

E aquecerão teus ossos

E eu tentarei, consertar você – Fix You, Coldplay.

– Ok, ok, está pronto! Seu presente! – Disse Cely, tão animada que poderia sair saltando pela clínica.

A adolescente na sua frente sorria, e se sentia realmente feliz, mas, ao mesmo tempo, estava muito nervosa. Como sua tia vai recebe-la? Será que vai ficar com raiva? E se não gostar do que ela acabou de fazer?

E a pergunta que mais a assustava era: Será que as coisas mudaram muito desde que ela foi embora?

Claro que mudaram, como não mudaria? Um ano, doze meses, trezentos e sessenta e cinco, as coisas são obrigadas a mudar. Mas será que tinham mudado de mais?

– Eu...meu Deus, nem acredito que eu fiz isso, quer dizer...que nós fizemos. Obrigada, Cely, de verdade. Muito obrigada. – Ela estava nervosa, mas abriu um sorriso que fez Cely sorrir junto.

– De nada! Sua tia já está lá embaixo...está tudo pronto? – Ela assentiu. – Ótimo! Vamos, vamos, Emma está impaciente!

Elas desceram as escadas correndo – o elevador estava interditado – e as duas ficaram ofegantes, mas Cely olhou para a menina ao seu lado preocupada. Ainda fazia isso...sempre que ela demonstrava algum sinal de fraqueza ela se preocupava. Era difícil colocar na cabeça que ela não era mais a mesma.

– Vem, ela deve estar lá na frente – As duas seguiram pela grande estacionamento, com o sol forte queimando no céu, e avistaram um carro “nada chamativo” vermelho. E ela soube que era Emma, e seu coração poderia ter parado naquele instante.

– É ela! – Cely correu até o carro, e uma mulher alta com cabelos vermelhos saiu do carro, sorrindo e com os óculos escuros de sempre. Mas estava com a barriga enorme – de grávida. Cely e Emma se cumprimentaram, e sussurram alguma coisa uma para outra.

Então Emma olhou para ela.

– Luce?! Oh meu Deus, Lu é você? – Emma perguntou, mas não recebeu resposta nenhuma, a garota continuava parada. – O que você fez com o cabelo?! Está lindo! Você está tão diferente...linda, linda como a sua mãe! Ah, garota, faz um ano que não me vê e não vai nem me dar um abraço? Ou me responder pelo menos? Hein, Luce? – Emma sorria, apesar de não receber resposta ou reação.

– Meu nome não é Luce – disse a menina na sua frente. Emma franziu a testa por um momento, mais depois soltou uma risada.

– Você está brincando? – ela indagou.

– Meu nome é Isabelle, Emma. Não Luce. Eu mudei o meu nome, foi difícil, mas eu consegui. Cely e eu conseguimos – ela respirou fundo. – Eu sinto muito mesmo, não queria ficar longe de vocês...é que...foi preciso, entende? Eu amo muito, muito todos vocês. Senti falta de todos...mas, olhe, eu estou bem agora! Bem de verdade. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu estou bem em todos os sentidos. E eu tive que me afastar para conseguir isso, desculpa, tia, desculpa.

Emma ficou calada por alguns momentos, mas sorriu outra vez. Ela estava com os olhos úmidos, segurando as lágrimas.

– Pelo amor de Deus, eu já não te disse para não me chamar de tia? – Elas se abraçaram, e ficaram um bom tempo assim. Isabelle conseguiu perceber que não tinha ninguém no carro. Ela sentiu o coração apertar. Eles não estão aqui, eles não estão aqui, Emma veio sozinha...

Elas se despediram de Cely, e convidaram ela para visita-las algum dia. Ela disse que iria, e Isabelle (Luce), disse que se ela não fosse, ela arrumaria mais um problema para voltar para a clínica. Elas riram.

Emma e Isabelle entraram no carro, e conversaram sobre vários tratamentos que Isabelle fez.

– Eu sei o que você teve que fazer...Isabelle – Emma riu. – Eu não estou com raiva, ninguém está. Sentimos a sua falta.

– Eu também...muita. E, nossa, tenho tanta coisa para contar. Eu estou meio nervosa agora e eu não me sinto mais a mesma pessoa...Quer dizer, ainda sou a mesma pessoa, só que menos tímida, chorona e frágil.

– Por isso mudou de nome? - Emma buzinou e xingou um cara que vinha na contra mão.

– É...por isso, e porque meu pai que escolheu o nome Luce. E eu não quero ter nada que me lembre dele, Cely concordou que seria bom mudar de nome – contou Isabelle, um pouco menos animada por ter que citar o pai.

– Posso dizer a verdade? – Isabelle concordou. – Eu sempre achei que você tem cara de Isabelle.Sério, eu amo esse nome. Eu conversei com Tyler, e disse que se o bebê fosse uma menina, se chamaria Isabelle, mas como é menino, vai se chamar Matt...- ela olhou para Isabelle pelo espelho do carro. – Isabelle significa fidelidade. Combina muito mais com você.

Isabelle sorriu, um pouco vermelha.

– Então...como foi o ano de vocês? – Isabelle sabia que ela tinha muita coisa para contar. Um ano se passou, é óbvio que tem muitas novidades, e ela queria saber de todas, claro. Mas o que ela queria mesmo, era saber se os outros estavam esperando por ela...E se ela chegasse e só Ally e Tyler estivessem lá? E se os outros estivessem bravos com ela, ou não tão animados para vê-la? Talvez tenham perdido a intimidade.

–...claro, Helena sabe muito bem como cuidar do bebê, e Ian também, mas agora que eles estão morando juntos, eu fico ligando toda hora porque eu sempre quero saber como a Hanna está, mesmo o bebê sendo da Helena, eu sou meio que...vó? – ela fez uma careta. – Não! Definitivamente, não! Sou tia, isso, melhor. Vó não...e, ah, acredita que Diana e Jake ainda brigam o dia inteiro?! Eu realmente não sei...

Isabelle escutava tudo o que a tia contava, com um sorriso sincero. Mas ela se sentia tão ansiosa que podia desmair de tanta vontade de chegar em casa. Muitas informações...muitas novidades...

Um ano passou mais rápido do que ela esperava, mas as coisas mudaram bastantes. Para ela e para todos, pelo que Emma contava.

Depois de uma eternidade no trânsito horrível de Nova York, ela avistou a mansão-castelo de Emma. Quando pararam, ela saiu do carro com pressa, pegando as malas.

Emma a alcançou, e abriu a porta sem fazer barulho nenhum.

A primeira coisa que Isabelle percebeu, foi Ally. Sentada na sofá, com um caderno azul e lápis de cor em volta dela. Ela usava um vestido lindo, azul turquesa, e parecia bem dedicada ao desenho. Tanto que nem percebeu Isabelle e Emma entrar.

E Tyler, ele estava entrando na sala quando viu Isabelle, ele ficou surpreso, e depois, sorriu.

Ally finalmente percebeu as duas paradas na porta, e correu até elas.

Mas ela parou no meio do caminho para olhar para Isabelle com dúvida.

– Luce? – A voz dela indicava confusão, ela não estava reconhecendo ela. Estou mais diferente do que achei, pensou Isabelle.

– Não...quer dizer, sim. Sou a Luce, mas...não sou – Isabelle se atrapalhou. – Não! Eu sou a Luce, mas mudei meu nome. Me chamo Isabelle agora.

Ally ergueu as sobrancelhas de uma forma fofinha, e depois abraçou a cintura de Isabelle com força. Isabelle se ajoelhou para ficar do tamanho dela, e a abraçou de volta.

– Por que você ficou um ano lá? Ninguém mais quis brincar de Barbie comigo! – reclamou Ally, ainda abraçada com Isabelle.

– Eu precisei, fiz isso para ficar melhor.

– Você estava doente, não é? Minha mãe disse que não, mas eu sei que estava! – ela exclamou, querendo provar que estava certa.

– Sim, eu estava, mas não estou mais.

– Que ótimo! Então você vai poder sair com a gente! – comemorou Ally, correndo para o quarto dela, como se fosse pegar alguma coisa.

– Ahn? – Isabelle perguntou para ninguém em especial.

– Nós vamos sair para comemorar sua volta, dã! – falou Emma. – Vá se arrumar, eu vou também. – ela beijou Tyler e subiu.

Tyler se aproximou e abraçou Isabelle, que ficou um pouco sem graça, mas retribuiu o abraço.

– Fico feliz que tenha voltado, Isabelle – ele riu, e depois subiu as escadas como todos.

Eles pareciam achar engraçado o seu novo nome. Sempre riam quando pronunciavam. Ela sorriu, sozinha na sala.

– Também estou feliz por estar de volta – ela sussurrou para o vento.

E ela não estava se referindo a casa.

[...]

Cely e ela ficaram mais amigas do que seria permitido. Uma relação entre psicóloga e paciente, deveria ser só respeitosa, mas acabou virando amizade. Cely era alguns anos mais velha, mas era bastante jovem para Isabelle.

Então, quando o tratamento acabou, e constataram que Isabelle estava bem para sair da clínica, ela e Cely foram ao shopping e compraram muitas coisas.

A maioria foi roupa, e a maioria das roupas, foram escolhidas por Cely.

Eram peças bem diferentes do que Isabelle costumava usar. As calças largas, casacos grossos, blusas sem graça...completamente enterrados no passado.

Agora ela se sentia um pouco Diana. Com roupas bem mais leves e legais.

Eu estou realmente muito diferente, ela percebeu, olhando para o espelho e vendo o vestido vermelho ficar perfeitamente bem no seu corpo.

Ela saiu do seu quarto, e viu que não tinha ninguém no andar de cima, eles já estavam lá embaixo.

Quando ela estava descendo as escadas, viu, a sala com mais pessoas do que tinha mais cedo.

Ela ficou parada, congelada, sem dar mais um passo. Sem nem mesmo respirar.

Helena estava do lado de Ian, com uma bebê loira no colo, os dois brincavam com ela, e a bebê não dava muita bola para os dois. Como ela pode parecer tanto com Ian se nem é filha biológica dele?

Diana estava sentada no chão, brincando com Ally, e Jake revirava os olhos para tudo, provavelmente entediado.

Eles estavam ali, todos eles – quer dizer, não todos.

Alex não estava ali.

Isabelle continuou parada, agora bem desapontada, sentindo um peso no estômago. Talvez ele não goste mais de você, talvez tenha te esquecido, ou não pode vir, ou talvez nem se lembre que você existe, ou...

– Isabelle, até que enfim! – Por incrível que pareça, foi Helena que disse isso. Mas ela sorriu, assim como todos na sala. E Isabelle sentiu uma pequena vontade de chorar. Mas se segurou.

Ela desceu as escadas correndo, e meio que se jogou em Diana. Ela a abraçou de volta.

Depois ela abraçou cada um, e até abraçou Ally de novo. E finalmente se sentou e contou as coisas que acontecerem na clínica, depois de um bom tempo contando sobre as novidades – não todas, é claro – eles finalmente saíram.

Emma, Ally e Tyler foram em um carro; Helena, Ian, e Hanna (NA: A bebê da Helena) foram em outro; e Isabelle foi no carro de Jake junto com Diana.

– Sabe, tinha uma garota na minha sala que se chamava Isabelle – começou Diana, com um olhar animado. – Ela era uma puta, vagabunda, eu odiava ela. Uma vez ela me jogou na piscina do colégio, e eu tinha muito medo de água, mas dei um jeito de sair. Depois eu tive uma vingança, claro. Mas a questão é que eu odeio Isabelles...mas vou tentar mudar isso, porque você é uma Isabelle bem legal.

– Verdade, Isabelles nem sempre são legais...uma vez, uma vizinha minha...- Jake e Diana começaram a contar histórias sobre pessoas com o nome de Isabelle. Uma era puta, outra uma velha ranzinza, a outra tinha se matado, uma prostituta e até uma sapatão.

É, belo nome eu escolhi, pensou Isabelle, ignorando os risos e piadas de Diana e Jake sobre o seu nome.

Então ela lembrou de Alex, e tomou coragem e perguntou:

– O Alex não vem?

Eles pararam de rir, e um silêncio nasceu. Mas então Jake disse:

– Hum...ele está na Itália, estudando. Não sei bem quando ele volta.

– Ah – foi só o que Isabelle disse.

Ela estava um triste, claro. Queria que ele tivesse ali, ele sempre...sempre ajudou ela mais do que deveria. Sempre ficou do lado dela, e ela queria que ele tivesse agora. Mas ela disse a si mesma que isso não afetaria a sua noite. Tinha outras pessoas que ela amava ali, mas tarde...talvez, ela ligasse para Alex.

Eles chegaram no restaurante sem que Isabelle se desse conta, e Jake e Diana estavam discutindo sobre alguma coisa que ela não entendia.

Ela olhou para as estrelas e se lembrou de quando foi atropelada, e Alex mostrou as estrelas para ela. Mesmo ela olhando para as estrelas toda noite, elas nunca brilharam tanto quanto naquela noite.

[...]

Isabelle acordou bem cedo, ninguém na casa tinha acordado. Helena, Hanna, Ian, Jake e Diana tinham dormindo lá, já que ontem eles saíram muito tarde do restaurante, combinaram que estava muito tarde para irem para a casa deles.

Isabelle tomou um banho rápido e colocou uma roupa qualquer, e foi para o quintal da casa – se é que se pode chamar aquele castelo de casa- e sentou na grama mesmo.

Pela primeira vez, não tinha nada incomodando ela. Não tinha nada errado, nada doloroso. As coisas estavam perfeitamente normais.

– Caramba! Você é um idiota mesmo! Eu tentando regar essas flores, e acabei derramando toda a água! Não dá para avisar que está se aproximando? Eu quase morri! – Isabelle olhou para o outro lado do jardim e viu Diana e Jake, perto de algumas rosas – que Ally tinha plantado com Diana – brigando.

– Ah, sei, eu são tão sexy que você quase morreu quando me viu, desculpa, não pedi para ser tããão gostoso – comentou Jake, e Isabelle segurou para não cair na gargalhada e ser descoberta.

– Vai para o inferno! – Ela se aproximou para jogar o regador nele, mas ele abaixou e o regador caiu nas plantas.

– Que feio, jogando o regador nas pobres plantinhas! – Zombou Jake, e Diana ficou vermelha de raiva. Ela pegou o regador e saiu andando.

Mas Jake agarrou o braço dela.

– Você só tem um minuto para falar, porque estou brava com você por ter me feito jogar o regador nas minhas flores – Diana era realmente muito chata com aquelas flores. Uma vez ela me disse que era porque seu ex-namorado gostava de flores, e, pelo que eu sei, ele morreu em um acidente de carro.

– Ah, pelo amor de Deus, não vai dizer que ficou com raiva? – reclamou Jake.

– Claro que sim, ninguém mexe com as minhas flores.

– São flores, Diana.

– Tá, mas são minhas. Não mexa com elas, não toque nelas, nem respire perto delas. Sei que elas são lindas, mas resista.

– Tá, tá, vou resistir as suas flores – ele disse, revirando os olhos. Então deu um passo para frente e ficou bem perto de Diana. – Mas não vou resistir a você.

Então, ele a beijou. Primeiro ela ficou meio assustada e tensa. Mas depois ela retribuiu ao beijo com a mesma intensidade. Ele pressionou ela contra a parede e Isabelle soube que era a hora de sair de cena.

Então ela entrou na casa sorrindo, e pensando: “Finalmente!”.

[...]

Depois do almoço, estavam todos jogando X-box na sala, e claro, Jake e Ian venciam todo mundo, e Helena lidava bem com a perda, mas Diana estava convencida de que conseguiria vencer.

Isabelle não ligava muito para perder, mas concordou em ajudar ela a vencer.

– Desistam, vocês não sabem nem aonde estão. Vergonha do vídeo game...- disse Jake.

– Cala a boca, machista! – Diana estava tão concentrada que nem tirou os olhos do vídeo game. Nem parecia que há alguns minutos atrás eles estavam se pegando.

Então Emma chegou, e Isabelle viu que ela parecia pálida e nervosa. Tyler entrou com ela, com a mesma expressão no rosto.

– Desliguem o X-box – murmurou Helena, que deve ter percebido a expressão dos dois também.

Jake desligou o X-box, um pouco contrariado, mas decidiu não discutir.

– O que aconteceu, Emma? Por que...vocês estão assim? – perguntou Diana, se levantando, e esquecendo completamente do jogo que ela não conseguia vencer.

– Luce...quer dizer, Isabelle, precisamos conversar com você, pode ser? – pediu Tyler, nervoso.

– Pode, mas podem falar aqui, na frente de todo mundo. Não tem problema – Isabelle deu de ombros, demonstrando indiferença.

– Isabelle...é sério. É sobre...- Emma não terminou a frase. Parecia com medo de falar, como se fosse machucar alguém. E talvez machucasse.

– Ok, Isabelle, eu vou falar logo a verdade: É sobre o seu pai.

Isso, ela não espera. Na verdade, ninguém esperava. Isabelle ficou sem fala e sentou no sofá olhando para o chão.

Por que diabos ele tem que ser citado agora? Por que sempre que eu estou feliz esse homem volta para estragar tudo? Qual é o problema que a vida tem comigo? Droga. Droga. Droga, pensou Isabelle com raiva.

– Isabelle, Isabelle! – chamou Emma, tirando ela do transe.

– O quê?! – Ela perguntou mais alto do que gostaria.

– Não se preocupe, ele não...

– Não me preocupar?! Droga, eu odeio ele, odeio...o que aconteceu dessa vez? Ele voltou? Ele abusou de outra pessoa? Que merda, eu odeio ele, odeio, odeio...- Isabelle se encolheu no sofá e começou a repetir que odiava o pai.

– Isabelle! Para! Você não quer ficar como antes, quer? – Não, ela não queria. Não queria voltar a ser a Luce. Não queria os problemas de volta. Encare como adulta, Isabelle, não Luce, pense antes de falar, fale antes de fazer...

Ele não fez nada, Isabelle. Ele...morreu.

Isso era mais inesperado ainda.

Ela olhou para a tia espantada, e um pouco aliviada. Acabou. Acabou. Ele morreu. Ela deveria ficar feliz? Triste? Indiferente? A única coisa que ela conseguia sentir no momento, era alivio.

– Ele...morreu? Quando? De quê?

– Ele se suicidou, Luce, há mais ou menos um mês. Mas só conseguiram nos avisar agora – explicou Emma, um pouco menos pálida. – Ele estava internado em algum lugar, tinha esquizofrenia, assim como você. Disseram que ele ficou totalmente curado, e depois disso, se matou.

– O quê? Se..se ele melhorou, por que se matou? – Não que ela se preocupasse com isso. Ou se preocupava? Ela estava confusa. Era um monstro. Era o seu pai.

– Ele....ele...ai meu Deus, é complicado...- Emma passou a mão pelos cabelos, nervosa.

– Não tem nada de complicado nisso, Emma. É só me contar.

– Tudo bem...ele se matou por sua causa.

Isabelle se sentia cada vez mais perdida. Sua cabeça começou a girar, e ela pensou que as crises podiam estar voltando.

Não. Não. Encare como adulta, Isabelle, não Luce, pense antes de falar, fale antes de fazer...

– Se matou por minha causa? Como assim? Ele..ele nem se quer gostava de mim, nunca foi meu pai...fez tudo isso comigo...por que se mataria? E por que se mataria por mim? – Isabelle soltava as perguntas sem perceber. Queria respostas, queria entender. Por quê? Por que isso?

– Ele se matou por se curou. Porque lembrou do que fez com você. Porque ele era doente, e deixou de ser, e não suportou saber das coisas que fez. Ele disse para a enfermeira...disse...- Emma se calou de novo, obviamente não queria ter contado nada para Isabelle.

– O que ele disse? – Isabelle já tinha lágrimas nos olhos, mas se segurava para não chorar. Não podia.

– Ele disse para ela dizer para sua mãe, seu irmão e para você que nunca mais estaria na vida de vocês, e...pediu desculpas. Ele não sabia que sua mãe e seu irmãos estão mortos.

Agora Isabelle estava chorando de verdade. Ele...pediu desculpas?

Estava tudo tão confuso outra vez. Parecia a Luce de novo...mas ela não queria ser a Luce outra vez. Não se jogaria no chão e choraria. Não reclamaria de como a vida ela ruim e difícil. Seria a Isabelle, não a Luce.

– Emma, obrigada por contar – Isabelle enxugou as lágrimas com a manga do casaco fino. – Eu preciso sair agora. Não sei que horas vou voltar. Vou com o meu carro.

Ela não disse nada para impedir – ninguém disse. Provavelmente não queriam piorar a situação. Isabelle sabia exatamente o que estava fazendo, e parecia ser o certo.

[...]

Ventava bastante do lado de fora do carro. Tanto que ela teve que pegar um casaco extra no banco de trás.

Ela olhou para as grades velhas e enferrujadas do cemitério, e se perguntou se queria mesmo estar ali. Talvez não quisesse, mas era preciso – ela sabia que sim.

Ela estava chorando, em silêncio. Era um pouco confuso. Ela deveria chorar?

Ela andou até lá, hesitante, e passou pelos grandes portões negros.

O lugar estava deserto, só tinha ela e os mortos. Ela estremeceu.

Ela foi entrando devagar, meio hesitante, mas com determinação. Ela queria e iria fazer isso, porque era tudo que ela precisava para poder esquecer completamente o passado.

Ela precisava perdoa-lo.

Difícil...

Doloroso...

Angustiante...

Necessário.

Então ela percebeu que não era a única pessoa naquele cemitério.

Uma menina loira se encontrava diante uma cova, ela estava vestida de preto, e com os cachos loiros presos em um rabo de cavalo.

Mesmo de costas, Isabelle a reconheceu.

– Lindsay? – ela sussurrou, sem chegar muito perto.

Ela se virou para Isabelle. Ela estava normal outra vez, não estava com o rosto pálido e doente como da última vez que elas se encontraram. Lindsey abriu um sorriso inesperado, então abraçou Isabelle com uma força desconhecida.

– Ah, desculpa, desculpa, desculpa – Lindsey murmurava – Eu não quis dizer aquilo, desculpa. Eu estava confusa, não sou assim. Juro que não. Me perdoa, por favor, Lu.

Isabelle retribui o abraço, se sentindo melhor do que estava antes. As coisas estão sendo consertadas...

– É Isabelle, não Luce – ela explicou pela milésima vez. – Mudei meu nome.

– Para ser sincera, nunca gostei muito de “Luce” – admitiu Lindsey, rindo. – Você me desculpa? Eu não queria...

– Tudo bem, Lin – respondeu Isabelle. – Eu já esqueci. Podemos ser amigas de novo. Agora que eu não sou mais maluca e você não é mais uma bruxa, podemos ressuscitar nossa amizade.

Lindsey olhou nos olhos dela com um misto de emoções que Isabelle não pode decifrar.

– Sabe...você não é tão chata quanto eu pensei que fosse – Lindsey repetiu o que ela disse para Isabelle quando se conheceram, a um bom tempo atrás, quando ainda era Luce.

– E você não é tão vadia – disse Isabelle, tentando conter o riso.

Mas ambas acabaram rindo, até chorar.

Lindsey contou que tinha vindo visitar seu pai, e Isabelle lembrou que ela havia morrido antes de tudo aquilo acontecer. Ela contou tudo para Lindsey, sobre seu pai, seu passado, e sobre quem era agora.

Apesar de tudo, ela confiava em Lindsay. Porque entendia ela.

O celular de Lin começou a vibrar, ela leu alguma mensagem, e se levantou depressa.

– Bem, Isabelle, acho que tenho que ir embora agora – anunciou Lindsey. – Nós marcamos de ir ao shopping algum dia. Aproveite seu dia, ele vai ser mais surpreendente do que você acha.

E então ela se foi.

Isabelle não conseguiu entender o que ela quis dizer, mas não importava agora.

Ela ignorou o que tinha acabado de ouvir e foi andando até três túmulos, que se encontravam um do lado do outro.

Max Mason. Meredith Mason.

Rodrik Mason.

Ela se ajoelhou em frente aos três túmulos, e ficou encarando-os por um bom tempo. Até que não aguentou, e começou a chorar.

– Desculpa, mãe, desculpa – ela sussurrou para o túmulo, sabendo que não teria resposta, e que quem a visse acharia que estava maluca outra vez, mas precisa fazer isso. – Eu não queria ter gritado...se eu...tivesse me controlado, você e Max estariam aqui agora. Sei que não é culpa minha, sei que é culpa dele, mas eu sinto muito. E...eu sinto a sua falta. Queria que você estivesse aqui, que tivesse me ensinado como cozinhar, como...fazer coisas normais de garotas...ah, eu te amo tanto, tanto...eu nunca vou deixar de te amar, mãe. Me desculpa. Eu falhei com você, e com o Max, mas eu vou te deixar orgulhosa dessa vez. Eu prometo.

Ela parou por um momento para se controlar. Enxugou as lágrimas e continuou:

– Max, eu tenho todos esses novos irmãos agora, mas você...você é único. E não importa aonde você esteja, em um lugar acima das nuvens ou atrás do arco-íris, eu te amo, Max...espero que tenha muitos doces aonde você está – ela sorriu no meio das lágrimas. – , sei que ama doces. E eu amo você, a mamãe, a vovó, o vovô e todos que estão com você. Diga...diga a eles, se puder.

Então ela fechou os olhos, e encarou o mais difícil. A última batalha é sempre a mais dolorosa, como dizem nos livros.

Ela respirou fundo, e desviou a atenção para o último túmulo.

– Eu não sei...não sei o que te dizer. É difícil...muito difícil, dizer que você é meu pai – ela tremeu. – Eu não posso dizer que te amo, nem posso dizer que tive bons momentos com você...porque...não...- ela fechou os olhos com força e contou até dez para continuar: - Eu entendo agora. Entendo que era doente...mas, não, eu não consigo esquecer. Não posso, não vou. Não sei o que aconteceu com você depois, não sei se realmente se arrependeu, não sei...se um dia amou algum de nós...mas eu te perdoo. Perdoar não é esquecer, você sabe. Espero que esteja em um lugar bom, apesar de tudo.

Ela se levantou, cambaleando e um pouco tonta, enxugou as lágrimas, e se virou para ir embora.

– Ele não merecia o seu perdão – ela ouviu uma voz atrás dela.

Quando virou para ver quem era, soltou um grito.

– Meu Deus, sou tão indesejado assim? – perguntou Alex.

– Eu...pensei...

– É, eu estava viajando, mas voltei ontem.

Ela ficou parada por um tempo, sem falar nada. Ela queria tanto vê-lo...por que estava tão difícil falar então?

– Mas...por que você voltou? – ela perguntou, sentindo seu estômago ficar estranho. Controle-se.

– Diana. Ela me ligou. Disse que você voltou, então eu voltei – ele respondeu. – Achou que eu iria perder isso? Você finalmente ficou boa, Isabelle.

Ele sorriu quando disse seu novo nome.

– Como sabe...?

– Diana – ele respondeu, dando de ombros. – Mas quem disse que você estava aqui foi Lindsey. Ela me mandou uma mensagem.

Agora estava explicado porque ela disse aquilo. Lindsey sempre sendo Lindsey.

– Você ouviu?

– Você falando com os seus pais e seu irmão? – ela assentiu. – Uma parte. E acho que ele não merecia o seu perdão, mas isso é com você.

– Ele pode não ter merecido, mas eu não fiz isso por ele. Fiz por mim.

– Isso é realmente bom, Belle. O que acha de irmos ao cinema?

– Agora? – ela se espantou.

– Está ocupada? Quer mais tempo para conversar com os mortos?

Isabelle revirou os olhos.

– Não, vamos logo, então.

– Iniciativa. Gostei disso – ele sorriu e ela deu um soco no seu braço. Mas estava sorrindo também.

– No final, você nunca precisou de ninguém para se curar. Você fez isso. Você se curou – disse Alex.

Luce parou por um instante. E pensou no que ele disse. Não era bem verdade.

– Eu me curei, porque percebi que mesmo perdendo a minha mãe e meu irmão, e mesmo passando por tudo aquilo, eu ainda tinha motivos para viver. Minha nova família e meus amigos.

Ele abriu um sorriso convencido.

– Então, eu sou o seu motivo para viver?

– Não é bem assim.

– Você acabou de dizer.

– Tá, mas eu disse minha família e amigos – ela retrucou. – Não é só você...convencido.

Ela andou na frente, sorrindo.

Mas ele puxou ela rapidamente, e do nada, estavam se beijando. No meio do cemitério. Ele passou a mão pela sua cintura, e ela agarrou os seus cabelos, puxando ele para mais perto. Um beijo de saudade, pode se dizer.

– Você me ama, Isabelle.

Ela sorriu, e depois de alguns minutos, disse:

– Ainda bem que você sabe.

"Luzes te guiarão até em casa

E aquecerão teus ossos

E eu tentarei, consertar você" - Fix You, Coldplay.


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Notas finais do capítulo

Desculpem, sei que o nome do capítulo assustou muuuita gente! Muahaha u.u
Pois é, depois de tudo...eu ainda continuo má. Velhos hábitos nunca mudam, não é?
Mas fui mais boazinha do que pensei que seria, graças a vocês. Vou sentir falta de escrever os capítulos, de planejar minhas maldades, de fazer vocês ficarem frustrados e curiosos, de responder os recadinhos e vou sentir muita, muita falta de vocês.
Tenho outras fanfics, e alguns leitores de Fix You leem as outras também, mas para os que não leem: Obrigada por ler a minha fanfic, e espero que tenham gostado. Cada comentário, cada recomendação, cada favorito, cada acompanhamento, é um presente muito maior do que vocês pensam.
Vocês são incríveis. Não se esqueçam disso.