“Eu tenho que ir, eu tenho que ir” ele repetia, tão baixo que Derek não tinha certeza de quem Stiles tentava convencer. Fazia algum tempo que todas as noites juntos terminavam assim.

Stiles perdeu as contas depois de duas semanas. Se sentia tão sem forças após tanto insistir em algo já condenado que não importava mais se era a primeira ou a vigésima, não dizia a si mesmo que dessa vez conseguiriam, que era uma fase, que os dois eram mais fortes que aquilo. Não acreditava mais. Apenas insistia. Mais uma vez, mais uma vez, mais uma vez. Não entendia como doía daquele modo mesmo depois de tanto tempo.

Derek era como fogo. Tórrido, garboso, acolhedor nas noites de chuva, mas também nocivo quando descontrolado. Stiles descontrolava-o e, no início, era bom. Era uma noite na floresta olhando para a lua, intimidade, sorrisos sinceros, olhos rubros — tão, tão, tão rubros —, mãos como imãs, inconsequência, cheiro de suor, calor, beijos contra paredes, gemidos abafados. Stiles sentia-o correr a sua volta, aquecia-se, deleitava-se, até o dia em que também queimou-se.

Stiles não ligou, levou como lembrança, viu como um pequeno preço por queimarem tão forte. Mas aconteceu de novo, e de novo, e de novo. Olhou a sua volta e não reconhecia nada. Então correu, correu como nunca tinha corrido antes porque precisava que sua mente trabalhasse, precisava ficar sozinho para pôr tudo em ordem. Derek o alcançou quando começou a chover e quando caíram no chão, Stiles sentiu tudo cair junto e se espalhar pela lama. Conteve um soluço e Derek não notou que chorava.

Derek gritava, socava, sangrava. Não conseguia se livrar de problema algum que então se jogava no meio de outro e esse era o maior de todos. Parava por alguns segundos para respirar e se lembrava disso, então gritava, socava e sangrava mais uma vez.

“Eu tenho que ir...”

“Por que?”

Tinha que jogar tudo o que tinha fora e se livrar de qualquer vestígio do lobo em seu quarto.

“Tenho que ficar vazio. ‘Tá tudo uma bagunça.”

“Sozinho?”

“Não. Vazio.”

Os dois sabiam o que era aquilo. Sabiam que poderiam ser grandes e sabiam que eram fracos demais pra conseguir isso. Silenciosamente, desistiam. Não chamaram um ao outro de covarde, mesmo que quisessem. Dolorosamente, se cansavam.

Então eram uivos.