As horas se arrastavam lentamente, assim como o sangue nas veias do moreno. Caminhava por um novo corredor, e dessa vez, tentava controlar sua raiva. Parou em frente a porta de barras de aço, suspirando enquanto ouvia o apito. Em quase cinco anos, nunca havia visitado o pai, nenhuma vez sequer. Mas estava ali por um motivo maior.

Nicholas Puckerman estava algemado, sentado na mesa de aço frio. Ele deu um sorriso debochado ao filho, enquanto esse se sentava a sua frente e o encarava com ódio.

_ Olá Noah, como vai? – perguntou com um sorriso irônico, fazendo o rapaz rosnar – Imagino que não seja uma visita de cortesia.

_ Quem eram os pais da Rachel? – perguntou, surpreendendo o homem – Eu preciso encontrar a família dela.

_ E por quê? A ingrata está reclamando? Resolveu que você e aquela cretina da Santana não são família que se preze? – seu sorriso debochado só aumentava, o que fazia Puck se encolher cada vez mais.

_ Minha irmã sofreu um acidente e está entre a vida e a morte. E eu preciso achar a família dela, agora. – rosnou o mais novo, fazendo o pai gargalhar – Do que você está rindo?

_ Sempre achei que você fosse seguir meus passos, mas não achei que ia chegar ao ponto de quase matar alguém e... – porém ele não pode terminar, porque o filho voou em seu pescoço.

_ Minhas irmãs e minha esposa sofreram um acidente de carro, Santana pode perder a perna, Quinn pode nunca acordar, Rachel pode morrer. E minha filha desapareceu. E tudo que eu tenho feito há três dias, é lutar para salvar as três. Então não, eu não sou como você. – garantiu entre dentes, vendo o pai empalidecer diante do aperto na garganta – Agora me diga o nome dos pais da Rachel, para que eu localize a família dela.

_ Procure Shelby Corcoran. – murmurou o homem, ainda sobre o aperto do filho – Ela é a única que pode te ajudar.

Noah soltou o pescoço do pai, que caiu no chão. O rapaz ajeitou a roupa, antes de caminhar em direção à porta e apertar a campainha. A porta se abriu e ele hesitou, voltando-se ao pai, que ainda segurava o pescoço.

_ Essa é a última vez que você me vê, então guarde bem isso: eu tenho nojo de você, em um nível que você não imagina. Você não é meu pai, é apenas o babaca que por acaso engravidou minha mãe. Juan, mesmo que por pouco tempo, foi muito mais meu pai que você. E eu nunca vou perdoá-lo pelo que você fez, nem comigo, nem com as minhas irmãs.

Ele ouviu a porta se fechando as suas costas, enquanto caminhava a passos firmes rumo à sala onde Finn e o investigador o aguardavam. Suspirou ao entrar no lugar, e viu que o investigador já estava ao telefone, na certa localizando Shelby Corcoran.

_ Você está bem bro? – perguntou Finn, e ele apenas assentiu, caindo sentado na cadeira. A verdade era que estava esgotado pelos dias sem dormir. Quinn, Santana e Rachel ainda estavam em coma induzida, parte do processo de tratamento. Porém, não conseguir falar com elas, saber se estavam bem, saber sobre Carol...

Colou o punho à testa, sentindo o gostoso gelado que a aliança provocava. Lembrou-se como a filha gostava quando ele lhe dava esses pequenos “choques” na bochecha, fazendo-a rir por longos minutos.

_ Já tenho informações. – avisou o investigador, Anton Motta. Era um amigo pessoal de Frank Hart, e estava ajudando-os a favor do amigo, já que Finn e Puck não tinham como pagar, mesmo com a ajuda que Burt estava lhes dando – Ela está morando aqui em Lima atualmente, em um prédio perto do de Finn e Rachel.

_ Então vamos logo.

Já no carro, Puck encostou a cabeça à janela, deixando seus olhos se fecharem durante a curta viagem. Lembrava-se com precisão do dia em que todas as muralhas vieram abaixo, quando sua mãe e Anita lhe contaram toda a verdade.

Nicholas havia reaparecido havia pouco tempo, porém estava exigindo cada vez mais dinheiro. As mulheres já haviam providenciado a emancipação de Santana, porém não havia como fazê-lo em Rachel ainda. O rapaz havia chegado mais cedo da escola, após matar aula, e ouvira as duas conversando.

_ Anita, eu não sei mais o que fazer para proteger a Rachel. Eu tenho medo que ele tente algo, para conseguir mais dinheiro.

_ Ele não é louco, Ruth. – tranquilizou a senhora – Não há documentação precisa sobre Rachel, se ele tentar algo, precisará de um DNA, que mostrará que Rachel não é filha dele, assim como não é sua. Pelo menos, não biológica.

_ Como assim Rachel não é filha dele? – perguntou Noah, entrando na sala e assustando as duas mulheres. Elas começaram a gaguejar, mas ele havia ouvido demais – Fala mãe. Eu sei que existem muitos segredos que você guarda, mas eu preciso saber o que terei de fazer para proteger vocês e as meninas.

_ Ele tem o direito de saber Ruth, já não é mais criança. – concordou Anita, colocando a mão no ombro da mulher mais jovem. Ruth apenas suspirou, indicando que o filho sentasse ao seu lado, e começou a contar a longa história da família deles.

_ Seu pai foi embora, logo que você nasceu, como você sabe. – ele concordou, recebendo um carinho da mãe – Eu ralava para sustentar nós dois, já que seu pai havia nos deixado em uma pior. Eu comecei a trabalhar de garçonete em um café, onde eu conheci o Juan. Nos envolvemos e logo, eu estava grávida da Santana. Ele levou eu e você para morarmos com ele, e...

_ Mamãe, essa parte eu sei. – garantiu o rapaz, sabendo que deveria haver algo ali, mas não acreditando que tivesse ligação com Rachel – Podemos ir logo para a parte da Rachel, por favor? Depois você me explica melhor sobre o porquê do Juan ter partido.

_ Seu pai apareceu certa noite com Rachel nos braços. Ela era pequena, você sabe, e nós a registramos como nossa filha, que havia nascido em casa. Ele sumiu logo depois, após me dar uma explicação de onde a menina havia vindo. – ela encarou o filho, parecendo hesitante – Os pais de Rachel eram um casal, homossexual. Ele os matou, creio que como pagamento por alguma dívida que tinha. Mas o porquê ele não deu um fim à sua irmã, eu não sei, e agradeço a Deus todos os dias.

Noah baixou a cabeça até o colo, enquanto a mãe acariciava seus cabelos e Anita o olhava, penalizada. Sabia que seu pai era podre, um verdadeiro cafajeste. Mas não conseguia acreditar que fosse um assassino, alguém capaz de destruir uma família e...

_ Ele teve algo a ver com a partida de Juan e Santana? – perguntou, erguendo o rosto rapidamente. As duas mulheres se entreolharam e assentiram. Era hora do resto da história.

_ Chegamos. – anunciou Motta, parando o carro em frente a um prédio fuleiro. Puck foi tirado de seus devaneios, enquanto desciam do carro e iam até a portaria. Apertaram a campainha do apartamento 13, e logo uma mulher atendeu.

_ Pois não? – perguntou.

_ Srta. Corcoran? – a mulher concordou – Meu nome é Noah Puckerman. Viemos falar com a senhorita a respeito de Rachel Berry.

Silêncio do outro lado, até que a mulher pediu que esperassem um momento. Esperaram cerca de dez minutos, até que uma mulher muito parecida com Rachel, porém bem mais velha, apareceu na porta de entrada.

_ Shelby Corcoran? – ela concordou novamente, e o inspetor se apresentou – E estes são Noah Puckerman e Finn Hudson. Nicholas Puckerman disse que devíamos procurá-la a respeito de Rachel.

_ Nicholas? – perguntou a mulher, e eles concordaram – Sobre o que se trata?

_ Precisamos encontrar a família biológica de Rachel. – explicou Puck.

_ Família biológica? – perguntou Shelby, confusa – Há algo errado com a família dela?

_ Rachel sofreu um acidente sério, algumas noites atrás. Ela está no hospital e teve uma hemorragia muito forte, precisa de sangue. E devido a uma falha, ela só pode receber um determinado tipo de sangue, normalmente pego dos pais. Como os pais dela estão mortos, queremos descobrir se existe algum tio ou primo que seja compatível com ela. – explicou Finn, cada segundo mais ansioso.

Shelby pareceu desorientada, e pediu que esperassem alguns minutos. Voltou para dentro do prédio e logo tornou a descer, com a bolsa na mão.

_ Vamos a algum lugar? – perguntou Noah, e ela concordou.

_ Ao hospital, salvar Rachel. – respondeu a mulher, e todos a olharam confusos – Eu vou doar sangue para salvá-la, porque eu sou a mãe dela.