Sabrina os olhava com melancolia. Não que estivesse decepcionada com Dart. De forma alguma, queria que eles se dessem bem. Mas era tão ruim ter de sorrir ao ver seu ex ao lado da mulher com quem ele a traiu…

Não estavam juntos. Mas também não estavam separados. Nada assumido. Mas era obvio pra todo mundo. Sabrina ainda estava triste naquele final de dia em que eles apareceram molhados de chuva. Haviam tido uma boa conversa pelo jeito. Entraram sorrindo. Mas a humana ainda pensava sobre o que ocorrera. Era ruim só pensar em ir pra escola no dia seguinte, sexta-feira. Tantas coisas que rodeavam sua cabeça que tinha inveja dos dois lifings, dando-se tão bem, sem preocupações, sem tristezas…

Voltaram ainda naquela mesma noite. Iriam dormir na casa de Lia, preparar-se para saírem sete da manha, pra escola novamente.

Belthor dirigiu-se para o que seria sua casa naquele mundo. O que fez Mirian imaginar… onde era a casa de “Roberto”? E a de “Viviane”?

Estavam à mesa, jantando, quando a pergunta caiu suave, como uma bomba que falha no meio da guerra.

- Eles moram juntos. – respondeu Lia entre uma garfada e outra.

Os talheres pararam entre o prato e a boca. Os dois lifings, Mirian e Sabrina olharam para a única guerreira presente.

- E o que falta pra eles se casarem? Dama de honra? – brincou Mirian.

Lia deu uma risada curta.

- Eles só moram juntos, não é nada de mais.

- Sei como é… Mas se for a dama de honra, aceito o cargo.

                                                 ***

Sabrina não acreditava em como um dia acharia a escola tão banal. Tinha um mayle para destruir, não podia perder tempo com frações, morfemas, cefalóides ou o que quer que seja.

Mesmo assim se levantou, quase arrastando o próprio corpo. Sentiu inveja de Dart e Sorah novamente. Eram os únicos que podiam dormir até tarde.

Uma ponta de saudade de Hebel e Nicka quis transbordar de seu peito, mas ela tentou esquecer antes que começasse a chorar.

Acordou Mirian. Lia já estava de pé à algum tempo, inclusive já tinha preparado o café.

As duas comeram pouco. Estudar tinha se tornado chato e cansativo. Imaginavam como seus “professores” continuavam ensinando como se nada acontecesse.

Mas aquele dia prometia muito mais do que ela imaginava.

                                                 ***

Mirian e Sabrina caminharam em silêncio pelo corredor cheio de estudantes, quase que automaticamente.

Mas uma mão puxou Sabrina do meio das pessoas, como se a salvasse de uma correnteza. Mirian olhou pra trás em busca da amiga, mas ao ver com quem ela estava, seguiu para a classe.

- Lucas? – assustou-se a humana.

Não via o rapaz à mais de uma semana. Aliás, não se lembrava de tê-lo visto desde que começou o namoro com Dart, sem contar quando ele fora ajudá-la a estudar.

- Oi Sabrina. Vi você andando tão cabisbaixa… aconteceu alguma coisa?

Os olhos dele nunca foram tão brilhantes.

- Não… está tudo bem…

- Pode confiar em mim. Quero te ajudar.

Sabrina suspirou. Sua face ficou vermelha como há muito tempo não ficava na frente do garoto.

- Eu terminei com o Dart. – revelou finalmente.

- Por quê? O que ele fez?

- Foi na terça-feira… agente estava numa festa…

- Terça? Festa? Dia quatro? – Lucas parecia assustado.

- Sim… algum problema?

- Não, não… é que… uma festa no meio da semana é meio estranho. E eu não fiquei sabendo de nada aqui pela cidade. – disfarçou o garoto, meio nervoso.

- Bem nós… estávamos na festa e… ele beijou a Sorah.

- Sorah Ketsu?

- Como sabe o nome dela inteiro? – estranhou Sabrina.

- Acho… acho… - gaguejou Lucas – Acho que você já me contou antes. Afinal não tem como eu adivinhar, não é?

Ela não disse nada. Estava assustava com as perguntas do rapaz.

- Bem… Sabrina… eu só quero dizer que… não importa o que aconteça… eu ainda gosto você, ok? Não importa o que aconteça nos próximos dias. Eu juro que não é minha vontade o que acontecerá.

- O que está acontecendo? Por que está tão nervoso?

- Não é nada. Apenas se lembre do que eu disse.

Ele se virou e saiu correndo pelos portões da escola, sem olhar pra trás.

                                                 ***

A luz não entrava no local. Predominava a escuridão. O mais corajoso dos homens que entrasse ali, jogaria fora sua vida, a menos que devesse algo à criatura que ali estava.

E aquele devia.

Era um homem de aparentes vinte e cinco anos. Calça jeans e regata. Mas tinha nos olhos algo do antigo. Essas roupas pareciam não se encaixar nele. Cabelos castanhos, olhos verdes e a certeza de que a criatura que ali morava não o mataria.

- Já tenho a confirmação de onde eles estão.

- Já sei disso, humano impertinente. – ecoou a voz vinda da parte mais escura do local.

- Peço, porém, que não os mate.

- Claro. Deixarei que concretize sua vingança. Será um prazer vê-lo matando aqueles inúteis covardes. A vingança é um nobre sentimento que enche o mundo dos mortos.

- Não temes a jovem Ketsu?

- Soube diretamente por Nely e Nacknar. Aqueles traidores foram mortos por ela e uma das outras guardiãs.

- O que fez com os dois humanos?

- Desapareceram do mundo dos mortos. Simplesmente não existem mais. Era só uma questão de tempo.

- Não acha que a jovem Ketsu pode ser comprada? Ofereça-a uma chance de ter seus pais de volta e a terá ao seu lado.

- Não será necessário. Todos vão morrer.