Sorah mexeu-se empurrando os demais para descer da arquibancada, mas foi automaticamente parada pelos mesmos.

- Sorah, se for lá ele será desqualificado! – lembrou Dart segurando sua mão para que não fosse adiante,

- Ele tem razão! Não vai ajudar tirando o garoto de lá!

- Vocês não entendem! Ele não será desqualificado, só seria se estivesse machucado e eu fosse ajudá-lo! E fazer com que não lute é exatamente o que quero!

Eles soltaram Sorah e ela correu imediatamente através dos monstros que barravam sua passagem. Logo estava no chão indo na direção do pequeno lifing.

- Gaulis, você não pode lutar! Desista agora mesmo!

O garoto, meio atordoado, teve os olhos desviados quando a mulher que lutava naquele momento foi arremessada a poucos metros dali para fora do ringue. O pequeno lifing correu até lá imediatamente.

- Mamãe! A senhora está bem?

A juíza o viu tentando levantar a mulher e o repreendeu.

- Menino, se não se afastar, terei que desqualificar os dois!

A mãe de Gaulis olhou para ele e sorriu com o rosto todo machucado indicando que estava tudo bem. Levantou-se e voltou para o ringue.

Sorah estava branca por saber que a adversária de Nacknar era a mãe de Gaulis. Correu até ele, mais rápido do que nunca e lhe avisou:

- Se não parar essa luta, sua mãe vai morrer! Pare mediatamente! Peça para sua mãe desistir!

Gaulis olhou para ela com seus olhos assustadores em que a pupila cobria quase toda sua superfície e seus bigodes de gato.

- O que está dizendo, senhorita Ketsu? Mamãe e eu venceremos com toda certeza!

- Você não entende Gaulis! Esses dois homens são muito fortes! São mais fortes do que eu! Você e sua mãe vão morrer se tentarem vencê-los! Peça pra ela desistir imediatamente, não quero que ela morra!

- Nós não vamos desistir senhorita Ketsu. Mamãe e eu venceremos esse torneio! Você verá!

Sorah viu que não adiantaria tentar convencê-lo. Seu pai fora um dos maiores guerreiros e certamente lhe ensinara muito sobre honra. Desistir não era uma opção para ninguém do reino da noite. Certamente morreriam. Mas lutar era preciso.

Provavelmente a mãe de Gaulis tinha plena consciência de que perderia. Mas dava tudo de si na luta. Algo invejável.

Nacknar não precisava se esforçar nem um pouco para mandá-la para fora do ringue. Mas quando se cansou de brincar, sacou uma lança e perfurou o estômago da mãe de Gaulis numa das vezes que ela tentara socá-lo. O sangue espirrou de sua boca e ela ficou muda. Seu corpo arqueou-se para frente e seus joelhos dobraram enquanto ele retirava a lança de dentro dela, fazendo-a gritar pra dentro e cair de frente no chão.

Gaulis correu até lá já chorando e ajoelhou-se ao lado dela. Saiam lágrimas calmas de seus olhos. Ela lhe sorriu. Sua pele também era muito clara e seus olhos tão negros quando os do filho. Os mesmos bigodes de gato na lateral da face. Apesar de tudo, tinha feição triste e bela ao mesmo tempo.

Fechou os olhos e sua vida se foi, levando a única felicidade que a Gaulis restara. Chorando, correu e abraçou Sorah, fora do ringue.

Era a primeira vez que viam a lifing agir daquela forma maternal. O abraçou como se fosse parente dele. Apesar de não demonstrar sentimentos, parecia sentir pelo garoto.

Ajoelhou-se para ficar um pouco mais à altura e olhar nos olhos embaçados de Gaulis e lhe disse:

- Sinto muito pela sua mãe, Gaulis. Eu queria muito que ela ainda estivesse viva. Apesar de tudo, eu não posso te impedir de se vingar. Mas antes que lute, saiba que não tem como ganhar. A escolha é só sua. Você já é homem o suficiente para saber o que fazer. Se vai tentar se vingar ou se vai desistir e dar a sua mãe um enterro digno.

Gaulis olhou para ela e a abraçou novamente, fechando os olhos firmemente enquanto as lágrimas continuavam caindo. Ao abri-los, teve a visão de Nely sorrindo maleficamente para ele, volta e meia olhando para o corpo inerte de sua mãe. Sentiu ódio. Sentiu que sua força explodia dentro de si. Afastou-se de Sorah e subiu no ringue. A lifing por sua vez, pegou o corpo da mulher e o trouxe para a beirada do tatame.

- Sua amiguinha te disse que não tinha chances de vencer, criança. Por que não segue o conselho dela e vai brincar com seus amigos?

A juíza anunciou o início da luta.

Não importava que não pudesse vencer. De qualquer forma não poderia voltar como um derrotado. Ainda mais para um humano. Não importa o poder que este possuísse. Um humano é sempre um humano.

Bateu com força até desnecessária no tatame, utilizando de sua grande energia para criar lanças de gelo, que quebravam o tatame de onde cresciam, e iam à direção de Nely. Este permanecia imóvel, até com um rastro de surpresa nos olhos devido ao fato de que a pequena criança que lhe atacava chegava a ser mais forte que a mãe da mesma.

As lanças perfuraram Nely, sendo esta ação seguida de comemorações por parte da platéia. Mas o morto vivo não demorou em recompor seu corpo e lançar a Gaulis um ataque poderoso de energia negra.

Gaulis abaixou-se e conseguiu desviar, mas a força era grande demais e mesmo não o acertando suas pernas ficaram inutilizáveis.

Nely chegou perto, lentamente. Como um lobo cercando um coelho. Era óbvio para todos, inclusive para Gaulis, que não havia mais como ganhar. Nunca houve como. Ele ali, caído e sem como se levantar, E Nely, novamente, e como sempre, triunfante.

No entanto, em seu último ato de desespero, Gaulis segurou os calcanhares de Nely, sob as ordens do mesmo que o mandasse largar. A criança ignorou, e com suas últimas forças o congelou até a cintura.

Nely, cheio de ódio, lançou outra bola de energia negra. E, sob o olhar incrédulo de Sorah, Gaulis foi reduzido a retalhos. A maior parte caiu perto da Lifing. A cabeça do garoto.

Sorah olhou furiosa para Nely, ainda preso no gelo. Nacknar deu um chute, libertando-o dali. Sabrina e os demais vieram até Sorah, sendo que apenas Dart e os guerreiros chegaram mesmo perto devido à cabeça de Gaulis que estava sendo segurada por uma Sorah triste, cheia de dores e pesares. Mas sem derramar uma única lágrima.